DIABETES, EDUCAR PARA PREVENIR!

DIABETES, EDUCAR PARA PREVENIR!

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Sob o lema "Entender e controlar a diabetes", comemorou-se, a 14 de Novembro, mais um Dia Mundial da Diabetes cujo tema "A diabetes, Prevenção e Educação" se prolongará, pela primeira vez, até 2013. Embora os eventos mais importantes das comemorações tenham ocorrido naquele dia, realizaram-se outras iniciativas ao longo de todo o ano. O propósito foi sensibilizar técnicos de saúde, governos, órgãos de comunicação social e população em geral sobre esta doença, que mata uma pessoa a cada dez segundos.

O Dia Mundial da Diabetes passou a ser assinalado em 1991, por iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Federação Internacional da Diabetes (FID). A data escolhida pretende homenagear o fisiologista Frederick Grant Banting, nascido a 14 de Novembro de 1891, que, com a colaboração do seu assistente Charles Best, conseguiu isolar a insulina em 1921. Esta descoberta permitiu controlar uma doença que, até esse momento, era considerada mortal.

A campanha de 2009-2013 envolve quatro objectivos: todos os governos devem estabelecer estratégias para a prevenção e controlo da diabetes; os diabéticos devem receber educação que lhes permita controlar adequadamente a doença; todos devem conhecer os sintomas da diabetes, a sua forma de prevenção e de atrasar complicações, nomeadamente da diabetes tipo 2; todos os países devem celebrar o Dia Mundial da Diabetes. Várias são as actividades organizadas para esse dia a nível local, nacional e internacional, desde rastreios gratuitos, conferências, caminhadas e eventos desportivos à ainda distribuição de cartazes e folhetos pela população e técnicos de saúde.

À semelhança de anos anteriores, realizou-se, no passado mês de Outubro, o Congresso Mundial de Diabetes, que teve como pano de fundo a cidade de Montreal. Os dados de um estudo que decorreu durante cinco anos e que envolveu mais de onze mil doentes com diabetes tipo 2, o maior realizado até ao momento, foram revelados durante o congresso. Designado por Advance (Action in Diabetes and Vascular Disease: Preterax and Diamicron MR Controlled Evaluation), os resultados apontam para a eficácia e segurança do controlo glicémico intensivo, através de um tratamento baseado na utilização da glicazida LM em combinação com o perindopril e indapamida, com o objectivo de reduzir o risco de mortalidade por doença cardiovascular.

Na mesma ocasião, os investigadores responsáveis pelo estudo apresentaram novidades no que se refere aos factores associados ao risco cardíaco na população diabética. No diagnóstico da diabetes, a idade, o sexo, a duração da doença, a hipertensão, a fibrilação atrial e a retinopatia são alguns dos factores a considerar em futuros tratamentos.

Uma das actividades paralelas ao XX congresso sobre a diabetes foi a realização de uma maratona pelas ruas da cidade canadiana, que se prolongou pela noite e madrugada, durante a qual o percurso de 5 quilómetros, bem como os participantes, foram iluminados por raios de cor azul. A escolha dessa cor é uma alusão ao círculo azul da diabetes, adoptado como símbolo oficial da campanha mundial Unite for Diabetes, simbolizando a unidade da comunidade internacional no combate a um flagelo comum.

Esta mesma cor é o elemento preponderante de uma das iniciativas mais emblemáticas, denominada Desafio Monumental, que decorre há três anos, tendo como objectivo iluminar os monumentos mais importantes das cidades. Edifícios como o Empire State Building, em Nova Iorque, a Ópera de Sidney ou a Câmara Municipal de Lisboa são alguns dos monumentos que no Dia Mundial da Diabetes se enchem de azul.

Esta iniciativa surgiu na sequência da aprovação, em 2007, pelas Nações Unidas, da resolução 61/225, que estabeleceu uma agenda mundial para o combate à epidemia da diabetes, incentivando todas as nações a desenvolverem políticas nacionais para a prevenção e tratamento da doença. A resolução refere que a diabetes, como doença crónica incapacitante, implica elevados custos económicos e sociais, representa um risco para a sociedade, comprometendo os objectivos para o milénio, traçados por todos os Estados membros na estratégia de 2000.

