Reconhecida actualmente como a epidemia do século XXI e como grave problema de saúde pública, a obesidade afecta cada vez mais marcadamente as sociedades modernas. É definida pela OMS como uma doença crónica, em que o excesso de gordura corporal acumulada atinge graus que ameaçam a saúde. Reduz a qualidade de vida de homens e mulheres de todas as idades e etnias e provoca elevadas taxas de morbilidade e mortalidade.
Os vários níveis de obesidade podem ser determinados através de medida standard internacional de avaliação da gordura corporal nos adultos – Índice de Massa Corporal [IMC = Peso/altura (metros)2].
Uma pessoa saudável apresenta um IMC entre 18,5 e 25. Valores situados entre 25-30 são considerados excesso de peso. Para índices superiores a 40 as pessoas sofrem de obesidade mórbida.
A medida do perímetro da cintura é igualmente importante. Homens com mais de 102 cm e mulheres com valores superiores a 88 cm estão em risco elevado de obesidade.
Os sintomas da doença desenvolvem-se lentamente ao longo de um largo período de tempo em consequência de múltiplas causas, embora as principais sejam de origem genética e ambiental. Um historial familiar de obesidade, acumulado com a ausência de exercício físico, maus hábitos alimentares (fast food) – cada vez mais adoptados entre nós – e a presença de doença subjacente, como por exemplo a diabetes tipo 2, são algumas das causas.
Também algumas classes de fármacos – esteróides anabolizantes, corticóides, progestagéneos, alguns antidepressivos – podem provocar aumento de peso.
As pessoas deverão consciencializar-se de que o excesso de peso é inversamente proporcional à sua qualidade de vida e auto-estima, devendo por isso prevenir.
Doenças associadas
A obesidade mórbida está relacionada com o aumento da mortalidade. A nível do aparelho cardiovascular, as doenças mais frequentes entre os obesos são a hipertensão arterial (com um IMC entre 27-29 já existe risco acrescido de 38 a 45 por cento, em ambos os sexos), aterosclerose, insuficiência cardíaca congestiva e angina de peito; entre as complicações metabólicas destacam-se a hiperlipidemia e as alterações de tolerância à glicose e a diabetes tipo II (cerca de 80 a 90 por cento dos diabéticos do tipo II são obesos); a nível de sistema pulmonar os doentes queixam-se de dispneia e fadiga, apneia de sono, tendo maior propensão para sofrer embolismo pulmonar; o aparelho gastrintestinal pode ser atingido pela esteatose hepática, cirrose, litíase bibliar e até pelo carcinoma do cólon.
No sexo feminino, os riscos estão acrescidos para o cancro da mama, ovários, útero e vias biliares.
Tratamentos disponíveis
O tratamento médico da obesidade consiste na combinação de várias dietas hipocalóricas, modificação de comportamentos (erros alimentares e sedentarismo) e na toma de fármacos. A medicação está indicada para os doentes com um IMC superior a 30 sem factores de risco associados, ou doentes com IMC superior a 27 se estes existirem, e somente após três meses de dieta e exercício sem qualquer eficácia.
Entre os fármacos disponíveis destaca-se:
– a Sibutramina, que é um inibidor da recaptação da serotonina e da noradrenalina e actua nos neurotransmissores do cérebro; pode ser benéfica na redução do risco cardiovascular, em consequência da redução do peso, do perímetro da cintura e no metabolismo das gorduras e açúcar;
– o Orlistato, que actua no estômago e intestino, não sendo absorvido pela circulação sanguínea; é um inibidor das lipases intestinais, que reduz em cerca de 30 por cento a absorção das gorduras; este tipo de tratamento deve ser acompanhado por uma dieta hipocalórica;
– o quitosano, uma fibra natural derivada da casca de crustáceos, que fixa a gordura ingerida, impedindo a sua absorção e expelindo-a posteriormente.
Estudos recentes têm investigado também as potencialidades da metformina, um antidiabético oral utilizado principalmente em doentes com obesidade abdominal com hiperinsulinismo e com resistência à insulina. Torna-se, no entanto, necessário a realização de estudos de longo prazo que confirmem o efeito benéfico da susbstância nesta doença.
Por último, embora não sejam medicamentos aprovados para essa patologia, os novos antidepressivos, como a fluoxetina, a sertralina e a paroxetina, que por via indirecta provocam perda de apetite.
