O ato de jejuar, ou praticar o jejum, significa ficar sem se alimentar durante um certo período de tempo. Todos nós em determinado momento jejuámos, quer fosse para efetuar alguns tipos de exames médicos, como preparação para uma cirurgia, pois a anestesia pode provocar vómitos que podem ir diretamente para os pulmões obstruindo a passagem do ar e ocasionar morte, ou ainda para seguir algum tipo de dieta recomendada ou autoimposta.
Em sentido figurado, jejuar também pode significar abster-se de alguma coisa ou ficar um certo período de tempo sem exercer ou praticar determinada atividade.
Desde tempos ancestrais que a prática de ficar sem comer por períodos mais ou menos alargados é seguida, pois é considerada boa para limpar o organismo de toxinas e outras substâncias prejudiciais, beneficia a atividade do cérebro e não só. Prática seguida inicialmente por motivos religiosos, como é caso da quaresma católica ou do ramadão para os muçulmanos, rapidamente se foi disseminando devido às vantagens trazidas para o corpo e mente.
O jejum e as religiões
Cada religião tem uma forma diferente de abordar a prática do jejum. Enquanto que para os fiéis da Igreja Católica a prática da abstinência e do jejum são formas de penitência interior definida pelo catecismo como uma reorientação radical de toda uma vida, um retorno e uma conversão total a Deus, uma rutura com o pecado e renúncia do mal, pela prática de jejum a todas as sextas feiras e nas datas inscritas no Código de Direito Canónico, nos seguidores de Maomé, o jejum é observado durante todo o mês do Ramadão, da alvorada ao pôr-do-sol, em que eles não comem nem bebem, nem mesmo água, abstendo-se igualmente da prática relações sexuais.
No islamismo, os crentes devem não só abster-se das prática sexuais como não pensar nelas, mantendo-se concentrados exclusivamente nas suas orações a Deus, constituindo o mês do Ramadão o de maior afluência às mesquitas. Além disso, durante esse mês sagrado do islão, para além das habituais cinco orações diárias, os fiéis recitam mais uma oração especial noturna.
De uma maneira geral todas as religiões monoteístas praticam alguma forma de jejum, como forma de submeter o corpo e as suas necessidades, identificadas como origem do mal, à purificação da alma, com vista a atingir um grau superior de desprendimento, ligação ao divino e amor ao próximo. Em algumas outras religiões politeístas e no budismo, o ato de jejum é visto como uma reflexão à necessidade de consumir, pelo que é muitas vezes considerado um ato de sacrifício pessoal por respeito ao alimento e uma forma de refletir sobre a importância dos alimentos e vícios.
O jejum é uma prática muito antiga e não só pode ser encontrada ainda hoje em muitas religiões, como é cada vez mais usada como medicina no tratamento de algumas doenças crónicas e em dietas controladas. Como em muitas outras áreas, o autoconhecimento e as convicções individuais são a regra para começar a aprender a reconhecer os sinais de fome genuína, perceber e respeitar esses sinais emitidos pelo organismo de forma espontânea e agir em conformidade com o que o corpo “recomenda”.
Os tipos mais comuns de jejum
Em termos de saúde, o jejum intermitente é um dos tipos mais praticados para melhoria do estado de saúde, pois pode ajudar para melhorar o sistema imunitário, potenciar a desintoxicação e ainda melhorar a disposição e agilidade mental. Este consiste em não ingerir alimentos sólidos durante um período de 16 a 32 horas, algumas vezes por semana de forma programada, voltando à alimentação habitual que de preferência se deverá focar em alimentos com baixo teor de açúcar e gorduras.
A estratégia mais comum a seguir, por pessoas saudáveis, para obter os benefícios desejados, é iniciar este tipo de jejum permanecendo sem comer durante 14 a 16 horas, ingerindo apenas líquidos, como água, chá e café sem açúcar. Esta prática não é no entanto aconselhada a mães grávidas ou a amamentar bem como a pessoas com a saúde fragilizada e mesmo nas pessoas saudáveis é necessária a aprovação e o apoio de um médico, enfermeiro ou outro profissional de saúde devidamente qualificado em nutrição e em particular neste tipo de jejum, para garantir que é bem feito e em segurança, para proporcionar os benefícios esperados para a saúde.
