Estudo com cobras elucida sobre regeneração intestinal humana
Todos os animais possuem alguma capacidade para reparar e substituir o revestimento dos seus intestinos, um processo denominado regeneração intestinal. Em mamíferos, incluindo nos humanos, essa renovação constante, mas relativamente pequena, de células ajuda o intestino a responder às necessidades diárias de alimentação. Essa renovação é realizada por células estaminais que têm origem em criptas intestinais – depressões microscópicas na parede intestinal.
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Por outro lado, cobras que se alimentam com pouca frequência – como jibóias e pitões, que podem passar semanas sem fazer uma refeição – não possuem criptas intestinais, mas fazem parte dos exemplos mais extremos de regeneração intestinal do reino animal.
Quando essas cobras jejuam por longos períodos, os seus intestinos ficam atrofiados, encolhidos e quase totalmente não funcionais, no entanto, quando se alimentam, o intestino passa por um crescimento regenerativo massivo, mais do que duplica em massa em 48 horas, reconstruindo muitas das células e estruturas intestinais necessárias para digerir e absorver os alimentos. Esta mudança faz-se acompanhar ainda por grandes alterações na fisiologia e no metabolismo das cobras.
Com o objetivo de entender como estas cobras conseguem regenerar os intestinos sem criptas intestinais, cientistas da Universidade do Texas em Arlington, do UT Southwestern Medical Center e da Universidade do Alabama sequenciaram os genes de RNA das pitões.
No estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Science, os especialistas utilizaram o sequenciamento de RNA de célula única para estudar a regeneração intestinal nas pitões, o que permitiu descobrir que estes répteis usam vias conservadas que também estão presentes nos humanos, no entanto, estas são ativadas de maneiras únicas.
Curiosamente, descobriu-se que as vias de sinalização que regulam a regeneração da pitão partilham semelhanças importantes com as observadas em humanos após passarem por um bypass gástrico em Y de Roux para facilitar a perda de peso e para tratamento da diabetes tipo 2.
Estas descobertas acrescentam novas perceções sobre os vínculos fundamentais entre a regeneração intestinal e a forma como o corpo ajusta o metabolismo em resposta a mudanças como disponibilidade de nutrientes e exposição ao stress.
O estudo também ajudou a explicar como as vias envolvidas na regeneração da pitão podem funcionar de forma semelhante noutros vertebrados, incluindo nos humanos, e, portanto, representam alvos potenciais para intervenção terapêutica no tratamento de doenças intestinais ou metabólicas.
Para Todd Castoe, autor do estudo, as descobertas ainda realçam a importância de um tipo específico de célula intestinal – as células BEST4+ – na coordenação do processo de regeneração. Essas células estão presentes em pitões e nos humanos, mas ausentes em mamíferos comummente estudados como ratinhos, contudo, atuam como reguladores centrais das fases iniciais da regeneração, promovendo o transporte e o metabolismo de lípidos.
Estas descobertas destacam os papéis importantes e amplamente negligenciados que as células BEST4+ provavelmente desempenham na função intestinal humana.
Segundo Castoe, aprender mais sobre a digestão noutros animais permite uma compreensão mais ampla do design evolutivo dessas funções importantes do organismo. As novas informações permitem uma melhor compreensão do organismo, tendo como fim melhorar o tratamento e a prevenção de muitos distúrbios humanos comuns.