Aprimeira estrofe do poema "O que há em mim é sobretudo cansaço" de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, expressa com clareza o cansaço do sujeito poético. A causa do seu cansaço, porém, não é isto ou aquilo, nem ter feito tudo ou não ter feito nada, é simplesmente cansaço, no sentido literal.
Atualmente atribui-se a sensação de cansaço, extremo por vezes, à correria do dia-a-dia, trânsito, contas, às noites mal dormidas e ao stress, situações de desânimo que geram um impacto profundo nas atividades sociais e na produtividade profissional, e que constitui uma das principais queixas nos consultórios médicos.
Aquela moleza e falta de energia para executar até as mais pequenas atividades quotidianas chega de mansinho e instala-se sorrateiramente, levando a pensar que é normal, e que se está a precisar de férias. Mas as férias começam... e terminam, e o cansaço persiste.
Na opinião dos especialistas, em termos evolutivos, o homem não foi preparado para suportar o grau de tensão contínua e constante a que está exposto diariamente. O homem primitivo, por exemplo, ao deparar-se com uma fera matava-a e fugia. De volta à caverna relaxava e recompunha o equilíbrio orgânico e emocional, indispensáveis à sua sobrevivência.
Hoje, o direito a essa pausa revigorante desapareceu. Mergulhados em compromissos e problemas, deixou de se perceber até que ponto o organismo se ressente dessa agressão permanente. E é importante compreender que esse processo deve ser interrompido pois os malefícios à saúde e à qualidade de vida podem tornar-se irreversíveis.
Considera-se cansaço como sendo a rotura temporária do equilíbrio interno (homeostasia) ou, mais especificamente, a falta de capacidade para manter ou repetir determinada força pela contração muscular. É, sem dúvida, o período em que se esgotam as energias do indivíduo, quando ocorre um desequilíbrio conjunto entre o stress físico e mental.
É um estado que condiciona qualquer atividade e que se caracteriza por uma diminuição das capacidades perceptivas, cognitivas e motoras. Prejudica a vigilância, a atenção, a capacidade perceptiva, a resposta reflexa, o tempo de reação e todo o processo de decisão.
O grau de intensidade de qualquer sensação de cansaço ou fadiga pode, e deve, ser avaliado por uma escala de sinais pois apesar de uma noite mal dormida, horas perdidas no trânsito das grandes urbes, viver num eterno estado de tensão e stress poderem consumir toda a energia, existem outros fatores a considerar quando se trata de identificar as causas do cansaço crónico.
Causas mais frequentes do cansaço
A ansiedade e o stress são, sem dúvida, males da vida moderna e a queixa mais frequente é a de já se acordar cansado. Isso ocorre porque o stress liberta quantidades elevadas de cortisol e adrenalina, hormonas que em altas doses prejudicam o funcionamento dos neurotransmissores, deixando o indivíduo ansioso, com dificuldade de concentração e dormir.
Uma noite mal dormida, uma hora a menos de sono, ou da sua qualidade, deixa qualquer indivíduo sonolento e incapaz de cumprir a rotina diária. E o sono não é simplesmente um intervalo na atribulada vida, mas essencial para a manutenção da saúde física e emocional.
Não dormir tranquilamente pode reduzir a habilidade para realizar tarefas que envolvam memória, aprendizagem, raciocínio lógico e cálculos matemáticos. Pode ainda contribuir para dificultar o relacionamento com familiares, amigos e colegas de trabalho, sem esquecer que os erros e a falta de empenho profissional podem mesmo comprometer o emprego.
Alguns medicamentos também podem ser responsáveis pelo cansaço pois contêm cafeína e outros estimulantes que prejudicam o sono reparador, tal como o consumo exagerado de bebidas alcoólicas, ou uma alimentação inadequada.
Eliminar de forma radical um leque alargado de alimentos ou seguir dietas da moda que obriguem ao corte exagerado de certos grupos alimentares podem gerar défices nutricionais, pela dificuldade de obter, através da alimentação, os nutrientes essenciais ao organismo. Os hidratos de carbono, por exemplo, fornecem a glicose, combustível importante para o organismo. Sem ele, a sensação de esgotamento é mais frequente, tornando as queixas de cansaço e falta de energia muito comuns após as duas primeiras semanas de restrição.
