ANOREXIA, BULIMIA E OUTROS DISTÚRBIOS ALIMENTARES

ANOREXIA, BULIMIA E OUTROS DISTÚRBIOS ALIMENTARES

DIETA E NUTRIÇÃO

  Tupam Editores

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A anorexia nervosa, frequentemente referida simplesmente por anorexia, é um transtorno alimentar caracterizado por peso corporal abaixo do normal provocado por uma insuficiente e rígida dieta alimentar, receio de ganhar peso e uma vontade intensa de manter-se magro. É uma doença complexa, envolvendo componentes psicológicos, fisiológicos e sociais.

As pessoas anoréxicas, ao olharem-se ao espelho, ao se confrontarem com a balança ou ao comparar-se com outras, vêm-se a si próprias com excesso de peso, apesar de na realidade apresentarem baixo peso segundo os padrões usuais e, ao serem confrontadas, geralmente negam a que exista um problema de baixo peso. Na maioria dos casos ingerem apenas pequenas quantidades de determinados alimentos, criteriosamente selecionados, realizam exercício de forma excessiva e forçam o vómito ou tomam laxantes para perderem ainda mais peso.

Naturalmente que este comportamento, cuja causa ainda é desconhecida, provoca graves complicações de saúde como por exemplo osteoporose, problemas cardíacos, infertilidade e nas mulheres é frequente causar a cessação dos períodos menstruais.

Por outro lado, frequentemente associada à anorexia, surge a bulimia, uma desordem igualmente severa que é caracterizada por episódios de consumo desenfreado de comida, seguida de vómito induzido, associado com perda de controlo sobre a ingestão de alimentos e com uma excessiva preocupação com a imagem corporal e o peso. É um tipo de desordem de causa desconhecida, que afeta principalmente jovens do género feminino podendo no entanto, sob formas atenuadas, atingir também mulheres com peso normal.

De Vénus de Milo a Kate Moss, os ideais de beleza dos países industrializados percorrem um longo caminho, arrastando multidões, deificando alguns e esmagando outros. Debaixo das frias lápides dos cemitérios jazem mulheres e homens, sem idade, que um dia deixaram de comer saudavelmente por verem refletida, do outro lado do espelho, uma pessoa gorda. Porém, não podemos culpar apenas os ideais de beleza.

Na atualidade, os médicos sabem que os distúrbios alimentares "não se devem a modas", apesar de a "pressão cultural para a magreza, a insatisfação e a preocupação com o peso poderem contribuir, em conjunto com outros fatores, para uma maior vulnerabilidade, que por sua vez pode conduzir à decisão de iniciar uma dieta." Nos países em vias de desenvolvimento, não ocidentalizados ou nas culturas onde o corpo magro não é valorizado, a taxa de incidência destes distúrbios é substancialmente menor. Contudo, nas culturas onde se valoriza um corpo mais avolumado, espreita o perigo oposto, o de os jovens se tornarem obesos.

Os distúrbios alimentares são doenças essencialmente de origem psiquiátrica despoletadas por uma conjugação de fatores socioculturais, biológicos, psicológicos e familiares.

Assim que nasce, o indivíduo fica exposto à influência destes aspetos e o modo como estes interagem com o indivíduo levará, ou não, à emergência deste tipo de perturbações. Estes comportamentos afetam, sobretudo, as mulheres jovens, entre os 14 e os 18 anos – podendo, igualmente, atingir mulheres mais novas ou mais velhas, como já referido.

Existem vários tipos de distúrbios alimentares, mas os mais comuns são: anorexia nervosa (restritiva ou purgativa), bulimia nervosa (restritiva ou purgativa), ingestão compulsiva e obesidade. Porém, iremos centrar-nos apenas nas três primeiras perturbações.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico de anorexia é habitualmente baseado em alguns critérios essenciais tais como: distorção anormal do comportamento alimentar; perda de peso acentuada, superior a 15% do peso inicial; aparecimento da patologia antes dos 25 anos de idade; ausência de qualquer outra patologia orgânica ou psiquiátrica e receio patológico de ganhar peso e vir a tornar-se obeso.

