Estudo genético aponta possíveis tratamentos para SPI
A síndrome das pernas inquietas (SPI) afeta até 10% dos adultos mais velhos. Uma equipa internacional de investigadores descobriu pistas genéticas para a causa desta condição, que poderão ajudar a identificar os indivíduos em maior risco de a desenvolver e apontar possíveis formas para o seu tratamento.
MEDICINA E MEDICAMENTOS
INVISTA NA SUA SAÚDE
A promoção da saúde tem como base a aceitação de que os comportamentos em que nos envolvemos e as circunstâncias em que vivemos têm influência na nossa saúde. LER MAIS
Apesar de a condição ser relativamente comum, pouco se sabe sobre as suas causas. As pessoas com SPI geralmente apresentam outras condições, como depressão ou ansiedade, distúrbios cardiovasculares, hipertensão e diabetes, mas desconhece-se a razão disso.
Estudos anteriores identificaram 22 loci de risco genético, ou seja, regiões do genoma que contêm alterações associadas a um maior risco de desenvolver a condição. No entanto, ainda não há biomarcadores conhecidos – como assinaturas genéticas – que possam ser usados para diagnosticar objetivamente a condição.
A fim de explorar melhor a condição, a equipa – liderada por investigadores do Instituto Helmholtz de Neurogenómica de Munique, Instituto de Genética Humana da Universidade Técnica de Munique (TUM) e da Universidade de Cambridge –, reuniu e analisou dados de três estudos de associação de todo o genoma.
Esses estudos compararam o ADN de pacientes e de controlos saudáveis para descobrir as diferenças mais comuns encontradas nas pessoas com SPI. Ao combinar os dados, os especialistas conseguiram criar um poderoso conjunto de dados com mais de 100.000 pacientes e mais de 1,5 milhão de controles não afetados.
Foram identificados mais de 140 novos loci de risco genético, aumentando o número conhecido em oito vezes para 164, incluindo três no cromossoma X. Apesar de a condição ser duas vezes mais comum em mulheres do que em homens, não se encontraram diferenças genéticas fortes entre homens e mulheres. Isso sugere que uma interação complexa de genética e ambiente (incluindo hormonas) pode explicar as diferenças de género que se observam na vida real.
Duas das diferenças genéticas identificadas pela equipa envolvem genes conhecidos como receptores de glutamato 1 e 4, que são importantes para a função nervosa e cerebral, respetivamente. Eles poderiam ser potencialmente alvos de medicamentos existentes, como anticonvulsivantes como perampanel e lamotrigina, ou usados para desenvolver novos medicamentos.
Os primeiros testes já mostraram respostas positivas a esses medicamentos em pacientes com SPI.
Segundo os especialistas, seria possível usar informações básicas como idade, sexo e marcadores genéticos para classificar com precisão as pessoas que têm mais probabilidade de ter SPI grave em nove de dez casos.
Embora se acredite que baixos níveis de ferro no sangue desencadeiem a SPI – por poderem levar a uma queda no neurotransmissor dopamina – a equipa não encontrou fortes ligações genéticas com o metabolismo do ferro. No entanto, não pode ser descartado completamente como um fator de risco.
O estudo, publicado na revista Nature Genetics, permitiu prever, pela primeira vez, o risco desta condição. Agora os investigadores estão capacitados para tratar mas também para prevenir o surgimento da SPI nos pacientes.