Acima de tudo, os medicamentos só devem ser usados como complemento às alterações do estilo de vida adoptado. Na obesidade mórbida, também denominada clinicamente severa (IMC igual ou superior a 40 kg/m2), o tratamento cirúrgico tornou-se o método mais eficaz. Nos vários procedimentos, o acto médico é executado essencialmente através de laparoscopia, uma cirurgia minimamente invasiva, que diminui o risco cirúrgico.
Entre os procedimentos restritivos (que reduzem o reservatório do estômago) a banda gástrica está entre os mais comuns. Esta opção limita a ingestão de alimentos pela colocação de um anel à volta do estômago na sua parte alta (fundo), criando uma deformidade. O dispositivo deve ser colocado junto da extremidade proximal gástrica, logo abaixo da junção esogástrica.
Fred C. Gaun e a Inamed desenvolveram, em 1986, outra das técnicas utilizadas no tratamento deste tipo de obesidade: O Balão Intragástrico (BIG). Produzido em silicone, de ajustamento variável, tem como função provocar uma sensação de plenitude gástrica, diminuindo dessa forma a ingestão de alimentos e facilitando a aprendizagem de uma nova dieta.
Há também os chamados procedimentos mistos que, para além da diminuição do reservatório do estômago, excluem segmentos intestinais do circuito alimentar e da passagem da bílis e enzimas digestivas (efeito de mal absorção). Uma dessas técnicas é o Bypass Gástrico em Y de Roux. Através deste método é criada uma pequena bolsa gástrica com 15 a 30 ml de capacidade, que limita a capacidade de ingestão de alimentos. Esta bolsa é ligada ao intestino delgado na região do jejuno, ultrapassando apenas o duodeno, impedindo desta forma a acção das secreções pancreática e biliar. Esta cirurgia induz a criação intencional nos doentes da síndrome de Dumping, que ao provocar sintomas desagradáveis (náuseas, fraqueza, diarreia) os desencoraja a ingerir gorduras e açúcares.
Em cirurgia bariátrica não existe um procedimento ideal. Este deve ser adequado a cada doente tendo sempre em consideração factores como o peso, hábitos alimentares e quotidianos, perfil psicológico, profissão e estado de saúde. Antes da cirurgia, o acompanhamento do paciente deverá ser feito por equipa multidisciplinar treinada, em articulação com o seu médico assistente.
Este ano, o congresso internacional B.E.S.T. – Bariatric Endoscopic Surgery Trends (Tendências na Cirurgia da Obesidade por Videolaparoscopia) realizar-se-á em Portugal, no Auditório do Hospital da Luz, em Lisboa, entre os dias 27 e 29 de Maio. Entre os vários temas em debate destaca-se: "Bases da Cirurgia Bariátrica" e "Cirurgia Metabólica".
Nos primeiros dias do simpósio estão previstas palestras sobre a abordagem cirúrgica da obesidade, sessões interactivas e vídeo-editadas com discussões técnicas e literatura internacional sobre a obesidade mórbida. Um dos dias do evento está reservado para a realização de 10 cirurgias de obesidade ao vivo.
A Obesidade em Portugal
O controlo da obesidade traz enormes benefícios, que se prolongam no tempo, produzindo uma melhoria imediata na saúde em geral e na qualidade de vida do paciente. A doença está ligada a elevados níveis de mortalidade e morbilidade, sendo as complicações associadas responsáveis por 10 a 15 por cento dos custos com a saúde.
Segundo dados do Instituto Nacional de Saúde, a despesa total com a obesidade em Portugal atinge 235 milhões de euros, valor proporcional ao número de obesos, que no nosso país se eleva a 1,5 milhões, a que se juntam quatro milhões com excesso de peso.
As despesas com o diagnóstico e tratamentos (medicamentos para baixar a tensão, para diminuir o colesterol e para controlar a diabetes), para além da baixa produtividade e das idas ao médico, são os principais factores responsáveis pelo crescimento dos encargos, que se irão agravar, em virtude de se prever que em 2025 mais de metade da população se torne obesa.
Factores como o estrato sócio-económico, a idade, o sexo, o sedentarismo e os hábitos alimentares são os principais responsáveis pelo desenvolvimento da patologia.
Outro problema marcante no nosso país é a elevada incidência de obesidade infantil. Em estudos realizados anteriormente em crianças entre os 3 e os 5 anos de idade verificou-se que mais de duas em cada 10 tinham excesso de peso e, em crianças na faixa etária dos 7 aos 9 anos, mais de 3 em 10 revelavam o mesmo problema. A prevalência da obesidade neste grupo etário é então de 31,56 por cento, sendo o sexo feminino o mais afectado.
