PARKINSON

PARKINSON

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Acorda-se sobressaltado e, de repente, constata-se que a mão está a tremer... Aquele tremor incontrolável persiste durante vários dias como se a mão tivesse vida própria. Inicialmente, a causa mais lógica parece ser o stress associado ao trabalho, mas quando a mão teima em não parar, a angústia, a ansiedade e a impotência aumentam. Após diversos exames, é hora de ouvir o terrível diagnóstico: doença de Parkinson. Mais tarde, aos tremores juntam-se outros sintomas, como a postura rígida, lentidão ao andar, depressão, ou as noites mal dormidas...

É assim que começam muitas histórias de doentes com Parkinson, que sabem que devem percorrer uma longa caminhada, na qual o dia de amanhã nunca será melhor que o anterior, pois a doença só pode evoluir para pior e a cura ainda parece estar longe.

O aumento da esperança de vida leva a uma maior incidência de afecções degenerativas crónicas associadas à idade, como é o caso da doença de Parkinson (DP), que afecta cerca de 0,25 por cento da população mundial, correspondendo a maior parte a doentes com mais de 60 anos.

Contudo, ao contrário da doença de Alzheimer, que se caracteriza por afectar essencialmente a população idosa, a DP tem vindo a juntar às sua fileiras pessoas cada vez mais jovens, representando cerca de 20 por cento do total de doentes. Há mesmo uma forma juvenil da doença que abrange os que têm idades inferiores a 25 anos, sendo um mito acreditar que a DP é exclusivamente um "problema de velhos", quando nas ruas de cada cidade já não é raro encontrar homens e mulheres que caminham com precário equilíbrio ou interrompem repentinamente o andar, permanecendo rígidos no mesmo local, nos momentos mais difíceis.

São situações que, erroneamente, se confundem com o alcoolismo ou com os efeitos de substâncias tóxicas e drogas, mas que correspondem a casos de pessoas que são surpreendidas pela doença quando ainda se encontram no limiar da sua juventude e em pleno início do seu projecto de vida.

Foi James Parkinson, médico inglês, que em 1817 descreveu e identificou os primeiros sintomas da doença que viria a receber, posteriormente, o seu nome. É também em sua homenagem que em cada 11 de Abril, data do seu aniversário, se comemora o dia mundial de Parkinson.

Trata-se de uma doença neurológica degenerativa que afecta o sistema nervoso central, em particular uma área do cérebro implicada no controlo dos movimentos musculares denominada substância negra. A DP pode também ser considerada um transtorno do foro psicológico, mas não afecta a memória, como ocorre com a doença de Alzheimer. A morte progressiva das células nervosas tem como consequência imediata a diminuição da dopamina, uma substância química produzida por aqueles neurónios, que está na origem de todas as sequelas provocadas pela doença.

Embora ainda não se conheçam as causas desta doença, há estudos recentes que mostram a existência de anomalias genéticas em algumas famílias, cujos membros a manifestavam na sua forma precoce. Cerca de nove genes, conhecidos por Park1 e Park2, parecem propiciar uma vulnerabilidade neurológica dopaminérgica que predispõe o indivíduo a apresentar DP, caso também concorram outros factores.

É que a DP é um transtorno aleatório cujas causas podem ser as mais diversas, como a ingestão de substâncias tóxicas, oxidação neuronal, doenças infecciosas e cerebrovasculares, traumatismos ou altas concentrações de ferro no cérebro. Há mesmo estudos que indicam que a DP é mais frequente em profissionais que trabalham directamente com elementos tóxicos, como o cobre, o metanol, pesticidas ou herbicidas. A inalação de fumos e vapores tóxicos provenientes de incêndios também pode ser um factor de risco, assim como o consumo de certas drogas, uma das quais conhecida por meperidina, que se comprovou estar associada a sintomas parkinsónicos entre os toxicodependentes, como a rigidez e os tremores.

É uma doença que não escolhe raças nem países, embora pareça ser mais frequente entre caucasianos que entre asiáticos ou africanos. Mas a taxa de incidência mais elevada nos continentes europeu e americano também pode estar associada a uma maior sensibilidade para o diagnóstico precoce, para além de o aumento da esperança de vida nestas zonas favorecer um maior número de doentes, pois, pelo que se sabe, a idade avançada é um factor de risco para o aparecimento da doença.

