Cerca de catorze dias antes da menstruação o ovário da mulher liberta um óvulo, fenómeno que se repete todos os meses e cujo ciclo pode ser variável. É durante este processo, conhecido por ovulação, que o esperma pode navegar ao seu encontro. Quando consegue penetrá-lo, fecunda-o, dando origem à concepção, o início de uma nova vida. Nesta extraordinária cadeia de acontecimentos, um dos 200 a 600 milhões de espermatozóides depositados no fundo da cavidade uterina fertilizou, no momento certo, um dos milhares de folículos que se desenvolveram no ovário e que escapou à auto-destruição, também designada por atresia folicular.
O óvulo fertilizado desliza até ao interior do útero, adere às suas paredes e cresce até se tornar em feto. Aí se desenvolve durante cerca de 37 a 40 semanas, até possuir as capacidades necessárias para nascer. Decorrida esta etapa, o futuro bebé já possui todos os órgãos suficientemente desenvolvidos para se tornar autónomo, mede aproximadamente 50 centímetros e pesa cerca de 3400 gramas.
Quando não ocorre a fecundação, a mucosa da parede uterina e o óvulo não fertilizado são expulsos, provocando a menstruação.
Por isso, um dos primeiros "avisos" que a mulher recebe ao ficar grávida é o atraso no ciclo menstrual, embora possam surgir outros sintomas como náuseas ou vómitos. É a altura ideal para consultar o ginecologista ou realizar o teste de gravidez para detecção das alterações hormonais que a indiciam.
A partir dos trinta anos assiste-se a um decréscimo dos níveis de fertilidade. A libertação do óvulo, que corresponde ao período fértil da mulher, é cada vez menos frequente e, quanto mais avançada a idade, mais difícil se torna conceber.
Sendo a idade um dos factores-chave para se conseguir uma gravidez saudável, também a do companheiro deve ser tida em conta, uma vez que se repercute qualitativa e quantitativamente no esperma. Esta degradação é severamente agravada pelo consumo de tabaco, drogas ilícitas, álcool, exposição a meio ambiente hostil ou quando os testículos são submetidos a temperaturas elevadas continuadamente. Estudos realizados pela OMS têm vindo a advertir que o adiamento da maternidade e a qualidade/quantidade de esperma são os dois principais factores responsáveis pela infertilidade de um em cada cinco casais em idade reprodutiva.
Nos casais jovens, as probabilidades de engravidar são de apenas 20 por cento por mês. Neste grupo, 75 por cento conseguem conceber em nove meses enquanto 90 só o conseguem decorridos 18 meses. À medida que a idade avança a estatística altera-se e o factor tempo começa a ser crítico. Por volta dos 30 anos, a mulher já perdeu cerca de 90 por cento dos cerca de 2 milhões de óvulos que possuía à nascença.
Um estudo recente da Universidade de Edimburgo, na Escócia, revela que a mulher a partir dos 30 anos já só pode contar com 12 por cento da sua reserva máxima de óvulos, número que diminui drasticamente para 3 por cento após os quarenta. É claro que o número de óvulos disponível vai depender muito das reservas que cada mulher possui desde a nascença, podendo variar entre 2 milhões e 35 mil, sendo previsível o desenvolvimento de menopausa precoce para estas últimas.
Quando o relógio biológico se atrasa
Apesar de os estudos sugerirem que cerca de um terço das mulheres entre os 35 e os 39 anos tem dificuldades acrescidas em engravidar, número que sobe para metade a partir dos quarenta, desde há cerca de duas décadas que muitas mulheres, sobretudo nos países mais desenvolvidos, decidem atrasar o seu relógio biológico para fases mais tardias.
Nos países ocidentais, uma em cada cinco mulheres estabelece outras prioridades, embora os médicos afirmem que o melhor momento para se ser mãe se situe entre os 25 e os 30 anos. O início de uma carreira profissional após a conclusão dos estudos e a procura do parceiro ideal ou de uma situação financeira estável, sobrepõem-se ao instinto de ser mãe.
