É uma das doenças de maior incidência a nível mundial. Embora não existam números oficiais fidedignos, segundo recentes dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que existam mais de 350 milhões de pessoas no mundo que vivem com infeção crónica pelo vírus da hepatite B (VHB) ou pelo vírus da hepatite C (VHC), afetando, no conjunto das várias estirpes, cerca de cento e cinquenta mil pessoas, só em Portugal.
No entanto, a hepatite ainda é frequentemente conotada com comportamentos de risco como, sistema imunitário débil, doenças sexualmente transmissíveis ou toxicodependência, levando muitos portadores a menosprezar a possibilidade de estarem infetados.
Estudos recentes revelam que, quando comparadas com outras doenças, as hepatites tendem a ser desvalorizadas, surgindo atrás do cancro e da sida. Também entre as doenças infecciosas se mantêm ausentes do primeiro plano de preocupações, sendo referenciadas depois das gripes e da tuberculose.
Ainda existe um grande desconhecimento da população portuguesa acerca das formas de contágio, bem como da sintomatologia da doença, demonstrando um comportamento inconsciente no que respeita à prevenção. Em consequência, muitas pessoas poderão já estar infetadas sem o saber.
Novos dados divulgados através do relatório global sobre hepatites de 2017 indica que a grande maioria dessas pessoas não tem acesso a testes e tratamentos que podem salvar vidas. Como resultado, milhões de pessoas estão em risco de uma lenta progressão para doença hepática crónica, cancro e morte.
A OMS declarou estas doenças como um problema de saúde pública mundial, tendo escolhido o dia 28 de Julho como o Dia Mundial da Hepatite. Este dia não deve ser encarado apenas como mais uma data pois o assunto é sério e requer uma maior consciencialização da população. Só em Portugal, estima-se que morram mais de 500 pessoas por ano em consequência desta doença, que pode e deve ser prevenida. Mas, para prevenir, é preciso conhecer e dar a conhecer.
A eliminação da hepatite viral foi definitivamente colocada na agenda das prioridades dos governos a nível global, no decurso da 69ª Assembleia Mundial de Saúde em Genebra, que se realizou na semana de 23 a 28 de maio do ano passado, onde os governos de 194 países adotaram a Estratégia Global da Hepatite Viral da OMS, que tem por objetivo eliminar as hepatites B e C nos próximos 13 anos. A comunidade respondeu com o lançamento do www.NOhep.org, o primeiro movimento global para eliminar a hepatite viral até 2030.
As múltiplas faces da hepatite
O termo hepatite significa inflamação do fígado, órgão que se encontra localizado no lado superior direito do abdómen, por detrás das costelas flutuantes e que é o mais volumoso do corpo humano.
Constituído por células designadas hepatócitos, este órgão sólido é responsável por cerca de cinco mil funções vitais, podendo comparar-se, grosso modo, a uma refinaria.
Produz a maioria das substâncias essenciais ao corpo humano e remove as prejudiciais; produz a bílis, que é transportada até ao intestino delgado para aí se juntar ao processo da digestão; produz hormonas, proteínas e enzimas, substâncias que mantêm o funcionamento harmonioso do corpo.
Desempenha ainda um importante papel na decomposição do colesterol, na manutenção dos níveis de açúcar no sangue e eliminação dos medicamentos. Pode ser afetado por diversos tipos de patologias e, quando está doente, as consequências podem ser sérias. Aquela que mais frequentemente acomete este órgão é a doença viral.
A hepatite pode ser aguda ou tornar-se crónica, podendo ser causada por bactérias e vírus mas também pelo álcool,medicamentos e até pelo próprio sistema imunitário que, ao desenvolver anticorpos, ataca as células hepáticas em vez de as proteger.
As hepatites não são todas iguais, apresentando distintos níveis de gravidade e diferentes agentes causadores. As de origem viral são as mais comuns, sendo habitualmente designadas pelas letras A, B, C, D, E e G.
A hepatite A é, geralmente, de evolução benigna. O vírus VHA (da família dos picornavírus), descoberto em 1975, causa uma infecção aguda, que se cura espontaneamente sem recurso a tratamento específico ou internamento. Frequente em países em desenvolvimento, está associada a deficientes condições de higiene, sendo transmitida por via fecal-oral (ingestão de alimentos e água contaminada com o vírus). Com a melhoria dos sistemas de saneamento tem vindo a decrescer.
As crianças e adolescentes são os elementos mais vulneráveis devido ao seu sistema imunitário ainda não estar completamente desenvolvido. Apesar de em 90 por cento dos casos a doença ser assintomática, entre os sintomas incluem-se mal-estar, fadiga, náusea, vómitos, desconforto abdominal sob as costelas direitas, febre na fase inicial, urina muito escura, fezes descoloradas e amarelecimento dos olhos.
O vírus leva 20 a 40 dias a encubar. Seguindo uma alimentação rica em calorias, pobre em gorduras e com repouso moderado, ao fim de três semanas o doente recupera. Normalmente o vírus desaparece sem deixar vestígios surgindo anticorpos protetores que impedem uma nova infecção. Raramente é fatal e não evolui para doença crónica.
