CASCATA IATROGÉNICA NOS DOENTES IDOSOS

CASCATA IATROGÉNICA NOS DOENTES IDOSOS

MATURIDADE E REFORMA

  Tupam Editores

0

A qualidade e segurança são atualmente uma das maiores preocupações dos responsáveis das organizações prestadoras de cuidados de saúde ao doente, dos quais por vezes podem resultar consequências prejudiciais para a sua saúde, o que é designado por eventos iatrogénicos, também conhecidos por cascata de prescrição.

Etimologicamente, a palavra iatrogenia deriva do grego e refere-se a qualquer alteração patológica provocada no doente por ação dos profissionais de saúde, ocorrência entendida como um efeito indesejável, de natureza danosa ou prejudicial para o doente, consequente ou não de falha do profissional e que compromete ou tem o potencial de comprometer a segurança do doente.

A utilização criteriosa e cautelosa dos medicamentos, em termos de dosagem, tipo e intervalos das tomas, bem como a orientação adequada das pessoas idosas e seus familiares, são alguns dos elementos essenciais na manutenção da qualidade de vida do idoso. A administração de medicamentos em qualquer faixa etária pode gerar reações indesejáveis não intencionais, todavia a sua incidência aumenta com o avançar da idade.

A complexidade do regime terapêutico, o excesso de medicamentos prescritos, a duração do tratamento, o deficit de informação e os distúrbios cardiovasculares, hepáticos e renais, são alguns dos fatores que contribuem para a ocorrência de eventos adversos. Por outro lado, as interações medicamentosas são também causas especiais de reações adversas em que os efeitos farmacológicos de um medicamento podem ser alterados por outros, quando administrados concomitantemente.

De facto, a interação medicamentosa é um outro fator que afeta o resultado terapêutico e que muitas vezes pode ser prevenida com reajuste de dose, aumento do intervalo entre as administrações dos medicamentos e a monitorização cuidadosa da pessoa idosa. É frequente a prescrição de medicamentos para corrigir efeitos colaterais provenientes de outros agentes administrados anteriormente, que podem levar a uma cadeia de reações indesejáveis, a chamada cascata iatrogénica.

Devido ao facto do diagnóstico das complicações medicamentosas ser bastante difícil, dado que os sintomas são por vezes inespecíficos, na dúvida, a melhor conduta é a suspensão do medicamento. A tarefa dos profissionais que assistem o idoso é “aprender” a lidar com as limitações decorrentes da senescência, educar e orientar os cuidadores para o estabelecimento de uma parceria, adotar esquemas terapêuticos simples e o mais frequentemente possível, bem como maximizar a eficiência terapêutica do medicamento, minimizando o surgimento de efeitos adversos.

Nas pessoas idosas, é prática comum a prescrição de vários medicamentos em simultâneo, sendo por isso crucial que o prescritor clínico esteja bem identificado com os aspetos farmacocinéiticos e farmacodinâmicos dos medicamentos que prescreve. A polimedicação pode ser explicada pelo número de doenças crónicas que acometem os idosos, a elevada incidência de sintomas e a realização de consultas e tratamentos através de diferentes especialistas.

A administração de vários medicamentos pode também ser feita por meio da prescrição de agentes farmacológicos que contenham dois ou mais princípios ativos em associação, como pode suceder por exemplo, quando é administrado um hipertensor a um paciente, composto por um diurético e um beta-bloqueador com um analgésico potente, ou composto por um anti-inflamatório não esteroide e um opioide.

Deste modo, o somatório do número de fármacos consumidos é igual a quatro, tornando-se por isso a sua ação semelhante à da polimedicação, possibilitando a ocorrência de reações adversas com a sua administração e, muitas vezes, decorrentes das interações entre esses agentes.

Os medicamentos mais comummente utilizados pelos idosos, são os que atuam no sistema cardiovascular, como anti-hipertensores, diuréticos, digitálicos e anticoagulantes, que representam aproximadamente 45% das prescrições, os de ação no trato gastrintestinal, como antiácidos e laxantes, além dos ansiolíticos, salientando que os idosos são também grandes consumidores de analgésicos da classe dos anti-inflamatórios não esteroides.

Essa realidade, associada ao normal declínio da função renal, potencia o desencadeamento de distúrbios nos rins e prejudica a excreção de outros medicamentos. Os fármacos que atuam no sistema cardiovascular, no sistema nervoso central, os anticoagulantes, os analgésicos e os antibióticos, são considerados os principais agentes iatrogénicos, um problema que tende a tornar-se ainda mais relevante quando a pessoa idosa é atendida por diferentes especialistas, cada um deles fornecendo uma prescrição específica sem considerar possíveis e frequentes duplicações, bem como potenciais interações medicamentosas, de que resulta como principal consequência dessa desatenção, a ocorrência de iatrogenia.

Sempre que se identifica uma cascata de prescrição ou iatrogenia, é importante ponderar a interrupção ou redução de dose do medicamento, bem como as alternativas mais seguras existentes para a situação clínica concreta. Entretanto, como medidas preventivas para acautelar ocorrências mais graves recomenda-se:

– que o paciente seja ativamente envolvido nos seus cuidados, sabendo exatamente como deve utilizar os medicamentos, para que servem e possíveis efeitos adversos;

– iniciar novos medicamentos em doses baixas aumentando-as gradualmente a fim de reduzir a possibilidade de reações adversas;

– questionar frequentemente o paciente sobre o surgimento de novos sintomas;

– ter presente que os medicamentos não sujeitos a receita médica e alguns produtos naturais também podem causar efeitos colaterais e cascatas de prescrição;

– quando forem identificadas dificuldades, deve ser assegurado auxílio familiar na organização e toma da medicação, ou encontrar uma entidade que o possa fazer, com responsabilidade.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
28 de Novembro de 2024

Referências Externas:

IMPORTÂNCIA DOS VÍNCULOS AFETIVOS NA VELHICE

MATURIDADE E REFORMA

IMPORTÂNCIA DOS VÍNCULOS AFETIVOS NA VELHICE

O envelhecimento da população emergiu como uma realidade irrefutável nas sociedades ocidentais e globais, desencadeando uma série de novos desafios e oportunidades.
SENESCÊNCIA VS SENILIDADE

MATURIDADE E REFORMA

SENESCÊNCIA VS SENILIDADE

Embora os termos senescência e senilidade estejam ambos relacionados com o processo de envelhecimento, são realidades com impactos diferentes sobre a saúde.
VARIANTES DO SARS-CoV-2 QUE SUSCITAM NOVAS PREOCUPAÇÕES

DOENÇAS E TRATAMENTOS

VARIANTES DO SARS-CoV-2 QUE SUSCITAM NOVAS PREOCUPAÇÕES

A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
0 Comentários