Crescimento e desenvolvimento, conceitos frequentemente entendidos como sinónimos, são fenómenos diferentes na sua concepção fisiológica, embora paralelos no seu curso e integrados no seu significado.
O crescimento implica divisão e aumento do tamanho celular (hiperplasia e hipertrofia) e consequente aumento da massa corporal, que pode ser medida em unidades tais como g/dia, kg/ano, cm/mês, cm/ano. Já o desenvolvimento engloba aspectos de diferenciação relacionados com a aprendizagem e aquisição de funções que levam à capacidade progressiva de executar tarefas cada vez mais complexas.
O termo desenvolvimento é mais abrangente que crescimento pois, para além de o incluir, refere-se também às alterações da composição e funcionamento das células, à dimensão dos membros, maturação dos órgãos e aquisição de novas funções.
Cada pessoa possui características únicas, com ritmos de desenvolvimento próprios, que a distinguem das outras pessoas. No entanto, apesar das diferenças e incertezas que marcam o desenvolvimento humano, os investigadores estabelecem fases que obedecem a uma certa sequência, universalmente aceite.
As etapas do crescimento e desenvolvimento humano podem assim ser divididas em várias fases: infância, adolescência, idade adulta e velhice.
Embora o crescimento celular ocorra durante todas as fases da vida, a observação e validação dos padrões de crescimento desde o nascimento à adolescência é o período mais importante pois o crescimento somático do organismo é interrompido no fim desta última fase.
Até ao séc. XVII, filósofos e educadores consideravam a criança um ser igual ao adulto, apenas menor que ele. A criança era tida como um adulto em miniatura de quem se esperavam comportamentos, interesses e capacidades semelhantes aos do adulto. Foram necessários séculos para que a humanidade chegasse à conclusão de que a criança é um ser em desenvolvimento e, em muitos aspectos, diferente do adulto.
A primeira fase
A infância pode dividir-se em três fases principais. A lactente, que vai do nascimento até aos dois anos; a pré-escolar, que vai dos dois aos seis anos de idade; a escolar, que se inicia aos sete e finda aos dez anos.
Na fase lactente, além das experiências sociais e da aquisição gradual da autonomia, o período é marcado pela conquista do andar e do falar.
No primeiro trimestre a criança é completamente dependente da mãe, que decifra e nomeia os sinais por ela emitidos. A partir do quarto mês começa a perceber que existe um mundo à sua volta e a interagir com o meio, demonstrando emoções como raiva, alegria, interesse, medo e surpresa através de expressões faciais distintas.
É também no segundo trimestre que a comunicação verbal começa a estabelecer-se. Com um ano, o vocabulário já abrange duas ou três palavras simples, como mamã e papá. Por esta altura começa também a acercar-se mais de outras crianças embora ainda não interaja com elas.
No segundo ano de vida a linguagem é a conquista mais marcante. A criança conta com um vocabulário de aproximadamente 50 palavras e é capaz de formar frases simples com três. Nesta fase a criança é inquieta e curiosa e, mesmo quando ainda não anda, observa tudo ao seu redor e quer tocar no que está ao seu alcance.
Mas é na fase pré-escolar que o desenvolvimento da criança é mais marcante. Com o progressivo domínio do seu corpo a criança vai ganhando autonomia e passa a explorar tudo intensamente (começa a correr, a subir escadas, a saltar, a vestir-se sozinha).
É a fase do egocentrismo. A criança é incapaz de considerar o ponto de vista das outras pessoas pois acredita que os seus pensamentos são os únicos possíveis e correctos. Vive no seu mundo e tem dificuldades de sociabilização. A atenção e a concentração continuam baixas. Por isso não se prende à mesma actividade durante muito tempo e tem dificuldade em ouvir o que o outro diz.
Entre os 2 e 5 anos de idade a criança vive o chamado estágio pré-operacional de Piaget, quando o desenvolvimento da linguagem ocorre mais rapidamente e esta apresenta o chamado raciocínio mágico, caracterizado pelo animismo (atribuir características humanas aos animais, plantas e objectos) e pelo pensamento transductivo.
Apesar de nesta idade serem transparentes, é comum inventarem factos ou histórias, por ainda fantasiarem muito e não terem noção do que é verdade ou mentira. As mentirinhas são uma coisa normal. Só a partir dos 6 a 7 anos a criança compreende o verdadeiro conceito de mentira e passa a utilizá-la de forma mais consciente. Entre os 7 a 10 anos a criança está na chamada fase da latência. Compreende e elabora tudo o que vivencia e lhe é ensinado.