Descoberta em 1991, existe uma vacina contra o VHA que garante proteção durante, pelo menos, 10 anos, sendo administrada em duas doses, sendo a segunda inoculada 6 a 12 meses após a primeira. É recomendada a pessoas que viajam frequentemente ou que permaneçam por longos períodos em países onde a doença é endémica.
Em países com condições sanitárias precárias, para além da vacinação, a prevenção passa por cuidados com a higiene, evitar a água da torneira e o consumo de marisco ou de alimentos não cozinhados.
Do ponto de vista da saúde pública, as hepatites B e C são as que merecem mais atenção. A hepatite B é, de todas, a mais perigosa, dado o elevado grau de infecciosidade do vírus, 50 a 100 vezes mais elevado que o da sida. Tal como nesta, o contágio dá-se através do contacto com o sangue e fluídos corporais da pessoa infetada.
É causada pelo vírus VHB (da família dos hepadnavírus), descoberto em 1965. O contágio faz-se sobretudo através de sangue infetado ou por transmissão materno-fetal, particularmente nos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, o vírus é transmitido sobretudo aos jovens adultos por via sexual e através da partilha de seringas entre toxicodependentes. Num terço dos infetados o vírus provoca hepatite aguda e um em cada mil pode ser vítima de hepatite fulminante. Mais frequente entre os homens, em dez por cento dos casos a doença torna-se crónica.
A vacina, incluída no Plano Nacional de Vacinação de 2017, está disponível desde 1981 e tem uma eficácia de 95 por cento. É administrada em três doses e pode ser tomada por todos, desde que ainda não estejam infetados com o VHB. Os bebés, filhos de mães portadoras, são vacinados à nascença.
A prevenção tem um papel determinante na redução do número de casos. Algumas formas de prevenir a doença é evitar o contacto com sangue infetado, não partilhar seringas ou outros objetos utilizados na preparação e consumo de drogas, usar o preservativo nas relações sexuais, ter cuidado na colocação de piercings, na realização de tatuagens e em tratamentos por acupuntura, com equipamentos não esterilizados.
A hepatite C é conhecida por "epidemia silenciosa" pela forma como o número de portadores crónicos tem aumentado em todo o mundo e pelo facto de os infetados poderem não apresentar qualquer sintoma durante 10 a 30 anos, continuando de aparente boa saúde.
O vírus da hepatite C foi descoberto em 1989 graças às técnicas de biologia molecular. Calcula-se que existam 170 milhões de portadores crónicos a nível mundial, dos quais nove milhões são europeus. Destes, entre cem a cento e cinquenta mil são portugueses. A transmissão faz-se através do sangue ou produtos sanguíneos contaminados, sendo rara a infecção por via sexual. Existe ainda um risco, de seis por cento, de a mãe contaminada poder transmitir o vírus ao feto.
A hepatite C é mais frequente em toxicodependentes tratados por via intravenosa. Com o despiste sistemático do anti-VHC nos dadores de sangue, a partir de 1992, a hepatite C pós-transfusional tornou-se rara. Uma vez no organismo, o vírus VHC (da família dos flavivírus) pode levar até 150 dias a incubar e, tal como o vírus da sida, é capaz de se modificar e camuflar, dificultando a resposta adequada do sistema imunitário.
Em 75 por cento dos casos, os infetados não apresentam sintomas. Quando se manifestam, as queixas podem assemelhar-se aos da gripes e incluem letargia, mal-estar geral e intestinal, febre, perda de apetite, intolerância ao álcool, dores na zona do fígado e, muito raramente, icterícia. Cerca de 20 por cento dos pacientes recuperam espontaneamente, mas a maioria passa a sofrer de hepatite crónica. Em alguns casos, a doença, mais comum no sexo masculino e consumidores de álcool, pode evoluir para cirrose ou cancro do fígado.
Como ainda não existe vacina para a hepatite C, o melhor é prevenir. Evitar o contacto com sangue infetado, a partilha de escovas de dentes, lâminas, tesouras, corta-unhas ou outros objetos de uso pessoal e usar preservativo nas relações sexuais, sobretudo quando se tem vários parceiros.
Anunciada há cerca de dois anos a disponibilização de novas terapias que poderiam incrementar a taxa de cura da hepatite C para níveis próximos de 100 por cento, no passado mês de fevereiro o Infarmed veio anunciar, através de comunicado de imprensa, que havia concluído as negociações com quatro empresas para o financiamento do tratamento da hepatite C, indicando que em resultado dessas negociações, passariam a estar disponíveis oito medicamentos distintos para tratamento da patologia, três dos quais aprovados em 2017.