Nesse sentido, o desenvolvimento sustentado dos sistemas de saúde nacionais deve ser uma prioridade e a FID compromete-se a dar o seu contributo através de medidas a nível comunitário e internacional. A Federação trabalha para identificar e preencher lacunas no que se refere à educação diabética no mundo, particularmente em localidades onde, por falta de serviços apropriados, pela distância ou pelos custos inerentes, os diabéticos não têm acesso a essa informação. Na sua campanha de divulgação a FID recorre, inclusive, a redes sociais como o facebook ou o twitter. Por outro lado, todas as acções previstas a nível mundial podem ser consultadas no site www.worlddiabetesday.org.

Em Portugal, para além das iniciativas conjuntas com a FID, assim como outras actividades a nível regional, efectuou-se também o 3º Fórum Nacional da Diabetes. Como resultado do sucesso obtido no primeiro e segundo fóruns realizados, respectivamente no Porto e em Caldas da Rainha, a organização reuniu, desta vez em Oeiras, diabéticos, familiares, equipas de saúde, representantes do Serviço Nacional da Saúde, assim como empresas do sector, no sentido de partilhar experiências e preocupações comuns. Este fórum contou com a participação da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), a Associação Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e a Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD).

Por outro lado, também neste ano foi apresentado em Tomar um estudo inédito sobre os números da diabetes em Portugal, que constitui uma referência no seio da comunidade científica. Este estudo, sobre a incidência da doença no país, foi efectuado entre Janeiro de 2008 e 2009, sendo um projecto conjunto da responsabilidade da SPD e Ministério da Saúde/Direcção Geral da Saúde, Faculdade de Medicina de Coimbra/Instituto de Higiene e Medicina Social e APDP. Os dados alarmantes confirmam que a doença está a alastrar. Cerca de 11,7 por cento da população sofre de diabetes mellitus tipo 2, o que corresponde a aproximadamente 900 mil pessoas. Mais preocupante ainda é que 5,1 por cento ignoravam ter a doença, enquanto cerca de 35 por cento da população, dos 20 aos 79 anos, estão em situação de risco com pré-diabetes ou já é diabética. Esta tendência pouco optimista obriga a uma rápida mudança no estilo de vida, através de uma dieta mais saudável e a prática de exercício físico diário.

O que é e como combatê-la

A diabetes, quando é tratada, não impede o doente de ter uma vida perfeitamente normal e autónoma. Mas é importante que o diabético adopte medidas de autocontrolo, como forma de evitar riscos e agravar outros problemas.

Em causa está uma doença crónica, caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose no sangue e pela incapacidade do organismo em processar o açúcar proveniente dos alimentos. Quando aumenta a quantidade de glicose no sangue surge a hiperglicemia. A esta situação correspondem determinados sintomas que se manifestam na doença. Da mesma forma, também pode aparecer a hipoglicemia, que corresponde a níveis de glicemia inferiores ao normal.

A origem da doença é a carência de insulina, uma hormona segregada pelo pâncreas. Quando a deficiência de insulina é absoluta, surge a diabetes tipo 1, denominada também insulino-dependente, que se manifesta em idades muito jovens e mesmo em crianças pequenas. Cerca de dez por cento dos diabéticos estão incluídos neste grupo e o tratamento implica a injecção frequente de insulina. Esta terapêutica deverá manter-se para toda a vida, para além de bons hábitos alimentares e de exercício físico regular.

Quando a insuficiência de insulina é relativa, ocorre a diabetes tipo 2, que se manifesta em idades mais avançadas. Nesta situação, que afecta 90 por cento da totalidade dos diabéticos, o organismo do paciente dispõe de insulina, mas por diversas razões, ela não actua eficazmente, originando também hiperglicemia. A forma de tratamento também é diferente: inclui apenas uma alimentação adequada e exercício físico diário, sendo muito rara a toma de medicamentos. Contudo, quando se torna difícil manter os níveis de glicose próximos dos valores-padrão considerados normais, poder-se-ão recomendar fármacos que estimulem a produção de insulina pelo pâncreas, como os antidiabéticos orais.

