CANCRO, INVESTIGAÇÃO E NOVAS TERAPIAS

CANCRO, INVESTIGAÇÃO E NOVAS TERAPIAS

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Entrámos na era nanotecnológica. A tecnologia é coisa do passado. Porém, por mais experiências laboratoriais que façamos, por mais mecanizados que nos tornemos, por mais distantes que fiquemos da mãe natureza, é sempre a ela que voltamos para buscar conselhos, para evoluirmos, para encontrar respostas às nossas dúvidas, às nossas doenças.

O mundo natural tem sido o arsenal mais eficaz da medicina, fornecendo desde antibióticos a potentes fármacos anticancro.

O cancro, ou neoplasia maligna, um dos estigmas sociais do último século é ainda hoje, a segunda causa de morte em todo o mundo, vitimando mais de 6 milhões de pessoas anualmente, o equivalente a 12% das mortes entre a população.

Por se tratar de uma doença essencialmente genética, só a partir de 1944, data em que foram dados os primeiros passos no conhecimento da cadeia do ADN, é que o Homem começou a compreender os mecanismos subjacentes à origem, evolução e alastramento do cancro.

Com a descoberta da molécula orgânica do ADN, surgiu a necessidade de se criarem disciplinas que estudassem os vários campos da genética, sendo a genética molecular uma das áreas mais importantes – estudo da estrutura e da função dos genes ao nível molecular. O Homem encontrou na genética um mundo novo de conhecimento. A genética abriu as portas para um novo mundo de terapias alternativas, tornando-se a área oncológica, pela sua natureza, um campo de investigação por excelência.

Nesta área do conhecimento, o grande pioneiro no ensino e na investigação molecular em Portugal foi Luís Archer. A ele se deve a criação do Grupo de Genética Molecular no Instituto Gulbenkian de Ciência, que chefiou durante 20 anos.

Desde há vários anos que os laboratórios farmacêuticos investem milhões de euros na investigação e pesquisa para a cura do cancro. Esse investimento está agora a dar frutos, e a prova disso, é que quase todos os dias são anunciadas novas e importantes descobertas dos investigadores de todo o mundo, desde novos métodos de prevenção, a aparelhos de detecção mais sofisticados, passando por novas técnicas de tratamento, para as cerca de 30 neoplasias malignas conhecidas. Destas, o cancro da mama, da próstata, do cólon e do pulmão são os mais mortais e, consequentemente, os que são objecto de uma maior incidência investigacional.

A mais recente terapêutica para tratar o cancro da mama é imunoterapia. Esta técnica caracteriza-se pela utilização de substâncias produzidas pelo organismo ou substâncias similares, sintetizadas em laboratório, para fortalecer as suas defesas contra doenças específicas. Uma destas substâncias é o Trastuzumab, considerado o medicamento-revelação da época, cujo nome comercial é Herceptin, um anticorpo monoclonal indicado para tratar tumores que produzem em excesso o receptor tipo 2 do factor de crescimento epidérmico humano (HER2).

Também os cientistas da Universidade de Manchester estão a desenvolver uma nova geração de fármacos específicos para tratamento do cancro da mama.

Já os novos medicamentos para o cancro do pulmão incluem o recurso ao Erlotinib e ao Bevacizumab. O Erlotinib atinge os receptores do factor de crescimento epidérmico, presentes na superfície das células responsáveis pelo crescimento e proliferação celular. As anomalias nestes receptores levam a uma incessante produção celular, que está associada a vários tipos de cancro.

Por sua vez o Bevacizumab administrado por via injectável, concomitantemente com o tratamento quimioterapêutico standard, tem por objectivo ajudar a impedir o crescimento dos vasos sanguíneos que fornecem os nutrientes indispensáveis à sobrevivência do tumor.

Esta substância provou prolongar a vida em pacientes com cancro colo-rectal e do pulmão. Porém, como os efeitos adversos podem ser fatais, somente é usada em casos devidamente estudados.

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Relativamente ao cancro da próstata, a braquiterapia (implantes de sementes radioactivas, Iodo-125), é a terapêutica que mais popularidade ganhou nos últimos anos. De facto, estes implantes possuem uma maior dose de radiação do que os raios externos, por um período mais alargado de tempo.

A crioterapia sofreu igualmente significativa evolução nestes últimos anos. Sondas cada vez mais pequenas e métodos mais precisos de monitorização de temperatura foram desenvolvidos. Estas novas formas têm vindo a minorar os problemas associados a esta terapia, no entanto, embora mais evoluída, ainda não se conhecem suficientemente os sucessos que lhe estão associados.

