Pouco consensual, e por isso objeto de muita polémica, é frequente que pais, professores e especialistas em psicopedagogia tendam a interpretar erradamente as causas, que são multifatoriais e progressivas, do distúrbio do déficit de atenção sem hiperactividade (DDAH-1 ou DDAH-P1), também conhecido por Mal de Klosouski, ou simplesmente referido pelo público em geral como distúrbio de déficit de atenção.
O distúrbio é um dos três subtipos do déficit de atenção e hiperactividade (TDAH), modificado em 1994 pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, revisto em maio de 2013 para a sua versão atual (DSM-5), guia usado pelos especialistas da saúde mental e outros profissionais e organismos em todo o mundo, que lista as diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para os diagnosticar de acordo com a classificação da Associação Americana de Psiquiatria (APA).
São características marcantes deste tipo de transtorno, a facilidade de distração com devaneios frequentes, desorganização, esquecimento frequente, fadiga e procrastinação. Ao contrário do que ocorre nos outros subtipos, os traços de hiperactividade são pouco comuns e por isso de difícil perceção.
O DDAH-1 é geralmente diagnosticado muito mais tarde que os outros subtipos de DDAH, devido principalmente à ausência de sintomas o que torna a doença mais discreta. Por esse facto, alguns profissionais preferem chamar à sintomatologia inconsistência de atenção, em vez de déficit de atenção. Nesta situação, pais e professores tendem frequentemente a admoestar as crianças com repreensões inadequadas e muitas vezes injustas, acabando por levá-las a pensar que são diferentes, não as impedindo no entanto de que aceitem as críticas, criando uma autoimagem negativa que mina a sua autoestima.
A ausência de diagnóstico e tratamento destes casos, causa frequentemente uma série de problemas de desempenho e relacionamento pessoal, que se prolongam muitas vezes pela vida adulta, podendo inclusive desenvolver-se um quadro de frustração e baixa autoestima, que conduz a outros distúrbios mais graves de ansiedade podendo culminar no uso de drogas.
Alguns especialistas como o Dr. Russel Barkley, autoridade mundialmente reconhecida no estudo em atenção e hiperactividade argumentam que o deficit de atenção predominantemente desatento (PD) é tão diferente do TDAH (transtorno do deficit de atenção com hiperactividade), tradicional que deveria ser considerada uma desordem distinta. Cita como exemplo alguns sintomas comuns entre pacientes com TDA-PD, em particular a quase ausência de desordens de conduta e comportamentos de alto risco e respostas a medicamentos estimulantes bastante distintas.
Caraterização
De acordo com os critérios da Associação Americana de Psiquiatria (APA), a Desordem por Défice de Atenção sem Hiperactividade (DDAH-1) pode ser definida como um "padrão persistente de falta de atenção e/ou impulsividade/hiperactividade, com uma intensidade mais grave e frequente que o observado, habitualmente, em sujeitos com idênticos níveis de desenvolvimento".
Caraterizada pela primeira vez em 1845 pelo médico alemão Heinrich Hoffmann, foi apenas em 1902 que o médico britânico George Still apresentou, num seminário, o caso de um grupo de crianças com problemas comportamentais que, na atualidade, seriam diagnosticadas como sofrendo de DDAH. Desde então, ao longo do século XX foram várias as designações para esta perturbação como hiperactividade, hipercinesia, síndroma hipercinético ou disfunção cerebral, mas é em 1994 que a APA estabelece, no seu Manual de Diagnóstico Estatístico de Desordens Mentais (DSM), a terminologia DDAH para se referir a indivíduos com comportamentos hiperactivos, com dificuldade em prestar atenção e tendência para a impulsividade.
A APA define ainda três formas de manifestação clínica da patologia, dependendo da prevalência dos sintomas de falta de atenção, de hiperactividade ou de impulsividade: DDAH do tipo predominantemente desatento; DDAH do tipo predominantemente hiperactivo/impulsivo; DDAH do tipo misto, sendo este último o mais frequente e que combina a falta de atenção com a hiperactividade.
Sintomas da DDAH
A APA identifica no DSM-5 alguns sintomas associados à DDAH, sendo que, pelo menos seis deles devem manifestar-se durante o diagnóstico correto do transtorno, em pelo menos dois ambientes diferentes e por um período superior a seis meses.
