Acreditamos que não haja praticamente ninguém que ainda não tenha experimentado uma dor de cabeça, em algum momento de suas vidas. Em muitas ocasiões, uma noite mal dormida, excesso de exposição ao sol, uma ressaca, jejum prolongado ou situações de stress são as causas dessas típicas crises com dores de cabeça, para as quais um analgésico pode proporcionar algum alívio. Mas há pessoas que sofrem de dor de cabeça crónica e persistente, que pode afetar a sua qualidade de vida e tornar-se mesmo incapacitante para exercer qualquer tipo de trabalho ou, até, de realizar as tarefas do dia-a-dia.
Popularmente conhecida por dor de cabeça, a cefaleia é um problema muito frequente e uma das queixas mais comuns nas consultas de clínicos, pediatras ou neurologistas. A maior parte é de origem desconhecida e considerada pouco grave, dado não ser causada por patologias severas, como o cancro ou hipertensão. Normalmente é ocasionada por espasmos musculares ou dos vasos sanguíneos e está geralmente associada ao cansaço ou às tensões da vida quotidiana.
Vestígios do neolítico já sugeriam a presença em humanos de crises muito semelhantes à cefaleia, sendo associada aos espíritos malignos que residiam no crânio. Como a interpretação era sobrenatural, também o tratamento era drástico: desde a abertura de orifícios na cabeça para libertar os demónios, até à cura "milagrosa" entre os egípcios, que passava por colocar a cabeça do doente na boca de um crocodilo de barro enquanto se invocavam os deuses.
Provavelmente a cura ficava a dever-se à compressão que era exercida nas artérias dilatadas da cabeça. Estas práticas para retirar a chamada "pedra da loucura" foram seguidas na Idade Média e chegaram à Idade Moderna. Em pleno século XVIII, os doentes com epilepsia, enxaqueca ou problemas neurológicos eram submetidos a esse tipo de intervenções, por vezes fatais, executadas por curandeiros charlatães.
Nem Hipócrates, pai da medicina, conseguiu explicar de forma verosímil as causas da cefaleia, tendo atribuído a sua origem a uma subida das exalações do estômago para a cabeça, dado que as crises, ocasionalmente, desapareciam com os vómitos. Só muito mais tarde, no primeiro século da era cristã, pela mão de Arataeus da Capadócia, aparece a primeira descrição médica da dor de cabeça, bem como a sua classificação em cefalalgia, cefaleia e enxaqueca.
A classificação atual ainda se baseia nessa matriz e, apesar de, no século XX, se assistir a uma abordagem mais científica da patologia, ainda se procuram as causas e soluções terapêuticas mais eficazes para combater essa dor, tão antiga como a própria humanidade.
As dores de cabeça não escolhem sexo nem idade, embora as principais vítimas sejam as mulheres, numa proporção três vezes superior ao homem, sobretudo durante o período menstrual. A hormona feminina é a culpada, devido às suas oscilações durante a puberdade, ovulação, menstruação e menopausa, fases da vida da mulher em que as dores de cabeça se tornam mais intensas e frequentes. Após a menopausa as cefaleias começam a rarear, devido à estabilização do estrogénio, o mesmo acontecendo durante a gravidez.
A cefaleia é mais um sintoma que doença. Carateriza-se por uma pressão dolorosa na cabeça que pode propagar-se aos olhos, pescoço e ombros. Geralmente são temporárias, desaparecendo quando se remove a causa que as desencadeia. A dor, porém, pode ser tão forte e incapacitante para o trabalho e atividade normal, que se torna necessário recorrer ao médico. Se a cefaleia for acompanhada de outros sintomas, como febre, convulsões, perda de consciência, vómitos e problemas auditivos ou de visão, poderá não ser apenas uma dor passageira, exigindo mais cuidados.
O especialista deverá começar por identificar a intensidade e frequência da dor, a fim de avaliar se ela segue um padrão específico, está relacionada com a alimentação ou se ocorre na sequência de algum evento. As alergias que o paciente possa apresentar, medicamentos tomados, situações de stress, assim como as dietas e horas desono, são elementos que contribuem para aliviar ou acentuar a dor de cabeça. Em última análise poderá proceder a exames complementares de diagnóstico a fim de descartar problemas mais graves.
Os fatores que desencadeiam a cefaleia podem ser de origem biológica e genética, podendo também surgir como reação do organismo a estímulos externos a que está exposto diariamente.
