Desde tempos remotos os animais integram uma parte importante na história evolutiva da humanidade, mas o ser humano moderno levou além fronteiras a vinculação que os unia, integrando-os nos processos de tratamento e cura nas mais diversas áreas.
Não é novidade que os animais possuem características que parecem facilitar o processo de terapia, e que perante a sua presença e comportamentos espontâneos se torna impossível não reagir.
Na verdade, o uso de animais em tratamentos não é uma experiência recente. A utilização de animais como parte de um programa terapêutico teve o seu primeiro registo no séc. IX, em Gheel, na Bélgica, onde pessoas com necessidades especiais foram autorizadas pela primeira vez a cuidar de animais domésticos.
Outros dados apontam a origem da Terapia Assistida por Animais (TAA) remontando a Inglaterra no final do século XVIII, mais especificamente ao ano de 1792, a William Tuke e ao Retiro de York, um centro clínico para pessoas com problemas mentais. Os doentes ali internados participavam de um programa alternativo de comportamento que consistia na permissão de cuidar de animais de uma quinta como reforço positivo.
Nos anos 60, graças ao psicólogo infantil americano Boris Levinson, assiste-se ao ressurgimento da terapia baseada em animais.
Em Portugal, a TAA começa a ser uma aposta forte, aplicada, por exemplo, em crianças com autismo ou síndrome de Down, e no acompanhamento a idosos e adultos jovens com problemas diversos, quer funcionais, psicológicos, ou que, simplesmente, se sintam sozinhos.
Outra vertente de aplicação deste tipo de terapia são os programas de reabilitação de reclusos. Porém, esta não deve confundir-se com a utilização de animais como entretenimento, pois a TAA é uma abordagem interdisciplinar complementar a outras terapêuticas, não substituindo o tratamento convencional, que tem como objetivo o auxílio na resolução de um problema humano.
A Delta Society, a entidade dos EUA que regulamenta os programas com o uso de animais define a TAA como: "uma intervenção dirigida a um objetivo, na qual o encontro entre o animal e o humano se torna parte integrante do processo de tratamento; é dirigida por um profissional da área da saúde e está desenhada fundamentalmente para promover melhorias nas áreas física, emocional e social, respeitando o funcionamento cognitivo das pessoas. Pode levar-se a cabo desde uma ampla variedade de enquadramentos e pode realizar-se de forma individual ou em grupo. Todo o processo de tratamento deve ter uma avaliação e um registo do mesmo."
Os princípios desta terapia são utilizados atualmente em todo o mundo. A TAA pode ser aplicada em várias faixas etárias e em diferentes locais, como hospitais, ambulatório, casas de repouso, escolas, clínicas de fisioterapia e de reabilitação.
As atividades – previamente agendadas e com duração de, no máximo, uma hora – podem ser individualizadas ou em grupo, com periodicidade semanal ou quinzenal, e são geralmente em intervalos definidos.
A sua prática pressupõe a atuação e/ou supervisão de uma equipa interdisciplinar, que varia de acordo com o animal empregado. Conforme o caso, após o treino necessário, poderão participar da equipa profissionais de saúde como: médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo e fonoaudiólogo; da área sócio educacional: pedagogo, educador especial, educador físico e assistente social; da área do trato animal: médico veterinário, zootecnista, instrutor de equitação, auxiliar guia e tratador.
Na TAA o animal é a parte principal do tratamento. Assim, um animal de terapia deve ser calmo, controlado, previsível e inspirar confiança na pessoa que com ele está a interagir, deverá sustentar o olhar das pessoas, ser amigável, gostar de ser acariciado, tocado e abraçado, mantendo-se calmo perante movimentos bruscos e ruído elevado, quando alguém se aproximar por trás pode revelar curiosidade mas não se deve assustar, rosnar, saltar ou mostrar medo. Um animal que rosne, fuja, demonstre impaciência ou seja nervoso não servirá para trabalhar. Se não interage, não poderá ajudar ninguém.
Dadas as suas características comportamentais e morfológicas, os animais de eleição para este tipo de programas são o cão (Cinoterapia) e o cavalo (Equoterapia), embora também se utilizem burros (Asinoterapia) e golfinhos (Delfinoterapia), entre outros animais.
Cinoterapia, a ajuda dos cães
Os cães são dos animais mais usados em terapia humana. O tipo de comportamento, a facilidade para o treino e os custos, são alguns dos elementos que favorecem a utilização desta espécie. Os cães são utilizados como um agente facilitador pois a sua presença permite que o paciente aceite as restantes atividades com mais facilidade, acelerando assim a intervenção terapêutica. O terapeuta baseia-se na relação entre o paciente e o animal para direcionar o tratamento previsto.
As áreas da saúde que neste momento utilizam este tipo de abordagem são a Psicologia, a Fisioterapia, a Pedagogia, a Psiquiatria e a Terapia da fala.
