JOANETES

JOANETES

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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O pé humano é uma obra prima biológica. A sua estrutura carrega e sustenta a maior parte do peso do corpo, para além de comportar os elementos fundamentais da locomoção. A sua arquitetura forte, flexível e funcional permite-lhe desempenhar cabalmente o seu trabalho.

Está no entanto sujeito a muitas alterações de função, sendo por isso uma das partes do corpo humano mais exposta a lesões.

Por vezes verifica-se um desvio anormal de alinhamento do dedo grande do pé, em direção aos restantes dedos, o que favorece o surgimento de uma característica proeminência na sua base. Essa deformação, que se manifesta através do desvio lateral do dedo e dor intensa, é cientificamente denominada por hallus valgus.

Em condições normais, o primeiro dedo do pé (lat. hallux) está completamente alinhado com o primeiro osso metatársico mas, em caso de hallus valgus (voltado para fora), o metatarso está desviado para a parte interna, enquanto que o dedo grande fica inclinado na direção dos restantes dedos, sobrepondo-os ou pressionando-os, o que origina deste modo a formação de uma proeminência na sua base lateral, popularmente conhecida por joanete.

Os joanetes, assim chamados devido ao facto da primeira articulação da falange com o metatarso formar um ângulo agudo voltado para a parte interna do pé, são deformações provocadas por vários fatores. Estes podem ser de origem genética (ter nascido com o primeiro dedo mais comprido que os restantes), o que pode, por compressão do calçado apertado, causar uma deformação acentuada; utilização de calçado inadequado de biqueira estreita e sobretudo pelo uso de sapatos de salto exageradamente alto, durante demasiado tempo, o que a longo prazo provoca o desenvolvimento de deformações anatómicas; processos de inflamação crónicos das articulações do pé (artrite reumatoide e gota), permanência prolongada na posição de pé; o conhecido pé chato ou plano valgo e a debilidade dos ligamentos e dos músculos de união.

Além de incómodos, os joanetes manifestam-se através de dor intensa, que muita vezes limitam a atividade normal da pessoa, restringindo ou dificultando os seus movimentos.

Apesar do seu tamanho relativamente pequeno, o pé humano possui uma estrutura muito complexa, que é composta por 26 ossos, 33 articulações e uma rede com mais de 100 tendões, músculos e ligamentos, sem mencionar os vasos sanguíneos que o irrigam e o sistema de nervos. Mesmo sendo a base de sustentação de todo o corpo, nem sempre recebe a atenção devida.

Ao caminhar a passos largos ou durante uma corrida, os pés chegam a suportar cinco a seis vezes o peso total do corpo – força que pode atingir cerca de uma tonelada. Ao chegar aos 50 anos, uma pessoa normal, sem grande atividade desportiva ao longo da vida, terá percorrido nada menos que 120 mil quilómetros, o suficiente para dar três voltas em torno da Terra. Mesmo sendo muito resistentes, os pés acabam por acusar esse esforço. E, tal como nos sapatos, as plantas dos pés perdem gradualmente a sua natural proteção almofadada pela degeneração do tecido gorduroso e, consequentemente, a sua capacidade de amortecer os impactos.

O resultado é que os ligamentos e tendões que mantêm unidos o conjunto da estrutura óssea e articulações de cada pé ficam distendidos, tornando-os mais largos e longos na velhice, podendo até requerer calçado de um número superior que o utilizado até aí.

Aproximadamente 80 por cento da população ocidental apresenta durante a vida algum tipo de problema nos pés. Destes, mais de metade são situações patológicas que precisam de ser avaliadas por um ortopedista e cujo tratamento definitivo passa, frequentemente, pela correção cirúrgica, como é o caso dos joanetes.

Como já foi referido, o joanete não é uma excrescência óssea que se desenvolveu no dedo do pé, mas sim um desvio do dedo grande, devido a uma angulação anormal dos ossos, normalmente bilateral e simétrica, que costuma crescer de forma lenta e progressiva ao longo dos anos e que apenas se evidencia, depois dos 40 anos de idade, na maioria dos casos.

Numa primeira fase, esta alteração do alinhamento que provoca o aparecimento da hallux valgus, o desvio ainda não é muito pronunciado e o sintoma principal manifesta-se através de uma dor inconstante na zona do metatarso, a parte média do pé. É uma dor muito intensa, que surge sobretudo quando se permanece muito tempo de pé ou após uma longa caminhada, particularmente quando se usam sapatos de biqueira estreita e saltos altos, diminuindo de intensidade com o repouso. Em fase mais avançada quando a deformação é já mais pronunciada, a dor costuma ser intensa e constante, sem ceder, mesmo com repouso.

Nesta condição, o dedo grande está totalmente inclinado sobre o segundo dedo, chegando a cobri-lo ou a passar por debaixo dele, e o osso local, o metatarso, fica deslocado para o lado oposto, o que origina uma saliência esteticamente comprometedora na orla interna do pé, semelhante a um grande calo, para além de dor difícil de suportar.