É importante que no decurso dos exames preliminares sejam descartadas, com particular atenção, outras possíveis causas para a perda de peso, como problemas intestinais, endócrinos ou transtornos psicológicos de outra natureza. Daí que seja necessário proceder a uma bateria de exames prévios que vão desde os exames de densidade óssea, para verificar se há sinais de osteoporose, testes da função hepática, albumina em plasma, testes de funcionamento da tiroide até à urinálise.

Diagnosticar um distúrbio alimentar é uma tarefa difícil, existindo contudo sinais que podem dar o alerta: "emagrecimento rápido sem causa aparente", o indivíduo passa a ingerir menos alimentos e de baixo valor calórico ou a comer compulsivamente, dá desculpas para não comer ou fá-lo isoladamente, pratica exercício físico em excesso, o seu comportamento altera-se – "maior agressividade, irritabilidade e isolamento social –, desenvolve comportamentos ritualizados à refeição – isto é, corta a comida aos bocadinhos", critica de forma exagerada o seu corpo, utiliza diuréticos ou laxantes e prefere o isolamento. As mulheres poderão sofrer de amenorreia e os rapazes poderão perder a capacidade de ereção.

O tratamento da anorexia consiste em devolver à pessoa um peso saudável, no tratamento dos problemas psicológicos que lhe estiveram na origem e em fazer face aos comportamentos que promovem o problema, e deve basear-se nas vertentes farmacológica e a não farmacológica. Antes, porém, é crucial que se criem as condições necessárias para o estabelecimento de uma satisfatória relação médico-paciente, dado que a negação por parte dos pacientes está presente na maioria dos casos. Dependendo da gravidade do estado do paciente pode ponderar-se a possibilidade de internamento em restabelecimento da saúde. A avaliação para correção de possíveis alterações metabólicas e um plano alimentar bem definido são também fundamentais.

Na abordagem farmacológica do tratamento têm sido usados principalmente medicamentos antidepressivos como a fluoxetina e o topiramato com resultados modestos nos transtornos alimentares, razão porque, dadas as múltiplas causas da doença e a resistência habitual dos pacientes se torna importante uma abordagem multidisciplinar que envolva os familiares e a aderência dos pacientes.

Os especialistas recorrem, frequentemente, à terapia cognitivo-comportamental para tratar estes distúrbios. Na primeira etapa procura-se recuperar o peso do paciente e regularizar o padrão alimentar. Na segunda etapa pretende-se realizar um reestruturação cognitiva e finalmente, na terceira, o objetivo é prevenir recaídas. Cada uma destas três perturbações tem aspetos que lhe são caraterísticos.

Fala-se em anorexia nervosa quando uma pessoa sente terror de engordar, ainda que esteja muito magra. Isto significa que o indivíduo anorético tem uma atitude psicopatológica distorcida face à alimentação e ao seu corpo, atitude esta que poderá levá-lo à morte – a taxa de mortalidade desta doença é de 5%.

Em padrões convencionais, os vários graus de severidade da anorexia são medidos através do Índice de Massa Corporal (IMC), sendo que um IMC de 17,5 - 15 - 12,5, correspondem respetivamente a uma anorexia moderada, severa e crítica.

As jovens anoréxicas têm, normalmente, uma baixa autoestima, dificuldades nos relacionamentos e por isso sentem-se inseguras. Deste modo, a congratulação inicial pela perda de peso é considerada como uma vitória pessoal, tornando-se, consequentemente uma obsessão.

A bulimia nervosa manifesta-se nas jovens com uma história familiar de obesidade e de oscilações de humor. Julgando-se gordas, elas sentem que é necessário fazer dieta, desenvolvendo, assim, uma preocupação exacerbada pelo seu corpo. Desenvolvem, igualmente, uma relação de amor/ódio pela comida; se por uma lado têm pavor de engordar, por outro, não conseguem evitá-la. Deste modo, irão recorrer a laxantes ou à purgação para poderem comer à-vontade sem engordar. "Entre os episódios de empanturramento faz também uma dieta bastante restritiva. O seu problema tende a tornar-se crónico, com flutuações frequentes na gravidade dos sintomas."

