O tabagismo é uma doença causada pelo consumo excessivo de tabaco. É responsável pela morte prematura de cerca de 5,4 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, ou seja, mais de 14 mil morrem diariamente, quer devido à inalação directa de nicotina quer pela exposição passiva ao fumo. Mata mais que a SIDA, os acidentes de viação, a violência, o álcool e as drogas ilícitas no seu conjunto.
Além disso, está associado a mais de 52 doenças de etiologia coronária, afecções cerebrovasculares e cancro. É um inimigo silencioso que mata lentamente, mas de forma eficaz, sendo classificado como um transtorno mental e comportamental na Classificação Internacional das Doenças (CID-10) pela Organização Mundial da Saúde.
O cigarro é o veículo mais tóxico para a administração de uma substância cujos efeitos, muito viciantes, são por vezes subestimados: a nicotina. Trata-se de uma substância que cria habituação em três vertentes: provoca dependência, devido ao automatismo criado pela repetição do acto; habituação física, dado o consumo de nicotina se converter em necessidade do organismo; dependência psíquica, associada à capacidade de apenas poder controlar o estado de ânimo do indivíduo com recurso ao tabaco. São estas razões que explicam por que o fumador ao privar-se do acto de acender um cigarro, mesmo que por breves momentos, sente os clássicos sinais da abstinência da nicotina, como irritabilidade, ansiedade, frustração, redução da frequência cardíaca e aumento do apetite.
São estes sintomas que o impelem de volta ao cigarro, devido aos mecanismos de dependência psicológica e comportamental entretanto desenvolvidos pelo organismo. A síndrome de abstinência varia de intensidade em função do indivíduo e da exposição ao fumo a que esteve submetido, podendo ir de três dias a dois meses.
A planta nicotiana tabacum, originária do continente americano, deve o seu nome ao diplomata francês Jean Nicot, que popularizou o seu uso na Europa, onde se acreditava possuir acção terapêutica. Por issso, não só Nicot a utilizava para a enxaqueca, como também incentivou a então rainha, Catarina de Médicis, a utilizá-la com a mesma finalidade.
Conhecida entre os indígenas pelos seus efeitos alucinogénicos e utilizada em rituais religiosos, a planta, trazida por Colombo numa das suas primeiras viagens, é alvo de lutas pela apropriação do seu monopólio por parte de espanhóis, franceses e ingleses. Contudo, a partir do século XIX é o domínio anglo-saxão que prevalece no seu fabrico e comércio, tendo sido os britânicos, e mais tarde os norte-americanos, os grandes responsáveis pela sua difusão a nível mundial através de inovadoras técnicas de marketing.
Se bem que inicialmente o seu consumo se realizasse por inalação nasal através da forma de rapé, o tabaco era também triturado e enrolado. Acredita-se terem sido os marinheiros a difundir a sua utilização na sua forma actual como cigarro, ao aproveitarem os resíduos provenientes das viagens transatlânticas entre as Américas e Sevilha, enrolando-os depois em papel. O tabaco pode também ser mascado ou utilizado em charutos ou cachimbo.
Só na década de sessenta surgem os primeiros relatos dos efeitos nocivos do tabaco e caem por terra os chamados benefícios terapêuticos, embora desde há muito se fume apenas pelo prazer que proporciona e se desconfie da dependência química que os seus componentes provocam, assim como dos seus efeitos perversos.
Uma fumaça mortal
Sensações agradáveis e reconfortantes podem ser experimentadas ao fumar, além de se pensar que o tabaco ajuda a memória, reduz a agressividade, o apetite e o peso. A nicotina estimula a produção de adrenalina e acelera os batimentos cardíacos, levando a que o coração passe a necessitar de mais oxigénio para funcionar. Por sua vez, a absorção de oxigénio é prejudicada pela acção do monóxido de carbono, que inibe a sua circulação pelos glóbulos vermelhos.
A dependência física que origina a nicotina actua como um estimulante do sistema nervoso central, um dos efeitos imediatos associados ao tabaco. Esta dependência é semelhante à da heroína ou da cocaína, com a diferença de que a acção da nicotina atinge o cérebro em apenas sete segundos, ou seja, leva menos tempo a agir que aquelas outras drogas. Por isso se torna tão viciante. Os primeiros dias de privação do cigarro habitual são os mais difíceis, embora as dificuldades diminuam à medida que o tempo passa.
