O tema central da edição deste ano da Semana Europeia de Luta Contra a Dor, que decorreu de 10 a 15 de Outubro, foi "A Dor Crónica Lombar". Como parte do programa europeu, em Portugal, o Dia Nacional de Luta contra a Dor foi assinalado a 14 de Outubro com várias iniciativas.
A Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED) e a Fundação Champalimaud criaram um programa com actividades variadas em que se discutiram os principais temas que envolvem a investigação, o diagnóstico e o tratamento da dor. O objectivo principal repete-se ano após ano – promover todos os esforços que permitam aos pacientes as acessibilidades necessárias ao tratamento da dor aguda e crónica num período curto e adequado, de forma a reduzir o seu impacto no nosso país.
Com idêntico objectivo, de "mudar a dor" em Portugal, ocorreu, no dia 13, uma iniciativa pioneira na formação médica sobre dor. Denominada Change Pain, a campanha – promovida pela farmacêutica Grunenthal com o patrocínio da Federação Europeia da Associação Internacional para o Estudo da Dor (EFIC) –, teve como finalidade difundir o conhecimento acerca do correcto tratamento da dor e contribuir para uma melhor comunicação entre médicos e doentes com dor crónica.
Para mudar o panorama do flagelo da dor desnecessária, os promotores da Change Pain consideram indispensável melhorar a comunicação entre médico e doente, quebrar o círculo vicioso do tratamento farmacológico da dor crónica, conseguindo o equilíbrio entre a eficácia analgésica e a tolerabilidade da medicação, abordando a dor pelo mecanismo fisiopatológico subjacente e não apenas pela sua intensidade.
A dor representa actualmente um dos maiores problemas de saúde pública. Atinge cerca de vinte a trinta por cento da população, o que equivale a mais de dois milhões de portugueses. É, no entanto, um dos sentimentos mais primitivos e essenciais para a sobrevivência do ser humano, um fenómeno fisiológico de importância fundamental para a integridade física do indivíduo, e um sinal de alarme que não deve ser menosprezado.
Conceptualização e tipologia
O conceito de dor é difícil de estabelecer. De acordo com a International Association for the Study of Pain (IASP), a dor é "uma experiência multidimensional desagradável, envolvendo não só a componente sensorial, mas também emocional, que se associa a uma lesão tecidular concreta ou potencial, ou é descrita em função dessa lesão".
A dor não é apenas uma sensação mas sim um fenómeno complexo que envolve emoções e afecta o indivíduo na sua integralidade. A sua abordagem deve, pois, ser multidimensional, tendo em conta não só os aspectos sensoriais mas também as implicações psicológicas, sociais e até culturais, associadas à patologia.
Falar da dor implica necessariamente falar na sua subjectividade, pelo facto de ainda ser um dos grandes enigmas da biologia. Cada pessoa sente a dor à sua maneira (da minha dor só eu sei). É uma experiência com um alto grau de subjectividade, dependente de aspectos fisiológicos do indivíduo que a sofre, assim como dos seus aspectos emocionais e história pessoal.
É por vezes difícil caracterizar o que faz surgir a experiência da dor. Geralmente tem origem no sistema nervoso periférico e é processada e interpretada pelo sistema nervoso central.
A percepção de dor ocorre quando os neurónios sensoriais, ou nociceptores, são estimulados e transmitem sinais através dos neurónios sensoriais da medula espinhal. Estes sinais são posteriormente enviados para o hipotálamo, a nível cerebral, onde ocorre a percepção de dor. A partir do tálamo o sinal viaja até ao córtex somatosensorial do cérebro, tornando-o perceptível ao indivíduo.
A dor pode ter diversas causas. Nalguns casos relaciona-se directamente com o factor nocivo ou lesão que a causou, como a dor que ocorre após uma queimadura cutânea, mas noutros é muito mais difícil de estabelecer, podendo ser necessário um exame minucioso e multidisciplinar para a identificar.
Embora o diagnóstico seja feito pelo médico, este requer a ajuda do paciente. O médico avaliará a dor em função de diversos factores, como, por exemplo, queixa dolorosa ou reacção a eventuais intervenções; estado de ansiedade, depressão, alterações comportamentais e manifestações causadas ou modificadas pela medicação analgésica; estado de incapacidade; idade, e as doenças ou patologias do paciente – nomeadamente reumáticas, oncológicas, respiratórias e outras.