Considerando a proliferação das pesquisas e o volume de investimentos na área oncológica, adivinha-se a curto prazo o aparecimento de uma nova geração de fármacos e de novas terapêuticas, que vão desde as terapias biológicas (imunoterapia), a terapias genéticas, vacinas e outras áreas de investigação médica na vanguarda do desenvolvimento, de eficazes e seguros medicamentos anticancro para este século.

A nível oncológico em geral, foi apresentada em 2005, um nova técnica para estimular a apoptose (processo de auto-destruição programada das células danificadas). Porém, existem várias tipos de células cancerígenas que ludibriam este processo. Uma equipa de investigadores e colaboradores dos Laboratórios Abbott descobriu que a molécula ABT-737, quando associada às proteínas antiapoptose da família Bcl-2, causa a morte das células cancerígenas do pulmão e de alguns tipos de linfomas. Esta molécula aumenta, igualmente, o efeito da químio e radioterapia e diminui a regressão do tumor.

Os laboratórios Pfizer estão também a desenvolver um novo fármaco, o agente antiangiogénico AG-013736, um inibidor da tirosina quinase. Os primeiros resultados dos testes foram um sucesso, já que reduziram o tamanho do tumores até 40% nos doentes que sofriam de cancro do rim em estado avançado.

Também a Bayer Pharmaceuticals e a Onyx Pharmaceuticals Inc. já obtiveram autorização da FDA, ainda que limitada, para administrar o Sorafenib em pacientes com cancro do rim.

Há equipas de investigação por todo o mundo a desenvolver novas técnicas de rádio e quimioterapia feitas à medida, que destroem as células malignas sem danificar as sãs. Há igualmente investigadores a estudar os benefícios do recurso às terapias de associação. Investigadores da Merck & Co., Inc./Sanofi Pasteur MSD (Gardasil) e da GlaxoSmithKline (Cervarix) ganharam uma batalha contra o cancro cervical ao desenvolverem vacinas, com uma elevada taxa de eficácia.

Portugal está, igualmente, empenhado na descoberta de novas terapêuticas. O Laboratório do Instituto Ricardo Jorge debruça-se sobre a sinalização celular, nomeadamente na procura de novas proteínas quinases WNK e no splicing alternativo da pequena GTPase Rac1, sobre o estudo do cancro da mama e do cólon, sobre a caracterização molecular de novas translocações cromossómicas em leucemias e sobre o neuroblastoma, nomeadamente sobre a delecção 1p36 e de amplificação de N-myc.

Uma das equipas que deu mais um importante passo na descoberta de um novo tratamento foi apoiada pela Fundação Terry Fox e pela Sociedade Canadiana do Cancro. Estes especialistas demonstraram que um determinado vírus pode atingir exclusivamente células cancerosas do tumor e as originárias deste.

Actualmente, as técnicas terapêuticas não conseguem atingir as células que proliferam a partir da neoplasia maligna, células estas que são responsáveis pela reincidência do cancro. Contudo, esta equipa conseguiu desenvolver uma nova técnica que destrói todas estas células.

Em primeiro lugar, a equipa modificou o vírus, neste caso o vesicular stomatitis virus, alterando um dos seus genes, de forma a torná-lo simultaneamente seguro e eficaz. Em segundo lugar, administraram o vírus, por via intravenosa, aos ratos com glioma maligno tendo conseguido excelentes resultados. A equipa verificou que o vírus tinha aniquilado todas as células das 14 linhas celulares afectadas por este tumor e que as células das linhas saudáveis tinham permanecido intactas.

Uma outra boa-nova vem do Johns Hopkins Kimmel Cancer Center. Os investigadores daquele Centro conseguiram descodificar o código genético do cancro da mama e do cólon. No novo mapa genético estão presentes cerca de 200 genes mutados – sendo a sua maioria desconhecidos até à data –, essenciais para a emergência, crescimento ou alastramento dos tumores.

Os investigadores verificaram ainda que a mutação genética que dá origem ao cancro do cólon é completamente diferente da que origina o da mama. Partindo deste princípio, eles sugerem que existem caminhos diferentes para o desenvolvimento dos vários tipos de cancro, como se cada tumor tivesse a sua própria impressão digital.

A comunidade científica regozija-se. Maximizar o número de alvos disponíveis para o desenvolvimento de fármacos para um cancro específico significa que os pacientes terão terapêuticas mais personalizadas, e consequentemente com baixa toxicidade.

Cada vez mais se caminha para os tratamentos feitos por medida. O futuro virá por certo demonstrar que os investigadores de hoje se transformarão em alfaiates geneticistas de amanhã, à procura do tratamento mais adequado para cada pessoa, para cada cancro, para cada vida, construindo assim as asas cada vez mais fortes para que os filhos de Dédalo, quando voarem, não caiam no mar.

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Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
28 de Novembro de 2024

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