Orgasmo – do grego orgasmós, de orgân, que significa "ferver de ardor", – é definido como o mais elevado grau de excitação sexual e, portanto, o prazer físico mais intenso que um ser humano pode experimentar.
Pode ser experienciado por ambos os sexos, dura apenas breves segundos e é sentido durante o ato sexual ou a masturbação causando uma intensa excitação das zonas erógenas genitais.
No homem expressa-se através de um pico rápido de excitação, seguido de ejaculação e rápida queda na sensação de prazer; na mulher, pode consistir de um período mais prolongado de sensação de prazer, pontuado por alguns picos de prazer (muitas vezes chamado de orgasmo múltiplo), mais intenso que nos homens, com decréscimo destas sensações mais lento do que nos parceiros. Na mulher pode haver, ainda, contrações musculares que causam expulsão de líquido através da vagina, caracterizando a ejaculação feminina.
No próximo dia 31 de julho vai comemorar-se mais um Dia Mundial do Orgasmo. A iniciativa de criação deste evento partiu de uma rede de sex shops britânicas que em 2008, após a realização de várias pesquisas, concluiu que 80 por cento das mulheres britânicas não atingiam o orgasmo durante as relações sexuais, havendo por isso premência em criar um sistema inclusivo de reflexão social sobre o assunto.
Mais do que um pretexto para promover a venda de acessórios sexuais, a data constitui um alerta para a qualidade do sexo praticado e um estímulo à discussão que promova a melhoria da sexualidade, importante fator de qualidade de vida como é preconizado pela OMS.
Apesar de estarmos a assistir a uma maior abertura relativamente à sexualidade, persiste um excessivo pudor e muita falta de informação. Há ainda uma parte significativa da população que desconhece o prazer do orgasmo e pense que sexo se resume à copulação.
Os transtornos na área da sexualidade afetam ambos os sexos. O homem está, de certa forma, mais acostumado a lidar com o problema e, embora a grande maioria tenda a retardar a consulta médica uma boa parte acaba por fazê-lo, na procura de ajuda e orientação.
Com as mulheres o problema desenvolveu-se de forma diferente. Fatores culturais, religiosos, morais e de educação influenciaram – e ainda influenciam – a sua maneira de entender e praticar o sexo. Se considerarmos que em algumas sociedades a amputação genital é um costume preservado ao longo dos tempos, percebe-se o quão profundas podem ter sido essas influências no imaginário feminino.
Anatomia do aparelho genital feminino e Ciclo da Resposta Sexual
O aparelho genital feminino é constituído por uma série de órgãos externos e internos, interligados, que permitem à mulher desempenhar as suas funções sexual e reprodutora.
Os órgãos genitais externos são essencialmente os elementos que formam a vulva, embora também se possa incluir a vagina neste grupo, e correspondem às estruturas que participam na cópula, o ato que permite a entrada das células reprodutoras masculinas no organismo feminino.
Os genitais internos compreendem os ovários, que constituem as gónadas femininas, nas quais os óvulos são formados e as hormonas sexuais femininas se formam e desenvolvem; as trompas de Falópio, as duas estruturas tubulares que se prolongam dos ovários até ao útero e nas quais as células reprodutoras masculinas se encontram com as células reprodutoras femininas; e o útero, o órgão oco no interior do qual se desenvolve o embrião após a fecundação.
Na década de 60 Willian Masters e Virginia Johnson, dois cientistas americanos da área da fisiologia sexual feminina, instalaram um laboratório com o intuito de investigar cientificamente as modificações corporais durante o ato sexual humano.
Entre 1957 e 1965, os dois cientistas mediram a excitação sexual em seres humanos, em observação direta e com métodos de medição que eles próprios desenvolveram, daí tendo resultado uma série de descobertas a nível fisiológico e anatómico.
Descreveram os mecanismos da lubrificação vaginal e do orgasmo, afastando a ideia de que o orgasmo vaginal (durante a relação sexual) seria diferente do clitoriano (durante a masturbação). Descobriram que as mulheres podem ter vários orgasmos, por não terem, como os homens, um período em que não conseguem ejacular.
Foram também os primeiros investigadores a descrever o fenómeno das contrações rítmicas do orgasmo em ambos os sexos, medindo a velocidade e a intensidade de repetição.
Uma herança duradoura da investigação de Masters e Johnson na ciência da sexualidade foi a determinação de que os seres humanos sentem os orgasmos de forma semelhante e que a excitação sexual pode ser descrita em fases distintas, fases essas que denominaram de Ciclo de Resposta Sexual Humana.
Inicialmente, esse ciclo era composto por quatro diferentes fases: Excitação, Planalto, Orgasmo e Resolução (EPOR). Porém, mais tarde, a psiquiatra Helen Singer Kaplan complementou esse ciclo com uma primeira fase, antes não mencionada pelos dois cientistas – o Desejo sexual. Atualmente, o Ciclo da Resposta Sexual é geralmente aceite como sendo o resultado de três fases: Desejo, Excitação e Orgasmo (DEO).