Nalguns casos, pode assistir-se à inflamação da bolsa serosa desta zona, que fica tumefacta, vermelha, quente além de dolorosa. Caso não se proceda ao devido tratamento, o desvio do primeiro dedo torna-se permanente e fixo, com tendência para provocar alterações na anatomia e mecânica do resto do pé, ao mesmo tempo que os processos inflamatórios da zona se tornam cada vez mais frequentes e incómodos.

Embora possa aparecer na idade juvenil e no adulto jovem, a patologia é mais frequente no sexo feminino (9 em cada 10 casos de joanetes surge em mulheres) e na terceira idade e as suas causas são múltiplas.

Causas, sintomatologia e diagnóstico

Raramente se pode atribuir a cada pé um só mecanismo causador, sendo antes a confluência de fatores intrínsecos e extrínsecos que desencadeiam a deformidade.

Como fatores intrínsecos considera-se a própria estrutura do pé, tamanho dos metatársicos e cumprimento total de cada dedo, que definem o tipo de pé, assim como o posicionamento no espaço dos segmentos ósseos e a ação das partes moles.

A hereditariedade é outro dos fatores que exerce grande influência. Dos pacientes com joanetes, 60 por cento têm um familiar próximo com o mesmo tipo de patologia. Algumas doenças sistémicas inflamatórias, como a artrite reumatoide, ou neurológicas, podem originar desequilíbrios articulares que causam deformidades. No adulto, também o pé plano, vulgo pé chato, pode provocar uma marcha inadequada sobre a zona interna dos pés e produzir um deslocamento lateral do osso do primeiro dedo.

O fator extrínseco mais importante no desenvolvimento das deformidades do pé do adulto é o calçado. As mulheres em particular pagam caro pela elegância dos saltos altos, tendo 20 vezes mais probabilidade de ter joanetes. O uso frequente de calçado ajustado no ante-pé e de salto alto, é responsável por grande parte das deformidades.

O efeito é duplo: compressão lateral sobre os dedos, em funil, e aumento da pressão na porção anterior devido à inclinação do pé dentro do sapato. A vermelhidão e um pequeno inchaço, que inicialmente apenas provocam incómodo devido ao atrito entre a pele e o calçado, são os primeiros sintomas que devem servir de alerta para o problema.

À medida que a deformidade se acentua, o inchaço na base do dedo aumenta, trazendo consigo dores e pontadas, que se tornam mais intensas com o uso de calçado apertado. Nesta situação, está mais do que na hora para consultar um especialista!

O diagnóstico do joanete é eminentemente clínico, baseado na história clínica e na observação direta e, portanto, feito com base nos sintomas e no exame físico do pé afetado, por meio do qual o ortopedista verifica as estruturas alteradas (posição das articulações, sua estabilidade, proeminências ósseas e calosidades).

Quase sempre, porém, o médico prescreve exames radiológicos da região para avaliar a extensão do problema e planear o tratamento. O raio-X mostra a imagem dos ossos e articulações do pé, permitindo a medição dos ângulos articulares, pode ajudar a identificar a causa do joanete e permite avaliar a sua gravidade.

A baropodometria é outro dos exames a que recorrem os ortopedistas. Trata-se de um exame computorizado que mede e quantifica as alterações biomecânicas nos pés, na posição ortostática, estática e dinâmica durante a marcha, através da análise à distribuição de pressão planar e do deslocamento do centro de gravidade.

O valor destas pressões pode ser medido com o doente parado ou em movimento. É em função da gravidade do quadro obtido, a intensidade dos sintomas, presença de outras queixas e o perfil do paciente, incluindo a idade, estado geral de saúde e a sua expectativa, que o médico vai estabelecer o tratamento.

Assim, de acordo com esses fatores, a abordagem pode ser efetuada apenas com medidas conservadoras, que aliviam a dor e previnem a progressão da doença ou, em casos mais graves, através de correção cirúrgica.

Abordagens de tratamento

As duas formas de tratamento para os joanetes – a não cirúrgica e a cirúrgica – variam de acordo com o grau de deformidade e desconforto.

No primeiro caso, as medidas a tomar inicialmente são de tipo podológico e higiénico. Modificar o tipo de calçado para reduzir as zonas de pressão, utilizar separadores interdigitais personalizados (executados por medida) durante o dia, e talas de correção noturnas são alguns dos métodos para aliviar as queixas.

Pode recorrer-se igualmente à aplicação de compressas frias ou gelo de maneira a reduzir a dor e a inflamação das articulações e ainda à toma de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ibuprofeno ou o acetaminofeno.

Uma vez instaladas a deformidade e a calosidade, a tendência, com o passar do tempo é para o seu agravamento, e as órteses e afastadores de silicone entre os dedos são de pouca ou nenhuma utilidade na contenção do joanete.

Assim, nos casos de deformidades significativas e realmente dolorosas que limitam o dia-a-dia do paciente, o tratamento mais adequado é através da correção cirúrgica.

A cirurgia ortopédica utiliza hoje técnicas cada vez menos agressivas, denominadas minimamente invasivas ou percutâneas, que consistem na abordagem das lesões através de pequenas incisões de 5 a 7 milímetros, com recurso a instrumentos especialmente desenhados para o efeito, que permitem realizar os mesmos movimentos que em cirurgia aberta.