Ocorrem as grandes conquistas cognitivas, como ler e escrever. Torna-se mais crítica, principalmente em relação à família e à escola, e é mais curiosa. É a fase dos "porquês", querendo saber o porquê de tudo. Este questionário é saudável e é precisamente esta curiosidade a base da aprendizagem.
Adquire uma nova imagem de si, mais próxima da realidade. Passa a expressar-se por meio de diálogo e sente necessidade de explicar logicamente as suas ideias. Descobre questões do mundo adulto como a mentira, a culpa, a morte, etc, e compreende a lógica do mundo físico e os diferentes pontos de vista.
É o fim do egocentrismo. Apercebe-se de que não é o centro do mundo e que este é composto por outras pessoas e objectos, passando então a considerar o outro, o que melhora a convivência social.
A escola deixa de ser um local apenas divertido e passa a ser um lugar para aprender e estudar. Nela a criança adquire responsabilidades, como, por exemplo, fazer os trabalhos de casa.
Ao período do desenvolvimento humano entre a infância e a idade adulta e que abarca desde a puberdade ao completo desenvolvimento do organismo dá-se o nome de adolescência.
O difícil processo de adolescer
Durante o séc. XIX a adolescência era encarada como um "momento crítico" da vida, uma fase de potenciais riscos para o indivíduo e para a sociedade. Só a partir do final do século a preocupação com o adolescente se tornou evidente uma vez que, devido às guerras, os índices de mortalidade e morbidade cresceram e com eles a necessidade de preservar o futuro da população.
A adolescência é talvez o período mais desafiante e complexo que o ser humano experiencia. É difícil estabelecer limites cronológicos para este período. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é o intervalo compreendido entre os 10 e os 19 anos de idade.
Do latim adolescere, "crescer", "amadurecer", o conceito relaciona-se com o crescimento físico, psicológico, social e humano do indivíduo.
Esta fase é marcada por súbitas e múltiplas mudanças físicas universais, embora a forma de se manifestarem e o timing em que ocorrem varie de acordo com as características genéticas individuais, assim como dos factores externos. Ainda assim, todos os sujeitos são confrontados com a readaptação à sua nova imagem e estrutura corporais, o despertar para a sexualidade e a aquisição de novas formas de pensamento.
Pode considerar-se a evolução da adolescência em três fases, caracterizadas pela vivência e aquisição de diversas competências. As mudanças físicas manifestam-se sobretudo na fase inicial, também designada por puberdade ou pré-adolescência (entre os 11 a 14 anos) e, ainda que de forma menos acentuada, ao longo das fases seguintes. Na fase intermédia (entre os 13 a 16 a adolescência propriamente dita) salienta-se o desenvolvimento cognitivo e, na fase final da adolescência, os aspectos sociais.
De todas as mudanças que ocorrem na adolescência a mais visível é a nível da estrutura física. Ocorrem importantes modificações no funcionamento de diversos órgãos e sistemas, nomeadamente sexuais.
O "relógio biológico" que desencadeia a puberdade activa-se de forma espontânea através de um complexo sistema neuro-hormonal em que participa o hipotálamo, a hipófise e várias glândulas endócrinas produtoras de hormonas. Entre estas substâncias, as mais importantes são as hormonas sexuais, que elaboram as gónadas, dando lugar ao desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, e a hormona do crescimento, que favorece o aumento da altura e do peso.
No que diz respeito aos crescimento corporal, duas hormonas desempenham um papel preponderante: a somatotropina hormona peptídica, conhecida como a hormona do crescimento ou GH (Growth Hormone) produzida pela hipófise, e a tiroxina (T4), produzida pela tiróide. A primeira regula o crescimento do corpo como um todo, enquanto a tiroxina, que só é produzida "sob instrução" da hipófise através da tirotrofina, regula principalmente o crescimento do cérebro, dentes e ossos.
A puberdade traz consigo uma mudança na acção das hormonas. Activada pelo hipotálamo, a hipófise começa a secretar novas hormonas que agem sobre os órgãos sexuais (gonadotrofinas: hormona folículo-estimulante e hormona luteinizante) e sobre as glândulas supra-renais (hormona adrenocorticotrófica).
