DENGUE

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DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Com a chegada do calor, é tempo para pensar em férias, viagens, e cresce a vontade de saborear os dias intensamente. Porém, prepará-las não se limita a fazer a mala e verificar o passaporte. A saúde também precisa de estar em forma para fazer face aos riscos inesperados que possam surgir em consequência da viagem.

As deslocações para áreas do globo em vias de desenvolvimento, inóspitas ou exóticas, estão em crescente expansão e procura, sendo cada vez mais frequente pessoas de qualquer idade ou condição de saúde viajarem para esses locais por motivos profissionais, sociais ou de lazer.

Com enorme rapidez e facilidade, cada vez mais multidões se deslocam para qualquer região do globo, o que passou a constituir uma preocupação global, já que qualquer ocorrência em determinada região poder transpor fronteiras sem aviso prévio, com potenciais consequências nefastas para a saúde pública.

O risco de exposição a novos ambientes pode ser causa de vários problemas de saúde individual, que pode repercutir-se na comunidade. Exposição a microrganismos, alojamentos impróprios, higiene precária, deficiente saneamento básico e alterações climáticas, a que se junta precários serviços de saúde, são alguns fatores que poderão contribuir para agravar a situação.

Recentemente, a Direção Geral de Saúde (DGS) veio alertar os portugueses para a ocorrência de casos de dengue em pessoas provenientes de Angola, país onde há atualmente um surto da doença, recomendando precaução aos que têm viagem marcada para aquele destino.

No início do mês de abril surgiram 30 novos casos de portugueses, já diagnosticados em Portugal, na consulta pós-viagem do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, todos importados, com um impacto ligeiro, não se tendo verificado qualquer internamento, complicação ou risco de morte entre os doentes. No entanto, a DGS decidiu emitir um alerta com algumas medidas preventivas, de forma a diminuir o risco dos viajantes com destino àquele país.

Em 2012 ocorreu um surto de dengue na Região Autónoma da Madeira, já residual nesta data, em que foram reportados pelo Ministério da Saúde 2050 casos que levaram ao internamento hospitalar de 121 pessoas, sem no entanto terem provocado mortes.

O caso é, no entanto, diferente no Paraguai, onde foi atingido o pico histórico da doença. A epidemia de dengue já afetou 70 mil pessoas, fez 48 mortos e 110 mil casos ainda aguardam confirmação laboratorial da doença.

O Ministério da Saúde daquele país realça que a quantidade de infetados é quatro vezes superior à verificada em 2012, indicando que em 2012 haviam sido registadas 70 mortes e confirmados pouco mais de 30 mil casos.

Conhecer a dengue e o seu transmissor

A dengue é uma doença infecciosa não transmissível por contágio, de etiologia viral, causada por um arbovírus da família flaviviridae, que se carateriza por possuir um nucleocapsídeo icosaédrico a envolver o seu RNA viral.

A infeção é normalmente transmitida através da picada de mosquitos do género aedes, nomeadamente aedes aegypti e aedes albopictus, conhecendo-se quatro serotipos de vírus dengue, designados DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4, que provocam um vasto espectro de doença no homem, desde casos assintomáticos, febre de dengue clássica e situações mais severas, como a dengue hemorrágica e/ou síndrome do choque da dengue.

Os vetores existem em extensas áreas do globo, particularmente nas regiões tropicais e subtropicais. Em Portugal continental não foram detetados, até agora, mosquitos deste género, não havendo por isso risco de emergência de casos indígenas.

O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) é a entidade a quem compete realizar o diagnóstico laboratorial de referência de dengue. Nos seus laboratórios são anualmente identificadas cerca de duas dezenas de casos humanos de importação, com origem, sobretudo no Brasil, Timor, India, Cabo Verde, México, Tailândia, Angola, Paquistão e Vietname.

Quem já contraiu um serotipo não é infetado novamente pelo mesmo serotipo mas continua susceptível aos outros, o que significa que se pode contrair dengue mais de uma vez. Nestes casos, quando a pessoa já contraiu a doença anteriormente por um serotipo e é infetada de novo por um serotipo diferente, a dengue é habitualmente mais grave.

O aedes aegypti é um mosquito que se encontra ativo e pica durante o dia, ao contrário do anopheles, vetor da malária, que tem atividade ao amanhecer e anoitecer. O insecto é de difícil controle, pois os seus ovos são muito resistentes e sobrevivem vários meses até que a presença de água propicie a incubação. Estes rapidamente se transformam em larvas, que originam as pupas, das quais emerge o adulto.

