Embora as causas da doença de Crohn ainda não sejam totalmente compreendidas, sabe-se há alguns anos que as mudanças no microbioma intestinal estão associadas a doenças inflamatórias. Alguns investigadores vêem essas mudanças – cujas causas permanecem desconhecidas – como o gatilho da doença.

Uma equipa a trabalhar com Dirk Haller tentou descobrir as causas dessas mudanças no microbioma e investigou a interação do microbioma, do epitélio intestinal e das mitocôndrias.
O epitélio intestinal é uma camada celular que reveste o interior do intestino, absorve nutrientes e combate patógenos. As mitocôndrias são pequenas estruturas celulares que convertem nutrientes em energia e, portanto, influenciam o metabolismo celular e a capacidade das células desempenharem as suas funções.

A equipa tem perseguido a hipótese de que as mitocôndrias não servem apenas como fábricas de energia das células, mas também interagem com o microbioma. Além disso, investigações anteriores haviam mostrado que o epitélio intestinal em pacientes com inflamação intestinal crónica exibe certos marcadores de stress, o que indica possível mau funcionamento mitocondrial.

No estudo, os especialistas interromperam a função mitocondrial nos ratinhos ao apagar um segmento do gene responsável pela produção da proteína Hsp60. Essa proteína é essencial para a capacidade das mitocôndrias desempenharem as suas funções, logo, esta intervenção desencadeou vários processos no intestino.

Para começar, foram identificadas lesões teciduais no epitélio intestinal semelhantes às observadas em pacientes com doença de Crohn. Viram-se ainda mudanças no nível de ativação genética que são típicas de alguns estágios da doença e, por fim, o microbioma respondeu às mitocôndrias perturbadas alterando a sua composição.

Como resultado, os investigadores conseguiram demonstrar, pela primeira vez, que as interrupções nas mitocôndrias são causalmente relacionadas com danos nos tecidos dos intestinos e que também desencadeiam mudanças relacionadas à doença no microbioma.

Esta perceção pode ser importante para pessoas com condições inflamatórias porque apresenta abordagens potenciais para novos tratamentos. Atualmente, o tratamento limita-se a aliviar os sintomas da doença com medicamentos anti-inflamatórios.
O que se pretende é descobrir ingredientes ativos que restaurem a funcionalidade das mitocôndrias interrompidas para as repararem, pois isso limitaria os danos intestinais que fossem como gatilho para processos de inflamação crónica.

Os resultados sugerem que os medicamentos que atuam nas vias das mitocôndrias ou que abordam as conexões entre o microbioma e estas podem ser um aspeto fundamental de melhores tratamentos.