INFECÇÕES URINÁRIAS

INFECÇÕES URINÁRIAS

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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As infeções do aparelho urinário constituem um dos principais motivos de consulta na prática médica. Afetam milhões de pessoas anualmente e são um sério problema de saúde, com enormes repercussões na qualidade de vida, no rendimento profissional e na saúde dos pacientes.

Além de envolverem recursos humanos e económicos com grande impacto nas instituições de saúde, nas situações mais graves podem levar à falência do funcionamento dos rins – insuficiência renal –, obrigando ao recurso a sistemas de substituição permanente da função renal, como a diálise.

As infeções urinárias são a segunda infeção mais frequente do corpo humano, afetando maioritariamente as mulheres, 50 por cento das quais terão pelo menos uma infeção ao longo da vida.

No género masculino este tipo de infeção é menos comum e raro antes dos 50 anos de idade, sendo no entanto habitualmente mais grave que nas mulheres.

As razões desta disparidade prendem-se com a própria fisionomia da mulher. No género feminino existe uma grande proximidade entre a uretra – canal que liga a bexiga ao exterior – e os "reservatórios bacterianos" vaginais e intestinais. A uretra é a estrutura do aparelho urinário com maior diferença entre os géneros. No homem, o comprimento médio é de 20cm e na mulher, de apenas 5cm.

O aparelho urinário pode sofrer a colonização por microrganismos. A infeção ocorre quando as bactérias ou outros agentes se multiplicam provocando lesão nos tecidos dos diferentes órgãos deste aparelho – rins, ureteres, bexiga e uretra. Na maior parte das vezes estas infeções são causadas por bactérias, mas podem igualmente ser causadas por agentes infecciosos menos frequentes, como fungos, parasitas ou micobactérias.

Em cerca de 75 por cento dos casos a infeção da bexiga, ou cistite, é causada pela escherichia coli (conhecida como "colibacilo"), bactéria habitualmente alojada no cólon (intestino grosso). Outros microrganismos, como a clamídia e o micoplasma, também podem causar infeção do aparelho urinário, mas limitam-se geralmente à uretra e vagina podendo, ao contrário da escherichia coli, ser sexualmente transmitidos, obrigando por isso ao tratamento de ambos os parceiros.

Existem outras bactérias menos frequentes, como o proteus mirabilis, em 10 por cento; klebsiella pneumoniae, em 6 por cento; staphylococcus saprophyticus, em 4 por cento, e o enterococcus spp., em 2 por cento.

Algumas pessoas parecem ser mais suscetíveis que outras a desenvolver infeções urinárias. Além disso, ainda que a anatomia da uretra feminina seja a principal causa para que estas infeções oportunistas sejam muito mais comuns em mulheres, existem outros fatores que facilitam a sua ocorrência.

A atividade sexual é outro dos possíveis fatores desencadeantes, pois a penetração vaginal facilita a progressão bacteriana através da uretra, sendo comum a ocorrência de infeções urinárias com maior frequência no início da vida sexual ativa.

Mulheres grávidas não parecem ter maior suscetibilidade para desenvolver infeções urinárias que a população em geral mas, quando infectadas, é mais provável que as infeções se compliquem, atingindo os rins. Para isso contribuem as alterações hormonais e a pressão intra-abdominal, causada pelo desenvolvimento do feto.

Na menopausa, a diminuição das hormonas femininas, principalmente à carência de estrogéneos, reduz a espessura e lubrificação da camada de revestimento (epitélio) vaginal e uretral, tornando-as mais permeáveis às bactérias.

Também as crianças podem sofrer de infeções urinárias. No entanto, estas são mais frequentes em bebés que nascem com anomalias do desenvolvimento do aparelho urinário como, por exemplo, o refluxo urinário, em que a urina tende a refluir no sentido do rim, contrariando o sentido normal, em direção à bexiga e ao exterior.

De um modo geral todas as situações que dificultem o fluxo urinário favorecem a contaminação. É o caso dos apertos uretrais e, no homem, a obstrução causada pelo aumento do volume da próstata – a hiperplasia prostática. Também a presença de cálculos urinários (pedra nos rins, ureteres ou bexiga), que dificultam a drenagem da urina e irritam as paredes, favorecem a sobrevivência bacteriana e a sua persistência.