Classificação das cefaleias
Embora pareça ser o cérebro que dói quando surge uma cefaleia, aquele órgão é incapaz de percepcionar a dor. Apenas informa quando outros órgãos sofrem anomalias. Na maior parte das cefaleias o que realmente dói são os nervos, vasos sanguíneos e músculos que revestem o crânio e pescoço. Quando inflamam ou são pressionados, os nervos enviam uma mensagem ao cérebro, que a descodifica, provocando então a típica dor de cabeça.
Já foram identificados mais de 150 tipos de cefaleia. Cerca de 90 por cento pertencem ao grupo das cefaleias primárias, com origem psicossomática. São causadas por distúrbios bioquímicos do próprio cérebro que afetam o funcionamento de neurotransmissores e/ou seus recetores, desencadeando a dor. Nesta classificação a enxaqueca, com ou sem aura, é a mais comum. Existem todavia outros tipos, como a cefaleia tensional, cefaleia em salvas e as hemicranias paroxísticas.
A dor de cabeça tensional é o tipo mais comum de dor de cabeça que existe, tem duração variável, podendo durar de 30 minutos até 7 dias consecutivos. Geralmente as crises são de intensidade fraca a moderada, é uma dor incomodativa mas que raramente leva o paciente ao hospital, optando antes pela automedicação com medicamentos adquiridos sem receita médica.
Surge quando os músculos da face, nuca ou base do crânio se contraem ou sofrem pressão durante muito tempo. É uma cefaleia primária, cuja dor se manifesta nas têmporas. Embora de mais fácil tratamento que a enxaqueca, ocorre com maior frequência, devido a posturas incorretas ao ler, ver televisão ou ainda por problemas no pescoço, dentes ou maxilares. O stress, ansiedade ou cansaço podem provocar cefaleia tensional.
A cefaleia tensional é afeção extremamente comum e muitas vezes negligenciada. O tratamento adequado aliado ao seguimento neurológico regular melhora a qualidade de vida do paciente, reduzem os gastos com analgésicos, melhora a autoestima social e no trabalho, cabendo a cada um optar pela melhor avaliação.
A cefaleia em salvas é um tipo mais doloroso e intenso de dor, além de mais persistente. Alterações circulatórias das artérias cerebrais, assim como deficiente oxigenação no cérebro, podem estar na sua origem. O tabaco e a altitude podem ser fatores de risco. Alguns medicamentos como a nitroglicerina ou o consumo do álcool também podem originar este tipo de cefaleia.
Como o nome indica, ocorre em salvas ou em grupo e cada um pode durar de sete dias a um ano e as crises podem atingir os 180 minutos. Curiosamente, a cefaleia em salvas ocorre com mais frequência no género masculino, sobretudo no adulto jovem, sendo caraterizada por dor à volta dos olhos, estendendo-se até outras zonas da cabeça.
Pelo contrário, as hemicrânias paroxísticas afetam mais as mulheres e, embora os sintomas sejam muito semelhantes aos da cefaleia em salvas, as suas crises são menos duradouras, apesar de mais frequentes. Cada episódio pode durar até 45 minutos e repetir-se entre 5 a 38 vezes por dia, enquanto as crises da cefaleia em salvas poderão manifestar-se, ocasionalmente, de dois em dois dias e, no máximo, atingir oito vezes diárias.
Com maior incidência também no sexo feminino e ainda no grupo das cefaleias primárias e benignas, surge a clássica enxaqueca. Carateriza-se por ser uma dor crónica e pulsátil que se manifesta num dos lados da cabeça, embora possa ser bilateral. Atinge, em particular, a região da órbita e da têmpora e as crises, habitualmente, prolongam-se entre meia hora a 72 horas.
Ao contrário das cefaleias tensionais, a enxaqueca pode ser hereditária, estando associada a vómitos, náuseas e a um mal-estar geral.
Normalmente, a pessoa apresenta intolerância a estímulos sensoriais, como o som ou a luz, para além de dificuldades motoras e da linguagem ou alterações de humor que comprometem a atividade diária e se agravam com o exercício físico.
Alguns alimentos ricos em tiramina (queijo curado ou amendoins), ou que contenham cafeína e feniletilamina (café, chocolate, colas ou chás) podem igualmente desencadear a cefaleia. Os nitratos, presentes sobretudo nos alimentos de charcutaria, para além de fatores ambientais, são também responsáveis pelas cefaleias.