Há várias maneiras de iniciar e seguir um programa de privação intermitente, muito embora em todas elas se realizem um período de restrição de alimentos, seguido de outro em que se pode comer, relevando no entanto as seguintes formas:
– jejum de 16 horas, que consiste em permanecer sem comer entre 14 a 16 horas, incluindo o período de dormir e alimentar-se nas restantes 8 horas do dia, como por exemplo jantar às 21h00 e só voltar a comer às 13h00 do dia seguinte.
– jejum de 24 horas, permanecer sem se alimentar durante um dia completo, repetindo 2 a 3 vezes por semana.
– jejum de 36 horas, que consiste em ficar um dia e meio sem comer. Por exemplo, comer às 21h00 de determinado dia, passar o dia seguinte sem comer e voltar a alimentar-se pelas 9 horas da manhã do outro dia a seguir. Recomenda-se que este tipo de privação alimentar seja feito unicamente pelas pessoas já habituadas a praticar o jejum e segundo orientação médica.
– Comer durante 5 dias e restringir 2 dias, ou seja, comer normalmente durante 5 dias da semana e reduzir drasticamente para cerca de 500 calorias, o consumo diário nos dois dias restantes.
Durante os períodos de jejum, podem consumir-se água, chás e café, porém sem adição de açúcar ou adoçantes. Contudo, sendo frequente que as pessoas que seguem este programa sintam muita fome nos primeiros dias e nos dias seguintes se vão gradualmente habituando, é natural que quando a vontade for muito forte se devem ingerir alguns alimentos leves, pois seria contraproducente alguém sofrer ou passar mal ao adotar este regime.
Benefícios do jejum intermitente
Contrariamente à crença generalizada de que o jejum pode diminuir o metabolismo, a verdade é que num programa de jejum controlado e de curta duração, o metabolismo fica mais acelerado favorecendo a queima de gordura, verificando-se que somente em regimes longos de duração superior a 48 horas o ritmo metabólico diminui.
Regula o sistema hormonal, como a insulina, noradrenalina e a hormona do crescimento, ajudando a equilibrar as hormonas corporais associadas ao ganho ou perdas de peso.
Este tipo de regime não reduz a massa muscular como é comum com outras dietas onde á feita uma enorme diminuição de calorias e, bem pelo contrário, ajuda a incrementar a massa muscular devido à produção de hormona do crescimento.
Uma vez que o sistema imunitário se torna mais dinâmico, passa a eliminar as substâncias e células defeituosas que poderiam originar doenças como o cancro e outras doenças degenerativas.
Tem uma ação anti-envelhecimento, porque estimula o organismo a viver mais tempo, evitando doenças e regenerando os órgãos e tecidos do corpo.
Além destes benefícios, ao realizarmos este tipo de jejum, devido à regulação hormonal, as pessoas vão sentir igualmente uma sensação de bem-estar e o cérebro mais ativo e alerta que antes.
Após o jejum
É necessário que após os períodos de jejum se tomem algumas precauções com a alimentação, recomendando-se por isso que a transição seja feita usando alimentos de fácil digestão, pobres em gorduras ou açúcares a fim de manter os resultados obtidos.
É aconselhada por isso a ingestão em pequenas doses de alimentos como sopas e purés em geral, arroz, batata cozida, ovos cozidos e carnes magras grelhadas ou cozidas, que são de fácil digestão. Por outro lado deverá ter-se me conta que quanto mais alargado for o jejum, menor deverá ser a quantidade de comida a ingerir, principalmente nas primeiras refeições, a fim de garantir uma boa capacidade digestiva e o bem-estar.
Em sentido oposto, são desaconselhados os alimentos fritos ou preparados com excesso de gordura, tais como batata frita, molho branco ou sorvetes, bolachas com recheio ou alimentos congelados e lasanhas.
Para manter a saúde em equilíbrio, a par da alimentação, é importante a prática de exercício físico moderado como a caminhada ou mesmo o ginásio, desde que sob a orientação de um profissional de educação física, porém nunca com o estômago vazio.
Por último, é fortemente recomendado que os jejuns, de uma maneira geral, sejam uma prática vedada a pessoas com qualquer situação de doença, especialmente em casos de anemia, hiper- ou hipotensão, insuficiência renal, ou que necessitem de usar fármacos para controlo diário, pessoas com histórico de anorexia ou bulimia, diabéticos e mulheres grávidas ou que estejam a amamentar.
Ainda assim, mesmo as pessoas aparentemente saudáveis, devem consultar um clínico geral para avaliar o seu estado de saúde e realizar exames para determinar os níveis de glicemia, antes de iniciar qualquer tipo de dieta ou jejum.