HALITOSE

HALITOSE

DOENÇAS E TRATAMENTOS

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Vocábulo derivado da aglutinação do termo de origem latina "halitus" a que se juntou o étimo grego "osis" que significam respetivamente "ar expirado" e "alteração patológica", a halitose é uma condição já referenciada e classificada desde os mais recuados tempos bíblicos, para identificar a condição que é comummente designada por mau hálito.

Halitose é igualmente o termo médico utilizado para descrever a exalação de qualquer cheiro desagradável através da boca ou do nariz e que geralmente não é percecionado pelo próprio, já que os sentidos sensoriais químicos associados ao olfato e à gustação, considerados os mais antigos sistemas sensoriais do ser humano, se adaptam quase instantaneamente aos vários sabores e odores.

A halitose tem origem em múltiplos fatores, podendo ser classificada genericamente como patológica, adaptativa, fisiológica ou de perceção sensorial, mas tendo frequentemente como causa uma relação com a cavidade oral e incluindo predominantemente as espécies bacterianas presentes na língua.

Na maioria dos casos o mau hálito é provocado por deficiente higiene oral ou ingestão de determinados alimentos, substâncias ou fármacos, mas também pode ter origem em problemas digestivos ou das vias respiratórias.

A secura da boca, provocada pela desidratação agrava esta condição, pelo que se deve beber bastante água em caso de sintomas ou avisos de terceiros, que mais facilmente a percecionam.

Para refrescar o hálito podem também ingerir-se sumos de maçã, limão, hortelão ou mesmo iogurte.

Esta condição provoca elevado impacto social e na autoestima das pessoas afetadas, uma vez que as pessoas que padecem acabam por atribuir mais importância às implicações sociais daquele problema que às preocupações de ordem física que possam permanecer. Não sendo considerada doença, a halitose indicia contudo, que algo está errado no funcionamento do organismo.

A halitose é portanto uma limitação social com grande impacto na qualidade de vida. A prevenção, o seu diagnóstico e tratamento são decisivos para a otimização da saúde oral e para o bem-estar geral do indivíduo. Compete ao médico dentista uma intervenção proativa e esclarecida capaz de alterar o curso desta condição de saúde que se pode considerar na fronteira de uma patologia.

Afeta milhões de pessoas em todo o mundo, podendo em alguns países atingir mais de 30 por cento da população adulta e contribuir para a deterioração da qualidade de vida, desconforto, embaraço e consequente isolamento social.

A ausência de conhecimentos sobre a forma de prevenir a halitose, potencia o desenvolvimento de manifestações clínicas associadas que poderão limitar a qualidade de vida, devendo por isso ter-se presente que a educaçãoo sobre a saúde deve estar sempre relacionada com os aspetos físicos e psicológicos do ser humano.

De salientar que praticamente todas as pessoas têm mau hálito matinal ou amargos de boca, ao acordarem, não sendo considerado uma situação patológica, uma vez que decorre de alterações fisiológicas naturais que se desenvolvem durante o sono e que desaparecem após o pequeno almoço e depois da higiene oral pela manhã.

Causas

Atualmente são conhecidas cerca de 60 causas prováveis de desenvolvimento de mau hálito, predominantemente na cavidade bucal em 85 a 90 por cento dos casos e 10 a 15 por cento de origem extra-oral, destacando-se nestas últimas as que têm origem nas vias aéreas superiores e as de origem metabólica ou sistémica, desenvolvidas no interior do organismo.

Os pacientes com sangramento gengival, os que tendem a respirar pela boca, portadores de alterações sistémicas de origem hepática, diabetes e outras patologias gastrointestinais, com baixo fluxo salivar, a seguirem uma dieta ou com saburra lingual, são os que maior tendência têm para apresentar mau hálito.

A saburra lingual é uma material viscoso, esbranquiçado ou amarelado que se forma no dorso da língua e a ela adere, principalmente na região do terço posterior. Trata-se do equivalente a uma placa bacteriana lingual formada por microrganismos do tipo anaeróbicos que se forma principalmente durante a noite e que produz componentes de cheiro desagradável no final do seu metabolismo, dando origem à conhecida halitose da manhã. Esta película é formada por células descamadas, bactérias e resíduos alimentares que aderem à superfície da língua, sendo responsável pela grande maioria das halitoses.