Pode parecer contradição mas o sedentarismo é uma das causas mais referidas para o cansaço. A lógica aponta para o facto de que o cansaço é proporcionalmente inverso à redução da atividade física. É um círculo vicioso.
Quando se pratica exercício físico o corpo liberta ácido láctico, o que deixa a massa muscular do indivíduo ligeiramente dorida. O corpo interpreta esta dor como uma agressão e reage com falta de ânimo.
Se não se persistir na atividade física, a tendência é para que o corpo se queira abrigar no conforto que a vida moderna possibilita, o que provoca o sedentarismo, levando o organismo a "reclamar" à mínima atividade física, reiniciando o ciclo da falta de ânimo. Isto gera um cansaço em crescendo, que não é recuperado com descanso.
Definir as causas da fadiga e do cansaço é de extrema importância, devendo ser feito através de uma avaliação médica criteriosa, na qual o especialista faz um check-up clínico, nutricional e hormonal, descartando desta forma patologias que podem originar toda a sintomatologia.
A hora de procurar um médico
O cansaço constante e a incapacidade de recuperar a energia, mesmo depois do descanso, pode ser sintoma de algo mais complicado, como por exemplo, uma anemia.
A sensação de fadiga pode estar ligada a esta doença, que não é mais do que a diminuição da hemoglobina, responsável pelo aporte de oxigénio e nutrientes através do organismo. A falta de ferro, entre outros sintomas, causa queda de cabelo, falta de ar, desânimo e sonolência. Com o tratamento adequado, o cansaço desaparece por completo em pouco tempo.
A apneia do sono é outra causa frequente de fadiga por interferir com o sono profundo. O distúrbio caracteriza-se pelo fechamento repetitivo da passagem do ar pela garganta durante o sono, podendo interromper a respiração por até 40 segundos.
Estas pequenas mas por vezes frequentes paragens fazem com que o indivíduo acorde durante a noite, interrompendo o sono. Cansaço, falta de concentração, alteração de humor e perda de memória e da libido são sintomas comuns de quem sofre de apneia.
Para detetar o problema é necessário procurar ajuda médica, pois apenas exames realizados num laboratório de sono podem diagnosticar o distúrbio. Em alguns casos, o tratamento restringe-se à perda de peso, já que a gordura em excesso na região do pescoço estreita ainda mais a laringe, provocando a doença.
Se a quebra de energia vem acompanhada de sintomas como tristeza, pensamentos negativos constantes, perda de apetite, dificuldade em dormir ou dormir demais, falta de interesse em atividades aprazíveis e dificuldade de concentração pode estar-se na presença de uma depressão. Para um indivíduo deprimido é ainda mais difícil conseguir forças para realizar qualquer atividade, até as mais simples.
A depressão é uma doença séria que exige tratamento adequado, envolvendo terapia e uso de medicação. Esta consiste na maior parte dos casos em antidepressivos, principalmente os que aumentam os níveis de noradrenalina.
Não raras as vezes, os sintomas de fadiga extrema são o primeiro sinal de alerta da diabetes. A doença causa um desequilíbrio metabólico. Existindo uma deficiência relativa ou absoluta de insulina, o metabolismo da nutrição não se processa de forma adequada, o que origina perda de líquidos e desidratação.
Este desarranjo é o grande responsável pela fadiga destes pacientes que, com o controle da doença, tende a melhorar consideravelmente.
Os distúrbios da tiroide (hipotiroidismo e hipertiroidismo) também podem causar fadiga, embora de forma diferenciada.
No caso do hipertiroidismo, o doente tem o metabolismo acelerado, o que faz com que o seu corpo dispense um esforço desnecessário e, mesmo sem qualquer atividade física, o seu coração bate de forma mais acelerada. Em dias quentes, o doente sente um nível de cansaço equivalente ao da prática de atividade física.
Já no hipotiroidismo acontece o contrário mas, como também se verificam alterações no funcionamento do músculo cardíaco, a pessoa fica cansada sem fazer esforços. É como se tudo ficasse mais lento, até mesmo o cérebro, dificultando a execução de tarefas.
