Todos temos medicamentos em casa. Mas será que temos os que nos são mais úteis? E será que os guardamos no local mais adequado, e nas melhores condições para garantir a eficácia e a segurança do seu uso? Se acha que precisa de orientação para organizar o Armário de Farmácia lá de casa, aqui ficam alguns conselhos simples.
Antes de mais, a escolha adequada do armário, do local mais favorável para a sua localização e as boas práticas de gestão contribuem para a saúde dos residentes, a proteção do meio ambiente e o uso responsável dos medicamentos.
Assim, o Armário de Farmácia deve possuir no exterior um rótulo que o identifique, estar fechado, mas dispor de um sistema de abertura fácil. Deve encontrar-se em local fresco e seco, ao abrigo da luz, separado de alimentos ou produtos de limpeza, e fora do alcance das crianças.
A cozinha e a casa de banho não são locais apropriados para a sua localização por estarem expostos a alterações de humidade e temperatura, que podem prejudicar a estabilidade química dos medicamentos.
Poderá também ser útil afixar os telefones necessários em caso de emergência, por exemplo, do centro de saúde, centro antivenenos, e até se entre os membros da família existe alergia a algum medicamento específico.
A existência de um Armário de Farmácia bem organizado em casa permite-nos dispor dos recursos necessários para prestar os primeiros socorros, e para o tratamento de sintomas ligeiros e de pequenas lesões acidentais.
No verão são mais frequentes as queimaduras solares e queimaduras pelo calor, a desidratação, as picadas de insetos e os cortes, arranhões e outras feridas. É também a altura mais propícia para a ocorrência de diarreias, obstipação e outros desconfortos gástricos, sem esquecer o enjoo de movimento, a irritação dos olhos, as micoses, e o herpes labial.
No inverno reinam a gripe e as constipações, que trazem consigo o nariz entupido, as dores de garganta e as tosses, mas o cieiro e as frieiras também são tendência da época. Nada que não se resolva com um Armário de Farmácia bem organizado!
Para fazer face a este tipo de situações, o conteúdo do Armário deve ter em atenção a época do ano, ser adaptado a cada caso, e as necessidades do lar devem ser definidas em função da sua composição – presença de crianças, idosos ou doentes crónicos. Também é importante ter em consideração se a residência é na cidade, onde existem farmácias próximas, ou no campo.
O que deve/não deve conter um Armário de Farmácia
O Armário de Farmácia deve incluir, não só, medicamentos básicos destinados a situações e sintomas ligeiros, mas também outros acessórios e materiais para primeiros socorros.
No que diz respeito aos medicamentos, para além dos de toma habitual da família, no Armário de Farmácia devem existir analgésicos/antipiréticos como paracetamol, ibuprofeno e Aspirina, pois são excelentes para o alívio de dores de cabeça e menstruais, as provocadas por entorses, assim como da gripe, e ajudam a baixar a febre. Os dois últimos também são úteis quando se deseje um efeito anti-inflamatório.
Os anti-histamínicos, também conhecidos por antialérgicos, são os medicamentos recomendados em caso de alergias, rinite alérgica, urticária e picadas de insetos, entre outros sintomas. Estão disponíveis em comprimido – atenção, pois alguns podem provocar sonolência – ou creme para aplicação tópica.
Convém ter ambos, até porque alguns geles também ajudam a aliviar as queimaduras domésticas mais comuns (fornos, tachos quentes, ferro de engomar). Este tipo de queimaduras superficiais, classificadas de primeiro grau, não dispensam, contudo, um creme mais adequado, cicatrizante e regenerador, que reforce a barreira natural da pele.
Os cremes antisséticos estão indicados no tratamento de feridas ligeiras, cortes e arranhões muito comuns entre a criançada, mas que as tarefas do dia-a-dia também podem originar. Ajudam a regenerar a pele e, em simultâneo, previnem as infeções.
Outro creme indispensável em casa é o creme de hidrocortisona. Também disponível na forma de loção e de unguento, ajuda a reduzir inflamações da pele (dermatites), eczema e picadas de insetos. Não deverá ser utilizado no rosto, salvo indicação médica.
Por falar em insetos, como mais vale prevenir do que remediar, convém ter no seu Armário de Farmácia um repelente de insetos, especialmente no verão.
Nas situações de dor e inflamação de um músculo, tendão ou articulação, cuja sintomatologia inclua vermelhidão, inchaço, dificuldade nos movimentos e desconforto, as pomadas analgésicas e anti-inflamatórias trazem alívio.
As intoxicações alimentares e infeções virais são algumas das causas mais comuns de diarreia que se podem controlar com antidiarreicos de venda livre. Não devem, no entanto, ser administrados a crianças com menos de 12 anos sem aconselhamento médico. Se viajar para destinos exóticos, é um dos medicamentos que deve incluir na bagagem.
Em situações de diarreia também pode ser útil um normalizador da flora intestinal, uma vez que ajuda a regular o trânsito intestinal e pode igualmente complementar a reidratação oral sempre que necessário.
Os antiácidos e digestivos são aqueles medicamentos que nos salvam quando o estômago prega partidas. A acidez, o ardor de estômago e a indigestão são sintomas que aliviam com a sua toma. Estão disponíveis para mastigar, dissolver em água ou na forma líquida, para beber, e têm como principal função evitar a produção de ácido no estômago e neutralizá-lo.
