O FLAGELO DAS DOENÇAS RENAIS

O FLAGELO DAS DOENÇAS RENAIS

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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As doenças renais são consideradas um problema grave para a saúde pública. Estima-se que um em cada dez indivíduos sofra de doença renal crónica, afectando, a nível mundial, um total de 500 milhões de pessoas.

A tendência é ascendente, nomeadamente devido ao aumento da diabetes e da obesidade, duas epidemias que contribuem para o desenvolvimento das doenças renais.

Se não existir um diagnóstico atempado, a doença renal crónica pode originar problemas graves de saúde, que podem levar à falência renal e, consequentemente, à morte.

Com o objectivo de alertar o mundo para este problema, a Federação Internacional das Sociedades Nefrológicas e a Sociedade Internacional de Nefrologia decidiram instituir a segunda quinta-feira de Março para assinalar o Dia Mundial do Rim.

Os rins são o filtro por excelência do corpo humano. Protegidos pelas duas últimas costelas e com a forma de um feijão gigante, os rins são máquinas sofisticadas de reprocessamento.

Entre as várias funções destacam-se a filtração, depuração e eliminação de resíduos tóxicos, o controlo do volume de líquidos e dos sais no nosso corpo – eliminando os excessos e poupando-os quando escassos.

Os rins também segregam eritropoetina, vitamina D e renina. Cada uma destas substâncias tem uma função específica e o seu desequilíbrio poderá originar uma anemia, um descontrolo da absorção do cálcio, e da pressão arterial e do volume de líquidos, respectivamente. Consequentemente, influenciam de forma significativa a pressão arterial e venosa.

Os rins processam diariamente cerca de 1 200 a 2 000 litros de sangue, que chegam através das artérias renais, filtrando cerca de 1,2 a 1,5 litros de substâncias desnecessárias e excesso de água.

Estes resíduos, que provêm da deterioração normal dos tecidos activos e da alimentação, transformam-se em urina, que se aloja na bexiga até estar pronta para sair.

O organismo utiliza os alimentos e a energia para se regenerar. Depois de absorver a quantidade suficiente, envia os resíduos para o sangue. Se os rins não os conseguirem filtrar, estes acumulam-se no organismo.

O processo de filtração ocorre em pequenas unidades localizadas no interior dos rins, os néfrons. Cada rim possui cerca de um milhão de néfrons. No néfron, o glomérulo, um novelo de vasos sanguíneos muito finos, interage com os túbulos colectores e os resíduos entram no sistema urinário. Os rins medem a quantidade de químicos, nomeadamente o sódio, cálcio, fósforo, ureia e ácido úrico.

Nos rins saudáveis, a função renal é exercida a cem por cento. Algumas pessoas vivem com apenas um rim, ou porque nasceram assim ou porque extraíram um deles para doação ou por doença. Estas pessoas podem sofrer um ligeiro declínio da função renal, mas levar uma vida normal.

Se a função renal diminuir 75 por cento, o indivíduo já sofre de problemas sérios de saúde. Se a função descer abaixo dos 10 a 15 por cento, o indivíduo terá de considerar a hemodiásile ou o transplante renal.

Apesar de as doenças renais serem assintomáticas, o médico poderá detectar algum desequilíbrio através de testes de rotina ao sangue e à urina. A Fundação Nacional do Rim norte-americana recomenda a realização de três testes para detectar a doença renal: medição da pressão arterial e a verificação da presença de albumina ou de proteínas na urina.

A maioria das doenças renais ataca os néfrons, levando-os a perder, lenta e silenciosamente, a sua capacidade de filtração. Podem decorrer anos, ou mesmo décadas, até os danos se tornarem perceptíveis. Todavia, existem casos em que estes podem ocorrer de forma célere, nomeadamente se forem resultado de envenenemento ou de uma contusão/hemorragia. Este tipo de lesão pode provocar uma falência renal aguda. Nesta situação os rins param de funcionar e a função renal poderá ficar comprometida permanentemente. Em lesões ligeiras, esta condição poderá, porém, ser revertida.

À semelhança dos outros órgãos, o rim pode ser atingido por doenças menos graves, como as nefrites, a infecção urinária, o cálculo renal e a obstrução urinária, dependendo da causa. Os tumores renais malignos, as doenças glomerulares, as várias nefropatias, as doenças de origem congénita hereditária, a insuficiência renal aguda, a insuficiência renal crónica e insuficiência renal crónica terminal são consideradas muito sérias, podendo levar, inclusive, à morte. As causas mais comuns destas doenças são a diabetes e a pressão alta.

