A epilepsia é uma doença crónica do Sistema Nervoso Central que não deixa ninguém indiferente. O seu diagnóstico é estabelecido quando determinada pessoa apresenta pelo menos dois episódios de convulsões com caraterísticas não relacionadas com outras causas como por exemplo abstinência alcoólica, hipoglicemia, problemas cardíacos ou outras com histórico conhecido. Porém, em alguns casos, bastará um único episódio de convulsão grave que indicie haver risco elevado de ocorrência de novo incidente, para se fazer o diagnóstico definitivo de epilepsia.
As convulsões são provocadas por uma disfunção temporária da atividade elétrica cerebral, que se manifesta repetidamente sob a forma de crises epiléticas, mais ou menos graves, devido à ocorrência de intensas descargas elétricas incontroláveis pela pessoa afetada e que originam os movimentos descontrolados em todo o corpo, mordidelas na própria língua e olhos revirados.
Os mecanismos que estão na origem da disfunção, caraterizada por desencadear crises convulsivas recorrentes, súbitas e imprevisíveis, sem evidente e reversível motivo que as justifique, ainda não são totalmente conhecidos. Sabe-se, no entanto, que pode ter origem num defeito genético conhecido ou presumido, como mutação de genes, mas também em alguns fatores ambientais que podem contribuir para a expressão da doença.
Sabe-se ainda, que eventuais “marcas” provocadas por qualquer lesão no cérebro, quer durante o parto ou ao longo do crescimento, podem constituir o ponto de partida para futuras crises epiléticas, sendo designadas por epilepsias secundárias por nada terem a ver com “heranças genéticas”.
Estima-se que a epilepsia, a disfunção mais comum do Sistema Nervoso, afete cerca de 65 milhões de pessoas em todo o mundo e em Portugal calcula-se que atinja cerca de 50 mil habitantes de todas as idades, mas com maior incidência entre os muito jovens e os seniores. Contudo, o número de pessoas que, não sendo epiléticas, pode vir a sofrer de uma crise convulsiva durante a vida é de uma em cada vinte.
Na idade pediátrica, a patologia representa uma das principais causas de doença crónica, calculando-se que uma em cada 100 crianças sofra de epilepsia ou venha a tornar-se epilético.
Incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial de Saúde (OMS), a epilepsia é uma doença do Sistema Nervoso Central caraterizada por uma predisposição duradoura para gerar crises epiléticas e pelas correspondentes consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais.
O que não é epilepsia
Como em qualquer outra área da atividade humana, e particularmente nas várias especialidades da medicina, a possibilidade de erro está sempre presente, já que por vezes não é fácil distinguir o que são convulsões ou crises de origem epiléptica ou não e o que é epilepsia ou não. Por essa razão, a epilepsia é frequentemente sobrediagnosticada, em particular entre as crianças, que assim são indevidamente classificadas e até sujeitas a tratamento.
Estudos recentes estimam que 20 a 30% das crianças consideradas como epilépticas, não têm realmente este diagnóstico, pelo que é necessária uma abordagem profissional competente que reconheça a diferença entre situações que aparentam epilepsia mas não são e que na maioria dos casos são igualmente aparatosas, surgem repentinamente e de forma inesperada.
Sendo as crianças um dos grupos mais afetados pela doença, é conveniente que nelas seja observado o número de crises e que se comece por distinguir entre uma convulsão ou crise e ser portador de epilepsia, isto porque o diagnóstico de epilepsia obriga à recorrência de crises, e uma crise única que qualquer pessoa poderá ter nalgum momento da vida não pode ser igual a epilepsia. Alguns estudos revelam que cerca de um por cento da população terá pelo menos uma crise durante a vida e apenas metade sofrerá de epilepsia.
Além disso, há várias situações que embora partilhem de algumas caraterísticas da epilepsia têm mecanismos completamente distintos, não obstante serem igualmente súbitas, com uma incidência que pode ser até 6 vezes superior à epilepsia, são benignas, transitórias, não precisam de ser medicadas e também são mais frequentes, sendo designadas por crises paroxísticas não epiléticas.
Neste tipo de crises não epilépticas, que como se viu podem ter várias origens, não há qualquer exame que nos forneça o correto diagnóstico e por isso, todos eles, incluindo o eletroencefalograma para eliminar suspeitas de epilepsia, resultam normais. Nestas circunstâncias, o registo da história clínica bem como a recriação do ambiente da ocorrência e outras informações obtidas junto de familiares ou amigos próximos sejam importantes para ajudar o médico a estabelecer um diagnóstico fiável.