As cefaleias secundárias inspiram maior preocupação, já que podem ser resultado de uma infecção na região cerebral ou aumento da pressão daquele órgão. Doenças comuns como a gripe, dor de garganta, sinusite, anemia, distúrbios visuais e auditivos ou situações mais graves como aneurismas, traumatismos cranianos, AVC, meningites, encefalite ou tumores cerebrais podem ocasionar cefaleias.
Raramente a dor de cabeça é sintoma de doença grave, embora possa ser assustador e alarmante, se a dor se tornar muito intensa. Cefaleias acompanhadas de sinais de alarme como alteração da visão, febre, dor e rigidez no pescoço, erupção cutânea, dor de ouvidos, convulsões, vómitos, vertigens ou dificuldades para se manter em pé, devem ser cuidadosamente vigiadas.
Tratamento passa pela prevenção
A enxaqueca ainda não tem cura conhecida, pelo que a melhor forma de a controlar passa por medidas comportamentais incluindo mudanças no estilo de vida e pelos tratamentos com fármacos. Para tratar uma cefaleia, em particular a enxaqueca, pode recorrer-se ao tratamento drástico, no sentido de aliviar as crises, ou ao tratamento preventivo/profilático que consiste em evitar as causas da doença.
Dependendo sempre do diagnóstico, em ambas as situações deve recorrer-se aos fármacos. Contudo, a maior parte das dores de cabeça pode curar-se recorrendo apenas a um bom período de descanso em quarto sem luz, bem ventilado e silencioso. Relaxar e respirar pausadamente pode ajudar, assim como uma compressa húmida sobre a cabeça e os olhos ou ainda a colocação de gelo na zona cervical.
Quando os remédios caseiros não surtem efeito, o recurso aos fármacos torna-se inevitável. Se a dor de cabeça é muito forte, um analgésico à base de paracetamol ou acetaminofeno pode fazer milagres. Também alguns anti-inflamatórios, como a aspirina, o diclofenac, a indometacina ou o naproxeno, podem ser eficazes.
Os relaxantes musculares (baclofeno, benzodiazepinas), os anticonvulsivantes (fenitoína, gabapentina, topiramato, carbamazepina) ou ainda alguns fármacos específicos para a enxaqueca, como os ergotamínicos e os triptanos, podem combater ou aliviar a dor. Quando esta está associada à ansiedade ou depressão, que surgem muitas vezes nas cefaleias tensionais, o médico prescreve antidepressivos tricíclicos.
A partir das três ou quatro crises de enxaqueca por mês, é conveniente recorrer a uma terapia profilática, com acompanhamento médico, para a qual os beta-bloqueantes, os antagonistas de cálcio, os antidepressivos, o ácido valpróico ou a riboflavina podem ser muito úteis na sua prevenção e controlo.
A utilização excessiva de medicamentos potencia efeitos colaterais que podem ser graves, sendo por isso necessário uma adequada supervisão médica. Em casos mais graves, como meningite ou hemorragia craniana, o tratamento passa pela hospitalização do doente e posterior intervenção neurocirúrgica.
Se bem que haja fatores de risco não controláveis, no aparecimento de uma cefaleia há outros que estão ao alcance do paciente: seguir uma vida saudável, que inclua a prática de exercício físico e dieta adequada, para além de hábitos regulares desono, são medidas que, incorporadas na rotina diária, evitam ou reduzem a frequência de cefaleias.
Conhecer e controlar os desencadeantes da doença, como o stress, álcool, tabaco, desidratação, televisão ou computador em excesso, a cafeína, as alterações climáticas e térmicas ou ainda o consumo de determinados alimentos, como especiarias, queijo curado ou enchidos. Ter no entanto em atenção que cada paciente tem seus próprios desencadeantes de dor, que devem ser evitados na medida do possível, devendo ser aplicadas medidas individualizadas, caso a caso, e não restrições generalizadas.
A enxaqueca é uma perturbação muito comum na população em geral, embora afete particularmente aqueles que se encontram na vida ativa, ou seja, entre os 30 e 50 anos. Implica, por isso, custos sociais e económicos elevados, pois é causa direta de absentismo no trabalho e escola, com uma média de quatro dias por ano. Apesar do seu impacto é pouco diagnosticada, embora sejam conhecidos os casos de muitas personalidades famosas que foram obrigadas a conviver com cefaleias intensas ao longo das suas vidas. Governantes como Júlio César, Napoleão Bonaparte e Maria Tudor, e intelectuais ilustres como Sigmund Freud, Karl Marx, Cervantes, Tchaikovsky, Chopin ou Charles Darwin, têm entre si um denominador comum: perderam a cabeça para controlar a cefaleia.
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