Nos critérios diagnósticos da classificação internacional de doenças (CID10-F90), o transtorno é caraterizado em função da observação com predomínio de desatenção, predomínio de hiperactividade e impulsividade ou ambos no seu conjunto.
Os pacientes com déficit de atenção e hiperactividade têm problemas para fixarem a sua atenção de forma consistente e interessada pelo mesmo período de tempo que os outros. Quando instados a executar uma tarefa, também tendem a optar por trabalhos mais fáceis e pouco demorados em troca de uma recompensa imediata, embora menor, em vez de trabalhos mais demorados em troca de uma recompensa maior que só estaria disponível mais tarde.
Falta de atenção: não prestar atenção suficiente aos pormenores; ter dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades; surdez fictícia; não seguir instruções nem concluir atividades; dificuldade em organizar-se; evitar tarefas que exijam esforço continuado; perder objetos necessários à sua atividade ou à realização de trabalhos; distrair-se com facilidade por estímulos externos; esquecimento frequente de atividades e rotinas diárias.
Sendo a atenção uma condição indispensável no processo de aprendizagem, estas crianças apresentam, por vezes, défices no seu rendimento escolar devido a uma dispersão da atenção para estímulos irrelevantes.
Hiperactividade/impulsividade: irrequieta, movendo-se sempre quando sentada; levantar-se quando deveria permanecer sentada ou correr excessivamente em situações inadequadas; mexer de forma exagerada as mãos e os pés; dificuldade em dedicar-se a um jogo calmamente; falar em excesso, respondendo antes que a pergunta esteja concluída; interromper jogos e conversas dos outros; dificuldade em esperar pela sua vez; excitação frequente como se estivesse ligada a um motor.
Estas crianças são mais propensas a acidentes devido à sua impulsividade e por terem reduzida consciência dos riscos. Por outro lado, o desempenho escolar também é afetado, pois a criança responde a estímulos sem analisar a informação recebida, podendo apresentar dificuldades em tarefas mais complexas como a escrita, leitura ou matemática. Manifestam também problemas de relacionamento com os outros, em particular, com os colegas.
O diagnóstico de DDAH não é fácil. Apenas podemos dizer que estamos na presença do distúrbio quando prevalecerem pelo menos seis dos sintomas descritos anteriormente, durante um período mínimo de seis meses, para além de serem detetados os indícios antes da idade escolar e, mais tarde, se manifestarem em dois ou mais contextos diferentes, seja na escola ou em casa.
Causas do distúrbio
A DDAH é uma perturbação neurobiológica de origem genética que, inicialmente, estava associada a uma lesão cerebral. No entanto, uma diversidade de fatores contribui para o aparecimento deste transtorno, como os orgânicos, neurofisiológicos e ambientais. Estudos em gémeos monozigóticos (que provêm do mesmo óvulo), confirmam a hereditariedade como uma das causas principais, verificando-se também uma elevada taxa de incidência quando uma das figuras parentais é portadora e apresenta um quadro semelhante de hiperactividade com défice de atenção.
A nível genético podem ainda observar-se alterações neurológicas e neuroquímicas cerebrais, em particular nas áreas frontais do cérebro, existindo mesmo uma deficiência na produção de importantes neurotransmissores cerebrais, nomeadamente a dopamina ou a noradrenalina.
Acredita-se que nas criança com DDAH há produção irregular destas duas substâncias e a medicação recomendada vai no sentido de colmatar essa deficiência. Vários genes foram associados ao distúrbio, como os que codificam o recetor dopaminérgico (DRD4, DRD5, DRD1B, DRD1L2) ou os que se referem à codificação da proteína transportadora de dopamina DAT1, SLC6A3).
Entre os fatores não genéticos podem considerar-se complicações pré-natais (uso de álcool, tabaco e drogas durante a gravidez ou complicações intrauterinas), perinatais (traumatismos crânio-encefálicos) e pós-natais (falta de oxigénio, meningite pós-natal, encefalite).
Há ainda a considerar dentro dos fatores ambientais a exposição da criança a elevadas doses de chumbo, baixo peso ao nascer, assim como alguma lesão cerebral cuja situação poderia agravar-se na presença de ambiente adverso, caraterizado por psicopatologias familiares, baixo nível económico, marginalidade ou stress familiar.