O excesso de glucose no sangue age como um veneno e destrói os néfrons. Esta condição denomina-se de nefropatia diabética. Já a pressão alta pode deteriorar os pequenos vasos sanguíneos do glomérulo, na cápsula de Bowman, impossibilitando-os de filtrar os resíduos eficientemente.

Nas doenças glomerulares estão incluídas as doenças autoimunes, infecciosas e escleróticas. Tal como o nome indica, estas doenças atacam os glomérulos. As mais comuns são a nefropatia da membrana, a nefropatia IgA e a glomeruloesclerose segmentar e focal. A presença de sangue e de proteínas ou de ambos na urina podem indiciar a presença destas doenças.

As doenças renais congénitas hereditárias resultam de factores hereditários. Um desses exemplos é a doença renal poliquística, que leva à falência da função renal.

Alguns destes problemas renais revelam-se quando o bebé ainda está no ventre da mãe e a sintomatologia varia entre, vómitos, dores nas costas e laterais, pressão alta, anemia entre outros.

Outras, apenas são detectadas na idade adulta. No entanto, com o avanço das técnicas imagiológicas os médicos conseguem detectar os quistos antes de a doença se manifestar.

Os venenos, os traumatismos, alguns fármacos, como a aspirina e o ibuprofeno, podem igualmente contribuir para o desenvolvimento de nefropatias tóxicas.

Uma das doenças renais mais frequentes e perigosa é a insuficiência renal crónica. A perda gradual da função renal leva à insuficiência renal que, consequentemente, pode conduzir à falência renal permanente (insuficiência renal crónica terminal). Estes doentes correm um maior risco de AVC ou de ataque cardíaco. Nesta fase da doença, o paciente terá de realizar diálise ou submeter-se a um transplante renal para sobreviver.

Há dois processos de diálise, a hemodiálise e a hemodiálise peritoneal. Na hemodiálise o sangue é filtrado no exterior do corpo através de uma máquina e é devolvido ao organismo, já purificado. Relativamente à hemodiálise peritoneal existem dois tipos: a ambulatória, em que os doentes substituem o fluído, que é reposto no abdómen, quatro vezes ao dia, e a contínua, que pode ser feita à noite com uma máquina que o drena e o repõe de novo no abdómen.

Para a maioria das doenças renais ainda não é conhecida a cura. Porém, todos os dias os especialistas se debruçam sobre este tema na demanda de uns grãos mágicos que façam crescer saudável o nosso pé de feijão.

Estudos recentes vieram demonstrar que um controlo intensivo da diabetes e da pressão arterial poderá prevenir ou retardar o aparecimento de doenças do rim. Na área da genética, um grupo de investigadores localizou dois genes que poderão potenciar a doença poliquística do rim. A equipa descobriu que é necessário a existência de duas cópias defeituosas do gene PDK1 (polycystic kidney disease) para desenvolver a doença.

Já na área dos transplantes, os cientistas estão a desenvolver novas subtâncias que evitem que o rim transplantado seja rejeitado pelo sistema imunitário e funcione eficientemente.

Outra equipa verificou ainda que os inibidores ACE e os antagonistas dos receptores da angiotensina protegem os rins com mais eficácia que outros fármacos com a mesma função.

Em Portugal

No nosso país 800 mil portugueses sofrem de doença renal crónica. Contudo, os números agravam-se no que diz respeito à insuficiência renal crónica terminal. A situação de Portugal é a pior da Europa Ocidental, registando-se, por ano, 2 200 novos casos; mais de 13 mil doentes estão dependentes de diálise ou à espera de um transplante.

Apesar dos avanços dos nefrologistas portugueses e do resto do mundo para tratar a insuficiência renal crónica terminal, os custos ainda são muito elevados, não apenas para os sistemas nacionais de saúde, mas sobretudo para os doentes, cuja qualidade de vida diminui drasticamente.

Porém, se o paciente controlar a tensão arterial – os valores devem ser inferiores a 130/80 mmHg -, o colesterol e tiver cuidado com a ingestão de proteínas, sódio e potássio e não fumar, poderá aumentar a esperança de vida dos seus rins.

Como ainda não descobriram os feijões mágicos de João, preservar o nosso próprio pé de feijão, através de uma dieta equilibrada e da prática de exercício físico regular, é essencial para manter os gigantes afastados.

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Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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