O nome da doença não disfarça os seus efeitos! Com origem no termo grego “herpein”, que significa “alastrar” ou “rastejar”, herpes é a palavra usada para designar uma doença viral da pele, altamente contagiosa, que afeta normalmente a região da mucosa bocal e os órgãos genitais.
Supõe-se que tenha sido devido à sua enorme capacidade de contágio que a doença ficou conhecida por “herpein”, termo que foi utilizado pela primeira vez pelo físico grego Dioscórides (40 a 90 d.C.) e pelo romano Scribonius Largus, também ele médico no século I d.C.
Porém, os médicos antigos ainda não conseguiam distinguir o herpes-zóster das demais enfermidades eruptivas da pele. Foi somente a partir do século XVIII, que o médico inglês William Heberden (1710 a 1801) conseguiu distinguir a varicela das demais doenças cutâneas e tipificar o vírus do herpes.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que 3,7 bilhões de pessoas com idade inferior a 50 anos tenham herpes tipo 1 e cerca de 417 milhões sejam portadoras do vírus da herpes tipo 2 na corrente sanguínea.
O herpes simples é uma infeção viral comum da pele, que provoca o aparecimento recorrente de bolhas pequenas, dolorosas e cheias de líquido, na boca, lábios (herpes labial), olhos e órgãos genitais, originando lesões da pele e mucosas, frequentemente acompanhadas de prurido e sensação de queimadura ou ardor.
Uma primeira infeção pode por vezes provocar febre e uma sensação geral de mal-estar, além de poder atingir várias partes do corpo incluindo os olhos e o cérebro. Geralmente um médico pode reconhecer as ulcerações causadas pelo herpes com alguma facilidade, mas por vezes só é possível a sua identificação após exames de sangue ou mesmo através de análise ao material extraído de uma ulceração.
Não existe, por enquanto, qualquer medicamento que possa erradicar a doença considerada incurável, mas os fármacos da classe dos antivirais podem ajudar no alívio dos sintomas e a abreviar o seu controlo.
Herpes simples (HSV) é um dos diversos tipos de herpes-vírus conhecidos, e dentre estes há o HSV-1, que é a causa comum das ulcerações nos lábios (herpes labial) e das ulcerações na córnea do olho (ceratite por herpes simples) e o HSV-2, que é a causa comum do herpes genital, não sendo no entanto por vezes fácil identificá-lo, dado que as infeções genitais podem também ser causadas pelo HSV-1.
Sendo altamente contagioso, o HSV pode ser transmitido pelo contato direto com ulcerações, ou por contato com as zonas orais e genitais de pessoas com infecção crónica por HSV, ainda que nenhuma ulceração esteja visível.
As infeções podem também ocorrer em outras partes do corpo, como no cérebro (uma ocorrência muito séria), ou no trato gastrintestinal. Em pessoas com o sistema imunológico enfraquecido, principalmente devido a infeção por HIV, ou em crianças recém-nascidas, pode eventualmente dar-se uma disseminação da infeção, pelo que é necessário estar vigilante.
A curto prazo, o tratamento convencional em doentes com recorrência frequente da doença, é feito com recurso ao fármaco aciclovir, que pode atenuar a doença e acelerar a cura temporária de um episódio agudo, sendo também esta a prescrição recomendada pelos médicos em indivíduos com recorrências de infeções herpéticas frequentes. Estatisticamente, este medicamento pode reduzir as taxas de recorrência da doença entre 60 a 90%, mas pode igualmente provocar uma série de efeitos adversos como falência renal, hepatite e anafilaxia, daí que todas as alternativas terapêuticas mais seguras sejam bem vindas.
Cabem neste âmbito, certas modificações dietéticas e substâncias naturais que já provaram a sua eficácia ao longo do tempo e que podem ser úteis no tratamento e na prevenção da recorrência de várias estirpes de vírus.
Por se tratar de uma infeção viral comum, 99% da população adulta já adquiriu imunidade ao herpes simples na infância e na adolescência, através de uma infeção assintomática ou num único episódio, tendo obtido resistência ao vírus para toda a vida.
Porém, a doença pode permanecer em estado latente e o vírus ser reativado várias vezes ao longo da vida; a reincidência de uma infeção por HSV latente, oral ou genital, pode ser desencadeada por tensão emocional elevada, febre, menstruação ou sistema imunológico fragilizado por qualquer outra patologia ou intervenção cirúrgica, sendo no entanto muito frequente não se conseguirem determinar os fatores que estiveram na sua origem.
Propagação
Herpes tipo 1: a transmissão do herpes tipo 1, faz-se principalmente através do beijo, pois é durante a troca de saliva, que se dá o contágio. É no entanto importante realçar que não é necessário que o vírus esteja ativo para que ocorra a transmissão, isto é, o contágio pode dar-se ainda que não haja uma ferida visível.
Este herpes tipo 1 também pode ser transmitido por sexo oral, ainda que o contacto seja genital-oral, isto é, o vírus será transmitido para a área genital por meio do contato oral-genital, originando assim a herpes genital.
Além disso, o vírus tipo 1 pode alojar-se também nas superfícies cutâneas, à volta da cavidade oral, na boca e nos lábios, pelo que a partilha de utensílios como talheres, copos e objetos similares de levar à boca, é igualmente uma forma de contaminação. A boa notícia é que, de acordo com a OMS, as pessoas que já estão infectadas por herpes oral HSV-1, muito dificilmente poderão ser infetadas posteriormente com HSV-1 na área genital.