Algumas anomalias anatómicas como divertículos ou prolapso pélvico facilitam igualmente a infeção. O mesmo se passa com doenças como a diabetes mellitus do tipo 2 mal controlada, doença oncológica avançada, sida, tratamentos de imunossupressores nos doentes transplantados bem como certas doenças reumatológicas e do sangue, que provocam a fragilização das defesas imunitárias e o aparecimento de infeções.

Alterações neurológicas, que afetam os nervos que controlam a micção, caso de doentes com lesões da medula espinal ou doentes com esclerose múltipla, originam um esvaziamento incompleto e a formação de divertículos na bexiga – a chamada bexiga neurogénica.

A infeção pode variar de intensidade conforme as defesas do paciente em que se instala, a virulência (força) e a quantidade de bactérias que se alojam, assim como a sintomatologia.

Tipos e sintomatologia da infeção urinária

O aparelho urinário divide-se em aparelho urinário alto, constituído pelos rins e ureteres, e urinário baixo, constituído pela bexiga e uretra. Dependendo da estrutura afetada, as infeções podem ser de tipos diferentes, sendo as mais frequentes a cistite (ou infeção da bexiga), a uretrite (infeção da uretra) e a pielonefrite (infeção do rim).

Existem ainda outros tipos de infeções urinárias menos frequentes, que por isso deverão ser objeto de avaliação específica, como a pionefrose, abcesso renal e peri-renal e a urosépsis.

Quanto à sintomatologia, é importante referir que nem todas as pessoas com infeção urinária apresentam sintomas. A grande maioria tem, no entanto, queixas que variam de acordo com a localização da infeção.

As infeções urinárias baixas apresentam sintomas como disúria (dificuldade miccional), frequência e urgência urinárias, ardor miccional, jacto enfraquecido com gotejo e noctúria (acordar para urinar), entre outros.

Mal-estar geral, sensação de peso e dor na região inferior do abdómen, mesmo quando não se está a urinar, estão também entre os sintomas mais característicos.

Se a infeção se limitar à uretra e bexiga, raramente causa febre. Mas, nas infeções urinárias altas (pielonefrite), febre e calafrios, lombalgia e mal-estar geral, por vezes acompanhado de náuseas e vómitos, são os sintomas mais experimentados.

As mulheres sentem um grande desconforto na região púbica e os homens queixam-se de dor e sensação de volume no reto. O aspecto e o odor da urina também se pode alterar, podendo ser mais turva, leitosa ou avermelhada se contiver sangue.

Nas crianças, a sintomatologia nem sempre é evidente e, em alguns casos, apresentam sintomas em locais não relacionados com o sistema urinário.

Deve suspeitar-se de infeção urinária nas crianças que apresentem alterações do comportamento, como irritabilidade, choro fácil, perda de apetite e de peso. Pode ocorrer ainda incontinência urinária e fecal bem como febre que, ao contrário do adulto, é um sinal frequente nesta idade.

Na suspeita de infeção urinária deve sempre recorrer-se a consulta médica. Só o clínico pode fazer o diagnóstico, avaliar a gravidade da situação e prescrever o tratamento mais eficaz e adequado a cada paciente.

Diagnóstico e tratamento

Na consulta, mediante a descrição dos sinais e sintomas do doente, e através do registo da história clínica, o médico prescreve o exame à urina (urina II) que permite conhecer algumas das suas propriedades, tais como a presença de sangue, pus ou nitritos (produtos do metabolismo bacteriano). Adicionalmente a este exame de rotina, é frequente solicitar-se uma cultura (urocultura), que revela proliferação de bactérias e permite identificar a causadora da doença.

Podem ainda ser pedidos exames complementares para confirmar o diagnóstico, como, por exemplo através da tira reativa "dipstick", que consiste numa fita com vários marcadores coloridos para onde o doente urina, ficando a conhecer algumas propriedades da sua urina após a reação química que se segue.

Em alguns casos, principalmente em crianças e doentes com história de infeções urinárias de repetição, é importante realizar exames de imagem, como a ecografia renal e vesical, raio-X com contraste das vias urinárias (urografia excretora) e TAC, entre outros. Este tipo de exames é importante na medida em que ajuda a diagnosticar defeitos congénitos das vias urinárias, que podem favorecer o desenvolvimento destas infeções.