Por outro lado, os constantes avanços na medicina, que disponibilizam novos tratamentos de fertilidade, contribuem para que a mulher adie o sonho de se tornar mãe. Esta última possibilidade, per si, fez com que o número de mulheres que recorreu à reprodução assistida na última década tenha duplicado.
Há algumas vantagens em adiar a maternidade, como sejam, maior maturidade por parte da mulher e aumento da estabilidade emocional e financeira dos progenitores, que se repercutem numa melhor preparação para cuidar dos filhos. Muitos estudos referem que mães mais velhas possuem uma educação formal superior, o que, associado à experiência pessoal adquirida, contribui para a tomada de decisões mais acertadas quanto à alimentação ou aos cuidados de saúde da criança. Por outro lado, pais mais velhos poderão dispor de mais tempo para dedicar aos filhos, pois já viajaram e usufruíram de experiências pelas quais os mais jovens ainda não passaram.
No entanto, uma gravidez após os 35 anos não está isenta de riscos, devido aos efeitos colaterais que pode desencadear. Se, por um lado, o envelhecimento dos óvulos reduz a possibilidade de concepção em 15 por cento em cada mês, outros problemas ginecológicos podem surgir, influenciando a fertilidade, como alterações nas trompas de Falópio, desenvolvimento de tecido endometrial fora do útero, maior frequência de quistos e miomas e, por vezes, complicações com a placenta.
À medida que os ovários envelhecem, o risco de anomalias genéticas é também maior. Os óvulos não se dividem de forma adequada, provocando deficiências no feto, nomeadamente nanismo e surdez, sendo o transtorno mais aterrador para as mulheres a Síndrome de Down. Embora o risco seja relativamente baixo aos 30 anos, este aumenta de forma significativa quando a mãe ultrapassa os 35 anos, verificando-se um caso por cada 350 crianças. Ao atingir os 40, a incidência de distúrbios cromossómicos pode afectar uma em cada 106 crianças, e esta proporção poderá situar-se em uma por quarenta quando se espera até os 45 anos para ser mãe.
Nas mulheres mais velhas aumenta até três vezes a probabilidade de desenvolver diabetes gestacional, o que ocasiona bebés de tamanho excessivo e com problemas respiratórios, duplicando também o risco de hipertensão, um dos factores que pode levar à pré-eclampsia. Esta condição danifica severamente os rins, fígado e sistema de coagulação sanguíneo materno, constituindo uma ameaça de vida para a mãe e para o filho.
Outro dado a considerar pelas mulheres que pretendam adiar a maternidade é o risco aumentado de aborto espontâneo, nascimento de nado-morto ou com peso inferior ao normal. Vinte e cinco por cento das mulheres com mais de 35 anos abortam, contra apenas 12 por cento das mais jovens. Também ocorrem mais partos prematuros, com a gravidez a não atingir as 40 semanas, factor que, devido ao risco de poder provocar maior sofrimento fetal e complicações durante o parto, obriga a optar por cesariana, em que a recuperação da mãe é mais lenta e difícil.
Tratamentos para combater a infertilidade
O tratamento vai depender muito da identificação da causa da infertilidade. Existem várias opções disponíveis, incluindo as denominadas Técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PAM), a fertilização in vitro ou a micro-injecção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI).
Esta última está indicada para combater a infertilidade masculina derivada de uma baixa contagem de espermatozóides ou quando possuem pouca mobilidade e morfologia alteradas. Em situações excepcionais, em que, devido a obstrução dos canais, se verifica total ausência de espermatozóides (azoospermia), o tratamento é orientado no sentido de os obter através de punção directamente no epidídimo ou nos testículos. Pode ainda recorrer-se a inseminação intra-uterina de espermatozóides ou, no caso de infertilidade da mulher, a um estímulo controlado da ovulação. É muito importante que esta longa caminhada em direcção à fertilidade seja realizada pelo casal, em perfeita comunhão, independentemente de a causa residir no homem ou na mulher, de forma a explorarem outras opções.