Fisiologia do Orgasmo Feminino
É sempre difícil verbalizar a sensação de um orgasmo, seja masculino ou feminino. Como nas emoções, a intensidade dos orgasmos difere, não só entre os indivíduos, como num indivíduo em alturas diferentes. Contudo, o orgasmo feminino é provavelmente mais intenso que o masculino, embora a maior parte das mulheres atinja o climax mais lentamente do que os homens.
A resposta sexual feminina expressa-se através de uma sucessão de fases que se manifestam fisiologicamente de forma sequenciada e interligadas entre si, completando-se assim o Ciclo da Resposta Sexual.
O Desejo é a primeira fase, onde os instintos são estimulados e os apetites crescem. O desejo, ou a sensualidade, é uma experiência subjetiva que impele a pessoa a procurar atividade sexual. Em termos cerebrais, há mensagens neurofisiológicas que motivam a busca por sexo. Esses sinais neurológicos ainda não foram bem explicados, mas admite-se que exista numa espécie de Centro de Desejo Sexual no cérebro, que seria constituído principalmente por uma pequena região cerebral denominada Claustro.
Na mulher, o olfato, mas principalmente o tato, são os responsáveis pelo aumento do desejo sexual. Mas este depende do seu bem estar físico e emocional. A angústia, a ansiedade, o cansaço e a tristeza empobrecem e reduzem o desejo sexual, dificultando consequentemente o desenvolvimento das fases libidinais, inibindo a resposta sexual. Pelo contrário, a alegria, o bem-estar e os efeitos positivos em geral, favorecem o interesse e o funcionamento sexual.
A Excitação é segunda fase do ciclo da resposta sexual feminina, fase de preparação para o ato sexual, que é desencadeada pelo desejo. A fase de excitação caracteriza-se por uma reação orgânica generalizada de miotonia, vasocongestão e lubrificação vaginal.
A excitação é a resposta do corpo ao desejo. Esta fase é demarcada pela produção de uma secreção responsável pela lubrificação vaginal. As principais protagonistas são duas alterações fisiológicas. A congestão vascular, que é o aumento da quantidade de sangue superficial e/ou profunda acumulada em alguns órgãos do aparelho genital e extragenital feminina, e a miotonia, que é a crescente e involuntária contração de fibras musculares.
Porém a resposta sexual feminina não se manifesta apenas nos genitais, sendo antes um processo continuum de todo o corpo perante os estímulos. Manifesta-se nos seios, com um ligeiro incremento de volume e com a ereção dos mamilos. Verifica-se também através de rubor sexual, quando a pele fica mais avermelhada e a pressão sanguínea bem como a frequência cardíaca tendem a aumentar. Ocorrem contrações musculares nos órgãos próximos aos genitais, como o reto, a uretra e a bexiga.
Os órgãos que formam o aparelho genital feminino passam por transformações significativas: no clitóris, nos grandes e pequenos lábios, no útero e na vagina dá-se um aumento e acúmulo da circulação sanguínea, tanto de forma superficial como profunda provocando uma congestão vascular; os músculos desses órgãos também irão sofrer miotonia. Há um enrubescimento e aumento de volume dos grandes e pequenos lábios e do clitóris. Para manter a abertura da vagina livre os grandes lábios comprimem-se levando à sua retração.
O Orgasmo é a última fase do Ciclo da Resposta Sexual. Também denominado de climax, êxtase, gozo ou ápice, acontece quando os estímulos sexuais alcançam a sua atividade máxima e toda a tensão sexual é libertada.
Ocorre o que se denomina de plataforma orgásmica, que é a congestão vascular profunda do clitóris, pequenos e grandes lábios do terço inferior da vagina. Pode ocorrer uma contração muscular prolongada e espástica de 4 a 5 segundos nesta região antes de ocorrer a descarga orgásmica. Quando se dá o orgasmo ocorre uma explosão de contrações rítmicas e involuntárias na plataforma orgásmica a uma frequência de aproximadamente 12 vezes, a cada 0,8 segundos.
O interessante é que a mulher, logo de seguida, pode ser novamente estimulada e ter outro orgasmo. Essa capacidade multiorgástica da mulher não se verifica no homem, que precisa de um certo intervalo de tempo – denominado período refratário – após a ejaculação para iniciar outro ciclo de resposta sexual.
De acordo com algumas teorias, a mulher possui ainda um ponto no interior da cavidade vaginal que é extremamente sensível à pressão profunda e que pode desencadear igualmente um orgasmo.
Decorria o ano de 1950 quando o ginecologista alemão Ernst Grafenberg revelou a existência de uma zona erógena específica situada no septo anterior da vagina, a cerca de 3 cm da sua saída, cujo estímulo através de uma intensa pressão poderia desencadear um intenso orgasmo, acompanhado pela emissão de fluidos da uretra – uma espécie de "ejaculação feminina".