Primeiro há que caracterizar o tipo de dor. A dor aguda é definida como dor de curta duração e/ou com uma causa facilmente identificável, que funciona como um alerta para lesões presentes ou latentes. Geralmente é uma dor rápida e incisiva, seguida de dor mais ligeira, que responde bem a analgésicos. Surge, por exemplo, na sequência de um traumatismo ou de uma cirurgia. Conhece-se a sua causa, a sua localização e até a sua durabilidade é previsível. Apesar de ser útil em muitas circunstâncias, deve ser combatida de maneira a não se perpetuar e tornar-se eventualmente em dor crónica.
A dor crónica é uma dor que se prolonga no tempo – pelo menos seis meses ou com uma duração superior à do período considerado normal para a cicatrização da lesão ou melhoria da patologia que a originou. É uma dor que causa sofrimento e, normalmente, de difícil identificação temporal e/ou causal, podendo manifestar-se através de várias características e gerar diversos estádios patológicos.
A dor crónica não tem qualquer vantagem para o paciente. Para além do sofrimento que causa tem repercussões na sua saúde física e mental, levando, por exemplo, a alterações do sistema imunitário, que origina diminuição das defesas do organismo e aumento da susceptibilidade às infecções.
Actualmente, uma das grandes causas de dor crónica é o envelhecimento, com o consequente desgaste ósseo e articular, nomeadamente a nível da coluna vertebral. A diabetes,fibromialgia, as neoplasias, doenças virais e do sistema nervoso periférico e central, artroses, reumatismo, lombalgias, dores nas articulações e dor pós-operatória persistente, entre outras, são causa frequente de dor crónica.
Neste tipo de dor o tratamento é, frequentemente, mais difícil e complexo que na dor aguda mas, se a actuação for precoce, pode evitar múltiplas intervenções, promovendo mais facilmente o bem-estar do doente e o seu regresso a uma actividade produtiva normal.
Os consecutivos avanços no tratamento da dor têm originado uma grande variedade de opções seguras e eficazes para o seu controlo. Se um fármaco não permitir o alívio da dor, existem outras alternativas.
Tratamento da dor e progressos
A dor aguda e a dor crónica, pelas suas características, são tratadas de forma diferente.
A terapêutica da dor divide-se em dois grandes grupos: farmacológico e não farmacológico.
O tratamento é ponderado caso a caso, privilegiando a compreensão da dor e do doente, optando, sempre que possível, por terapias físicas não agressivas ou invasivas, promovendo o uso adequado dos fármacos, usando estratégias cognitivo-comportamentais de redução da dor.
Das técnicas farmacológicas mais conservadoras fazem parte, fundamentalmente, os fármacos analgésicos e adjuvantes. Os analgésicos podem ser de origem opióide (morfina e codeína, por exemplo) e não-opióides (anti-inflamatórios não esteróides e antipiréticos, como o paracetamol e o metamizol).
Os fármacos adjuvantes, muito importantes no controlo da dor crónica, são medicamentos que, não sendo verdadeiros analgésicos, contribuem para o alívio da dor, potenciando os analgésicos nos vários factores que podem agravar o quadro álgico. Exemplo desses medicamentos são os antidepressivos tricíclicos, ansiolíticos, anticonvulsivantes, corticosteróides, relaxantes musculares e anti-histamínicos.
Existem também métodos farmacológicos invasivos, que envolvem a utilização de anestésicos locais e agentes neurolíticos para a execução de bloqueios nervosos, com a intenção de provocar interrupção da transmissão dolorosa, e a administração de opióides, anestésicos locais e corticóides, por via espinhal.
Além destas opções existem também técnicas neurocirúrgicas, como as neurectomias, rizotomias, drezotomias, simpaticectomias, cordotomias, mielotomias, e algumas técnicas de neuroestimulação (algumas das quais realizadas por via percutânea), entre as mais conhecidas.