Na sequência desse mesmo acordo foram autorizados mais de 15 mil tratamentos, ultrapassando-se as previsões iniciais de 13 mil para dois anos. Em relação aos doentes que concluíram o tratamento, 96,5% ficaram curados. A decisão de tratar gratuitamente todas as pessoas infetadas, coloca Portugal na vanguarda dos países de todo o mundo, na implementação de uma medida estruturante para eliminação deste grave problema de saúde pública, que a OMS tinha definido como meta para 2030, uma redução de 90 por cento de novas infeções e de 65 por cento na mortalidade pela doença.
O País passou assim a dispor de oito medicamentos para tratamento da hepatite C, incluindo a combinação de dois novos antivirais – telaprevir e bocepravir – com o tratamento convencional por peginterferão (alfa-2a/alfa-2b) e ribavirina, nos doentes que não respondem aos fármacos atuais, tendo-se obtido, além de uma maior eficácia, períodos de tratamento mais curtos.
A hepatite D é rara em Portugal. A inflamação causada pelo virus VHD (também conhecido por vírus delta), ocorre apenas em simultâneo com a do VHB (co-infecção) ou por superinfecção, com cerca de 40 por cento dos portadores a desenvolverem cirrose. É transmitida sobretudo a partir do sangue e seus derivados, bem como pelo contacto com seringas infetadas, o que explica a sua prevalência entre toxicodependentes e hemofílicos. O período de incubação vai de 15 a 45 dias. Na co-infecção os sintomas manifestam-se por fadiga, letargia, anorexia e náuseas durante 3 a 7 dias após o período de incubação, surgindo posteriormente icterícia, urina escura e fezes claras. Na superinfecção e na fase aguda, a sintomatologia é idêntica, e na fase crónica os sintomas são semelhantes mas menos intensos.
Não existe vacina para a hepatite D. Considerando, porém, que o vírus Delta só infeta contaminados pelo vírus VHB, a vacina contra a hepatite B previne a infecção. Os cuidados para evitar o contágio, para além da vacinação, são idênticos aos do VHB.
A hepatite E, causada pelo vírus VHE (da família dos calicivírus), é rara em Portugal. É transmitida pessoa-a-pessoa através dos alimentos e água com contaminação fecal. Já foi responsável por graves epidemias nas regiões tropicais. Não se torna crónica, cura-se quase sempre de forma espontânea, mas pode ser fulminante.
Descoberta em 1980, incide sobretudo em jovens e adultos entre os 15 e 45 anos que apresentam como sintomas icterícia, falta de apetite, náuseas, vómitos, febre, dores abdominais, aumento de volume do fígado e mal-estar geral. Geralmente as crianças não apresentam sintomatologia. Não há vacina e, à falta de tratamento específico, devem evitar-se medicamentos tóxicos para o fígado.
A hepatite G é a mais jovem. Descoberta apenas em 1995, calcula-se que corresponda a 0,3 por cento das hepatites virais. A transmissão faz-se pela via sanguínea e, por ser recente, desconhecem-se outras formas possíveis de contágio.
As pessoas infetadas com este vírus não apresentam sintomas. Ainda não se conhecem as consequências de uma infecção pelo VHG (pertencente à família dos flavivírus) mas sabe-se que 90 a 100 por cento dos infetados se tornam portadores crónicos. Não existe um tratamento específico nem uma vacina. Quando se trata de infecções, algumas potencialmente fatais, a mensagem principal é prevenir.
Por um fígado saudável
Entre os comportamentos a adoptar para manter um fígado saudável e evitar a doença, inclui-se a manutenção de uma dieta saudável e equilibrada.
Alguns suplementos com zinco, selénio e vitaminas C e E também podem ajudar a proteger o fígado de danos causados pelos radicais livres. As vitaminas do complexo B são igualmente importantes para a regeneração celular e a lecitina contribui para a cura do fígado, por promover as funções de um fígado saudável e a regeneração dos tecidos.
Existem algumas ervas medicinais que podem ajudar a proteger e estimular o fígado. Entre elas a silimarina (cardo mariano ou cardo leitoso), cujos estudos revelaram capacidade antioxidante e eficácia contra a hepatite e a cirrose; a raiz e as folhas do dente-de-leão (dandelion), ricas em nutrientes, tendo já provado que estimulam a produção de bílis, assim como a curcumina; e o tumérico, um regenerador e antioxidante do fígado. Por outro lado, devem evitar-se algumas outras ervas como o poejo, confrei, kava e calota craniana pois podem ser tóxicas para o órgão.
A manutenção de um peso saudável é outra regra a seguir, porque a obesidade pode contribuir para o aumento de pressão sobre o fígado. Deve evitar-se o consumo excessivo de álcool e tabaco, a mistura de medicamentos, ou de álcool e medicamentos e abusos na toma.
Quando se trata de prevenir a hepatite, deve começar-se pela vacinação, evitar o contacto com o sangue ou fluídos corporais de outras pessoas de modo a evitar a transmissão do vírus e, perante sintomas de doença hepática, deve consultar-se imediatamente o médico.
O diagnóstico precoce e o tratamento especializado das hepatites evita futuras complicações e contribui decisivamente para diminuir o número de vítimas.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
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