Há dois factores que estão na base do incremento da doença entre os mais pequenos: a mudança nos hábitos alimentares, com o abandono da chamada alimentação mediterrânica por parte dos pais, que se reflete no comportamento alimentar dos filhos, e a opção por produtos com reduzido valor nutricional mas de elevado valor calórico (fast-food).
Por outro lado, os portugueses adultos estão entre os povos que têm menor nível de actividade física, o que acaba por induzir idêntico comportamento nos seus filhos. Os pais são os principais orientadores da vida das crianças. O simples estabelecimento de regras e horários para as refeições é de extrema importância no contexto da educação comportamental. Um bom manual, que ajude os pais e os profissionais de saúde a efectuar uma abordagem de prevenção e tratamento da obesidade pediátrica e da adolescência, poderá ser útil.
Numa sociedade que valoriza constantemente a aparência física, combater a obesidade é lutar pelo bem-estar mental das nossas crianças e jovens. Não são raras as vezes que, associados à obesidade, surgem distúrbios psicossociais e emocionais acompanhados de depressão, ansiedade e diminuição de auto-estima, que têm origem na rejeição social.
Este tipo de obesidade deve ser tratada em consultas multidisciplinares que incluam pediatras, nutricionistas e psicólogos, entre outros profissionais.
O registo de valores de obesidade pediátrica cada vez mais elevados exige intervenção precoce. Logo que sejam detectados níveis elevados de IMC nas consultas de rotina, deverá actuar-se de imediato para prevenir a evolução da doença.
Prevenir, para não tratar
A epidemia da obesidade é reversível. Para isso, a promoção de estilos de vida saudáveis, incidindo na infância e juventude, é imperativa, para que os seus efeitos sejam observados nos quatro a cinco anos seguintes.
De acordo com a Carta Europeia da Luta contra a Obesidade (Doc. Eur/06/5062700), o crescimento desta epidemia deverá ser controlado até 2015, de modo a conseguir-se uma primeira inversão desta tendência a partir daí.
São três os pilares em que assenta a prevenção e o controlo da obesidade:
O programa alimentar, deve ser equilibrado e nutritivo, evitando carências vitamínicas e de outros tipos que conduzam à desnutrição.
Reduzir a ingestão de calorias, evitando o consumo de álcool e refrigerantes, preferindo água simples em abundância, ao longo do dia, ou chás e infusões.
A ingestão adequada de cálcio também contribui para a redução do armazenamento de gordura, através da regulação da hormona interveniente na lipogénese/lipólise.
Reduzir igualmente o consumo de sódio, optando por sal iodado e ervas aromáticas e especiarias na confecção das refeições. A alimentação deve ser adequada às necessidades energéticas, procurando fazer pelo menos cinco refeições diárias, não descurando nunca o pequeno-almoço.
Nos recém-nascidos de pais obesos – potenciais candidatos a obesidade infantil –, a alimentação base deve ser o leite materno nos primeiros seis meses, a que se seguirá a inserção de carnes magras, legumes e frutas, com quantidades muito reduzidas de açúcar.
O incremento da actividade física e desportiva é o segundo factor a considerar para prevenção da obesidade. Praticar, pelo menos, 30 minutos de actividade física moderada diariamente, como, por exemplo, marcha, jogging, subida de escadas, natação, etc., podendo ser fraccionados e intervalados de 10 minutos cada.
A existência de um programa educativo, escolar e institucional, multisectorial é o último dos factores para reduzir o alarmante número de obesos. Há que desenvolver estratégias para o ensino de atitudes positivas relacionadas com os hábitos alimentares saudáveis, saúde física e de bem estar social envolvendo a família.
Deve incentivar-se a leitura das instruções e rótulos apostos nos produtos alimentares, no que diz respeito à percentagem calórica e dosagens dos nutrientes. Deve igualmente reduzir-se o tempo de utilização das consolas electrónicas, de TV e de outros jogos que só contribuem para o aumento do sedentarismo.
Acima de tudo há que perceber que a obesidade não é um problema do indivíduo, mas, antes, um problema social, que deverá ser encarado como tal.
É da responsabilidade dos Serviços do Sistema Nacional de Saúde e do Ministério da Educação, assim como dos meios de informação, esclarecer a população sobre as opções alimentares mais saudáveis, tendo em conta o estilo de vida de cada um. Na luta contra esta doença, além da informação, é necessário envolver a família e motivar as pessoas.
Até porque, no Plano da Saúde Pública o objectivo é prevenir a obesidade e não tratá-la.
Os carboidratos, também conhecidos como açúcares, glícidos ou hidratos de carbono, são macronutrientes, responsáveis por fornecer energia ao corpo humano.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.