Em 2001, a European Federation of International Association for the Study of Pain (IASP) Chapters reconheceu que a dor, em particular a dor crónica, em determinadas circunstâncias, deixa de ser um sintoma e torna-se uma doença per se.
Assim sendo, "o controlo da dor deve ser encarado como uma prioridade no âmbito da prestação de cuidados de saúde de elevada qualidade, sendo igualmente um factor decisivo para a indispensável humanização dos cuidados de saúde".
Segundo aquela instituição, a dor é uma experiência multidimensional desagradável, que envolve uma componente sensorial e emocional, associando-se a uma lesão tecidular concreta ou potencial ou pode ser descrita em função dessa mesma lesão. Isto significa que a dor não é apenas uma sensação, mas um fenómeno multidimensional que deve ser encarado de acordo com um modelo biopsicossocial. É também um fenómeno subjectivo, pois cada pessoa sente e reage à dor de forma diferente, não existindo ainda marcadores biológicos que identifiquem a dor de uma forma objectiva.
Existem vários tipos de dor: aguda, crónica, pós-operatória e obstétrica.
Na maioria dos casos, a dor aguda é considerada benéfica para o organismo. Interpreta-se como um sinal de alerta, avisando-nos da ocorrência de traumatismos, queimaduras, derrames, entre outros, tornando-se num sintoma muito importante para o diagnóstico de muitas doenças. Indivíduos que sofrem de insensibilidade congénita à dor (com anidrose) têm uma esperança média de vida menor que a restante população. Porém, e apesar de ser uma vantagem em determinadas circunstâncias, é fundamental que seja tratada de imediato, evitando que se transforme em dor crónica, perpetuando-se no tempo.
Na dor aguda, existe ainda a pós-operatória, que deve ser tratada, não apenas por razões éticas, mas também para diminuir eventuais complicações pós-cirurgia. O mesmo se aplica na dor obstétrica. Actualmente, segundo vários especialistas, estes pacientes deveriam exigir uma terapêutica farmacológica com analgesia adequada à sua condição, dado que existe uma grande panóplia de analgésicos que evitam sofrimento desnecessário, que muitas vezes é desvalorizado pelos profissionais de saúde.
A dor crónica, por outro lado, é definida como uma dor persistente, que muitas vezes se prolonga para além da cura da lesão que a causou ou existe aparentemente sem lesão. Esta forma de dor, para além de causar sofrimento, tem consequências a nível físico – levando a uma diminuição das defesas do organismo e a um consequente aumento da sensibilidade às infecções – e mental – causando insónias, ansiedade, depressão, podendo, inclusivamente, conduzir ao suicídio.
Num estudo recente, intitulado Estudo da Prevalência da Dor Crónica na População Portuguesa, coordenado pelo Dr. Castro Lopes, uma equipa de investigadores da Universidade de Medicina do Porto concluiu que 30 por cento dos portugueses sofrem de dor crónica. Cerca de metade destes definiu a intensidade da sua dor como moderada a forte. Segundo o coordenador da investigação, "a prevalência tende a aumentar, uma vez que o país está a ficar cada vez mais envelhecido".
O estudo, que decorreu entre Fevereiro de 2007 e Maio de 2008, permitiu também verificar que a principal causa da dor crónica são as lombalgias, a osteoporose, as cefaleias, os traumatismos e a dor crónica pós-cirúrgica. A dor crónica associada ao cancro representa apenas um por cento. A população mais afectada são as mulheres e os idosos e tem maior incidência no litoral alentejano e numa parte da Beira Baixa.
Apesar de terem ocorrido melhorias nesta área, desde a apresentação do primeiro Plano Nacional da Luta contra a Dor, em 2001, o estudo demonstra que ainda há muito para fazer. Uma das questões fundamentais é a humanização dos cuidados da dor: cerca de um terço dos doentes considera que a sua dor não está a ser bem tratada, não apenas devido à ineficácia dos medicamentos, mas também à falta de sensibilização dos médicos para esta patologia.
Cerca de três quartos dos inquiridos tomavam medicamentos regularmente, mas menos de metade acreditava que estes não eram eficazes. Segundo o especialista, "isto acontece ou porque não estão a tomar os medicamentos correctos, ou usam doses incorrectas ou porque não recorrem a outras terapêuticas".
As consequências desta condição na qualidade de vida dos pacientes são evidentes: metade dos doentes inquiridos afirmou que esta patologia interferia de forma moderada a grave, quer nas actividades laborais, quer nas domésticas e 4 por cento atribuíram a perda do emprego à doença.
Apesar de não existirem marcadores biológicos para a dor, em 2003, no âmbito do primeiro Plano Nacional da Lutra contra a Dor, Portugal foi pioneiro em estabelecer a obrigatoriedade da avaliação da dor, equiparando-a ao quinto sinal vital. Desta forma, considerou-se como boa prática clínica em todos os serviços prestadores de cuidados de saúde a avaliação e registo regular da intensidade da dor, à semelhança do que já acontece há muitos anos para os quatro sinais vitais.
Frequentemente, a dor ainda é escondida, subestimada, quer pelos doentes, quer pelos profissionais de saúde. Para o seu controlo é fundamental torná-la visível. Esta obrigatoriedade de avaliação vem dar-lhe a visibilidade necessária, reconhecer a sua existência e, consequentemente, impedir a negligência, tornando assim inevitável a administração de uma terapêutica mais adequada.
A dor crónica na criança
Em 2005, o tema do Dia Mundial Contra a Dor, "Dor na Criança", tinha como objectivo chamar a atenção para a existência desta patologia num grupo etário muito subestimado, persistindo ainda a ideia, mesmo entre alguns profissionais de saúde, de que ambos, crianças e recém-nascidos não sentem dor. Consequentemente, muitos procedimentos invasivos eram realizados sem anestesia, causando aos infantes dores horríveis.
