CÉLULAS ESTAMINAIS

Lúpus renal: células estaminais do tecido adiposo eficazes

Um estudo publicado na revista científica Current Research in Translational Medicine revelou que a aplicação de células estaminais mesenquimais do tecido adiposo é segura e eficaz na redução da sintomatologia em doentes com lúpus renal, ou nefrite lúpica, que não respondem aos tratamentos convencionais.

Lúpus renal: células estaminais do tecido adiposo eficazes

MEDICINA E MEDICAMENTOS

CÉLULAS ESTAMINAIS, O INÍCIO DE UM NOVO PARADIGMA TERAPÊUTICO


Convém referir que a probabilidade de um doente com lúpus responder aos tratamentos convencionais e de se manter em remissão dez anos após o diagnóstico é extremamente baixa, estimando-se que possa ser inferior a 5%. Este motivo, assim como o facto de os tratamentos convencionais estarem associados a efeitos secundários indesejados, impulsionou a procura de novas alternativas terapêuticas.

Segundo a Dra Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, uma das alternativas em estudo são as células estaminais mesenquimais, que, pelas suas capacidades anti-inflamatórias e de regulação do sistema imunitário, têm vindo a ser investigadas ao longo das duas últimas décadas, em vários ensaios clínicos, no tratamento de doenças autoimunes

O ensaio clínico incluiu nove doentes, entre os 19 e os 36 anos, com nefrite lúpica diagnosticada há cinco anos, em média, que não respondiam às terapêuticas convencionais. O tratamento experimental consistiu numa única infusão de células estaminais do tecido adiposo, obtido por lipoaspiração, tendo os dadores de células sido irmãos saudáveis dos participantes, com idades compreendidas entre 25 e os 40 anos.

Após a administração de células estaminais, verificou-se uma diminuição da excreção de proteínas na urina, que revelava uma melhoria na disfunção renal característica da nefrite lúpica. Três meses depois, os níveis de proteína na urina começaram a aumentar gradualmente, mantendo-se, contudo, abaixo dos níveis registados pré-tratamento. Não se verificaram reações adversas ao tratamento experimental, à exceção de um episódio de hipertensão, que foi facilmente resolvido.

Os dados indicam que as células estaminais mesenquimais do tecido adiposo tiveram um impacto positivo nos sintomas renais de lúpus, embora com eficácia temporária, o que aponta para a necessidade de administração periódica do tratamento experimental, para se manter a eficácia e prevenir recaídas.

Verificou-se ainda uma diminuição da frequência de outros sintomas de lúpus, como o eritema malar (lesões cutâneas na face, em forma de borboleta), artrite, dor de cabeça, febre, queda de cabelo e alterações na visão. Aliás, ao fim de um ano, várias destas manifestações tinham desparecido totalmente, nos doentes que as apresentavam.

Estas melhorias originaram uma diminuição significativa do índice de atividade da doença, a partir da primeira semana após a administração de células estaminais e ao longo de todo o período de acompanhamento. Para os autores, este efeito positivo poderá dever-se, por um lado, a um efeito protetor exercido pelas células estaminais através da sua ação anti-inflamatória, e por outro, à sua ação de reparação das células afetadas.

O lupus eritematoso sistémico (LES) é uma doença crónica imunomediada. Caracteriza-se pela produção de anticorpos contra componentes do próprio organismo que podem causar lesão de diversos órgãos. Uma das complicações frequentes é a alteração no funcionamento dos rins, sob a forma de nefrite lúpica, que se verifica em 60% dos doentes, estimando-se que evolua para doença renal crónica ou terminal em cerca de 25% dos casos.

O LES afecta 0,07% dos portugueses, tipicamente mulheres em idade reprodutiva. O início da doença ocorre entre os 16 e os 49 anos em cerca de 75% dos casos, mas a doença pode também ocorrer em crianças ou em indivíduos com mais de 65 anos.

Fonte: Tupam Editores

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