Enquanto se aguarda pelos resulados do diagnóstico, para aliviar as queixas e abreviar a duração dos sintomas, deve aumentar-se a ingestão da quantidade de água – que permite uma maior diluição da urina e eliminação bacteriana –, e evitar bebidas como o café, álcool e especiarias.

O tratamento das infeções urinárias visa principalmente a eliminação dos agentes causadores. Os antibióticos são os medicamentos habitualmente prescritos para tratamento da doença. A opção terapêutica e a duração do tratamento dependem do tipo de infeção urinária, mas pode durar 3, 7, 10 ou 14 dias.

No caso de infeções simples, são normalmente usados a sulfametoxazol-trimetoprim, amoxicilina, ampicilina e antibióticos da classe das quinolonas (ciprofloxacina, norfloxacina e levofloxacina). Algumas alternativas são as cefalosporinas de 1ª e 3ª gerações (cefalexina, cefadroxil, cefixima), ácido pipemídico e nitrofurantoína. Concomitantemente o médico pode também receitar um analgésico, no caso do paciente sentir dor, um antipirético, no caso de febre, antiespasmódicos ou ainda anti-inflamatórios.

A fosfomicina é um fármaco particularmente útil no tratamento de infeções simples, como as cistites, uma vez que um só comprimido pode curar a doença, além de possuir alta especificidade e perfil de resistência bacteriana menor quando comparado com as quinolonas.

Os antimicrobianos de escolha para o tratamento de infeção urinária complicada são as fluoroquinolonas, as cefalosporinas de 2ª e 3ª geração, penicilinas sintéticas com inibidores da betalactamase (como a associação amoxicilina + ácido clavulânico) e aminoglicosídeos (estreptomicina, apramicina).

Os sintomas normalmente desaparecem nos primeiros dias, mas é necessário prosseguir com o tratamento durante todo o período prescrito pelo médico, para evitar a recorrência do quadro.

No caso de pessoas que apresentam infeções de repetição, pode indicar-se um antibiótico profilático, o que significa que a pessoa vai tomar antibiótico diariamente, com o objetivo de evitar o desenvolvimento de outras infeções.

Se o agente causador é um fungo opta-se normalmente pelo fluconazol ou, na ausência de resposta, pela anfotericina B. Acima de tudo é importante que o tratamento com antibióticos e antifúngicos seja criteriosamente selecionado a fim de evitar o aumento da resistência bacteriana, um dos problemas atuais.

Medidas de prevenção para evitar uma repetição

São classifcadas como infeções urinárias de repetição as infeções que surgem mais de três vezes no período de um ano ou duas vezes no período de seis meses. São muitas as mulheres que sofrem de infeções urinárias frequentes, e cerca de 20 por cento das que têm um primeiro episódio, terão pelo menos mais uma infeção. Destas, 30 por cento voltam a repetir novamente o problema.

Para prevenir e/ou diminuir as possibilidades deste tipo de infeções, há um conjunto de medidas simples que se devem adotar no dia-a-dia, nomeadamente: lavar as mãos antes e depois de urinar; ingerir bastante água durante o dia (1,5 L a 2 L); evitar os banhos de imersão; efetuar a higiene da vulva e da região perianal da frente para trás, a fim de evitar que bactérias fecais entrem em contato com o canal urinário; evitar a obstipação dado que a presença de fezes no recto aumenta a probabilidade de contaminação urinária; as mulheres devem esvaziar completamente a bexiga após o ato sexual e limpar as áreas genitais após as relações sexuais; urinar com intervalos inferiores a 4 horas (exceto à noite) evitando manter a bexiga cheia durante muito tempo, o que originará uma proliferação bacteriana; manter hábitos de vida saudáveis, com particular incidência na alimentação equilibrada; evitar o stress, a fadiga e nervosismo, que podem debilitar o sistema imunológico, propiciando o desenvolvimento de novas infeções.

Na profilaxia das infeções urinárias de repetição, a estimulação imunitária tem um papel crescente. A vacinação através de administração de componentes bacterianos, que estimulam o sistema imunitário do nosso organismo, permite um aumento da resistência às infeções urinárias e uma menor frequência de tratamentos antibióticos, sendo por isso, uma opção importante nas diversas estratégias de prevenção destas infeções que o médico deverá ter em consideração.

Como em qualquer doença, a solução pode estar na prevenção. Assim, previna-se! A prevenção pode transformar as infeções urinárias num problema do passado.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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