Para além da nicotina e do monóxido de carbono, mais de quatro mil substâncias tóxicas e cancerígenas são produzidas pela combustão do tabaco e que passam para os pulmões através do fumo ou são absorvidas pela circulação sanguínea. Alguns componentes irritantes como o peróxido de nitrogénio, o amoníaco, o ácido cianídrico ou os fenóis são responsáveis pela contracção dos brônquios, pela alteração dos mecanismos de defesa dos pulmões e provocam a estimulação das glândulas secretoras da mucosa e tosse.
A própria limpeza do sistema respiratório fica comprometida, pois o calor produzido pelo fumo inibe os movimentos ciliares, deixando que diversas substâncias, como o pólen, o pó ou mesmo algumas tóxicas, permaneçam durante mais tempo nos pulmões.
Os danos para a saúde associados ao tabagismo não se manifestam de imediato, o que torna mais difícil controlar a dependência que se desenvolve logo após os primeiros cigarros. Os riscos dependem do número e tipo de cigarros fumados por dia, da idade em que se inicia o vício, assim como da duração do consumo ou do espaçamento entre as inalações.
Numa fase inicial pode ocorrer tosse, sede e secura da boca, mas, progressivamente, o tabaco vai afectando o funcionamento de muitos órgãos. Começam a surgir algumas doenças crónicas como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), que ocorre com a destruição dos alvéolos do pulmão, distúrbios circulatórios, pneumonia, cardiopatia isquémica, doenças cardíacas e endurecimento dos vasos sanguíneos (aterosclerose), formação de úlceras e conjuntivites, para além de diversos tipos de cancro (da boca, laringe, pâncreas, rim, faringe, esófago e bexiga) que, em parte, são provocados por cancerígenos como o alcatrão ou o alfabenzopireno. O tabaco é responsável por um terço de todos os cancros e quando associado ao consumo de álcool, o risco é aumentado.
As estatísticas revelam que os fumadores aumentam em dez vezes a probabilidade de desenvolver cancro do pulmão, em cinco vezes de sofrer um enfarte, assim como de contrair bronquite crónica e enfisema pulmonar, duplicando também a probabilidade de sofrer derrame cerebral.
O tabaco está por detrás dos cerca de 30 por cento de casos de cardiopatia coronária e até 90 por cento dos de DPOC. Nas mulheres fumadoras que tomam anticoncepcionais, o risco de trombose coronária e venosa é cerca de dez vezes superior, quando comparadas com as não fumadoras.
Quando a mulher engravida, aumenta até 70 por cento a sua propensão para aborto espontâneo ou perda do bebé pouco antes ou após o parto. Pode ainda ter um bebé prematuro, com baixo peso e susceptível a muitas doenças, como a morte súbita. A fertilidade da mulher e o seu sistema hormonal também são afectados pelo tabaco, da mesma forma que também pode provocar disfunção eréctil no homem e comprometer a produção de esperma.
Outros danos no organismo vão desde as doenças cardiovasculares e pulmonares até às gastrointestinais, afectando também a densidade óssea, provocando cáries, gengivites, mau hálito e envelhecimento prematuro da pele. O fumador reduz em cerca de dez anos a esperança de vida, só voltando a atingir a taxa de sobrevivência do não fumador decorridos dez a quinze anos após ter abandonado o vício.
Benefícios em deixar de fumar
Em apenas 20 minutos sem fumar, a pressão arterial volta ao valores normais, ocorrendo o mesmo com a frequência cardíaca e a temperatura dos pés e mãos. Os níveis de monóxido de carbono no organismo diminuem decorridas 8 horas sem fumo e aumentam os de oxigénio.
Para além de 72 horas sem fumar, os pulmões crescem de volume, melhorando a respiração, o sentido do paladar e do olfacto. A circulação sanguínea e os pulmões funcionam melhor quando o fumador atinge as 12 semanas de privação, reduzindo assim o risco de problemas cardiovasculares. A tosse, a congestão e a sensação de falta de ar diminuem decorridos nove meses de abstinência.
