Cientistas descobrem como vírus Zika escapa ao sistema imunológico
Uma estrutura rara, que se forma dentro do RNA do vírus Zika, torna o patógeno resistente ao sistema imunológico do nosso corpo, descobriram cientistas internacionais.
Como resultado dessa resistência à degradação, pedaços de RNA viral permanecem nas nossas células - e podem até ser replicados e transmitidos da mãe para o feto durante a gravidez, levando a graves defeitos cerebrais nos bebés, como a microcefalia.
Esta descoberta fornece um alvo potencial para novas terapias medicamentosas para combater não apenas o vírus Zika, mas também outros semelhantes.
“Devido à estrutura formada dentro do genoma do vírus Zika, pedaços do genoma viral permanecem nas nossas células e sequestram proteínas que são cruciais para o funcionamento adequado destas”, explicou o investigador Meng Zhao, da Universidade de Alberta, no Canadá.
“Usar essas estruturas como alvo pode ser um caminho para o tratamento com medicamentos contra o Zika e outros vírus que partilham estruturas semelhantes, incluindo a dengue, febre amarela, Nilo Ocidental e chikungunya”, acrescentou o investigador.
As nossas células estão cheias de enzimas chamadas RNases, que eliminam ou degradam o RNA de vírus invasores como parte da defesa celular contra infeções. A estrutura estudada pela equipa é uma parte do genoma do vírus Zika que lhe dá a capacidade de resistir à degradação pelas RNases nas nossas células.
“Nós descobrimos que essa resistência se deve ao que é efetivamente um obstáculo mecânico: o RNA cria uma estrutura semelhante a um nó que é mecanicamente extremamente forte, e a RNase simplesmente não consegue atrair fisicamente o RNA para a maquinaria que o destrói”, explicou o professor Michael Woodside.
“Mas, se enfraquecermos a resistência mecânica desse nó, rompendo algumas das ligações que o tornam rígido, a RNase pode separá-lo e eliminar o RNA viral de forma eficaz novamente”, acrescentou.
Os cientistas descobriram que a formação dessa estrutura, a partir de uma fita de RNA, envolve um processo de várias estruturas incompletas, denominadas intermediárias, que se formam antes de se desenvolver o nó resistente à RNase - uma descoberta crítica que pode abrir caminho para novas abordagens para combater o Zika, visando os intermediários, antes que o nó se forme completamente.
“O nosso estudo sugere uma estratégia de tratamento alternativa: enfraquecer a força mecânica do nó de RNA, de modo que este perca a capacidade de resistir à eliminação pela ação da RNase nas nossas células”, concluiu Zhao.