Com os avanços científicos e técnicos atuais é possível visualizar o funcionamento do cérebro através de ressonância magnética ou tomografias, revelando uma deficiência na ação reguladora de certos neurotransmissores, assim como uma atividade atípica na região frontal do cérebro, responsável pela inibição do comportamento, atenção continuada e pelo autocontrole.
Tratamento atenua os sintomas
O diagnóstico de DDAH deve ser realizado por um profissional médico, de preferência psicólogo ou psiquiatra, que deverá descartar a possibilidade de outras doenças e distúrbios e indicar o melhor tratamento após consultar outros profissionais, designadamente educadores ou psicopedagogos. Um diagnóstico clínico correto deve abranger informação acerca da história familiar e médica da criança, exames físicos (oftalmológicos e auditivos) e entrevistas com os pais e com a criança. A avaliação da criança deve incluir ainda alguns exames e testes adicionais para medir a maturidade, coordenação visual, exploração neurofisiológica e nível de atividade motora.
O tratamento deve ser combinado entre três modalidades, a farmacológica, a psicológica e a educativa ou psicossocial.
Apesar de gerar alguma polémica, a medicação continua a ser muito importante no tratamento, pois em 80 por cento dos casos mostrou-se eficaz: a criança consegue concentrar-se melhor, terminar as suas tarefas sem interrupção, reduzindo também a sua agitação e impulsividade. Os fármacos utilizados com mais frequência são psicoestimulantes que incluem na sua composição metilfenidato, imipramina, nortriptilina, bupropiona ou clonidina.
O acompanhamento clínico da criança deve ser um processo sistemático e a dosagem deve ser ajustada à evolução e aos progressos observados. Na maioria dos casos, estes fármacos vão agir sobre os neurotransmissores cerebrais, produzindo um efeito regulador eficaz na atividade motora e na capacidade de concentração. Contudo, podem surgir alguns efeitos secundários associados a estes medicamentos, como falta de apetite ou de sono, sendo aconselhável uma vigilância constante por parte do médico. Embora não tenham sido encontrados indícios de dependência pela utilização prolongada dos psicoestimulantes, alguns estudos apontam para a inibição do crescimento, ainda que em percentagens pouco significativas.
Quando a prescrição de psicoestimulantes é desaconselhada, o recurso a antidepressivos é outra alternativa para reduzir os sintomas da DDAH, já que age sobre a depressão e a ansiedade, por vezes associadas ao distúrbio.
O tratamento farmacológico deve ser complementado com a intervenção psicoterapêutica e psicossocial, pois a conjugação das três terapias implica uma melhoria substancial do comportamento das crianças hiperactivas. Enquanto a psicoterapia é caraterizada por uma intervenção direta, através da observação cognitivo-comportamental, ajudando a criança a gerir situações de frustração e impotência, a terapia psicossocial abrange programas para pais, intervenção nas dinâmicas familiares e na escola.
A associação destas duas últimas terapias pretende incrementar comportamentos desejáveis através de mecanismos de recompensa/castigo, economia de fichas (técnica psicológica que se baseia nos princípios de condicionamento operante), que consiste em atribuir pontos negativos ou positivos em função do seu comportamento, ou ainda o recurso a um contrato escrito entre os pais e a criança em que cada um se compromete a observar um conjunto de termos específicos do comportamento esperado de cada uma das partes.
A intervenção não deve incidir apenas na criança, mas também nos contextos em que esta interage e onde ocorrem os seus comportamentos.
À medida que a criança cresce, a sua hiperactividade diminui, embora com a entrada na adolescência ainda se manifestem problemas de concentração e agitação.
As crianças com este distúrbio constituem um grupo heterogéneo. Não existe um medicamento, cura ou método específico de terapia. O tratamento deve ser adaptado a cada caso particular.
Com o apoio necessário, estas crianças poderão desenvolver as suas potencialidades e tornarem-se adultos equilibrados e bem-sucedidos, como é o caso de Michael Phelps, em que a DDAH não o impediu de conquistar oito medalhas de ouro nos jogos olímpicos de Pequim, ou ainda de Leonardo da Vinci, que se destacou como artista e inventor, sendo outro notável, Thomas Edison, cuja hiperactividade o levou a incendiar o celeiro dos pais aos seis anos, continuando ao mesmo tempo a iluminar as gerações seguintes através da sua mais importante descoberta: a lâmpada incandescente!
Com o advento público da internet na década de 1990 e a sua rápida expansão a nível global, um marco indelével na história da humanidade ficou para sempre registado.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.