As descobertas tiveram por base um estudo levado a cabo em vermes C. Elegans que, embora não pareçam ter muito em comum com os humanos, servem como indicadores surpreendentemente úteis de como as toxinas no ambiente afetam a reprodução humana.

A investigação levanta algumas questões difíceis. A principal delas é como equilibrar os possíveis danos reprodutivos dos produtos que contêm DEET nas pessoas – incluindo infertilidade, aborto espontâneo ou defeitos congénitos – com a necessidade de garantir que estas permaneçam protegidas contra as doenças transmitidas através da picada de insetos, como malária, doença de Lyme, vírus do Nilo Ocidental e infeção pelo vírus Zika.

Embora tenha ficado demonstrado que os produtos com DEET podem ter efeitos neurológicos nas pessoas que os usam, ninguém analisou realmente o que o DEET faz na meiose – o tipo de divisão celular que cria óvulos e espermatozoides. O objetivo dos investigadores era descobrir se isso causaria algum tipo de problema.

Usando o modelo de verme, os especialistas demonstraram que o DEET pode ter efeitos na meiose. Mais especificamente, tem um impacto significativo na expressão genética – o padrão de genes que estão ativos ou inativos numa célula.

Foi possível descobrir que a mudança resultou em stress oxidativo (um desequilíbrio entre radicais livres e antioxidantes) e estrutura anormal dos materiais que formam os cromossomas, o que comprometeu a capacidade destes de se separarem adequadamente à medida que a célula se dividia. Os óvulos e os embriões de vermes a que eles deram origem eram menos saudáveis.

A questão que se impõe é: quão aplicáveis são as descobertas dos vermes aos humanos? Muitos genes humanos têm equivalentes em C. elegans, e os vermes são um modelo poderoso para observar os efeitos na reprodução. Os vermes C. elegans têm sido fundamentais para descobrir como substâncias tóxicas ambientais, como o BPA, podem prejudicar a saúde reprodutiva.

As mudanças na meiose foram observadas quando os níveis de DEET dentro dos vermes eram iguais e, em alguns casos, inferiores aos encontrados em amostras de sangue ou urina da população humana normal. Dito isto, o paradigma de exposição não era o mesmo da maioria das pessoas.

Os vermes foram expostos ao DEET durante 24 horas de cada vez, o que pode não se aplicar a ninguém, ou aplicar-se apenas a determinados grupos, como os trabalhadores agrícolas. E existem algumas diferenças metabólicas e fisiológicas entre vermes e humanos.

Apesar de tudo, os estudos fornecem dados sobre a reprodução, bem controlados e substanciais. Outros grupos podem realizar este trabalho em ratos ou outros modelos animais e avançar ainda mais na compreensão do que o DEET pode estar a fazer aos sistemas reprodutivos humanos.

Mas, então, como se equilibra a saúde reprodutiva com a prevenção de doenças causadas pelos insetos? A verdade é que, à medida que o clima muda, as doenças tropicais transmitidas por insetos estão a deslocar-se para novas regiões do mundo, colocando cada vez mais pessoas em risco. As consequências de interromper o uso dos repelentes podem ser muito graves.

No que diz respeito à prevenção, atualmente o DEET é uma opção muito eficaz. Assim, devemos estar cientes dos potenciais riscos reprodutivos dos produtos que contêm DEET e seguir as instruções de aplicação quando os usarmos. Isto é particularmente importante nas mulheres grávidas, porque a meiose feminina começa no feto em desenvolvimento no útero.

Os investigadores esperam que este estudo ajude a impulsionar o desenvolvimento de alternativas ao DEET que sejam seguras e eficazes. Seria ótimo ter um repelente de insetos eficaz que não levantasse preocupações com a nossa saúde ou com a dos nossos filhos.