VACINAR-SE ESTÁ FORA DE QUESTÃO?

VACINAR-SE ESTÁ FORA DE QUESTÃO?

SOCIEDADE E SAÚDE

  Tupam Editores

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Tem vergonha de o confessar, mas tem pavor de agulhas? Ver uma imagem de uma seringa e pensar em vacinas é o suficiente para lhe provocar calafrios e desencadear uma crise de ansiedade? Pois saiba que não é o único. Lamentavelmente, trata-se de um medo que vai ter de superar para se manter saudável e à comunidade.

Todos os anos as vacinas salvam a vida a cerca de três milhões de pessoas em todo o mundo e previnem a invalidez a mais de 750 mil crianças, em consequência de doenças infecciosas. Apenas o advento da distribuição de água potável às populações implicou uma redução da incidência de doenças infecciosas tão marcante quanto a vacinação. Nem mesmo a introdução de antibióticos teve uma ação tão determinante na redução da mortalidade.

No sentido estrito, etimológico, o termo Vacina (do latim vaccinae, “de vaca”) designava uma doença infectocontagiosa que aparecia no gado vacuum, sob a forma de pústulas, cuja transmissão acidental ao homem conferia proteção contra a varíola.

A vacina é normalmente considerada um agente – microrganismo ou substância – que, quando introduzido no corpo de um indivíduo, por via oral ou injetável, gera imunidade a determinadas doenças. É um preparado antigénico que induz resposta imunitária protetora específica de um ou mais agentes infecciosos.

Embora farmacologicamente sejam classificadas como medicamentos, as vacinas apresentam várias diferenças em relação aos fármacos clássicos. A nível da ação, a vacina é preventiva e o medicamento é terapêutico; na vacina, o benefício é individual e a proteção e efeito não são percetíveis, pois o indivíduo não contrai a doença; no medicamento, o benefício é apenas individual e o efeito é visível porque normalmente ocorre melhoria do quadro clínico.

Atualmente as vacinas possuem um elevado grau de eficácia, segurança e qualidade, mas no entanto, podem ocorrer alguns efeitos inesperados, como é o caso de reações adversas ou efeitos secundários, sendo os mais comuns dor, edema, eritema e rubor no local da injeção e febre, fadiga, irritabilidade, dor muscular e cefaleias.

Contudo, a morbilidade e gravidade de qualquer uma das doenças preveníveis por vacina é sempre superior ao risco de vir a desenvolver qualquer reação adversa. Além da proteção individual que confere, a vacinação tem objetivos mais vastos e de maior alcance em termos de Saúde Pública.

Os primeiros passos da vacinação

Um dos maiores trunfos da ciência foi a imunização em larga escala da população, aventura que teve o seu início há mais de mil anos. Desde tempos remotos se sabia que, quando deflagrava uma epidemia, os sobreviventes não contraíam a doença de imediato. Quando a varíola irrompeu ao longo da rota da seda, entre a China e a Turquia, surgiu a ideia de inocular o pus retirado de um doente, numa pessoa saudável. Existiam riscos mas, ao desenvolver sintomas benignos, a pessoa ficava mais protegida da infeção fatal.

O que então se denominou de variolização foi importado para o ocidente no início do século XVIII. Porém, só em 1796 o médico inglês, Edward Jenner estabeleceu as primeiras bases científicas daquela prática empírica, contribuindo assim para um dos maiores avanços da medicina atual.

Jenner teve a ideia de usar o vírus da varíola bovina, retirado das pústulas de vacas doentes, inoculando-o em camponeses ingleses com o objetivo de os proteger da doença. O termo então utilizado, “variola vaccinae”, significa, literalmente, varíola das vacas, termo que posteriormente daria origem à palavra vacina.

Esta era a única vacina conhecida até ao aparecimento de Louis Pasteur, 90 anos depois, já no final do século XIX. Pasteur foi o primeiro a compreender o papel dos microrganismos na transmissão das infeções. Usou vários processos para reduzir a infecciosidade dos microrganismos que utilizava para inocular os animais das suas experiências iniciais. Ao provocar a doença de forma muito atenuada, Pasteur ajudava o animal a defender-se das formas mais agressivas da doença.

Pasteur é frequentemente recordado por ter descoberto a vacina contra a raiva. Em 1885 vacinou um jovem pastor mordido por um cão portador da doença, com extratos de medula espinal de um outro, igualmente com aquela patologia, tendo-se tornado a primeira pessoa a sobreviver à doença.

Desde o século passado que se têm registado contínuos avanços nos vários tipos de vacinas. No início do século XX foram desenvolvidas vacinas contra doenças infecciosas como a tuberculose, difteria, tétano e febre amarela e após a segunda guerra mundial, contra a poliomielite, o sarampo, a papeira e rubéola.

Estão atualmente disponíveis em todo o mundo, mais de 50 tipos de vacina. Um dos maiores sucessos das várias campanhas de vacinação levadas a cabo foi a eliminação da varíola, declarada como erradicada em todo o mundo pela Organização Mundial de Saúde em 1976.

À medida que as doenças mais graves praticamente desapareceram, as pessoas deixaram de as temer tendo-se tornado menos vigilantes. Por esta razão, devido ao surgimento de novas doenças, os desafios da vacinação permanecem.

À sida juntou-se a malária, a poliomielite ainda está presente em vários países (principalmente no hemisfério sul), a difteria reapareceu na Europa de leste e o sarampo voltou a preocupar as autoridades de saúde de toda a Europa.

Portugal e o Programa Nacional de Vacinação

Portugal tem vindo a acompanhar a história e o desenvolvimento da vacinação. É praticada no nosso país desde o século XVIII, havendo referência a inoculações contra a varíola datadas de 1793. No entanto, à exceção desta, a administração universal de vacinas somente foi levada à prática em 1965, com a implementação do Programa Nacional de Vacinação (PNV).