Os principais microrganismos presentes na saburra lingual produzem compostos que fermentam os resíduos alimentares libertando gases sulfurosos, que estão na origem do odor desagradável. A saburra lingual tende a formar-se mais facilmente em pessoas com reduzido fluxo salivar e cuja saliva é rica em mucina, substância viscosa que se encontra no muco e em outros produtos de origem orgânica e que facilita a aderência de microrganismos.

O grande desafio que se apresenta aos médicos especialistas das várias disciplinas (gastroenterologistas, otorrinolaringologistas, endocrinologistas e periodontistas), é determinar a origem da formação daquela película, já que, mesmo seguindo uma correta limpeza bucal, alguns pacientes poderão continuar a desenvolvê-la de forma acentuada.

Quanto à sua origem a halitose pode classificar-se por origem bucal, com origem nas vias aéreas superiores, por origem sistémica e em consequência de doenças raras.

Por origem bucal

Deficiente funcionamento das glândulas salivares (hipossalivação); higiene oral deficiente; próteses odontológicas de má qualidade, defeituosas ou mal adaptadas; gengivites e periodontites; cárie dentária; estomatite; quisto dentário ou miíase; alterações morfológicas da língua, que predispõem à saburra lingual; língua com saburra; devido a cicatrização demorada de feridas cirúrgicas.

Com origem nas vias aéreas superiores

Amigdalite caseosa (patologia crónica provocada pelo acúmulo de alimentos nas criptas das amígdalas); rinossinusite; patologia das adenoides; faringite; rinite atrófica fétida (ozena); presença de corpos estranhos; quisto de Tornwald (saliência incomum na parede póstero-superior da rinofaringe); alteração respiratória nasal (respiração bucal por ronco, desvio de septo e outras anomalias associadas).

Por origem sistémica

Ingestão de alimentos odoríferos; stress psicológico excessivo; desidratação; tabagismo; halitose fisiológica da manhã; regime de fome e da dieta (hipoglicemia); medicamentos com compostos aromáticos; hipoglicemia; absorção de substâncias pela pele ou mucosas; alterações intestinais; alterações hepáticas; alterações pulmonares; alterações no sistema gastrointestinal; alterações renais; diabetes não compensada; diverticulose esofágica (divertículo de Zenker) - ocorre na junção da faringe com o esófago; estados febris; distúrbios neuropsíquicos; febre reumática; reticuloendotelioses não lipídicas (desordens hereditárias raras caraterizadas pela falta de determinadas enzimas essenciais ao processamento dos lípidos); escorbuto; trimetilaminúria (doença metabólica caraterizada pelo odor a peixe em decomposição).

Em consequência de doenças raras

Por hemofilia; herpes simplex; anemia aplástica; macroglobulinemia; doença de Von Willebrand (doença hemorrágica mucocutânea hereditária); crioglobulinemia; trombocitemia; leucemia; agrunolocitose; mononucleose; policitemia vera; sífilis; hemorragia interna; doença exantemática; púrpura trombocitopénica; granuloma eosinofílico; doença de Letterer-Siwe; doença de Hand-Schüller-Christian; granulomatose de wegener; noma orofacial (estomatite gangrenosa).

Diagnóstico

Para uma correta avaliação clínica dos pacientes com queixas de halitose, é necessário proceder a uma anamnese exaustiva, que inclua a história médica e todos os exames clínicos realizados, bem como testes para detetar halitose com halitometria.

Em termos clínicos vários testes estão disponíveis para deteção da halitose e para avaliação da sua gravidade em pacientes como, testes organolépticos, do halímetro e do gás cromatográfico. O cruzamento de variáveis fisiopatológicas e clínicas através da realização do teste do halímetro, aliado a um questionário preciso, à consulta do processo clínico e observação clínica, constituem uma boa base para caraterização de uma halitose.

O historial deverá contemplar todas as queixas do paciente, incluindo o seu histórico emocional, relatos médicos e dentários, incluindo informação sobre hábitos sociais, alimentares e dietas seguidas. O exame clínico intraoral a efetuar deverá dar especial atenção à língua e aos tecidos periodontais e ser complementado com um um exame extraoral. Também é importante que seja feito um teste de avaliação do fluxo salivar em repouso e quando estimulado, dado que a redução do fluxo salivar pode contribuir em grande medida para a formação de biofilme lingual e consequente halitose.