As causas de dor nas crianças são muito variadas. Os ferimentos decorrentes das brincadeiras são os mais comuns, mas há crianças que sofrem de dor crónica e, tal como no adulto, esta tem de ser tratada de imediato. A dor crónica não tratada pode ter sequelas profundas no desenvolvimento físico, nomeadamente ao nível dos sistema nervoso e social da criança.
Pode ser difícil identificar a dor nestas idades. É, por isso, fundamental interrogar a criança sobre a sua dor e analisar o seu comportamento. Para os profissionais de saúde as informações fornecidas pelos pais são essenciais para a administração de uma terapêutica adequada.
O tratamento da dor na criança deverá, assim, tornar-se numa prioridade e os profissionais de saúde deveriam receber formação específica.
A dor crónica no idoso
Segundo elementos divulgados no decurso da Semana Europeia da Luta Contra a Dor, estima-se que 50 por cento dos idosos sofram de dor crónica, sendo que esta percentagem aumenta para 80 por cento entre os idosos internados. Estes números terão tendência para aumentar com o previsto envelhecimento da população.
A esta patologia acrescem os problemas psicossociais associados à idade, como sejam uma reforma reduzida, o abandono familiar, entre outros. Toda esta conjuntura pode levar à depressão e, no limite, ao suicídio.
Para tratar adequadamente a dor no idoso é fundamental possuir conhecimentos especializados e experiência no controlo da dor. Ao aplicar uma terapia de analgesia é necessário ter igualmente em conta as interacções farmacológicas. Na prescrição devem considerar-se, com o máximo rigor, as contra-indicações absolutas e relativas dos medicamentos.
Como tratar a dor
A dor deve ser tratada nos cuidados médicos de saúde primários. Os médicos de família estão aptos a diagnosticar e a tratar a maioria das patologias associadas à dor crónica. Existe hoje uma enorme variedade de terapêuticas farmacológicas de analgesia, pedra basilar do tratamento – desde anti-inflamatórios não esteróides até opióides fortes – e de terapias não farmacológicas. São exemplos, a fisioterapia, a acupuntura, a adopção de um estilo de vida saudável, estímulo calor/frio, apoio psicológico e, inclusivamente, a organização do espaço de trabalho.
Todavia, há casos em que, devido à sua complexidade ou necessidade de administração de uma terapêutica diferenciada, sendo doentes refractários aos tratamentos de analgesia, o doente é referenciado para as Unidade de Dor – um serviço de saúde especializado no tratamento da dor crónica – que posui vários níveis de tratamento.
O primeiro Plano da Luta Nacional Contra a Dor, apresentado na Semana Europeia Contra a Dor em 2001, tinha como objectivo suprimir a escassez de Unidades de Dor, apostando-se, nessa ocasião, na quantidade. Pretendia-se criar, até 2007, Unidades de Dor em 75 por cento dos hospitais públicos. Estes números traduziam a criação de 50 Unidades de Dor de nível I nos hospitais distritais, 16 de nível II nos hospitais centrais e duas de nível III nos hospitais com vocação universitária. Relativamente à dor aguda previa-se a criação de Unidades de Dor aguda em 3/4 dos hospitais com actividade cirúrgica, dar "indicações sobre o modelo de organização das unidades de dor e da formação dos profissionais de saúde, bem como orientações para o controlo da dor crónica".
Decorridos sete anos, as Unidades de Dor ainda são escassas. Apenas se conseguiu criar este serviço de saúde em 60 por cento dos hospitais. Isto significa que actualmente existem 52 Unidades de Dor para tratar 1,2 milhões de portugueses afectados por este problema e apenas 19 são multidisciplinares.
O novo Plano Nacional da Luta Contra a Dor, aprovado recentemente, poderá baixar os indicadores e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Se em 2001 era importante apostar-se na quantidade, agora é essencial apostar-se na qualidade, nomeadamente numa rede de referenciação de dor crónica e na formação e informação quer do profissional de saúde, quer do doente. É fundamental preencher a lacuna existente na área do ensino.
É necessário que as Faculdades de Medicina adaptem os conteúdos curriculares à realidade, na medida em que não existe formação específica para este problema. A situação não é tão grave nas Faculdades de Enfermagem. Apesar de também não existir uma área de especialização na dor crónica, há enfermeiros com competências nesta área desde a equiparação da dor ao quinto sinal vital. Desde esta data que o enfermeiro se preocupa com a avaliação da dor e com a humanização dos cuidados de saúde. A Ordem dos Enfermeiros disponibilizou online um Guia de Boas Práticas, dado o acesso à informação garantir uma melhor praxis de enfermagem.
Relativamente às Unidades de Dor Aguda também se irá apostar na sensibilização e formação dos profissionais de saúde e na persuasão das administrações hospitalares para investirem nestas Unidades.
A dor é a principal causa de procura de cuidados de saúde. Em todo o mundo, a dor crónica é a grande responsável pelo absentismo laboral e pela diminuição da qualidade de vida dos pacientes. É, por isso, uma patologia que tem um grande impacte em termos sociais e na economia de um país. Preveni-la é essencial.
É essencial tratar adequadamente a dor aguda, evitando a sua perpetuação, é essencial evitar os factores de risco associados à primeira causa de dor crónica do país, as lombalgias; é essencial que os hospitais invistam nesta área e, sobretudo, é essencial não menosprezar o sofrimento de um doente, independentemente da sua idade, humanizando os cuidados de saúde, não o deixando sofrer em vão.
Aquando da celebração do primeiro dia Mundial Contra Dor, a IASP defendeu que o alívio da dor deveria ser assumido como um dos direitos humanos fundamentais do ser humano.
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