Para enfrentar as comuns constipações e as gripes das estações mais frias, que trazem consigo as dores de garganta e a rouquidão, a congestão nasal e a tosse, o seu Armário de Farmácia – para além dos medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios –, deve estar munido de:
pastilhas com anestésicos locais e rebuçados emolientes; descongestionantes nasais sob a forma de spray ou gotas, que se aplicam diretamente no nariz (tópicos) ou de administração oral (sistémicos); e de xaropes mucolíticos e expetorantes, que facilitam a libertação das secreções próprias da tosse produtiva, tornando-as mais fluidas. Já os antitússicos deverão ser usados apenas em casos pontuais e se a tosse for seca e muito incomodativa.
Além dos medicamentos, para responder a quaisquer imprevistos, este armário deve conter ainda outros acessórios e produtos de saúde como: algodão hidrófilo, compressas esterilizadas, ligaduras, adesivos e pensos rápidos, termómetro, luvas cirúrgicas, tesoura de pontas arredondadas e pinça, solução desinfetante, álcool a 70° e água oxigenada a 10 volumes, soro fisiológico em unidose estéril, e solução desinfetante.
Tão importante como o conteúdo do Armário de Farmácia é o que este não deve conter.
Assim, não devem estar presentes medicamentos e produtos fora de validade, sem a embalagem original ou sem o folheto informativo, nem materiais em mau estado de conservação, como pinças e tesouras oxidadas, sendo recomendável a manutenção periódica.
Não se devem manter antibióticos em preparações líquidas orais nem colírios, pois, uma vez abertos, só se conservam por pouco tempo. Não se conservam também restos de gotas nasais, pois são de fácil contaminação.
Deve eliminar-se qualquer produto que apresente alterações na cor, textura ou cheiro, mesmo que ainda se encontre dentro do prazo de validade.
Não se deixe enganar pelo prazo de validade. Tome atenção que, depois de aberto um medicamento apenas se pode confiar na sua validade no caso de a parte não utilizada desse medicamento continuar protegida do ar, temperatura e humidade. Tal só acontece no caso de: comprimidos dentro de blisters, não em frascos; saquetas individuais; injetáveis individuais; colírios (gotas dos olhos) em unidoses; e inaladores com doseador.
Pode parecer, mas não é difícil manter o Armário de Farmácia organizado, requer apenas alguma dedicação.
Conselhos para manter a sua mini farmácia em boas condições
Para começar, o espaço deve estar limpo e arrumado e no Armário devem-se manter apenas os medicamentos e produtos de saúde necessários. Este não deve ser um armazém com restos de medicação de tratamentos anteriores, ou não concluídos, que podem conduzir a um uso inadequado no futuro.
O acesso a medicamentos sem orientação médica ou farmacêutica pode ter consequências negativas, como agravamento do estado clínico, interações ou reações adversas.
Os medicamentos devem ser mantidos na embalagem original, para estarem identificados e bem acondicionados (dentro do prazo de validade). Também devem ser conservados os folhetos informativos, que incluem informação necessária para um uso correto e seguro, e os instrumentos de medida da dosagem, caso existam. Para evitar confusões, os medicamentos pediátricos devem ficar separados.
Os medicamentos de receita médica obrigatória também devem estar separados dos restantes. Para facilitar as coisas, pode escrever nas caixas dos medicamentos o fim a que se destinam e como devem ser tomados.
Tenha em mente que os medicamentos são prescritos ou aconselhados para uma pessoa em particular, com uma indicação precisa e uma duração determinada. Não devem ser usados os medicamentos destinados a outras pessoas, pois foram prescritos ou aconselhados para uma situação concreta e podem ser nocivos ou inúteis noutros casos.
Se quiser usar novamente um medicamento, antes de o fazer deve verificar se a situação não se alterou (diferente estado de saúde, gravidez, utilização de outros medicamentos).
Há que ter atenção pois alguns medicamentos precisam de condições especiais de conservação – por exemplo, as vacinas, insulina e alguns antibióticos –, como a conservação a determinada temperatura ou no frigorífico, ou os medicamentos com duração limitada no tempo uma vez aberta a embalagem ou reconstituído o preparado, como acontece com os colírios e os xaropes.
O Armário deve ser revisto periodicamente, cada 6 a 12 meses, verificando a caducidade e o bom estado de todos os medicamentos e produtos de saúde. Devem ser retirados os que se encontrem fora do prazo de validade, deteriorados ou que já não se utilizam.
Estes medicamentos devem ser eliminados de forma correta. Não deite no lixo ou através dos esgotos as embalagens e os medicamentos fora de prazo ou que já não utiliza – a entrega na farmácia facilitará a sua destruição sem risco de contaminação ambiental.
Para terminar, um Alerta: antes de tomar qualquer medicamento, verifique todas as condições: se é o medicamento certo para a pessoa certa, no momento certo, na forma certa (engolir, mastigar, aplicar na pele) e, muito importante, se é a dose certa.
“A dose certa é o que diferencia um veneno de um remédio” – esta frase de Paracelso, considerado o pai da toxicologia moderna, constitui, hoje em dia, uma premissa que todos nós devemos ter presente. Não se deixe enganar, não existem medicamentos isentos de efeitos secundários.
Em caso de dúvida deverá sempre consultar o seu médico ou farmacêutico. Cuide de si e da sua família!