Passados cinco anos sem fumar, o risco de cancro do pulmão é reduzido para cerca de metade; ao fim de dez, as probabilidades de sofrer daquela doença são semelhantes às de uma pessoa que nunca fumou. A propensão para surgirem outros tipos de tumor também cai drasticamente, em particular o da bexiga, esófago e boca. O risco de doenças cardiovasculares também diminui, até igualar o de não fumadores, quando se chega aos 15 anos sem fumar.
Benefícios adicionais, para além do "bem" que faz à carteira – um maço por dia equivale a cerca de 1200 euro por ano –, são a capacidade de poder realizar actividades físicas sem dificuldade, a aparência renovada e hálito mais fresco, o que facilita inclusive o estabelecimento de melhores relações com os outros. Por outro lado, poupa-se a nível de tratamentos dolorosos e demasiado onerosos para o estado, pois a pandemia do tabaco é também um problema de saúde pública.
As campanhas de sensibilização, a alteração das embalagens de tabaco, o aumento do preço e as restrições em espaços públicos têm tido algum impacto e o número de pessoas a procurar tratamento aumentou, embora as recaídas continuem. O tratamento inclui apoio médico, psicológico e farmacológico.
Neste último caso, assenta em dois pilares: os substitutos de nicotina e os psicotrópicos. Enquanto os primeiros, que abrangem desde as pastilhas mastigáveis ou para chupar até aos discos cutâneos, são utilizados pelo fumador com dependência severa, os segundos são úteis para controlar o humor, sobretudo quando o doente sofre da síndrome de abstinência.
Na classe dos psicotrópicos, para além dos antidepressivos, como a bupropiona, ou dos ansiolíticos, há ainda outros fármacos de segunda linha, como a varenicilina, que reduz a vontade de fumar, agindo nos centros de prazer do cérebro; a mecamilamina e os antagonistas opióides, que inibem os efeitos da nicotina e combatem a dependência. Os tratamentos podem durar dois ou três meses e cerca de 60 por cento dos doentes deixam de fumar.
De entre todas as dependências, a do tabaco é a que tem maior número de adeptos nas suas fileiras, sendo também das mais difíceis de tratar. E embora a indústria do tabaco afirme que continua as pesquisas para o desenvolvimento de produtos alternativos, apenas têm reduzido os níveis de algumas substâncias, como o alcatrão, mas os de nicotina, causadora da dependência, têm-se mantido.
Número crescente de jovens e mulheres fumadoras
O alvo favorito das tabaqueiras, ao longo de gerações, tem sido a população mais jovem, que serve de "fumadores de substituição" em relação aos que morrem prematuramente ou abandonam o vício. Se bem que, numa fase inicial, o marketing tivesse incidido em personalidades míticas do cinema, sempre com o cigarro no canto da boca, como Humphrey Bogart ou James Bond, posteriormente, as suas campanhas começaram a abordar temas ligados ao prazer, como o amor, a beleza, o poder, o luxo e a sofisticação.
O problema torna-se preocupante ao saber-se que o adolescente é mais propenso a viciar-se noutras substâncias. Alguns estudos referem que os que se iniciam no fumo antes dos 15 anos, têm maiores probabilidades de criar dependência de álcool ou cocaína.
É que é fácil começar a fumar, pois o tabaco beneficia de uma certa aceitação social, para além de ser de venda livre e proporcionar um aparente estatuto libertário nos jovens. Difícil é deixar definitivamente o vício ou impedir que os danos irreversíveis se instalem no organismo. E são mais de 100 mil, as crianças entre os 12 a 14 anos que anualmente se iniciam no hábito de fumar.
O tabaco também conseguiu atrair, entre as suas numerosas vítimas, milhões de mulheres em todo o mundo. A igualdade entre sexos resultou num aumento alarmante entre este grupo, seja pelo prazer seja por conceitos ligados à elegância, independência ou prosperidade que o tabaco fornece, esquecendo que mata quem por prazer o consome.
É um vício caro e mortal, nada compatível com as ideias de glamour e liberdade sem limites, quando se verifica que o fumador está aprisionado a um mal cujos vestígios, mesmo a nível físico, são inúmeros, como dentes amarelecidos, mau odor e envelhecimento cutâneo. Sem contar com a diminuição na qualidade de vida e os mais de 10 milhões de vítimas que a OMS estima que este silencioso assassino cause em 2030.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
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