Nos meninos cerca dos 11 anos, a hormona folículo-estimulante provoca o desenvolvimento das células que produzem os espermatozóides, e a hormona luteinizante leva à produção da hormona masculina, a testosterona. Esta, por sua vez, conduz ao desenvolvimento das características típicas masculinas: desenvolvimento de pêlos púbicos e axilares, maior oleosidade da pele, alteração da distribuição da gordura corporal, desenvolvimento dos testículos e a ocorrência da ejaculação.
Nas meninas, um pouco mais cedo, a hormona folículo-estimulante leva ao amadurecimento dos folículos de Graaf nos ovários, que produzem os óvulos, e a hormona luteinizante à menstruação (menarca). Os ovários produzem, por sua vez, o estrogénio que regula o crescimento dos seios, dos pêlos púbicos e a acumulação de gordura , e a progesterona, que regula o ciclo menstrual e a gravidez.
Os primeiros anos da adolescência trazem consigo novas preocupações com a auto-imagem e a sua aparência física. Adolescentes de ambos os sexos investem horas frente ao espelho, preocupando-se ou queixando-se da sua compleição física, por serem muito altos, baixinhos, gordos ou magros, ou por terem acne...
Com o amadurecimento fisiológico intensifica-se o impulso sexual e o contacto com o corpo adquire um carácter exploratório, de descoberta de novas sensações pela erotização genital. Perante este impulso o adolescente inicia a busca por parceiros, deixando de lado os relacionamentos infantis. Têm início os contactos superficiais, depois profundos e mais íntimos, que preenchem a vida sexual dos adolescentes.
A figura parental, idealizada como herói até então, deixa de exercer influência pois o sujeito passa a buscar uma nova identidade, o que, normalmente, gera um progressivo afastamento dos pais. No entanto, não é o distanciamento destas figuras que o adolescente deseja mas antes desvincular-se do seu papel de criança.
O jovem vê-se abrigado a reformular todos os conceitos que até então tinha de si, ao mesmo tempo que se projecta para a vida adulta, ainda desconhecida. Sente-se perdido nas referências do tempo a infância do passado e a vida adulta do futuro o que gera grande angústia.
As flutuações de humor são um traço típico desta fase, consequência das variações hormonais e da ansiedade gerada pelas inúmeras experiências e descobertas que passa a vivenciar com intensidade. Há um significativo ganho psíquico e intelectual e, consequentemente, o adolescente crê que sabe e pode tudo. Por essa razão rebela-se e elabora o seu próprio conjunto de valores e regras, muitas vezes opostos aos considerados correctos até então.
Esses conflitos entre as normas vigentes e a sua nova visão do mundo impelem-no, muitas vezes, a recorrer a ambientes mais favoráveis. Insere-se em grupos que o aceitam e lhe proporcionam segurança e estima pessoal, devido à identificação entre os seus integrantes. Pouco a pouco, porém, desvincula-se e assume a sua própria identidade.
Acima de tudo, os adolescentes lutam pela identificação do "eu" e pela estruturação da sua existência, baseada nessa identidade. Trata-se de um processo de auto-afirmação.
Tal como exprimem os versos da canção "Não há estrelas no céu", de Carlos Tê e Rui Veloso:
"Não vês como isto é duro
Ser jovem não é um posto
Ter de encarar o futuro
Com borbulhas no rosto",
Crescer é difícil! No entanto, a adolescência não é marcada somente por crises, mal-estar e angústia. É uma época de grandes descobertas e novas experiências, que definirão a identidade sexual, social, ideológica e profissional do sujeito na vida adulta.
A função dos pais no direccionamento dessas vivências e na determinação dos limites, ainda em construção nos filhos, é essencial. Um adolescente sem limites pode tornar-se um adulto com dificuldade em respeitar regras, e compreender os seus direitos e deveres em sociedade.
Por outro lado, a inflexibilidade e uma imposição excessiva de normas pode contribuir para um indivíduo revoltado e inseguro, com dificuldade em estabelecer os próprios limites.
Para que a adolescência seja saudável os pais devem fazer um esforço para compreender e aceitar as mudanças daquela que é considerada uma das melhores fases da vida.
A doença celíaca é um distúrbio digestivo e imunológico crónico que danifica o intestino delgado, desencadeada pela ingestão de alimentos contendo glúten.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
Os carboidratos, também conhecidos como açúcares, glícidos ou hidratos de carbono, são macronutrientes, responsáveis por fornecer energia ao corpo humano.
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