MENOPAUSA
MATURIDADE E REFORMA
Tupam Editores
A forma como homens e mulheres lidam com os primeiros sinais de envelhecimento difere. No entanto, são cada vez mais as pessoas que encaram com naturalidade a nova fase da vida, desfrutando em pleno de tudo aquilo que ainda têm para viver.
Na mulher, a menopausa – longe de provocar ansiedade constante e significar o fim de uma vida ativa, como acontecia no passado –, é hoje encarada como uma etapa natural da vida, com a qual se habituaram a conviver sem receios ou constrangimentos.
Devido ao aumento da esperança média de vida, um número crescente de mulheres vivencia cada vez melhor a fase do climatério e da menopausa, bem como todos os fatores associados, como os sintomas físicos e psicológicos, assim como as consequências que advêm deste novo estado de maturidade.
Confundir menopausa com climatério é muito comum. Afinal, são dois termos "irmãos", que se referem à mesma fase da vida da mulher, mas que designam momentos diferentes desse processo, que convém diferenciar.
O termo climatério deriva da palavra grega Klimater, que significa "degrau, ponto crítico da vida", e é definido como um conjunto de alterações somáticas e psíquicas que se observam na parte terminal do período reprodutivo da mulher. É igualmente visto como o período que antecede, acompanha e precede a menopausa.
Já a menopausa, também do grego mens (mês) e pausis (cessação), corresponde à última menstruação fisiológica, definida retrospetivamente após doze meses de amenorreia, se não existirem outras causas objetivas. É um fenómeno fisiológico que ocorre normalmente por volta dos cinquenta anos de idade e se deve à redução gradual do número de folículos funcionais dos ovários. O que acontece é que estas glândulas deixam de libertar óvulos mensalmente, e de produzir hormonas femininas, estrogénios e progesterona.
A menopausa pode ocorrer de forma repentina ou progressivamente. Em algumas mulheres, a menstruação aparece espaçadamente até desaparecer por completo, noutras chega a aparecer 2 vezes no mesmo mês, ou simplesmente desaparece de uma só vez para não mais voltar.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), subjacentes ao climatério feminino estão quatro fases: pré-menopausa, perimenopausa, menopausa e pós-menopausa.
A pré-menopausa designa o período anterior à confirmação da menopausa e é caraterizada pela regularidade menstrual durante os últimos 12 meses. A perimenopausa é o período de tempo que precede a menopausa e durante o qual os ciclos menstruais podem ser irregulares e mais curtos, iniciando-se os sinais biológicos, endócrinos e psicológicos que marcam o final da fase reprodutiva. A menopausa verifica-se quando a cessação da menstruação é permanente (após 12 meses consecutivos de amenorreia) e, por fim, a pós-menopausa tem início um ano após a amenorreia.
No que diz respeito aos dados epidemiológicos, a OMS refere que em 2030 cerca de 1,2 milhões de mulheres terão 50 ou mais anos e entrarão, consequentemente, na menopausa. Em Portugal, todos os anos, 700 mil mulheres, de várias idades, entram nessa fase. Quando a mulher entra na menopausa antes dos cinquenta anos, diz-se que se trata de menopausa precoce; quando surge entre os 52 ou 55 anos afirma-se que é tardia.
Em suma, a menopausa é um fenómeno irreversível e significativo na vida da mulher, pois referencia o final da juventude e começo duma nova fase, o envelhecimento. Por essa razão, provoca sentimentos contraditórios, por vezes difíceis de gerir: por um lado sente-se feliz pelo final da menstruação e pela redução ou fim do risco de engravidar, mas por outro lado sentem-se deprimidas, ansiosas e com receios deste seu novo papel. Este novo ciclo da vida da mulher acarreta diversas mudanças a nível psicológico e físico.
Não é a menopausa em si mesma que se revela uma fase traumatizante na vida da mulher, mas sim os inúmeros efeitos secundários que desencadeia, com maior ou menor intensidade e que, juntamente com o processo natural de envelhecimento, produzem alterações significativas no corpo, mente e alma feminina.