Curiosamente, a incidência de Parkinson parece ser menor no sexo feminino, o que pode ser explicado pela influência dos estrogénios, hormonas que parece protegerem a mulher da degeneração celular nos casos de Alzheimer ou enfarte do miocárdio. É também mais frequente no meio rural que no citadino devido a uma maior exposição a neurotóxicos ambientais entre os habitantes rurais, para além de prevalecer uma tendência endogâmica para casamentos ou relações entre pessoas da mesma povoação, o que reforça os transtornos mentais e aumenta a probabilidade de DP. Outra curiosidade, que causa alguma controvérsia, é a relação negativa entre o tabaco e a DP. Há investigadores que apontam a nicotina como um factor neuroprotector, mas o risco de sofrer cancro da laringe ou do pulmão torna inviável recomendar o consumo de tabaco como forma de protecção perante um eventual aparecimento de Parkinson no futuro.

Sintomas variam de pessoa para pessoa

Ainda há bem pouco tempo a DP diagnosticava-se só quando surgiam os primeiros tremores e dificuldades motoras. No entanto, estes sintomas podem ser a ponta do iceberg de um conjunto de manifestações que surgem muito antes, inclusive há mais de dez anos, e que nada têm a ver com os transtornos motores.

Os mais comuns são a depressão ansiosa, alucinações, obstipação, problemas respiratórios e urinários, perda de olfacto, perturbações de sono, sobretudo na fase REM e na qual os doentes podem até gritar ou agredir a pessoa com quem compartilham a cama.

A doença desenvolve-se progressivamente. O sinal mais típico e evidente, numa fase inicial, são os ligeiros tremores numa das mãos ou em ambas quando estão em repouso e os movimentos involuntários da cabeça. Alguns doentes não chegam a ter estes sintomas, sendo que a doença não afecta a todos da mesma forma e mesmo a sua evolução pode ser diferente, caso para caso.

Em geral, os sintomas surgem de um lado do corpo, mas à medida que a doença progride começa a afectar também o outro lado. Alterações na linguagem, movimentos circulares involuntários dos olhos e rigidez corporal são outros dos sintomas que acompanham a doença. À semelhança da lentidão geral manifestada pelo corpo, os músculos faciais também se tornam mais tensos na sua reacção, o que proporciona um rosto inexpressivo, com um olhar fixo e sem pestanejar, a chamada "cara de máscara" tão característica da doença.

O andar do doente parkinsónico torna-se mais vagaroso e arrastado, com tendência para se inclinar para a frente e correr na tentativa de manter o equilíbrio, um dos problemas mais graves associados à doença. Isto porque as quedas nestes doentes, ocasionadas pela dificuldade de equilíbrio, são muito comuns, um dos motivos pelos quais a DP pode tornar-se fatal. Mas outras complicações que surgem numa fase mais tardia, como os problemas respiratórios ou pneumonias, também podem levar à morte prematura e contribuir para um prognóstico bastante negativo da DP.

No entanto, a expectativa de sobrevivência de um doente com Parkinson não é muito diferente da de qualquer outra pessoa. A sua qualidade de vida pode diminuir à medida que a incapacidade se vai instalando, mas a deterioração completa das funções cerebrais pode tardar até vinte anos, sobretudo quando o doente é convenientemente tratado.

Não há cura, mas apenas tratamento

Actualmente, não existe cura definitiva para a DP, embora os medicamentos disponíveis ou a cirurgia possam atrasar a doença ou aliviar muitos dos seus sintomas. A maioria das pessoas reage bem aos medicamentos, apesar dos severos efeitos secundários.

O objectivo da medicação é aumentar o nível de dopamina no cérebro. Fármacos como a levodopa revolucionaram o tratamento da Parkinson desde os anos setenta. A levodopa actua em conjunto com uma outra substância, a carbidopa, que é responsável por atrasar a acção da levodopa até esta atingir o cérebro, altura em que se transforma em dopamina.

Os efeitos da levodopa são tão evidentes que algumas pessoas, durante as etapas iniciais, até se esquecem temporariamente que são portadoras da doença. Apesar de reduzir alguns sintomas, como a rigidez e a bradicinésia, a levodopa não representa a cura, pois não substitui as células perdidas nem interrompe a evolução da doença. A sua eficácia pode diminuir após cada dose e as fases on-off começam a ser cada vez mais frequentes, um sinal de que a reacção do doente ao medicamento já é menor e a doença prossegue o seu implacável rumo.

Há ainda outros medicamentos que simulam a acção da dopamina ou que podem, inclusive, prevenir ou atrasar a sua decomposição. Estes são utilizados para combater outros sintomas da doença ou em determinadas etapas nas quais ainda não se torna necessário o uso da dopamina. Este grupo abrange os agonistas da dopamina, inibidores da monoaminoxidase B, a amantadina e os anticolinérgicos.

Os médicos também podem aconselhar uma grande variedade de fármacos para tratar dos sintomas não motores da doença, como a ansiedade ou a depressão.

