Gabapentinoides associados à exacerbação grave da DPOC
Um estudo de coorte de base populacional com mais de 10.000 pessoas a tomar gabapentinoides descobriu que o seu uso estava associado a um risco aumentado de exacerbação da doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
DOENÇAS E TRATAMENTOS
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Publicada na revista científica Annals of Internal Medicine, a investigação destaca a importância de considerar este risco potencial ao prescrever gabapentina e pregabalina – os gabapentinoides com maior utilização na prática clínica –, a pacientes com DPOC.
Os gabapentinoides são medicamentos anticonvulsivantes indicados para o tratamento da epilepsia e da dor neuropática. Apesar das indicações limitadas, a sua prescrição aumentou na América do Norte e na Europa, o que pode, em parte, dever-se a uma prescrição excessiva off-label.
Existem relatos, contudo, de que esses medicamentos causam depressão do sistema nervoso central, levando à sedação e depressão respiratória em estudos em animais e humanos. Esta questão de segurança pode ser particularmente preocupante em pacientes com doenças respiratórias como a DPOC.
Uma equipa de investigadores da Universidade McGill e do Instituto de Investigação Médica Lady Davis estudaram dados de seguros de 356 utilizadores de gabapentinoides com epilepsia, 9.411 com dor neuropática e de 3.737 com outras dores crónicas.
Os utilizadores de gabapentinoides foram pareados 1:1 com os não utilizadores quanto à duração da DPOC, indicação de gabapentinoides, idade, sexo, ano civil e pontuação de propensão condicional ao tempo.
Os investigadores descobriram que, em comparação com a não utilização, a utilização de gabapentinoides estava associada a um risco aumentado de exacerbação grave da DPOC entre os que tomavam esses medicamentos para epilepsia, dor neuropática e dor crónica, e o pico de aumento no risco de exacerbação grave da DPOC ocorreu após aproximadamente seis meses de toma contínua.
Entre os pacientes com dor neuropática e outras dores crónicas, o risco foi observado independentemente da idade, sexo, número de exacerbações anteriores da DPOC, uso prévio de corticosteroides inalados, número de medicamentos respiratórios utilizados ou utilização de opioides ou de benzodiazepínicos.
Perante os resultados, os especialistas realçam que os médicos devem ter em consideração estes riscos potenciais antes de prescrever gabapentina e pregabalina a pacientes com DPOC.