Se há mulheres que passam pela menopausa tranquilamente, sem complicações ou sintomas desagradáveis, outras há que experimentam sintomas debilitantes, começando ainda na pré-menopausa. Os sintomas mais comuns da menopausa são:
Alterações no ciclo menstrual – entre a perimenopausa e a pós-menopausa o ciclo menstrual varia muito em termos de fluxo, duração e regularidade;
Afrontamentos – cerca de 75 por cento das mulheres em menopausa sofrem com os afrontamentos/suores que podem ser explicados como uma sensação ardente ou uma onda de calor que se estende da cintura até ao rosto (onde é sentido um rubor intenso), seguida de suores profusos, sendo estes mais frequentes à noite (a chamada sudação noturna).
Secura e o prurido vaginal são sintomas que afetam 50 por cento das mulheres na menopausa, e se devem ao facto das paredes da vagina se tornarem mais secas e finas, perdendo ainda a sua elasticidade. Para além disso, também a lubrificação vaginal é afetada e tudo isto, em conjunto, contribui para a diminuição da libido e da apetência por relações sexuais, dificultando-as até, devido às dores que podem provocar.
Perturbações da bexiga, como incontinência urinária, micção frequente, noturna e/ou dolorosa são efeitos secundários da menopausa, mas também do envelhecimento natural da zona pélvica.
A acumulação de fluidos corporais – retenção de líquidos – pode resultar no aumento de peso, no inchaço dos pés, tornozelos e rosto, bem como na elevação da pressão arterial.
Um dos sintomas mais comuns da menopausa, as insónias, são resultado da alteração hormonal a que o organismo está sujeito. Podem verificar-se alterações do sono ou então o agravamento das próprias insónias, se já antes padecia delas. Talvez um efeito direto das insónias, a mulher na menopausa pode sentir um cansaço generalizado, ou viver num estado de fadiga constante.
Alterações nos ossos, músculos e articulações – durante a menopausa verifica-se uma perda gradual de cerca de quatro por cento da massa óssea por ano; relativamente ao sistema muscular, há uma perda progressiva da coordenação e força muscular, o que provoca cansaço e dores corporais difusas. As articulações também são afetadas, na medida em que se verifica a perda de mobilidade e rigidez.
A flutuação dos níveis hormonais provoca igualmente dores de cabeça e enxaqueca e, se durante a menstruação já sofria da patologia, o mais certo é continuar a sofrer durante a menopausa, podendo até tornar-se menos suportável.
Pele, cabelo e unhas também se ressentem. Na pele há uma diminuição da elasticidade e firmeza, com o consequente aumento de rugas; pele seca (as glândulas sebáceas deixam de produzir a oleosidade normal); irritações dermatológicas (prurido, acne, derrames capilares, dificuldade de cicatrização e formigueiro).
No cabelo, o desequilíbrio hormonal tanto pode provocar o enfraquecimento e a queda de cabelo, como o seu excesso, principalmente na zona do queixo, buço e maçãs do rosto. A menopausa pode ainda alterar o aspeto das unhas, tornando-as mais secas, duras e espessas, assim como apresentar variações de cor.
Alterações da saúde oral, como boca seca, paladar, sensibilidade ao quente e frio, gengivas inchadas, sensíveis ou com sangramento; instabilidade ou perda de dentes; alteração da dentada e mau hálito são todos sintomas ligados à menopausa, que devem ser relatados, não só ao dentista, mas também ao médico.
Alterações de humor – os desequilíbrios hormonais que se verificam no organismo e os seus efeitos colaterais, juntamente com o fator psicológico e emocional de enfrentar a menopausa, podem originar estados de depressão, ansiedade, desmotivação e irritabilidade. As alterações de humor são mais frequentes durante a fase da perimenopausa, melhorando significativamente uma vez ultrapassada.
Dificuldade de concentração e perda de memória: apesar de não ser uma consequência direta da menopausa, estes problemas surgem devido ao conjunto de situações que a mulher na menopausa vive – alterações hormonais, envelhecimento natural, tensão física (afrontamentos, suores noturnos, insónia, fadiga …), stress emocional e psíquico.
Além da sintomatologia anteriormente descrita, a menopausa é, ainda, um fator de risco para o aparecimento de algumas condições de saúde graves, como a osteoporose, cancro do cólon, genital e da mama, doenças cardiovasculares, obesidade, complicações urinárias e disfunção sexual.