Qualquer raça pode ser coterapeuta, cães sem raça definida e até raças vistas como más, como o Rottweiler, que pela sua autoconfiança e autodomínio é um excelente animal de apoio. No entanto, a excelência no temperamento e sociabilidade fizeram do Labrador e do Golden Retriever as raças ideais para estas atividades terapêuticas.
O cão é um coterapeuta no tratamento físico, psíquico e emocional de pessoas com necessidades especiais. A terapia tem como objetivo ajudar os pacientes a realizar atividades lúdicas que estimulam o equilíbrio, a fala, a expressão de sentimentos, a imaginação e o autoconhecimento, utilizando o cão como um mediador de todo o processo.
Os benefícios são inúmeros em todas as idades e circunstâncias. Todavia, no caso dos idosos, das crianças e de pessoas com transtorno global do desenvolvimento (autismo, síndrome de Rett, síndrome de Asperger, síndrome de Heller, entre outros), síndrome de Down, deficiência mental e disfunção neuromotora, os resultados são mais satisfatórios.
Resumidamente, alguns dos benefícios da terapia assistida pelos cães são: estimular a interação social; facilitar a comunicação e o vínculo com o terapeuta; aumentar a autoconfiança e a autoestima; aumentar a capacidade motora, cognitiva e sensorial; facilitar a compreensão de conceitos; facilitar o processo de aprendizagem através da expressão de sentimentos e da motivação, e melhorar o sistema imunológico, entre outros.
Equoterapia, a ajuda dos cavalos
A Equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo numa abordagem interdisciplinar, nas áreas da saúde, educação e equitação, que tem como objetivo o desenvolvimento físico, psicológico e social de pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais como paralisia cerebral, síndrome de Down e outras, lesão medular, doença de Parkinson, microcefalia ou macrocefalia, amputações, poliomielite, esclerose múltipla, tetraplegia, distúrbios psicossociais (autismo, alterações comportamentais), distúrbios emocionais (insónias, ansiedade e stress), depressão, hiperactividade, entre outras.
Esta técnica pode ser dividida em Hipoterapia e Equitação terapêutica. A Hipoterapia utiliza-se em pessoas com disfunções neuromotoras e sensomotoras e a Equitação terapêutica em pessoas com disfunções psicomotoras e sociomotoras.
O cavalo é usado como instrumento cinesioterapeutico, ou seja, permite a reabilitação funcional através de movimentos ativos e passivos. A terapia tem como base o movimento tridimensional do dorso do cavalo e os movimentos multidirecionais durante o movimento e ritmo do seu passo.
Os deslocamentos da cintura pélvica produzem vibrações nas regiões osteoarticulares sendo estas transmitidas ao cérebro, via medula, provocam uma melhoria do controle postural e do equilíbrio do praticante, fortalecem as funções psicomotoras e possibilitam melhorias na coordenação motora e na rapidez dos reflexos.
O elemento chave é o passo do cavalo que reproduz na perfeição o andar humano. Ao andar, o cavalo faz com que o praticante realize movimentos como se estivesse a caminhar.
Os benefícios são muitos: a nível físico permite o desenvolvimento do equilíbrio, a noção de espaço e postura e a tonificação da musculatura; a nível psicológico aumenta a autoestima, a confiança e autonomia, desenvolve a sociabilidade, diminui a agressividade e a intolerância à frustração; e a nível cognitivo permite um aumento do vocabulário das crianças e a estimulação da atenção seletiva e concentração.
Asinoterapia, a ajuda dos burros
A Asinoterapia é muito semelhante à Equoterapia mas aqui o animal utilizado é o asno. Graças às qualidades que possui, o burro é atualmente muito utilizado como coterapeuta. De temperamento dócil, o jumento é um animal paciente, atento, curioso, inteligente, dotado de excelente memória, fisicamente robusto e estável a nível físico e emocional e movimenta-se com lentidão e segurança.
Através da Asinoterapia recorre-se a técnicas que permitem a educação ou reeducação do paciente, com o objetivo de fazer com que este ultrapasse, o quanto possível, danos motores, sensoriais, cognitivos, afetivos e/ou comportamentais.
Assim, promove um desenvolvimento biológico, psicológico e social às pessoas com necessidades especiais, melhorando as suas funções neurológicas e sensoriais.
Nesta técnica há um aumento da capacidade e do desejo de relacionamento, um incremento das interações nas atividades de grupo do doente/utente, e a criação de relações de amizade e aumento das vivências afetivas.
Delfinoterapia, a ajuda dos golfinhos
A ideia de que a interação dos humanos com golfinhos podia ser benéfica foi formulada pela primeira vez em 1960 pelo norte-americano John Lilly, que estudou a comunicação golfinhos-humanos. Apesar de pouco utilizada em todo o mundo, esta terapia possui dois elementos chave: a água e os golfinhos.
Os golfinhos são animais bastante curiosos, e investigam tudo o que lhes pareça diferente, nomeadamente qualquer diferença a nível dos tecidos humanos, isto é, através de ultrassons, estes incríveis animais conseguem detetar desde o cancro a deficiências mentais.
