Embora habitualmente possam coexistir, intimidade e sexo não são a mesma coisa, ainda que quando pensamos em algo íntimo, se possa presumir que signifique relação sexual. Apesar de uma coisa poder impulsionar a outra, não significa que se incluam, pois a intimidade envolve confiança, aceitação e uma ligação emocional com outras pessoa e sexo é uma ligação física.

Os parceiros íntimos cuidam um do outro e não receiam compartilhar pensamentos, desejos e vulnerabilidades. Além de parceiros românticos, as pessoas podem ter relacionamentos íntimos com amigos, familiares e outras pessoas em suas vidas, sendo que mesmo sem sexo, a intimidade pode proporcionar muitos benefícios à saúde física e mental.

A intimidade, em todas as suas vertentes, traz benefícios à saúde física e mental, podendo ajudar a reduzir o stresse e a manter-nos saudáveis, além de combater a solidão, que pode igualmente prejudicar o funcionamento orgânico, o sono e o bem-estar físico e mental. Quando a pessoa se sente amada e apreciada, isso contribui para um bom estado da saúde, contrariamente ao que sucede quando a pessoa se sente só, isolada e stressada, estados que irão ter um efeito negativo na saúde.

Na verdade é importante reconhecer as diferenças que existem entre intimidade e relações sexuais, pois isso pode ajudar a melhorar os relacionamentos e evitar equívocos. Nos relacionamentos românticos, sexo e intimidade são frequentemente usados de forma intercambiável, embora exista uma diferença distinta e significativa entre ambos. Essa diferença é tão relevante, que muitas vezes a sua compreensão pelos parceiros pode ser crucial para consertar, manter e melhorar o estado de seu relacionamento.

Muitas vezes, as pessoas referem-se a “suas vidas íntimas” ou a “ser íntimos”, quando discutem sobre sexo, mas embora ambos possam estar verdadeiramente satisfeitos e interligados, a intimidade é algo que vai muito para além de um ato físico, já que a verdadeira intimidade envolve um tipo de ligação emocional e confiança que aproxima as pessoas. Embora muitas vezes uma ligação física possa estar associada a um relacionamento pessoal profundamente íntimo, a intimidade não precisa ser física para existir.

A intimidade pode ocorrer a nível emocional, através de um profundo sentimento de proximidade e confiança, através de intimidade física, que inclui toque corporal de uma forma que aumenta os sentimentos de proximidade e desejo ou intimidade sexual que combina o ato físico do sexo com proximidade emocional e confiança, sendo que neste caso, geralmente, envolve um determinado nível de proximidade.

Discutir sexo pode tornar-se complicado uma vez que, em bom rigor, sexo é uma ato físico que, sem importar a forma, envolve a excitação do desejo físico e da resposta física a um estímulo, não requerendo necessariamente, só por si, intimidade. Para alguns, a intimidade está implícita quando se discute sexo, especialmente num relacionamento, porém, para outros, o sexo pode ocorrer de forma impessoal e emocionalmente desligada. Nestes casos, a definição de intimidade não se aplica, contudo, ao contrário do que alguns podem acreditar, o sexo não ocorre sem a presença de um elemento emocional, pois o desenvolvimento dos sentimentos muitas vezes acompanha a resposta física.

Não é fácil compreender as semelhanças entre sexo e intimidade, porque tudo depende do tipo e do contexto da discussão, pese embora algumas pessoas poderem presumir que as semelhanças são substanciais, a verdade é que sexo e intimidade são coisas diferentes. Esta realidade é particularmente importante quando se discutem questões de relacionamento, pois quando um casal afirma, perante um profissional de saúde mental, estar a ter dificuldades com a parte íntima de suas relações, este pode querer fazer-lhes perguntas que melhor esclareçam o que isso significa, como por exemplo “Há algum problema com a sua interação física e resposta recíproca?” ou, “trata-se de um problema de confiança e ligação mútua?”.

Nos relacionamentos românticos de longo prazo, pode ser ambas as coisas, pois um alimenta o outro, muito embora também possa ser uma questão isolada. Por exemplo, alguns casais em relacionamentos de longo prazo, podem ter perdido o desejo de fazer sexo, mas tal não significa que perderam a intimidade emocional. Outros, podem fazer sexo regularmente, mas ainda assim não se sentem emocionalmente ligados.

Outros problemas, como a imagem corporal, um problema que tanto mulheres como homens podem enfrentar, pode inadvertidamente desempenhar um papel e complicar ainda mais a razão pela qual os parceiros podem estar insatisfeitos com a sua vida íntima, sabendo-se que num relacionamento saudável é preciso haver sexo e intimidade para manter um vínculo forte e satisfação completa.

Será que poderemos ter uma coisa sem a outra? Um estudo de 2018 indica que sim, sugerindo que níveis elevados de intimidade estão associados a níveis mais elevados de desejo sexual em relacionamento de longo prazo, dando a ideia de que é impossível dissociar as duas coisas. No entanto, eles podem e muitas vezes existem de forma independente, demostrando que os relacionamentos existem em variadíssimas formas.

Amizades íntimas podem resultar de uma intimidade emocional platónica, assim como relacionamentos físicos casuais podem ser baseados na acessibilidade e compatibilidade sexual; sexo e intimidade podem existir um sem o outro, mas ao combinar os dois resulta um vínculo mais forte; muitas vezes os casais compartilham leves sensos de intimidade para compartilhar uma vida; por outro lado, os parceiros sexuais ocasionais sentem uma sensação de confiança e uma ligação empática que proporciona o ato sexual.

A ligação emocional e a proximidade com outras pessoas podem constituir um fator essencial da saúde mental, pois ansiamos pela interação com pessoas de confiança e pelo apoio de outras para proporcionar estabilidade e dar perspetiva às nossas vidas. Um estudo realizado em 2021 no Reino Unido, revelou que as pessoas sexualmente ativas durante o bloqueio da Covid-19, tinham menos sintomas de ansiedade e depressão, mas fazer sexo sem intimidade pode não proporcionar os mesmos benefícios.

Tanto o sexo sem intimidade quanto a intimidade sem sexo são possíveis e fazem parte da ampla gama de experiências humanas. A forma como cada indivíduo ou casal lida com essas dinâmicas depende de suas necessidades emocionais, físicas e contextuais, sendo que, a compreensão e a aceitação dessas diferentes formas de relacionamento são essenciais para a saúde emocional e relacional.