Eventualmente, em algumas situações de diagnóstico mais difícil, em particular quando se tratar de crianças, poderá ser necessário aguardar a repetição de nova crise e se possível fazer um registo em vídeo para visualização pelo especialista. É sempre preferível atrasar o diagnóstico do que fazer o diagnóstico errado de epilepsia, não só pelo estigma que está associado à doença, como também porque isso levará a pessoa a iniciar uma medicação desnecessária, e da qual não irá retirar qualquer efeito benéfico.
Da antiguidade até aos nossos dias
As primeiras referências à epilepsia podem ser encontradas em textos da medicina tradicional indiana Ayurvédica, onde surgiu e se desenvolveu entre os anos 4500 a 1500 a.C., sendo que a citação mais antiga, conhecida, está contida no compêndio Charaka Samhita (400 a.C.) sob o nome de “apasmara”, que em sânscrito significa perda de consciência, perda de memória ou distúrbio intelectual e já nele se referenciavam os sintomas, diagnósticos, classificação e tratamentos.
Na Grécia Antiga, a epilepsia era considerada uma doença controversa, geralmente associada a possessão espiritual, mas igualmente com genialidade e divindades, tendo-lhe sido atribuída a designação de “doença sagrada”. Porém a escola de Hipócrates (500 a.C.), rejeitava a noção de que a epilepsia fosse causada por espíritos e de natureza divina, tendo determinado que a sua origem era cerebral e não sagrada, teoria a que se regressaria somente nos séculos XVIII e XIX.
Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental, colocava a hipótese do distúrbio cerebral, hoje conhecido por epilepsia, ser determinado enquanto ainda no útero da mãe, referindo-se à epilepsia pelo termo “grande doença” que mais tarde daria lugar a “grande mal”, usado para descrever as crises tónico-clónicas, em que há perda de consciência seguida de contrações sustentadas dos músculos, seguida de períodos de contrações musculares alternadas com relaxamento.
Herança cultural do período greco-romano, até chegarmos ao período renascentista e ao iluminismo, em que foram retomadas as teorias hipocráticas, as opiniões sobre a epilepsia eram dominadas por simbolismo, demonologia e as crenças religiosas.
No passado, tal como em outras ciências, a medicina era muito permeável a superstições, em particular durante a idade média, em que a própria igreja induzia o povo a acreditar que as convulsões eram uma forma de possessão demoníaca ou bruxaria, sendo necessários rituais religiosos para obtenção da cura o que fez com que muitas pessoas com os sintomas de epilepsia tivessem sido sacrificadas devido a essas crenças.
Não obstante ainda hoje não se conhecerem todas as causas da doença, com a invenção do eletroencefalograma (EEG) no século passado, o avanço da neurocirurgia, uma melhor compreensão dos mecanismos fisiopatológicos e a descoberta dos medicamentos antiepiléticos, é possível hoje em dia manter as crises sob controle, desde que se mantenha uma medicação diária adequada, podendo por isso fazer-se uma vida perfeitamente compatível com a normalidade, feliz e completa.
Tratamentos
A epilepsia é uma doença complexa cuja sintomatologia se manifesta de várias formas e com diferentes intensidades pelo que o diagnostico e tratamento terão de ser estabelecidos caso-a-caso, de forma precisa e gradual, a fim de se evitar ao máximo que os efeitos secundários acabem por agravar a doença.
Até há alguns anos atrás, acreditava-se que a associação de vários fármacos poderia ajudar a obter melhores resultados, mas provou-se na prática que essa opção não era a adequada já que favorecia o acumular de efeitos colaterais.
Criou-se por isso um consenso entre os médicos de que a prescrição de apenas um fármaco seria a melhor estratégia inicial. No caso do primeiro medicamento, mais barato e acessível, não resultar, pode então tentar-se com outro com menos efeitos colaterais, mais dispendioso ou menos acessível, ou em alternativa com dois que poderão ser usados simultaneamente a fim de potencializar os efeitos.
É importante que antes do início do tratamento seja estabelecido um correto diagnóstico que tenha em conta o paciente como um todo, considerando a severidade do quadro clínico e seu prognóstico, bem como a expectativas do doente, e se possível envolver a família nos tratamentos, já que a medicação é habitualmente mantida por muitos anos e por vezes para o resto da vida.
A adaptabilidade social do paciente epilético à medicação é importante para melhorar e facilitar o acesso a uma melhor qualidade de vida, reduzindo e controlando as crises convulsivas. Para o efeito são comummente utilizados medicamentos da classe dos antiepiléticos e convulsivantes, sendo que no caso de epilepsia idiopática ou generalizada, a primeira escolha recai para o valproatos e divalproato, e a segunda opção para a lamotrigina.
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