Cirurgia bariátrica associada a aumento do risco de epilepsia
A cirurgia para perda de peso pode mudar a vida e a saúde de uma pessoa, mas uma nova investigação realizada por investigadores canadenses alerta para a possibilidade de aumentar o risco de desenvolver epilepsia.
DOENÇAS E TRATAMENTOS
EPILEPSIA - O que é e como conviver com ela?
Estima-se que a epilepsia atinja cerca de 50 mil portugueses de todas as idades. Contudo, o número de pessoas não epiléticas que pode sofrer uma crise convulsiva durante a vida é de uma em cada vinte. LER MAIS
Segundo o Dr. Jorge Burneo, da Universidade Ocidental do Canadá, a cirurgia bariátrica, que envolve a alteração do sistema digestivo, tornou-se o tratamento mais comum para a perda de peso. E embora seja um tratamento eficaz para a obesidade e condições crónicas relacionadas, como a hipertensão e diabetes tipo 2, os investigadores constataram que as pessoas que se submetem à cirurgia bariátrica têm um risco elevado de epilepsia.
Os resultados do estudo permitiram concluir que as pessoas que fizeram a cirurgia tiveram um risco relativo aumentado de 45% de desenvolver epilepsia, em comparação com pessoas que não a fizeram. Além disso, aqueles que sofreram um AVC após a cirurgia para perda de peso tinham 14 vezes mais propensão para desenvolver epilepsia do que aqueles que não tiveram um AVC.
Desconhece-se o mecanismo pelo qual a cirurgia bariátrica está associada ao aumento do risco de epilepsia, mas os possíveis mecanismos podem incluir deficiências nutricionais e exposição à anestesia geral.
Para o estudo, a equipa do Dr. Burneo recolheu dados de 16.958 pessoas que fizeram uma cirurgia bariátrica ao longo de seis anos, e compararam-nos com mais de 622.000 pacientes obesos que não se submeteram ao procedimento. Todos os participantes foram acompanhados durante pelo menos três anos.
Os investigadores constataram que, ao longo desse tempo, 73 das pessoas que fizeram cirurgia bariátrica desenvolveram epilepsia (0,4%), em comparação com 1.260 pessoas que não realizaram o procedimento (0,2%).
Verificou-se ainda que o risco de epilepsia permaneceu o mesmo, independentemente do tipo de cirurgia para perda de peso – bypass gástrico ou gastrectomia vertical –, que o paciente realizou. Ambos os procedimentos reduzem o tamanho do estômago, restringindo assim o número de calorias que um paciente pode consumir.
É importante notar que, embora elevado, o risco de epilepsia após a cirurgia bariátrica ainda é bastante baixo, estimando-se que seja de 16 por 100.000 pacientes durante três anos do estudo.
Para a Dra. Jessica Folek, diretora de cirurgia bariátrica em Long Island Jewish Forest Hills, em Nova Iorque, as descobertas deste estudo são intrigantes sendo necessários estudos futuros para validar os resultados e explorar possíveis mecanismos que estejam por trás.
Existem condições nas quais a cirurgia pós-bariátrica se pode manifestar de forma semelhante a certos tipos de convulsões, como episódios de hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue). A cirurgia bariátrica pode levar a anormalidades eletrolíticas, deficiências minerais, o que pode ser um fator contribuinte.
A deficiência de vitaminas do complexo B, como vitamina B12, B1 e B6, pode causar anormalidades nos nervos e pode ser um dos vários mecanismos possíveis por trás desta associação.
A cirurgia bariátrica salva vidas e pode resultar em melhora significativa, se não na remissão completa de vários problemas de saúde, incluindo diabetes tipo 2 e pressão alta. Também pode resultar numa melhora significativa na qualidade de vida e diminuição do risco de morrer devido a esses problemas de saúde.
Contudo, apesar desses benefícios, as descobertas sugerem que a epilepsia é um risco a longo prazo da cirurgia bariátrica, logo, os pacientes que estão a considerar a cirurgia devem discutir os benefícios e os riscos do procedimento com o seu médico.