Alguns investigadores interessaram-se por esta teoria e tentaram confirmá-la, denominando a questão "Ponto G", em homenagem ao seu descobridor. Todavia, os resultados desta pesquisa não foram conclusivos.
A questão do "Ponto G" permanece um dos temas mais intrigantes e controversos de todo o estudo da resposta sexual da mulher a nível genital. A existência ou não, pelo menos em parte das mulheres, do Ponto de Gräfenberg, é, até hoje, assunto extremamente controverso.
Mas, na sexualidade feminina, nem tudo são "orgasmos".
A disfunção e a nova libertação sexual da mulher
A maioria das pessoas sente, em alguma fase da sua vida, dificuldades nas relações sexuais. Outrora as mulheres raramente se referiam a estas dificuldades mas, hoje, a atitude mudou e são muitas as que se queixam de insatisfação sexual. Esta mudança de comportamento tem sido fundamental para enfrentar as dificuldades que sempre existiram no universo feminino.
A disfunção sexual feminina (DSF) é altamente prevalente, situando-se entre 40 a 70 por cento em Portugal, e traduz-se por uma alteração em qualquer uma das fases do ciclo de resposta sexual da mulher ou ainda por perturbações dolorosas associadas ao ato sexual. De entre as principais disfunções sexuais femininas destacam-se: perturbações de desejo (ausência de desejo ou desejo hipoativo), vaginismo (dificuldade em tolerar a penetração), dispareunia (dor persistente durante a relação), e anorgasmia ou ausência de orgasmo.
Vários fatores podem estar na origem destas disfunções: inflamações ginecológicas, medicação, problemas psicológicos e de ansiedade, desequilíbrios hormonais, traumas sexuais, falta de experiência sexual e de conhecimento do corpo, problemas afetivos ou de natureza relacional.
A chegada ao mercado de quatro novos medicamentos com a finalidade de aumentar o prazer sexual feminino promete combater, pela primeira vez na história, as dificuldades mais comuns por elas enfrentadas. Num paralelo histórico recente, estes fármacos terão, para a mulher, a mesma importância que o Viagra) teve para o homem. O que se espera é que estes medicamentos não só ofereçam um salto de qualidade no sexo, mas também que favoreçam a discussão sobre como as mulheres lidam com o seu corpo, os seus medos, e as suas questões – tal como ocorreu no público masculino aquando do lançamento do famoso comprimido azul. Os próximos anos poderão registar a mais nova revolução sexual feminina.
A farmacêutica britânica Orlibid vai em breve iniciar a realização de testes em mulheres com um derivado sintético da melatonina (ORL101), uma hormona com ação em diferentes funções orgânicas, sendo a regulação do sono a mais conhecida. Numa fase mais adiantada estão outros dois medicamentos desenvolvidos no laboratório holandês Emotional Brain.
O primeiro é o Lybrido. Trata-se de uma combinação da sildenafil (o princípio ativo do Viagra) com a hormona masculina testosterona. A associação dos dois compostos aumenta o impulso sexual e promove o entumescimento da vulva, preparando o corpo feminino para o sexo.
O segundo medicamento – Lybridos – associa a testosterona a um ansiolítico, a buspirona, para baixar os níveis de serotonina (uma das substâncias cerebrais que estabelecem a comunicação entre os neurónios e cujo desequilíbrio está na origem da depressão). Enquanto a testosterona atua por forma a induzir a motivação para o sexo, a buspirona atua no córtex pré-frontal, contendo os mecanismos de inibição sexual.
Há ainda a Flibanserina, que promete regular os compostos cerebrais associados à excitação (dopamina e norepinefrina) e à inibição sexual (serotonina). Esta ação melhora o desejo e a satisfação sexual.
Não se pode, contudo, esquecer que a criação deste género de medicamentos só foi possível com o aprofundamento do conhecimento sobre os caminhos fisiológicos e emocionais que marcam a sexualidade feminina.
Todos os seres humanos são, do ponto de vista biológico, seres sexuados. A sexualidade, porém, vai muito além da anatomia ou fisiologia. A resposta sexual de cada um depende também da identidade e orientação sexual, da personalidade e dos pensamentos, dos sentimentos e das relações que estabelecemos.
A sexualidade tem, assim, muitas dimensões e múltiplas funções. Ao longo dos anos, a nossa sexualidade ou o modo como a vivemos vai sendo diferente. A sexualidade integra o conhecimento, as atitudes, os valores ou os comportamentos sexuais dos indivíduos. A expressão da sexualidade é influenciada por fatores de natureza ética, espiritual, cultural e moral.
É importante que as experiências e vivências da sexualidade sejam sempre fontes de bem-estar para nós e para aqueles com quem as partilhamos.
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