Epilepsia pode ser mais fácil de identificar com exame de sangue
Diagnosticar a epilepsia atualmente exige muitos recursos, e distingui-la de outras condições pode ser um desafio, pelo que melhores métodos de diagnóstico são uma necessidade urgente.
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EPILEPSIA - O que é e como conviver com ela?
Estima-se que a epilepsia atinja cerca de 50 mil portugueses de todas as idades. Contudo, o número de pessoas não epiléticas que pode sofrer uma crise convulsiva durante a vida é de uma em cada vinte. LER MAIS
Uma equipa de investigadores da Universidade de Lund, na Suécia, descobriu níveis mais elevados de proteínas imunológicas no sangue de pacientes antes e depois de uma crise epiléptica. Os possíveis biomarcadores podem ser identificados através de um simples exame de sangue.
Epilepsia é o nome dado a uma atividade anormal no cérebro que provoca a perda temporária de controlo de comportamento e movimento. A condição pode ser congénita, ser causada por um tumor, AVC ou infeção no cérebro e causar sintomas muito diferentes, dependendo da parte do cérebro em que o episódio começa ou para onde se espalha. Os processos inflamatórios que começam como uma resposta imune no corpo também podem provocar uma convulsão.
Daí a razão para os investigadores procurarem possíveis biomarcadores de epilepsia no sistema imunológico. Existem estudos anteriores mas, até agora, os resultados foram mistos e difíceis de interpretar.
Para o estudo, publicado na revista Heliyon, foi selecionado cuidadosamente um grupo de participantes dos quais os especialistas recolheram várias informações básicas. Foram levados em consideração vários fatores de confusão que podem afetar o sistema imunológico, como outras doenças neurológicas e imunológicas, infeções e várias condições psiquiátricas. A equipa também comparou convulsões epiléticas com o que é conhecido como convulsões não epiléticas psicogénicas.
Importa referir que a investigação para determinar se alguém sofre de epilepsia ou é afetado por convulsões psicogénicas exige muitos recursos. Pode exigir que o paciente seja internado no hospital durante vários dias com vigilância constante por vídeo e EEG, com uma equipa médica sempre disponível. Para o paciente, é difícil o período de tempo até um diagnóstico.
Os especialistas descobriram que os níveis de cinco marcadores inflamatórios – proteínas – foram elevados de forma aguda em pessoas que sofreram uma crise epilética. Estes marcadores podem ser chamados de “impressões digitais” pois envolvem várias proteínas relacionadas à inflamação com diferentes padrões de reação, principalmente logo após a convulsão.
Já entre os pacientes com convulsões psicogénicas não houve alteração nos biomarcadores. Isso pode significar que um simples exame de sangue realizado a um paciente que chega ao hospital após uma convulsão pode mostrar se a resposta imunológica está elevada. Caso contrário, há uma hipótese maior de se tratar de uma crise psicogénica, o que dá uma primeira indicação de como o paciente deve ser avaliado posteriormente.
Christine Ekdahl Clementson, líder da investigação, realça que a próxima etapa é repetir estes estudos num grupo de pacientes mais amplo e menos homogéneo, para se investigar a “impressão digital” em adultos com epilepsia. Outro dos objetivos é descobrir se os biomarcadores respondem da mesma forma em crianças, onde as causas da epilepsia são mais frequentemente genéticas.