A ingestão compulsiva é definida como a deglutição de uma grande quantidade de comida, "sendo superior à que a maioria das pessoas comem num período de tempo semelhante e sob as mesmas circunstâncias, com a sensação de perda de controlo sobre o ato de comer durante o episódio". Associa-se normalmente esta doença a certas caraterísticas pessoais, como: "comer muito mais rápido do que o normal, comer só porque tem vergonha do quanto come, comer até se sentir desagradavelmente cheio, comer muito apesar de não ter fome, sentir-se triste, ou culpabilizado depois de comer".

Como a prevenção é sempre mais eficaz que o remédio, deverão assim ser seguidas algumas regras fundamentais para uma alimentação saudável: comer várias vezes ao dia (3 refeições principais, 2 a 3 secundárias); fazer do pequeno-almoço a refeição mais importante do dia, não devendo por isso ser evitada. A ingestão de legumes, saladas, frutas frescas, cereais, leguminosas secas e batatas é necessária ao organismo. Deve consumir-se também, diariamente, leite e seus derivados, evitar as gorduras saturadas e moderando a ingestão de açúcar e alimentos açúcarados.

Mesmo com tratamentos mais ou menos eficazes, estima-se que cerca de 30 por cento dos pacientes têm recaídas, voltando a desenvolver a patologia nos 5 anos seguintes. Ainda assim o tratamento torna-se útil para melhorar a saúde geral de cerca de 76 por cento dos pacientes. Segundo pesquisas divulgadas pelo The American Journal of Psychiatry, 6 por cento dos pacientes com anorexia morreram devido a falência cardíaca por arritmia, antes da conclusão dos mais de quarenta estudos em desenvolvimento, em decorrência de problemas relacionados com o desequilíbrio na quantidade de eletrólitos no sangue e no sistema celular.

Anorexia e a internet

É muito importante mais uma vez referir, que os distúrbios alimentares são doenças e não um estilo de vida como é proclamado na maioria dos sites pró-anorexia e pró-bulimia.

Estes sites, que começaram a entrar em nossas casas a partir de 2000, oferecem, alegadamente, apoio aos jovens que sofrem destas patologias. Todavia, apesar de na sua maioria, os bloggers alertarem os novatos para não enveredarem pelos caminhos da anorexia e bulimia, ali se vão encontrar "dicas" para emagrecer e esconder a verdade dos pais, histórias, testemunhos e queixas. Contudo, o mais grave é a mensagem principal que é passada nestes sites: afirma-se que a anorexia não é uma doença, mas antes uma escolha de vida, proporcionando assim argumentos para que estes cibernautas continuarem com os seus perigosos hábitos alimentares.

Recentemente, equipas de especialistas que estudam os distúrbios alimentares lançaram o alerta: os sites pro-anorexia e pró-bulimia poderão vir a multiplicar-se.

As estatísticas mostram que nos países industrializados é necessário alterar o padrão dos valores que regem a alimentação e reaprender a comer. É necessário que se comece a compreender que não basta comer, é preciso comer bem. Uma alimentação equilibrada é o pilar principal para uma vida longa e saudável. Uma alimentação que peca por defeito pode conduzir à morte, mas uma que peque por excesso também.

Se por um lado, os países industrializados lutam contra a anorexia, por outro lutam igualmente contra a obesidade – cada vez há mais crianças obesas, sendo esta já considerada como um dispendioso e grave e problema de saúde pública.

É necessário deixar de olhar apenas para o nosso espelho, para os nossos problemas, e prestar mais atenção ao espelho dos que nos rodeiam. É necessário permanecer disponível e atento para ouvir os alertas. É necessário, sobretudo, reeducar a sociedade para valorizar as pessoas pelo que são e não pela sua aparência exterior, ou então, iremos dar razão ao velho religioso do poema de W.B. Yeats : "I heard an old religious man (…) declare, that he had found a text to prove, that only God, my dear, could love you for yourself alone, and not your yellow hair". Espelho, espelho meu, será que só mesmo Deus?

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