Herpes tipo 2: é normalmente transmitido sexualmente e provoca intensa comichão e bolhas ou mesmo úlceras e feridas genitais, podendo em algumas pessoas manter-se em estado latente sem apresentar quaisquer sinais visíveis. Como já referido, a infecção cruzada dos vírus de herpes do tipo 1 e 2 pode ocorrer se houver contato oral-genital, isto é, pode-se contrair herpes oral na área genital e vice-versa.
A relação sexual desprotegida é a forma mais comum de transmissão do HSV-2, dado o vírus poder concentrar-se no sémen, nas secreções vaginais e na saliva. Já através da partilha de objetos é mais difícil a contaminação deste tipo de vírus, uma vez que não consegue sobreviver muito tempo fora do organismo onde não existam fluídos.
O vírus da herpes simples, pode também ser transmitido de mãe para filho durante a gravidez, no momento do parto ou após este, segundo foi demonstrado em alguns estudos.
Sintomas e fatores de risco
Está demonstrado que a probabilidade de infeção por HSV-1 durante a infância é mais elevada entre as crianças que vivem em piores condições de higiene e saúde, enquanto nos adultos essa probabilidade é menor pois foram adquirindo resistências ao longo da vida.
Já o HSV-2, uma vez que é transmitido por via sexual, configurando-se por isso como uma Doença Sexualmente Transmissível (DST), é obviamente mais comum em adultos que em crianças. Porém, em ambos os casos, entrar em contacto com uma pessoa infectada aumenta consideravelmente o risco de contágio, sabendo-se ainda que outros fatores como o stress, exposição prolongada ao sol, menstruação e traumatismos de vária natureza favorecem o aparecimento de recidivas.
A infeção pelo vírus da herpes simples é na maioria das vezes assintomática, pelo que as pessoas que o têm sob a forma latente, desconhecem que estão infetadas, não podendo por isso evitar o seu contágio a outras pessoas.
As feridas que surgem nos lábios, por ação do vírus, são comummente referidas como “feridas frias”, pelo facto das pessoas infetadas geralmente experimentarem uma sensação de formigueiro, prurido ou ardor na boca, pouco antes do aparecimento da ulceração. Variando de pessoa para pessoa, após a infeção inicial, as bolhas ou úlceras podem repetir-se periodicamente com frequência variável e apresentando-se sob várias formas.
– Pequenas bolhas, aftas ou úlceras geralmente nos lábios, boca, gengivas ou nos órgãos genitais; herpes na boca;
– Febre, em particular durante o primeiro episódio de infeção;
– Nódulos linfáticos aumentados no pescoço ou na virilha no início da infeção;
– Lesões genitais ou até orais, podem começar por uma sensação de ardor ou formigueiro.
Também a herpes tipo 2 (HSV-2), não manifesta sintomas, pelo que as pessoas não sabem quando estão infetadas. Pode no entanto suceder que a pessoa se aperceba de alguns sinais caraterísticos da infeção, como dores e irritação que habitualmente surgem dois a dez dias após o contágio, manchas vermelhas e pequenas bolhas esbranquiçadas, úlceras na região genital que podem causar dor ao urinar ou mesmo sangue, bem como a formação de crostas após a cicatrização das úlceras.
Prevenção
Dado que o vírus do herpes simples se pode propagar mesmo pelas pessoas que não apresentem sintomas de um surto ativo, a infeção é muito difícil de prevenir; porém, como medida preventiva, deve evitar-se sempre o contacto com lesões abertas a fim de evitar o risco de contágio.
No caso das pessoas com herpes simples na região genital estas devem coibir-se de todo o contacto sexual enquanto houver lesões ativas, ou no mínimo usar preservativo como forma de reduzir o risco de infeção. Por outro lado, as pessoas com lesões de herpes ativa diagnosticada, devem evitar qualquer contacto com recém-nascidos, crianças com eczema ou pessoas com o sistema imunológico suprimido, uma vez que estas se enquadram nos designados grupos de risco para doenças mais graves.
Tratamento
Os tratamentos atuais não erradicam a infeção provocada pelo HSV e o tratamento de uma primeira infeção oral ou genital não impede a infeção crónica. Contudo, durante as reincidências, os medicamentos antivirais, como o aciclovir, fanciclovir ou valaciclovir, podem aliviar o desconforto da doença antecipando em alguns dias a eliminação dos sintomas. Quanto mais cedo se iniciar o tratamento mais eficaz será, devendo ter início poucas horas depois do aparecimento dos sintomas, de preferência ao primeiro sinal de formigueiro ou desconforto e antes do aparecimento de bolhas.
Os medicamentos antivirais só estão disponíveis sob prescrição médica, pelo que será sempre mais seguro consultar o médico de família assim que a patologia se manifeste, a fim de evitar que a infeção se agrave e o vírus se torne resistente aos antivirais comuns. Nos casos de pessoas que têm um desconforto mínimo, o único tratamento necessário para o herpes recorrente, labial ou genital, consiste em manter a zonas infetadas limpas, lavando-as suavemente com água e sabão e eventualmente aplicar gelo que pode proporcionar um efeito calmante e reduzir o inchaço.
Nos casos mais dolorosos, um analgésico comum pode ajudar no alívio. Na dúvida consulte sempre o seu médico assistente.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
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