Ao emitirem ultrassons, estes penetram nos tecidos humanos, alterando-os de uma forma positiva, fazendo com que tecidos danificados se regenerem.
Podendo ser aplicada em qualquer idade, a técnica combina trabalho fora e dentro de água, entre o doente e o terapeuta, funcionando o golfinho como "recompensa". É permitido ao doente contactar com o golfinho (a espécie mais utilizada é o golfinho nariz-de-garrafa) após os exercícios concluídos com o terapeuta, o que faz com que a sua motivação seja elevada e a vontade de alcançar o próximo passo maior, havendo uma progressão mais rápida na terapia.
Embora inicialmente tenha sido experimentada em portadores de deficiência mental, hoje é utilizada em várias patologias, como a trissomia 21, perturbações do espetro do autismo, cancro, depressão, síndrome de déficit de atenção, deficiência auditiva e visual, lesões na medula espinal, problemas sociais, entre outros.
As vantagens da Delfinoterapia são o aumento do relaxamento total necessário para a realização de exercícios de fisioterapia, o aumento da libertação de endorfinas, responsáveis pela sensação de bem-estar e de anestesia, melhoria da capacidade motora dos doentes, graças aos exercícios realizados na água, assim como a capacidade de comunicação, independência, serenidade e cooperação. Além disso, aumenta a quantidade e a qualidade do sono e o interesse pelas envolventes.
Além dos citados anteriormente, outros animais podem ajudar no melhoramento físico e psicológico do ser humano, assim como aumentar a sua qualidade de vida como, por exemplo, o gato, coelhos, porquinhos-da-índia, hamsters, pássaros, peixes e outros, porventura mais exóticos.
Saúde do animal e aspetos éticos nas TAAs
A plena saúde física do animal coterapeuta é um aspeto essencial e visa não só o bom desempenho e o bem-estar do animal, mas também a garantia de que não haverá risco de transmissão de zoonoses e contaminação dos locais de realização das terapias.
Não esquecer que muitos destes ambientes são sanitariamente controlados, tais como hospitais e consultórios, e além disso, pode entrar-se em contacto com doentes enfraquecidos e até imunossuprimidos por tratamentos químicos ou pela própria doença que enfrentam.
Assim, é imprescindível que os animais sejam vacinados e vermifugados e não devem ter tártaros, problemas de pele ou otites.
O médico veterinário é o responsável pela avaliação dos animais sendo o único profissional capacitado para verificar e certificar a saúde de um animal terapeuta. Estes cuidados são fundamentais para que o encontro seja não só mais agradável mas também isento de riscos para a saúde do doente.
Mas todos os intervenientes que colaboram nas TAAs devem obter benefícios. Para começar, é importante que os animais terapeutas gostem de interagir e se sintam felizes no seu dia-a-dia, assim como as pessoas que interagem com eles devem gostar de animais, sentir empatia e não ter medo. Acima de tudo o homem deve valorizar os animais, lutar por uma melhor qualidade de vida dos mesmos, e tratá-los com a dignidade que merecem.
Na utilização de animais com fins terapêuticos é inevitável o confronto entre os interesses dos participantes, pessoas e animais.
Para alguns autores a limitação da liberdade animal, determinando e decidindo sobre a sua vida, submetendo os animais a longos processos de treino que afetam o seu bem-estar (particularmente no caso dos cavalos e cães-guia, pelo intrusivo dos métodos nos primeiros, e pela intensidade nos segundos), isolando-os dos seus semelhantes, pode ter mais implicações negativas do que a compensação recebida pelos benefícios da domesticação.
Além do mais, existe a possibilidade de ferimentos através da manipulação contínua a que os animais são submetidos e até pelo facto de serem expostos a indivíduos estranhos de forma continuada, gerando ansiedade.
No entanto, a investigação atual sobre TAA parece apontar na direção dos contributos na eficácia da TAA para os seres humanos e até mesmo para o próprio animal, contribuindo para o seu bem-estar o que, por sua vez, irá assumir um papel significativo na sua preservação.
O número de animais terapeutas cresce a cada dia, tal como o de profissionais e instituições que agregam esta técnica, provando, mais uma vez, que a importância dos animais na sociedade não tem limites.
A interação homem-animal desde o início dos tempos sempre nos trouxe benefícios. Eles estão sempre prontos e dispostos a ajudar por isso é necessário cuidar deles e amá-los, não somente por serem uma parte integrante da natureza mas também porque nos oferecem, desinteressadamente, uma grande ajuda e uma infinidade de sentimentos indescritíveis.
Os detentores de animais de companhia, não podem provocar dor ou exercer maus-tratos que resultem em sofrimento, abandono ou morte, estando legalmente obrigados a assegurar o respeito por cada espécie...
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De nome científico Ciconia nigra, a cegonha-preta é uma ave distinta, de médio a grande porte que apresenta plumagem negra na cabeça, pescoço, dorso e asas, possuindo um brilho metálico verde-dourado,...
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