Os mosquitos depositam normalmente os ovos em áreas urbanas, em locais com pequenas quantidades de água doce, isentas de matéria orgânica em decomposição e sais.

Escolhem locais protegidos pela sombra, em zonas residenciais, daí ser importante não deixar objetos com água estagnada dentro de casa ou no quintal. Sem este ambiente favorável, o aedes aegypti não se consegue reproduzir.

Tal como a maioria dos mosquitos, somente as fêmeas se alimentam de sangue para a maturação dos ovos; os machos alimentam-se apenas de substâncias vegetais e açucaradas.

A transmissão nos mosquitos ocorre quando sugam o sangue de pessoas infetadas com o vírus da dengue. Após o período de incubação, que se inicia logo depois do contacto do inseto com o vírus e dura entre 8 e 12 dias, o mosquito está apto a transmitir a doença. Nos seres humanos, o vírus permanece em incubação durante um período que pode durar de 3 a 15 dias. Só após esta etapa os sintomas da dengue podem ser percetíveis.

É importante destacar que não há transmissão através do contacto direto de um doente, ou das suas secreções, para uma pessoa saudável, nem através da água ou dos alimentos.

Sintomatologia da infeção

O vírus da dengue pode apresentar-se de quatro formas diferentes: desde a forma inaparente, em que apesar da pessoa estar infetada não apresenta sintomas, até quadros de hemorragia, que podem levar o doente ao choque e ao óbito.

Deve suspeitar-se de dengue em casos de doença febril aguda com duração de até 7 dias e seja acompanhada de, pelo menos, dois dos seguintes sintomas: dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores musculares e nas articulações, prostração e vermelhidão no corpo.

Na infeção inaparente a pessoa está infetada pelo vírus, mas não apresenta sintomas.

Na dengue clássica, também chamada de "tipo comum" ou "benigna", os sintomas assemelham-se aos de uma gripe forte e geralmente manifesta-se subitamente prolongando-se por cinco a sete dias. A pessoa infetada tem febre alta (39˚ a 40˚ C), dores de cabeça, dor muscular e nas articulações, indisposição, enjoos, vómitos, manchas vermelhas na pele que podem lembrar a rubéola acompanhadas de comichão, dor abdominal (principalmente nas crianças), falta de apetite e fraqueza, entre outros sintomas.

Os sintomas da dengue clássica duram até uma semana mas, após este período, a pessoa pode continuar a sentir cansaço e indisposição.

Inicialmente os sintomas da dengue hemorrágica assemelham-se aos da dengue clássica. Porém, após o terceiro ou quarto dia de evolução da doença surgem hemorragias em virtude do sangramento de pequenos vasos na pele e nos órgãos internos. Estas hemorragias podem ser nasais, gengivais, urinárias, gastrointestinais ou uterinas.

Assim que os sintomas de febre desaparecem, a pressão arterial do doente desce, o que pode originar tonturas, queda e choque. Se a doença não for tratada com rapidez, pode levar à morte.

A pessoa acometida pela síndrome de choque da dengue apresenta um pulso quase impercetível, inquietação, palidez e perda de consciência. Neste tipo de apresentação da doença, há registos de várias complicações, como alterações neurológicas, problemas cardiorrespiratórios, insuficiência hepática, hemorragia digestiva e derrame pleural.

Entre as principais manifestações neurológicas, destacam-se o delírio, sonolência, depressão, coma, irritabilidade extrema, psicose, demência, amnésia, paralisias e sinais de meningite. Tal como na dengue hemorrágica, se a doença não for tratada com rapidez, pode levar à morte.

Destaque-se que a dengue é uma doença dinâmica, que pode evoluir rapidamente de uma forma mais branda para outra mais grave. É preciso estar atento aos sintomas que podem indiciar uma apresentação mais séria da doença.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da dengue é clínico (baseado nos sintomas observados e exame físico do paciente) e laboratorial.

Inicialmente, é feito um diagnóstico clínico para descartar outras doenças. Após esta etapa, são realizados alguns exames, como hematócrito e contagem de plaquetas. Estes testes não comprovam o diagnóstico da dengue, pois ambos podem ser alterados devido a outras infeções.

De entre os exames laboratoriais contam-se o hemograma (que fornece informações iniciais importantes, como a gravidade da doença e indícios da sua evolução), a sorologia para dengue (que permite determinar, após alguns dias de doença, a presença ou ausência de anticorpos virais) e a tipagem do vírus (que permite determinar o seu serotipo). A identificação precoce dos casos de dengue é de importância crucial para o controle das epidemias.