Caso a concepção não ocorra durante um ano de relações sexuais continuadas durante o período fértil, tendo a mulher mais de 35 anos, o médico de família poderá orientar o casal para um especialista em fertilidade. Ao entrar nos quarenta anos a possibilidade de a mulher engravidar com os seus próprios óvulos ou de gerar um filho saudável é cada vez mais reduzida. A partir dessa idade, ocorrem ciclos sem ovulação e o endométrio torna-se menos receptivo, para além de o número de óvulos ser cada vez menor e os que ficam vão perdendo qualidade devidos a factores externos, que afectam igualmente o esperma.
No entanto, uma dieta equilibrada, o controlo do peso através de exercício físico, assim como um adequado acompanhamento médico, podem minimizar os riscos associados a uma gravidez tardia.
A toma diária de um complemento vitamínico de ácido fólico, preventivo de deficiências genéticas do cérebro, como a espinha bífida, abstenção do consumo de bebidas alcoólicas, drogas e tabaco, incluem-se nas medidas preventivas para qualquer mulher, independentemente da faixa etária em que se encontre. Exames de rotina para qualquer futura mãe abrangem ainda análises ao sangue para detectar imunidade contra a rubéola, toxoplasmose, varicela, hepatite B ou outras infecções.
Para as mães mais velhas os cuidados devem ser redobrados. As visitas ao ginecologista deverão ser mais frequentes, sobretudo no que se refere a alguns exames específicos, como a realização de uma amniocentese que permita extrair líquido amniótico para detectar a Síndrome de Down e outras anomalias genéticas.
Esta deficiência também poderá ser detectada desde que, em conjunto com as análises sanguíneas para determinar os níveis hormonais, se realize uma ecografia entre a 11ª semana e a 14ª para medição da translucência da nuca (TLN). Caso o resultado não seja satisfatório, o médico aconselhará a amniocentese ou a biopsia coriónica.
A mulher deve ser alertada para o risco abortivo associado a estes dois últimos exames, embora estatisticamente não vá além de 0,25 a 0,5 por cento. Noventa e cinco por cento das grávidas que se submetem àqueles exames recebem a boa notícia de que o seu bebé não apresenta problemas e que a gravidez pode progredir normalmente.
Actualmente, com as consultas de controlo e os respectivos exames que obrigam o médico a actuar perante qualquer problema ou alteração, uma gravidez tardia pode culminar com sucesso e os pais usufruirem de um filho saudável.
São muitas as mães famosas que optaram por adiar a maternidade ou ter mais filhos na ternura dos quarenta. Céline Dion, Madonna, Susan Sarandon e a antiga primeira-dama britânica, Cherie Blair, são exemplos que demonstram que a idade não é uma barreira para ser mãe. Mais polémico é quando este sonho vai além da idade conveniente aproveitando as novas técnicas de fertilização e as lacunas legislativas sobre o assunto, seja através da doação de óvulos ou de aluguer de barriga, sempre que não se possa usufruir dos seus próprios meios reprodutivos.
É o caso da mãe mais velha do mundo, uma espanhola de 67 anos, que teve dois gémeos após tratamento de fertilização in vitro, realizado nos EUA. De salientar ainda os casos de Adriana Iliescu e de Patrícia Rasbrook, uma romena e uma britânica que também optaram pela maternidade numa altura em que deveriam desempenhar o papel de avós, com 62 e 66 anos, respectivamente.
O reverso da moeda é a existência de filhos órfãos de tenra idade, como ocorreu no primeiro caso, ou condenados a transportar os pais em cadeira de rodas quando deveriam gozar em pleno a sua infância e adolescência.
Sinal dos tempos actuais em que a ética ainda se torna irreconciliável com o direito e o sonho de ser mãe.
Um período pré-natal eficaz, com a realização de vários exames e cuidados básicos, pode evitar consideravelmente os riscos de desenvolvimento de deficiências físicas, motoras e intelectuais.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.