Mas é na fibromialgia ou síndrome da fadiga crónica (SFC) que o cansaço assume o papel principal. A SFC é um mal sem causa identificada, comumente associada à fibromialgia, onde o quadro de cansaço não melhora com o descanso. É complicado, mesmo para os especialistas, separar essa síndrome da fibromialgia, que é uma síndrome de amplificação dolorosa não inflamatória e crónica de difícil diagnóstico. Isto porque a fadiga aparece na grande maioria dos casos de fibromialgia, que também pode estar relacionada com dores e distúrbios do sono do paciente.
Pode até acontecer que o paciente tenha as duas doenças. A fadiga causada por estes distúrbios é arrebatadora. O doente desperta de manhã já muito cansado, piorando ao longo do dia e, apesar de descansar, a sensação de cansaço não melhora. Se o quadro persistir durante três meses, é importante procurar um reumatologista, que saberá diagnosticar o problema.
Embora ainda não exista um tratamento adequado para estas síndromes, tem-se recorrido ao uso de antidepressivos, derivados de anfetaminas (para melhorar o quadro de falta de energia) e até mesmo GH (hormona do crescimento), além de atividades físicas e outras medidas com o objetivo de melhorar a qualidade de sono do paciente.
Um coração problemático não bombeia eficazmente o sangue para todos os órgãos, que tendem a entrar em falência, desencadeando um cansaço extremo. Este é o primeiro sintoma de algumas das doenças cardíacas como angina, enfarte agudo do miocárdio, pós-enfarte, artérias entupidas, hipertensão, insuficiência cardíaca, arritmia, doenças valvulares, fibrilação atrial, entre outras.
O sangue chega muito lentamente a todas as partes do organismo, inclusive ao cérebro, podendo favorecer o aparecimento da Alzheimer, daí a importância da realização de um check-up, principalmente a partir dos 40 anos.
O cansaço crónico é sempre uma indicação de que algo não está bem mas, para intervir eficazmente e recarregar baterias, é necessário descobrir a sua origem.
Recarregar baterias para dominar o cansaço
Nem sempre uma doença está na origem do cansaço e, assim sendo, algumas medidas simples podem trazer novo vigor ao organismo.
O cansaço é, antes de mais, o preço de uma mais intensa atividade. Não é fácil deixar de fazer coisas ou andar mais devagar numa sociedade que valoriza acima de tudo a eficiência e o movimento. É-se mais apreciado quanto mais atividades se conseguir realizar num curto espaço de tempo. Contudo, é importante levar o cansaço a sério.
Para recarregar baterias há que tentar diminuir o stress. Não há melhor forma de estimular o corpo e o cérebro do que realizar uma atividade da qual se obtenha prazer, seja a leitura, palavras cruzadas ou cinema.
A regularidade e qualidade da alimentação também é importante. Comer a cada três horas afasta a fadiga e evita a queda brusca dos níveis de açúcar no sangue, o que provoca a falta de energia. Alimentos ricos em proteínas, hidratos de carbono, fibras e ómega-3 devem igualmente fazer parte da ementa diária. Manter o corpo hidratado é uma excelente maneira de diminuir o cansaço, pois as células precisam de trabalhar para extrair a água da circulação. Assim, beber água, mesmo sem sentir sede, é uma boa prática para manter a boa forma.
Para repor energias e proporcionar descanso o ideal é mesmo uma boa noite de sono ininterrupto profundo. Recomendam-se pelo menos oito horas diárias de sono de qualidade, mas em situações de cansaço extremo é normal que essa necessidade aumente. Em casos de insónia é importante seguir um horário para dormir e não ver televisão, usar o computador ou fazer exercícios até três horas antes, assim como evitar refeições pesadas e álcool, bem como bebidas à base de cafeína.
Mas um dos melhores remédios para o cansaço é mesmo o exercício físico. A sua prática mesmo 10 minutos diários traz benefícios, pois liberta substâncias no organismo (endorfina e adrenalina) que, além de promoverem uma sensação de bem-estar e aliviar o stress, quebram a inércia corporal e permitem que a mente se desligue por alguns momentos das preocupações.
Está ainda ligada a uma melhoria geral dos músculos e articulações funcionais, responsáveis pelas atividades simples do dia a dia.
Se a implementação destas medidas não afastar o cansaço e a fadiga, deve consultar-se um especialista que, através de um check-up geral, identificará a causa e apontará soluções para a fadiga permanente.
O importante é ter em mente que o cansaço é como a velocidade... tem limites!
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