Prevenção

Os tratamentos preventivos mais eficazes para a halitose consistem em reduzir a quantidade de bactérias que se desenvolvem e acumulam na língua e dentes, através de escovagem dentária, de preferência com pasta dentífrica fluoretada, duas a três vezes por dia e limpeza da língua com raspadores linguais. Através de estudos de âmbito alargado levados a efeito, também se concluíu que a associação de elixires antimicrobianos como a cloro-hexidina e similares, têm resultados muito significativos na redução do mau hálito.

Considerando que as medidas de prevenção da halitose são determinantes para a solução do problema, na medida em que constituem, simultaneamente, uma das principais formas de tratamento, é desde logo necessário proceder a uma higiene oral completa e cuidada, que para além da escovagem, deve incluir ainda a utilização de fio dentário, devendo o conjunto das medidas obedecer às recomendações de um médico dentista.

Os pacientes devem ter presente que embora a parte posterior da língua seja a mais difícil de higienizar, é dali que provêm os odores mais desagradáveis e por isso é a área que mais cuidados requer. Já sabemos que os raspadores linguais são utilizados para remoção do biofilme lingual, porém, a sua utilização inadequada pode provocar descamação da língua, agravando ainda mais a halitose, causando grande desconforto ao ingerir alimentos ácidos ou amargos e aumentando inclusivamente o risco de cancro devido a excessiva estimulação mecânica.

Na alimentação devem ser evitados os alimentos de odor acentuado, aumentar a frequência de ingestão para cerca de 3 em 3 horas e aumentar o consumo regular de água para um mínimo de 1,5 litros por dia, como forma de prevenir o desenvolvimento de halitose. Também os hábitos etílicos e tabágicos devem ser evitados pois ajudam na prevenção do mau hálito.

O jejum prolongado aumenta a probabilidade de desenvolver halitose uma vez que a mastigação dos alimentos estimula a produção de saliva. Por isso, além do encurtamento dos períodos das refeições, deverá fazer-se uma alimentação variada, evitando os fritos, carne gorda ou produtos muito condimentados ou de odores intensos, como a cebola, o alho, certos tipos de queijo e preferir o leite desnatado. Dar preferência aos alimentos frescos e fibrosos como a maçã.

Tratamento

Geralmente, as medidas de prevenção enunciadas resolvem o problema do mau hálito. No entanto, os tratamentos devem ser feitos por profissionais capacitados que tenham em conta as especificidades de cada indivíduo.

O tratamento deverá sempre ser feito em função da causa principal e de fatores secundários que sejam detetados durante a avaliação clínica e os testes.

Por exemplo, determinadas terapias para aumento da salivação, podem ser contraindicadas para pacientes hipertensos. Por isso, não existem tratamentos caseiros nem regras milagrosas que eliminem facilmente o mau hálito, mas o seu controle, após um correto diagnóstico e tratamento por especialista qualificado em alterações salivares e halitose, é perfeitamente exequível e desejável.

Os idosos em particular necessitam de tratamento diferenciado devido à multiplicidade de fatores odontológicos, sociais e psíquicos. Devido à sua condição, estes pacientes necessitam de esclarecimentos adicionais e acompanhamento domiciliário, ou em alguns casos na clínica, mais frequentes, para um adequado controlo da placa bacteriana, para manter a motivação para a continuidade e eventual mudança de hábitos.

Diagnosticada a condição, os constrangimentos devem ser deixados de lado e consultar um profissional que irá proceder a uma limpeza profunda da boca e aconselhar um conjunto de rotinas de higiene oral completas, por forma a eliminar de vez o mau hálito.

Hoje, os profissionais de saúde oral dispõem de métodos que ajudam a avaliar a extensão e a origem da halitose, nomeadamente, através de sialometria, que mede o fluxo salivar, e a halimetria, feita através de um aparelho que mede, na cavidade bucal, a presença de compostos químicos responsáveis pelo mau hálito.

Se ainda assim o problema persistir, deverão ser averiguadas causas extrabucais e de halitose provocadas por outras doenças, recorrendo sempre a uma segunda opinião médica.

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Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Mais Sobre:
HIGIENE SAÚDE

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