Antes da descoberta da levodopa a cirurgia era o procedimento mais comum para tratar a DP. Mais recentemente, com o desenvolvimento das técnicas cirúrgicas, esta voltou a ser uma alternativa para as pessoas com a doença em fase avançada, na qual a terapia medicamentosa já não se revela eficaz.

A terapia genética é outra opção que apresenta resultados promissores em doentes que não respondem aos tratamentos convencionais.

Em causa está a injecção no cérebro do paciente do gene da descarboxilase do ácido glutâmico (GAD), que parece melhorar a função motora. Os estudos incidem também a nível do aumento de uma enzima que ajude a transformar a levodopa em dopamina. Na mira dos investigadores está o enorme potencial das células-mãe, pois já se detectou que a substância branca do cérebro contém células progenitoras multipotentes que podem multiplicar-se, formando inclusive novos neurónios que produzam dopamina.

A prevenção é outra abordagem no estudo da DP. Consiste na procura de uma vacina que possa proteger os neurónios produtores de dopamina. Visando esse objectivo, algumas experiências preliminares em ratos já foram realizadas com sucesso.

Apesar dos avanços dos últimos anos, a doença continua a ser um enigma para a ciência e a medicina, sobretudo no que se refere à sua origem e causas. Daí a importância de se obter cada vez mais conhecimentos sobre a DP, de forma a alargar o âmbito das investigações.

Conhecer mais sobre a doença implica também saber de que forma afecta a sociedade e qual a sua incidência estatística, de modo a avaliar o tipo de recursos existentes e qual a capacidade de resposta para combater uma doença que, nas próximas décadas, promete alastrar devido ao envelhecimento populacional.

Portugal realiza o primeiro estudo epidemiológico sobre a DP

Logo a seguir à Alzheimer, a DP é a segunda doença neurodegenerativa que afecta mais portugueses, ocorrendo o mesmo nos restantes países europeus, na proporção de um para mil.

Embora os dados possam variar conforme os estudos, em geral a doença atinge 0,25 por cento de toda a população e cerca de 1,7 por cento dos idosos em particular, calculando-se que, a nível mundial, são mais de seis milhões as pessoas com a doença.

Segundo estimativas, o nosso país conta com cerca de 20 mil casos com DP, embora não corresponda a números reais, pois, ao contrário de outros parceiros europeus, ainda não foi realizado nenhum estudo português de base populacional sobre a doença.

Foi com essa preocupação em mente que a Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDPk), em conjunto com a Direcção Geral de Saúde e a Medtronic, como parte das comemorações pelo Dia Mundial do Doente de Parkinson, realizadas em Abril, decidiu avançar com o primeiro estudo epidemiológico que, numa primeira fase, vai abranger cerca de 5000 pessoas com mais de 50 anos.

Pela primeira vez poder-se-á ter acesso a dados mais fiáveis, que se possam ser comparados com os de outros países, sendo importante também para a tomada de decisões e a definição de estratégias futuras sobre esta doença que cada dia se torna um desafio maior para médicos, psicólogos, terapeutas e familiares. Espera-se que os resultados deste estudo, em curso no nosso país, possam ser apresentados até final deste ano.

A investigação sobre a DP avançou muito. Actualmente já se consideram metas realistas, travar a sua evolução, restabelecer as funções perdidas e até prevenir a doença.

Para já, a DP ganhou mais visibilidade ao atingir personalidades públicas como João Paulo II, Salvador Dali, Ronald Reagan, Yasser Arafatou o pugilista Mohamed Ali, comprovando-se que ela não descrimina consoante a religião, raça, ideologia ou estatuto social. Mas talvez a figura mais emblemática seja Michael J. Fox, considerado um dos grandes impulsionadores da investigação nessa área.

O seu testemunho mostra que a DP também não escolhe idades, desmontando o velho mito de que se trata de uma "coisa de velhos". O actor canadiano foi diagnosticado com a doença quando tinha apenas 30 anos, um ano após as gravações do seu último "Regresso ao Futuro". Ao contrário da saga que o celebrizou, o actor não conseguiu prever e mesmo alterar o seu futuro, mas manteve sempre uma atitude proactiva, que o levou a absorver o máximo de conhecimento sobre a doença e até a criar uma fundação com o seu nome.

É precisamente esse o conselho de muitos especialistas que garantem que uma mente positiva e activa, para além de se manter bem informado sobre cada etapa da doença, é a melhor forma de superar eventuais obstáculos e o medo do desconhecido que estes doentes enfrentam. A terapia farmacoterapêutica também é importante, assim como manter uma vida activa, continuando a trabalhar mesmo que seja a meio tempo, e a conviver com amigos e familiares. Estratégias que fazem parte de um tratamento a longo prazo, enquanto não surge a cura para este "Mal" chamado Parkinson.

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