O método permite minimizar alguns inconvenientes da cirurgia aberta como a dor e o risco de infeção, entre outros; melhorar e encurtar os tempos de recuperação e diminuir os tempos de internamento.

A cirurgia de correção do hallux valgus, tão temida pelos doentes no passado, deixou de ser assustadora. Fazem parte do passado os pós-operatórios extremamente dolorosos, as imobilizações prolongadas e os meses de sofrimento para reabilitação do pé operado. O novo método cirúrgico, com a realização de técnicas anestésicas loco-regionais (em que se anestesia apenas o pé), permite que a cirurgia seja realizada em regime ambulatório, sem internamento, e que o doente saia pelo seu próprio pé algumas horas após a intervenção.

O paciente pode chegar ao hospital duas horas antes da cirurgia – que tem uma duração média de 50 minutos para cada pé operado –, e regressar a casa quatro horas após o término do procedimento. Para permitir uma caminhada mais fácil e de forma mais adequada é utilizado um tipo especial de órtese, umas sandálias para uso pós-operatório – a sandália de Barouk.

A possibilidade de apoio precoce do pé no solo torna possível realizar a cirurgia aos dois pés, sempre que haja essa indicação e o doente o consinta.

Apesar de atualmente a recuperação pós-operatória ocorrer de maneira mais rápida e menos traumática é importante que o doente

Remédios caseiros

Além dos tratamentos médicos, incluindo a cirurgia, existem vários remédios caseiros que podem ajudar a minimizar o problema provocado pelo hallux valgus, aliviar os seus incómodos e impedir até o seu aparecimento.

Entre os mais populares remédios usados no tratamento dos joanetes, inclui-se a aplicação na zona afetada, de óleo de lavanda, cujas propriedades ajudam a aliviar a dor e a inflamação; banhos de água morna com arruda, que tem mostrado múltiplos benefícios para reduzir as dores e inflamação próprias das doenças reumáticas como a artrose e a artrite, são igualmente benéficas para tratamento da patologia; outros produtos e tratamentos como os banhos com sal medicinal de Epsom, massagens com óleo essencial de lírio e infusão de folhas de louro estão igualmente indicados.

Recaída

Na maioria dos casos, a intervenção cirúrgica baseada na extração de uma pequena porção do metatarso, é extremamente eficaz para a eliminação do joanete e para o correto alinhamento ósseo.

Embora se obtenham excelentes resultados, a operação não é completamente eficaz, já que o problema pode voltar a surgir perante condições favoráveis, ou seja, caso o pé seja submetido a compressões inadequadas consequentes da regular utilização de calçado de biqueira estreita e saltos altos.

Prevenir é a palavra de ordem

Apesar de tudo, a grande maioria dos joanetes é tratável sem recurso a cirurgia. E sempre é melhor prevenir que operar.

Dependendo da atividade profissional ou desportiva, os pés suportam enormes pressões ao longo da vida, estando por isso suscetíveis a mais problemas do que qualquer outro órgão do corpo. Por esta razão é fundamental a utilização de calçado apropriado e que não se torne mais uma fonte de problemas.

O género feminino é quem mais castiga os pés com a utilização de calçado inapropriado (saltos altos e ponta muito estreita). O calçado deve respeitar a anatomia do pé e ser macio e confortável. Os saltos com 4 a 5 cm são os mais indicados pois mantêm o equilíbrio e o peso do corpo bem distribuído. Acima desta altura sobrecarregam as articulações dos joelhos e estimulam o aparecimento de calos e joanetes. O mais correto é alternar entre saltos mais altos com menos altos.

Devem igualmente ser evitados desportos que exijam esforços exagerados dos pés, como o ballet. Na presença de joanetes, para evitar ou minimizar a dor, é benéfico deixar os pés de mergulhados em água morna, assim como o uso de aparelhos ortopédicos, como almofadinhas, que podem ser usadas para circundar o joanete, ou colocadas entre o primeiro e segundo dedos dos pés, durante o dia ou à noite.

Para evitar a sintomatologia e melhorar a postura do pé, também devem ser usadas palmilhas personalizadas, sob recomendação do ortopedista.

Manter os pés elevados e em repouso durante pelo menos dez minutos todos os dias; antes de deitar fazer alguns exercícios (movendo todos os dedos e rodando o tornozelo em movimentos circulares) e massajar com um creme hidratante, são alguns conselhos que podem ajudar a manter a saúde dos pés.

As dores nos pés são um dos problemas de saúde mais comum, umas vezes devido a caraterísticas hereditárias, mas na sua maioria devido ao impacto acumulado de uma vida de abusos e negligências.

Os pés têm duas funções primordiais: suportar o peso do corpo na posição de pé ou durante a marcha e atuar como alavanca propulsora na locomoção. No entanto, apesar da sua importância incontestável, os pés são os eternos esquecidos. Há que dar-lhes a importância que merecem!

Ver mais:
DOR
DOR CRÓNICA
DOR, ENIGMA BIOLÓGICO


Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Referências Externas:

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