Uma das funções dos estrogénios é promover a fixação do cálcio nos ossos. Com o decréscimo de produção daquela hormona feminina, essa tarefa fica dificultada, pelo que o processo de redução da densidade óssea é acelerado, agravando-se a fragilidade da estrutura óssea e, com ela, o risco de osteoporose e de fratura de baixo impacto.
O agravamento do risco de doenças cardiovasculares está igualmente associado ao declínio da produção de estrogénio, que tem um papel importante no equilíbrio das gorduras no sangue. Assim, nesta etapa da vida, ocorre uma diminuição do colesterol "bom" (HDL) e um aumento do "mau" (LDL), o que aumenta o risco de enfarte, AVC e outros problemas cardiovasculares.
No seu conjunto, as alterações no organismo feminino na menopausa envolvem uma desaceleração do metabolismo, à qual acresce um aumento e alterações na distribuição da massa gorda, que se concentra na cintura, como alternativa às ancas e às nádegas. A este risco associam-se os de doenças relacionadas, como a diabetes mellitus e a hipertensão.
A redução dos níveis da hormona está também associada a uma maior sensação de secura e menor elasticidade vaginal. Uma das consequências é a propensão para infeções urinárias e para incontinência, caraterizada por uma necessidade súbita e involuntária de urinar. Por outro lado, sobretudo em mulheres que não fizeram uma recuperação adequada do(s) parto(s), pode surgir nesta fase uma incontinência urinária de esforço, caraterizada por perdas de urina ao rir, tossir, carregar pesos ou realizar outro tipo de pequenos esforços.
No que respeita à disfunção sexual, a redução da elasticidade e da lubrificação vaginal podem dar origem a ligeiros sangramentos e a dor ou desconforto durante as relações sexuais. Por outro lado, é natural que a perda de sensibilidade conduza à redução da libido e do desejo sexual, também promovida pelo impacto psicológico que todas as alterações próprias desta fase da vida podem ter na autoimagem da mulher. No entanto, a menopausa não é o fim da vida sexual ativa. Aliás, esta não só é possível, como é desejável.
O possível impacto da menopausa na vida sexual é um receio frequente entre as mulheres, mas esta etapa da vida em nada deve interferir com a sua sexualidade. Esta é uma fase para a mulher se reinventar, por dentro e por fora, recarregar baterias e refletir na sua sexualidade, aprendendo a (re)despertar o desejo.
A sexualidade é parte fundamental do bem estar de cada um, em qualquer idade. A mulher pode continuar a sentir-se sexy como uma Sharon Stone e a viver a sua vida em pleno, apesar de, durante muito tempo, se ter pensado que depois dos 50 anos a vida sexual terminava.
É um mito que depois da menopausa não há interesse por sexo, ou que a atividade sexual prejudica a saúde. É normal que haja uma redução da apetência e que possam aparecer outras queixas, como alterações na imagem, ausência de desejo sexual, desconforto nas relações e dificuldades no orgasmo, que devem ser esclarecidas com o médico.
Com a menopausa, surgem de facto este tipo de alterações, mas estas até são variáveis de mulher para mulher: há quem passe a ter mais prazer com sexo, por ter desaparecido o receio de uma gravidez não desejada, e a grande maioria das mulheres tem menos desejo e prazer devido à diminuição das hormonas produzidas pelos ovários – nada que hoje não tenha solução.
O sexo nunca deve ser encarado como uma obrigação, mas sim um prazer, aplicando-se este princípio a qualquer fase da vida da mulher, incluindo à menopausa. Existem várias formas de reverter a falta de desejo sexual e, assim, devolver o prazer e a intimidade ao casal, de onde se salienta seguir uma alimentação saudável; aumentar a prática de exercício físico, que pode ser muito benéfico para elevar os níveis de energia e, consequentemente, o desejo sexual; incorporar técnicas de relaxamento na rotina diária (ioga, pilates, meditação, massagens, alongamentos…).
Quebrar a rotina sexual, e não só; executar exercícios de Kegel para fortalecer os músculos pélvicos/zona vaginal; investir mais tempo nos preliminares; introduzir jogos/fantasias/brinquedos sexuais na relação; experimentar novas (e mais cómodas) posições sexuais, e utilizar lubrificantes durante a prática de sexo, são outras soluções que ajudam a melhorar o prazer sexual na menopausa.