A diabetes tipo 2 passa muitas vezes despercebida por parte do doente. Quando o diagnóstico é tardio, pode implicar sequelas graves como a retinopatia diabética (lesão da retina), nefropatia (insuficiência renal), neuropatia (dano nos nervos do organismo), pé diabético causado pela arteriopatia ou ainda problemas cardiovasculares. Actualmente, a grande problemática que envolve a diabetes é não se poder fazer a prevenção de complicações associadas à doença, quando a própria pessoa nem sabe que é diabética. Por isso, a necessidade de manter uma educação diabética que alerte para os primeiros sinais de alarme: urinar com frequência e em grande quantidade (poliúria); sede constante e intensa (polidipsia); fome persistente e difícil de saciar (polifagia); sensação de boca seca (xerostomia); fadiga e dores musculares; emagrecimento repentino, sobretudo, quando ocorre nas crianças e jovens; visão turva, dores de cabeça, náuseas e vómitos. Por outro lado, torna-se necessário também estar atento aos factores de risco como possuir familiares diabéticos, tensão arterial alta ou níveis de colesterol elevados, doentes com distúrbios no pâncreas ou doenças endócrinas e obesidade, sendo esta última, uma das causas para o crescimento alarmante da diabetes de tipo 2 entre os mais jovens, sobretudo, em países como o Japão ou os Estados Unidos.

Há também que referir a diabetes gestacional que ocorre durante a gravidez e, habitualmente, desaparece após a gestação. Contudo, devem ser tomadas medidas de precaução para evitar que se instale, mais tarde, a diabetes tipo 2. Ao ser detectada a hiperglicemia, a grávida deve adoptar uma dieta apropriada e ser acompanhada por um médico, caso haja necessidade de recorrer à insulina, por forma a que a gravidez prossiga sem problemas para a mãe e o bebé. Uma em cada vinte grávidas pode sofrer desta forma de diabetes e as crianças que nasçam com peso superior a quatro quilos devem ser vigiadas para evitar complicações futuras.

Existem ainda outros tipos de diabetes, como o MODY (Maturity-Onset Diabetes of the Young), que surge em adultos jovens, mas também em adolescentes e crianças. Embora muito rara, apresenta-se com as características da diabetes tipo 2, sendo causada por uma alteração genética que provoca uma deficiência na tolerância à glucose.

Mais de 380 milhões de diabéticos em 2025

Os últimos 30 anos testemunharam o rápido aumento da diabetes tipo 2, existindo, actualmente, mais de 230 milhões de pessoas diabéticas em todo o mundo. A OMS e a FID calculam que este número possa no entanto ascender a 380 milhões dentro de 15 anos e o índice de mortalidade pode vir a aumentar 25 por cento já na próxima década. Torna-se evidente que a explosão da diabetes afectará os serviços de saúde em muitos países, podendo influenciar também o seu desenvolvimento económico. Por isso deve investir-se mais na educação diabética e em programas nacionais de prevenção e controlo da doença. A comunicação social, assim como meios interactivos como a internet, poderá desempenhar um papel importante na sensibilização e informação da comunidade.

Por outro lado, as autoridades governamentais devem investir cada vez mais na prevenção da doença e das suas complicações, que sai menos dispendioso, pois os custos económicos e sociais envolvidos serão progressivamente mais elevados caso nada se faça. Deve fazer-se prevenção primária, alertando a população para a adopção de estilos de vida mais saudáveis, e também secundária, no sentido de evitar que os diabéticos agravem a sua doença, ainda que de forma inconsciente. Os decisores políticos devem compreender que é melhor investir nos tratamentos. Esse investimento passa por maiores comparticipações das terapias e dos medicamentos, que nas complicações advindas como a retinopatia e consequente cegueira, as amputações associadas ao pé diabético, a insuficiência renal ou os acidentes cardiovasculares.

