DIA MUNDIAL DO DOENTE DE ALZHEIMER

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  Tupam Editores

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O mundo tomou conhecimento da doença de Alzheimer, uma patologia neurodegenerativa, progressiva, actualmente irreversível, em 1906, ano em que o Dr. Alois Alzheimer apresentou à comunidade científica de então o caso da Senhora Auguste D. (sobrenome não identificado).

A Senhora Auguste D. foi recebida, pela primeira vez, no consultório do Dr. Alzheimer em 1901. Esta apresentava problemas de memória e tinha dificuldade em falar e em compreender o mundo que a rodeava. À medida que o tempo foi passando, o seu estado de saúde foi piorando, e acabou por falecer em 1906.

Aquando da autópsia, o Dr. Alois Alzheimer observou algo inédito. O cérebro da Senhora Auguste D. tinha encolhido drasticamente, especialmente a zona do córtex, área responsável pela memória, pensamento, discernimento e discurso.

Ao observá-lo ao microscópio, o médico verificou, igualmente, a existência de uma grande quantidade de depósitos gordos disseminados pelos vasos sanguíneos pequenos, de neurónios mortos e em fase terminal e de depósitos anormais no interior e à volta das células neuronais.

No ano seguinte, esta sintomatologia foi denominada pela comunidade cientifica por doença de Alzheimer.

Apesar de já ter decorrido um século após a sua descoberta, só nos últimos 20 anos é que as investigações começaram a dar frutos. Actualmente, os especialistas estão mais entusiasmados, pois dizem conseguir vislumbrar, pela primeira vez, a luz ao fundo do túnel, uma vez que conseguem compreender melhor os mecanismos subjacentes à doença. Os estudos farmacológicos em desenvolvimento têm como objectivo atacar as proteínas beta-amilóides 42 (BA), o calcanhar de Aquiles desta doença, ou as proteínas Tau.

Ao longo dos últimos 20 anos, os estudiosos concluíram que as pessoas que sofrem de Alzheimer têm níveis muito elevados da proteína BA 42 – desconhece-se se devido a uma superprodução ou a uma eliminação deficiente. Este excesso leva as proteínas a fundirem-se e a acumularem-se à volta dos neurónios, formando as denominadas placas senis. Por outro lado, as proteínas Tau, que estão no interior do neurónio, também se fundem, formando um emaranhado proteico, os demoninados tangles, destroem as vias de sinalização e, consequentemente, a informação química que através delas passa, impedindo o funcionamento normal dos neurónios.

Investigadores de todo o mundo estão a desenvolver formas para interromper a produção de BA, uma vez que a hipótese vigente – baseada em estudos anteriores que demonstram que a interacção entre as proteínas Tau e as BA 42 leva à diminuição cognitiva – é que a fusão das proteínas beta-amilóides faz despoletar a mudança molecular das Tau, provocando, consequentemente, a morte neuronal.

De uma forma muito resumida, a BA stressa os neurónios, libertando sinais em cascata que afectam o estado fosforilado das proteínas Tau ligadas aos microtubos. À medida que a doença evolui, a forma das moléculas Tau altera-se e estas começam a sair dos microtubos, fundindo-se em pares e enrolando-se em filamentos (tangles).

Todo este processo se torna tóxico para os microtubos, que por isso perdem a capacidade de transportar a carga molecular necessária à sobrevivência dos neurónios. Os investigadores desconhecem, no entanto, se as estradas proporcionadas pelos microtubos são destruídas pela perda das Tau ou se é a acumulação das tangles que bloqueiam estas estradas. Consequentemente, as memórias deixam de poder ser armazenadas ou recuperadas e o cérebro começa a perder a capacidade de controlo do corpo.

Assim, se a produção de BA for tratada antes da sua fusão, a doença poderá ser travada.

Uma das primeiras descobertas foi a localização do gene que produz os fragmentos da beta-amilóide no cromossoma 21. Mais tarde, os investigadores associaram mutações em mais dois genes, igualmente envolvidos na produção de BA, com o despoletamento precoce da doença de Alzheimer.

Outro dos objectivos dos investigadores era identificar algum tipo de marcador proteico para desenvolver um futuro teste sanguíneo que conseguisse prever quais os indivíduos mais propensos e poder prevenir a doença, antes mesmo de ela se manifestar.

Nesse sentido, recolheram amostras de sangue e concluíram que níveis baixos de BA 42 e níveis elevados de BA 40 poderiam ser detectados 3 a 5 anos antes do despoletamento da doença, o que pode indiciar um bom começo na investigação.

Devido à conexão entre as proteínas BA e Tau, há outras equipas investigacionais que, em paralelo, estão a desenvolver formas de travar a toxicidade das proteínas Tau.

Nesta área, recentemente, investigadores da Mayo Clinic verificaram que o Taxol, um fármaco anticancro, poderá inibir as moléculas envolvidas na alteração da estrutura das proteínas Tau.

Estima-se que, actualmente, existam 20 milhões de pessoas, em todo o mundo, a sofrer de Alzheimer. A cada ano que passa, 4,6 milhões de pessoas são atingidas. Porém, actualmente, não existem fármacos indicados para curar a patologia. Os únicos que estão disponíveis no mercado somente aliviam os sintomas, garantindo uma melhor qualidade de vida aos doentes. Alguns, como a memantina, usada nas fases moderada a severa da doença, e que ocupa, presentememte, o segundo lugar dos medicamentos mais prescritos, pode adiar as etapas mais graves da doença.

Neste momento, estão a decorrer os estudos de fase III da substância R-flurbiprofeno, que em experiências anteriores inibiu a produção de BA 42 quer nas células, quer no cérebro dos ratos.

Apesar de muitos especialistas acreditarem que substâncias especialmente fabricadas para inibirem a produção de BA serão mais eficazes do que estas, ainda se está longe do desenvolvimento desse tipo de fármacos. Este tipo de substância tem a potencial mais-valia de poder vir a ser rapidamente comercializável e se os testes forem bem-sucedidos, o R-flurbiprofeno pode vir a ser testado como agente de prevenção.

Para que o mundo não julgue nem estigmatize estes doentes e para apoiar os seus cuidadores de saúde, a Organização Mundial de Saúde elegeu o 21 de Setembro como o dia Mundial da Pessoa com Alzheimer.

A Alzheimer Portugal assinalou este dia com várias iniciativas – desde sessões de esclarecimento sobre vários temas apresentados por técnicos, a chás dançantes e jantares, distribuição de flyers informativos, entre outras – que se estenderam a todo o país até ao final do mês.

Os cientistas lutam todos os dias contra o tempo e, apesar das investigações terem progredido muito nestes últimos 20 anos e já conseguirem avistar o pico da montanha, irão levar cerca de mais 20 anos a percorrer o caminho até lá, até conseguirem encontrar a cura. E se, como diria Vírgilio, Audace Fortuna Juvat (a sorte protege os audazes), neste caso será a perseverança a proteger estes brilhantes cientistas.

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Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
28 de Novembro de 2024

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