Coordenado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), o PNV tem como objetivo assegurar o controlo das doenças infecciosas para as quais existem vacinas eficazes e seguras, cuja incidência, sequelas e letalidade são elevadas. Financiado na sua totalidade pelo Ministério da Saúde, o PNV é um programa universal, gratuito e acessível a todas as pessoas residentes em Portugal, especificamente estudado para o nosso país, devendo por isso ser cumprido por todos.

O PNV tem-se revelado um sucesso. A sua primeira versão englobava a vacinação contra seis doenças: varíola, difteria, tétano, tosse convulsa, poliomielite e tuberculose. Desde a sua implementação já foram vacinadas cerca de 10 milhões de crianças e vários milhões de adultos. A modificação do estado imunitário da população altera a epidemiologia e a apresentação clínica das doenças. Por isso, o PNV é atualizado em função desta evolução e da disponibilidade de novas vacinas, com o objetivo de melhorar a sua qualidade.

No início de 2017, a DGS lançou uma campanha para promover e reforçar a importância da vacinação e para divulgar as principais alterações introduzidas ao PNV que entraram em vigor em janeiro. Sob duas ideias essenciais – “Vacinas para a vida” e “Vacinar é proteger” –, a campanha pretendia demonstrar a importância da vacinação ao longo de todo o ciclo de vida, a proteção e segurança das vacinas, tendo em conta a alteração relativa à idade da vacinação contra o tétano, e também, para as raparigas, da vacinação contra o vírus do papiloma humano (VPH), sublinhando a proteção e imunidade que a grávida transmite ao bebé.

Atualmente estão em vigor vacinas para prevenção da tuberculose, difteria, tétano, tosse convulsa, meningite provocada por haemophilus influenzae, meningite meningocócica (grupo C), hepatite B, poliomielite, rubéola, sarampo, parotidite e vírus do papiloma humano (HPV).

Para além destas, também são comercializadas em Portugal a vacina contra a gripe recomendada pela OMS, e cuja composição é adaptada à estirpe viral em circulação em cada ano – sendo aconselhada para as pessoas com mais de 65 anos, pacientes com doenças crónicas dos pulmões, coração, rins ou fígado, portadores da diabetes ou outras patologias que causem resistência às infeções –, e a vacina Prevenar. Esta última visa a prevenção da doença invasiva (bacteriemia, septicemia, pneumonia bacteriémica), em particular, e meningite provocada por streptococus pneumoniae.

O esquema cronológico das vacinações consiste na primovacinação e nas doses de reforço, sendo todas as doses válidas para efeitos de imunização (ou seja, a interrupção do calendário de vacinação não obriga ao seu recomeço).

Existem ainda algumas vacinas indicadas para a proteção de viajantes que se desloquem por regiões do planeta onde a frequência de certas doenças infectocontagiosas ainda é elevada.

Apesar de a promoção e vigilância do estado de imunização da população competir, em primeira instância, aos profissionais de saúde, é essencial que todos os pais percebam a importância de observar o cumprimento do PNV.

Porquê vacinar?

A vacinação deve ser entendida como um direito e um dever dos cidadãos, que devem participar ativamente na decisão de se vacinarem, com a consciência de que estão a defender a sua saúde e a Saúde Pública.

A adesão ao PNV permite salvar mais vidas e prevenir mais casos de doença que a maioria dos tratamentos médicos.

Através de um ato tão simples, como uma vacina, podem ser evitadas doenças como a gripe (sazonal), gripe A, papeira, tétano, sarampo, rubéola, raiva, varicela, poliomielite, tosse convulsa (pertussis), tuberculose, hepatites A e B, cólera, difteria, doenças pneumocócica e meningocócica, encefalite da carraça, encefalite japonesa, febre amarela, febre tifoide, gastroenterite pediátrica rotavírus, doença por haemophilus influenzae tipo B e cancro do colo do útero.

Além destes benefícios, a vacinação preventiva ainda contribui para combater o problema da resistência microbiana. Ao prevenir uma doença, a vacina reduz a necessidade de fármacos que combatam os microrganismos. Isto ajuda a manter a eficácia dos antibióticos pois, sempre que estes são usados de forma inadequada, podem perder eficácia em consequência da mutação do microrganismo causador.

A expressão “é melhor prevenir do que remediar (tratar)” aplica-se totalmente à vacinação.
Além de constituir um ato para proteção da vida e da qualidade da saúde do indivíduo no futuro, a vacinação constitui um ato de proteção da comunidade, principalmente dos seus familiares, colegas de trabalho e amigos, o que se torna particularmente importante se o indivíduo vacinado, ou os que com ele estão em contacto, forem portadores de doenças crónicas graves.

Uma elevada taxa de cobertura de vacinação da população vai impedir a circulação dos agentes infecciosos (bactérias ou vírus) que provocam as doenças – a chamada imunidade de grupo –, o que leva à erradicação ou eliminação de doenças, como já aconteceu com a varíola, poliomielite e, por exemplo, com a difteria (sem casos em Portugal, desde 1993).

Atualmente a taxa de cobertura vacinal é, em média, igual ou superior a 95 por cento para cada vacina. Este elevado nível de taxas fica a dever-se à ação dos profissionais de saúde que divulgam os programas e ações, motivam as famílias e, de um modo geral, aproveitam todas as oportunidades para vacinar as pessoas.

A vacinação é uma medida preventiva que contribui para aumentar a esperança de vida da população. O impacto sobre a mortalidade e a morbilidade de doenças endémicas e epidémicas é testemunho do papel determinante que esta assume na melhoria da Saúde Pública.

Assim, pela sua saúde e dos seus familiares, vacine-se… sem medo!

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