Ainda não existe tratamento específico para a doença da dengue. Antes de mais há que descartar doenças com manifestações semelhantes e para as quais existe tratamento específico, como a malária, leptospirose e meningite.

Para tratamento dos sintomas da dengue clássica o medicamento indicado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é o paracetamol. Na sua versão menos grave o paciente deve ser aconselhado a permanecer em repouso e iniciar hidratação oral. Os sintomas são combatidos com analgésicos e antitérmicos (paracetamol e dipirona), devendo ser evitados os anti-inflamatórios e medicamentos contendo ácido acetilsalicílico, pois o seu uso pode favorecer o aparecimento de manifestações hemorrágicas e acidose.

O prurido, que pode ser incómodo, prolonga-se por 3 a 4 dias, devendo ser tratado com banhos frios e compressas com gelo. Nos casos mais rebeldes são administrados antialérgicos comuns.

Na febre hemorrágica da dengue os doentes devem ser cuidadosamente observados para identificação dos primeiros sinais de choque. O período crítico será durante a transição da fase febril para a não febril, que geralmente ocorre após o terceiro dia da doença. Em casos menos graves, quando os vómitos ameaçarem causar desidratação ou acidose ou houver sinais de hemoconcentração, a reidratação do doente pode ser feita em nível ambulatório. Os doentes com sinais de gravidade devem ser internados e tratados agressivamente para evitar a progressão da doença.

A luta contra a dengue nunca pareceu tão difícil. A OMS estima que, desde 2000, pelo menos um milhão de pessoas em todo o mundo tenham sido infetadas com o vírus, e metade dessas vítimas desenvolveu a forma fatal da doença.

Na tentativa de mudar este quadro, inúmeras equipas de cientistas dedicam o seu tempo e esforços no desenvolvimento de uma vacina. Aliás, uma supervacina, pois teria de combater os quatro tipos de vírus em simultâneo.

É precisamente este o maior obstáculo na procura por uma proteção. A imunização das pessoas contra apenas um dos tipos poderia torná-las mais suscetíveis às formas mais severas da doença. Assim, a única forma aceitável de uma vacina seria uma que combatesse todos os vírus.

Recentemente uma equipa de investigadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) apresentou resultados promissores, que fazem crer que se está perto de criar uma vacina eficaz contra a dengue. Os cientistas realizaram a mutação de um anticorpo anteriormente estudado por outros especialistas de maneira a torná-lo mais forte para combater os quatro tipos de vírus. Ao provocarem mutações num anticorpo denominado 4E11 conseguiram torná-lo capaz de atacar a cadeia A dos quatro tipos de vírus.

Os testes em laboratório já confirmaram a eficácia da versão mutante. Os investigadores pretendem agora dar início aos testes pré-clínicos e esperam poder testar uma vacina em humanos nos próximos dois a três anos.

Porém, enquanto essa arma contra a doença não chega ao mercado, só resta a prevenção.

Atitudes para prevenir a doença

Quando, em viagem, as pessoas contactam com novos ambientes, expondo-se a alterações condicionadas pelo clima, atitudes e agentes transmissores de doenças, podem pôr em risco a sua saúde. Estes riscos podem no entanto ser minimizados se se agir de forma informada e preventiva e tomar as devidas precauções.

Assim, antes de se viajar deve procurar-se (de preferência 4 a 8 semanas antes da partida) uma Consulta de Aconselhamento ao Viajante, para obtenção de informação sobre os riscos de saúde relacionados com a viagem, e de aconselhamento médico orientado para as atitudes e medidas preventivas a seguir antes, durante e após a deslocação.

A maioria dos viajantes não tem problemas sérios de saúde durante a viagem e permanece assintomático no regresso. No entanto, anualmente, cerca de 8 por cento dos viajantes procuram assistência médica por problemas de saúde durante a viagem ou após o regresso.

A probabilidade de ocorrência de um problema de saúde depende dos problemas de saúde pré-existentes, do destino da viagem e sua duração, das condições de alojamento e do nível de adesão às medidas preventivas.

Para que no regresso a casa não se transportem doenças, infeções, vírus ou bactérias na bagagem, a OMS recomenda uma Consulta pós-viagem para realização de um exame médico, até porque uma das responsabilidades do viajante é evitar a transmissão de doenças infeciosas durante e após a viagem.

Deve zelar-se, acima de tudo, pela saúde individual… mas também pela dos outros!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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