Das técnicas não farmacológicas fazem parte a reeducação do doente, a estimulação eléctrica nervosa transcutânea (TENS), as técnicas de relaxamento e biofeedback, a abordagem cognitivo-comportamental, as psicoterapias psicodinâmicas, as estratégias de coping e de redução do stress, os tratamentos pela medicina física – a fisioterapia, em que se incluem a massagem, a crioterapia e a termoterapia – e o exercício físico activo e passivo. Podem também ser usadas técnicas de terapia ocupacional e técnicas de reorientação ocupacional e vocacional.
Os mais recentes desenvolvimentos no tratamento da dor estão centrados sobretudo nas metodologias de tratamento e não em novos medicamentos ou procedimentos.
Nos medicamentos a inovação diz respeito principalmente às formas de administração, como, por exemplo, a utilização de bombas colocadas no corpo do doente, semelhantes a um pacemaker, que injectam os medicamentos directamente na medula ou em zonas específicas, ou ainda a utilização de adesivos na pele, que vão libertando as substâncias de forma gradual.
As alterações mais substanciais no tratamento da dor dizem respeito à maneira como se encara cada paciente. Parte-se do princípio de que não há soluções que sirvam igualmente para todos. Assim, há que estudar cada caso, de modo a descobrir o medicamento ou combinação de medicamentos que melhor se adeqúe a cada indivíduo.
A intervenção da psicologia ou da psiquiatria passou a ser bem-vinda, assim como as técnicas de relaxamento e algumas terapias alternativas, à medida que se compreende melhor a interacção mente-corpo no processo da dor.
Sabe-se actualmente que, além dos medicamentos específicos para a dor, são importantes outras classes de medicamentos, principalmente no tratamento da dor crónica.
É o caso dos anticonvulsivos e dos antidepressivos, cujo uso concomitante com analgésicos melhora e potencia os efeitos esperados.
Nos casos mais graves de dor continuam a utilizar-se os narcóticos mais potentes. No entanto, tem-se hoje mais informação acerca da melhor forma de dosear a sua administração, por forma a permitir um uso mais prolongado.
Existem também novos medicamentos opióides sintéticos que, sendo bastante potentes, têm um menor risco de criar dependência. A neurocirurgia também tem o seu papel, com algumas técnicas de corte de nervos específicos, e até algumas abordagens alternativas, como o biofeedback, a acupunctura e técnicas de relaxamento – desde que produzam efeitos benéficos nos doentes –, têm sido aceites.
A aposta recai sobre o aconselhamento e acompanhamento psicológico dos pacientes com dores crónicas, de maneira a diminuir a ansiedade e o stress associados à dor, que, tendo um efeito multiplicador, se deve evitar a todo o custo.
Há sobretudo uma nova atitude de não dizer ao doente que suporte a dor como se fosse a sua "obrigação", mas antes de procurar para cada um a melhor solução que resolva o seu problema.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de cinco biliões de pessoas em todo o mundo vivem em países com inadequado ou insuficiente acesso ao tratamento da dor. No entanto, o alívio da dor deveria ser assumido como um dos direitos humanos fundamentais.
Os princípios orientadores do Programa Nacional do Controlo da Dor salientam que todo o indivíduo tem direito ao adequado controlo da dor, qualquer que seja a sua causa. O que se pretende é evitar sofrimento desnecessário e reduzir a morbilidade que lhe está associada.
A dor não é um mal necessário! Todos os profissionais de saúde têm o dever de adoptar estratégias de prevenção e controlo da dor nos indivíduos ao seu cuidado, contribuindo para o seu bem-estar e redução da morbilidade.
O controlo da dor deve ser encarado como uma prioridade no âmbito da prestação de cuidados de saúde de elevada qualidade, sendo igualmente um factor decisivo para a sua indispensável humanização.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
O Ácido úrico é um produto residual produzido pelo organismo humano, como resultado do metabolismo das purinas, um tipo de proteínas que podem ser encontradas em diversos alimentos que habitualmente i...
Os carboidratos, também conhecidos como açúcares, glícidos ou hidratos de carbono, são macronutrientes, responsáveis por fornecer energia ao corpo humano.
0 Comentários
Por favor efetue o login para poder comentar e/ou avaliar.