A educação do doente é importante, na medida em que um doente bem informado consegue resultados terapêuticos mais eficazes, maior controlo da doença e suas complicações e melhor qualidade de vida.

O investimento na investigação científica não deve ser negligenciado, sobretudo no que se refere a novas moléculas, não apenas para a diabetes, mas também para tratar e prevenir as suas complicações. A adição de um novo agente antidiabético oral, a nateglinida, aos tratamentos convencionais de diabetes tipo 2, veio propiciar um maior controlo da hiperglicemia prandial em pessoas cuja diabetes não pode ser controlada apenas através do exercício ou dieta adequada.

De realçar também investigações recentes que incidem sobre o tratamento da neuropatia diabética, em particular o estudo de novas classes de moléculas, como os inibidores da PKC-beta e a aplicação da ruboxistaurina com resultados muito promissores.

Contudo, no que se refere ao tratamento da diabetes tipo 1, o maior impacto que poderia haver na doença, dado não existir cura, seria o aparecimento da insulina para administração oral, ou seja, em comprimidos. Os resultados nesta área não têm sido positivos. O principal obstáculo é a destruição da insulina no estômago, impedindo a sua absorção através do intestino.

No entanto, alguns estudos demonstraram certa eficácia na substituição das injecções de insulina administradas antes das refeições, por inalações, utilizando um aerossol muito semelhante ao dos pacientes asmáticos. Outras formas de administrar a insulina, em estudo, são a via rectal (supositórios) ou transdérmica (adesivos).

Por outro lado, a investigação sobre os análogos da insulina tem proporcionado resultados significativos. Trata-se de uma insulina que é modificada a nível molecular para manter a sua principal função de controlo da glicemia e alterar a velocidade com que é absorvida pelo organismo e o seu tempo de actividade.

As bombas de insulina implantadas sob a pele, como ocorre com os pacemakers dos pacientes cardíacos, poderá ser uma das alternativas mais vulgarizadas num futuro próximo. Uma outra área, que pode revolucionar o tratamento da doença, tem a ver com o implante de um pâncreas artificial que não cause reacções locais no organismo. Por enquanto a evolução de novas técnicas tem permitido transplantes mais seguros de pessoa a pessoa e com taxas de rejeição mínimas, o que tem propiciado alguma esperança na cura desta doença. Contudo, os transplantes ainda são utilizados como último recurso, obrigando a uma terapia permanente, o que comporta elevados riscos a nível do sistema imunitário.

Não obstante os recursos já disponíveis para combater a doença, a prevenção é a forma mais eficaz de contrariar os números alarmantes daquela que é considerada a quarta causa de morte em Portugal e no mundo e a principal responsável pela cegueira, amputações, distúrbios renais e cardiovasculares. Por isso, uma equipa multidisciplinar, constituída por outros profissionais da saúde, para além do médico e enfermeiro, como nutricionistas, oftalmologistas, podologistas ou psicólogos, deve ser uma das medidas prioritárias a considerar em qualquer plano de prevenção e tratamento no futuro. Mas o papel activo recai no próprio doente ou pessoa com predisposição para a diabetes.

Considerando que 50 por cento das pessoas desconhece que tem a doença, os rastreios periódicos devem ser incentivados. Uma alimentação equilibrada e prática diária de algum desporto devem ser medidas prioritárias a seguir, assim como evitar fumar, controlar o peso, os níveis de colesterol e a tensão arterial. A FID alerta que 30 minutos de exercício físico por dia reduzem em cerca de 40 por cento o risco de contrair diabetes tipo 2. É um alerta sensato, tendo em conta que em cada dez segundos, conforme é revelado pela OMS, duas pessoas desenvolvem a diabetes. No mesmo período de tempo uma pessoa morre devido à doença. Todos os anos, no dia 14 de Novembro, saem à luz estes dados preocupantes, mas o trabalho para contrariar a frieza estatística dos números deve ser realizado ao longo dos restantes 364 dias do calendário.

Ver mais:
A DIABETES
A DIABETES, FANTASMA DA SOCIEDADE OCIDENTAL
PÉ DIABÉTICO


Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Referências Externas:

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