A dor é um fenómeno subjectivo e de enorme complexidade, devido à conjugação de vários factores biofisiológicos, bioquímicos, psicológicos, comportamentais, sociais, culturais e morais.
Tal como a febre, é igualmente uma qualidade sensorial essencial para a sobrevivência da espécie humana, pois é o primeiro sinal de que algo não está bem no seu organismo ou na sua alma.
Para melhor compreender a dor, torna-se assim necessário abordá-la de uma forma multidisciplinar, de modo a poder efectuar o diagnóstico e administrar-se uma terapêutica adequada.
O subtratamento de pacientes que sofrem de dor crónica é um dos problemas mais sérios da medicina moderna, causando um grande impacto na qualidade de vida do doente e nos Sistemas de Saúde dos países ocidentais – só nos Estados Unidos verificam-se anualmente 550 milhões de faltas ao trabalho e um investimento da ordem dos 150 biliões de dólares nas terapêuticas para curar aquela condição clínica.
Os diferentes tipos de dor são comumente classificados em três grupos: topográfico (dor Focal, Radicular, Referida, Central), fisiopatológico (dor Nociceptiva – resultante de uma lesão tecidular contínua, sem alteração do Sistema Nervoso Central – ou dor Sem Lesão Tecidular Activa – resultante de dor neuropática ou de dor psicogénica) e temporal (dor aguda, crónica e recidivante).
A dor crónica, ao contrário da dor aguda, prolonga-se no tempo, manifesta-se com várias características e pode gerar um manancial de estados patológicos mais ou menos graves, podendo conduzir ao desespero e em casos limite, ao suicídio. Para além do mais, a identificação da sua origem poderá ser difícil. As maiores vítimas da dor crónica são os doentes em estado terminal, particularmente os doentes oncológicos, que em cerca de 75% dos casos manifestam dores intensas.
De um modo geral, o sistema nervoso dos pacientes que sofrem de dor crónica adapta-se à condição dolorosa, reduzindo a hiperactividade. Simultaneamente, o paciente irá sofrer algumas alterações de origem psicológica, e não só, como a diminuição da auto-estima, aumento da irritabilidade, depressão, afastamento das pessoas mais próximas, entre outras.
A dor crónica poderá impedir o doente de participar activamente nas tarefas diárias, sociais e laborais. Deste modo, a identificação da patologia que subjaz à dor crónica é apenas uma das etapas do tratamento. Os profissionais deverão também "avaliar a função, a disposição e o estado psicológico do paciente". São, por exemplo, observados, em pacientes que sofrem de artrite reumatóide, lombalgia crónica e dor crónica no pescoço, estados de ansiedade e depressão.
Segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a dor crónica afecta cerca de 30% da população mundial. Na Europa, um em cada cinco europeus continua a sofrer de dor crónica, há pelo menos sete anos e em Portugal, esta patologia é a segunda causa de internamento hospitalar.
De acordo com um editorial do New England Journal of Medicine, cerca de 56% dos pacientes com cancro e 82% dos que sofrem de sida são subtratados, apesar da dor, em particular a crónica, poder ser controlada pela medicina actual, em 90% dos casos.
Existem hoje múltiplas formas de combater a dor crónica, sendo uma delas o recurso a opióides, classe de medicamentos particularmente eficaz no combate ao sofrimento provocado pela dor crónica nas doenças terminais.
Em Portugal, a comparticipação pelo SNS neste tipo de fármacos é de apenas 40% no regime geral e 55% no regime especial, o que corresponde à taxa mais baixa da Europa, segundo revela o "Livro Branco sobre o Uso de Opióides no Tratamento da Dor Crónica em Portugal". De salientar que em quase toda a Europa, estes medicamentos têm uma comparticipação de 100%.
A Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED) tem vindo a lutar para que se altere a taxa de comparticipação dos medicamentos opióides.
O recurso a este tipo de medicação ainda pode ser visto com desconfiança, existindo ainda uma certa opiofobia tanto por parte da população como dos profissionais de saúde. Deste modo, o Narcotics Control Board, a entidade das Nações Unidas responsável pela monitorização do tráfico de substâncias ilícitas recomendou, no seu 16º relatório anual de 2005, que: "To ensure appropriate medical use and availability of controlled substances, the Board requests all Governments to promote the rational use of narcotic drugs and psychotropic substances for medical treatment, including the use of opioids for the treatment of pain, in accordance with the pertinent recommendations of WHO. The Governments should include the topic of rational use of narcotic drugs and psychotropic substances, including substance misuse and abuse, in the curricula of the relevant faculties of health-care professions, such as doctors, pharmacists and nurses". A propósito desta citação, o Dr. José Manuel de Castro, presidente da APED, afirmou que "é muito difícil promover alterações dos currículos das faculdades e escolas superiores (em Portugal isso nem depende do Governo). É um trabalho a que não nos excluímos, mas que irá seguramente demorar pelo menos uma geração".
Relativamente a este tema, foi também afirmado nas VIII Jornadas da Unidade da Dor do Hospital Garcia de Orta (UDHGO), em 2005, que "a classe médica ainda não está preparada para alargar a prescrição da morfina", pois "ainda tem medo dos efeitos secundários resultantes da sua utilização", como por exemplo a depressão respiratória, que pode ser fatal se a utilização da droga não for bem controlada. Outra das razões que justifica a não administração da morfina está relacionada com o "ensino na escola (de Medicina) não permitir o seu uso liberal".
Em Portugal, a disponibilidade de tratamentos para a dor é muito limitada, devido à política de baixas comparticipações neste tipo de fármacos, de modo a conter o nível das despesas. Mesmo quando surgem novas terapias de tratamento, as autoridades tendem a transferir o custo para os doentes, não as diferenciando do tipo de reembolso praticado noutras terapias.
O Plano Nacional da Luta Contra a Dor foi implementado, em 2001, para promover o tratamento da dor crónica. Este "define o modelo organizacional a desenvolver pelos serviços de saúde e orientações técnicas que promovam boas práticas profissionais na abordagem da dor" e tem como grande objectivo desenvolver até 2007, "nos serviços oficiais de prestação de cuidados de saúde, da organização de Unidades de Dor que, com respeito pelas presentes orientações, proporcionem, ao maior número possível de doentes do território Nacional, alívio da dor aguda ou crónica de qualquer causa. "
O plano prevê que até àquela data, 75% dos hospitais do País possuam estruturas para tratamento da dor crónica e aguda e em 2012, estas estruturas deverão cobrir 90% das unidades hospitalares.
O controlo eficaz da dor deverá ser encarado como um dever de todos os profissionais de saúde e como um direito que assiste a todos os doentes. Deste modo, e para chamar a atenção para o problema da dor, a Organização Mundial de Saúde instituiu o dia 14 de Junho, dia Mundial da Luta Contra a Dor, apelando a todos os países para considerarem o tratamento da dor um direito subjacente à condição humana.
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