No entanto, o tratamento mais comummente utilizado durante a menopausa para lidar com a quebra da libido é a Terapia Hormonal de Substituição (THS).
A THS na menopausa tem sido objeto de muita discussão e especulação desde a década de 1960. A decisão de iniciar a terapêutica deve ser individualizada e partilhada, tendo sempre em consideração o binómio risco/benefício, e que a principal finalidade é tratar os sintomas do climatério e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da mulher.
A base do tratamento consiste na administração de preparados com ação semelhante à das hormonas femininas do tipo estrogénios, em alguns casos combinados com gestagénios, ou seja, produtos cuja ação é semelhante à da progesterona. A maioria é administrada por via transdérmica (pensos transdérmicos), mas também pode ser por via oral ou vaginal – nos casos de atrofia urogenital importante –, estando disponíveis nas formas farmacêuticas de cremes, óvulos, pastilhas ou anéis vaginais.
Em termos de benefício, os sintomas vasomotores obtêm uma redução muito significativa na frequência e severidade da sintomatologia; a terapêutica estrogénica, em particular a de aplicação local, tem-se mostrado eficaz no tratamento dos sintomas de atrofia urogenital, na diminuição da frequência das infeções urinárias de repetição, e no tratamento dos problemas geniturinários; existe uma clara associação entre os baixos níveis de estrogénio durante a pós-menopausa e o desenvolvimento da osteoporose.
A THS é a terapia de primeira linha para mulheres em pós-menopausa que apresentam alto risco de fratura e estejam abaixo dos 60 anos de idade, na presença ou não de sintomas da condição; embora o modo de ação ainda permaneça desconhecido, a reposição estroprogestativa reduz o risco de cancro do cólon.
Embora a maioria dos estudos revele o contrário, o receio de ganhar peso com a reposição hormonal constitui uma das maiores causas da baixa adesão e abandono da THS.
Muito embora este não represente um risco efetivo para as mulheres nesta fase, existem no entanto outros que convém equacionar como sejam: o tromboembolismo venoso; a doença coronária; o AVC; a hiperplasia e o carcinoma endometrial; o cancro da mama e do ovário; e ainda as queixas de perda de função cognitiva.
Por existir um risco aumentado de demência em mulheres com mais de 65 anos, não está indicado iniciar ou manter a THS.
Apesar da evolução a que assistimos nas últimas décadas em termos de risco/benefício da THS, ainda há várias questões a que falta dar resposta e para as quais se espera que futuras investigações nos tragam esclarecimento.
Com THS, ou sem ela, o importante é que a mulher encare esta nova etapa com um sorriso, pois atravessá-la é, só por si, sinal de vitalidade. E há certamente muito mais para viver.
Citando a conhecida apresentadora Oprah Winfrey: "a menopausa já não é o que era!". Atualmente, mais do que o fim de alguma coisa, a menopausa é o início de um tempo de introspeção e profundo crescimento interior.
Como todas as etapas da vida, poderá ser maravilhosa, tudo dependendo da perspetiva de cada uma, que acima de tudo, não deve abdicar nunca de ser uma mulher feliz!
Ver mais:CANCRO DO COLO DO ÚTERO
GERONTOLOGIA
INCONTINÊNCIA URINÁRIA
LIBIDO
LUTA CONTRA O CANCRO DA MAMA
OBESIDADE
OSTEOPOROSE, A DOENÇA SILENCIOSA
SEXO
ARTIGO
Autor:
Tupam Editores
Última revisão:
28 de Novembro de 2024
Referências Externas:
RELACIONADOS
Ver todosMATURIDADE E REFORMA
CASCATA IATROGÉNICA NOS DOENTES IDOSOS
MATURIDADE E REFORMA
IMPORTÂNCIA DOS VÍNCULOS AFETIVOS NA VELHICE
DESTAQUES
Ver todosDOENÇAS E TRATAMENTOS
VARIANTES DO SARS-CoV-2 QUE SUSCITAM NOVAS PREOCUPAÇÕES
MEDICINA E MEDICAMENTOS