Do grego "haema" (sangue) e "rhoos" (fluidez), o termo hemorróida significa circulação sanguínea.
Sabe-se actualmente que as hemorróidas são vasos sanguíneos localizados no canal anal, fazendo parte da estrutura anatómica normal do ser humano. São responsáveis pela protecção do canal anal, ajudando a manter a continência fecal e realizando a drenagem venosa da região.
Apesar de tudo, esta designação é muitas vezes confundida com a doença hemorroidária – uma desordem frequente, bastante desconfortável, que se caracteriza pela dilatação dessas veias, acompanhadas, ou não, de inflamação, hemorragia ou trombose das mesmas.
A doença está relacionada com o estilo de vida e ocorre maioritariamente nos países ocidentais industrializados, promovida pelos hábitos alimentares e um modo de vida e trabalho sedentários.
Não escolhe idade nem sexo, apesar de a sua incidência ser ligeiramente superior no sexo feminino e poder surgir em qualquer etapa da vida. Em Portugal estima-se que cerca de vinte por cento da população acima dos 50 anos sofra de hemorróidas, sendo que o número de cirurgias ultrapassa as 40 mil por ano.
Uma em cada duas pessoas sofre de desconforto associado às hemorróidas pelo menos uma vez durante a sua vida, assim como de outras perturbações anais relacionadas, como inflamação anal.
Para além do sedentarismo e hábitos alimentares incorrectos (onde se podem incluir a ingestão de bebidas alcoólicas, café e tabaco) existem outras causas para o desenvolvimento da sintomatologia associada à doença hemorroidária:
– existência de antecedentes familiares da doença;
– maus hábitos intestinais – a obstipação com esforço defecatório crónico ou a diarreia crónica, causam erosão da mucosa local;
– obesidade, pois o excesso de peso aumenta a pressão exercida sobre as veias da parte inferior do abdómen;
– trabalhos que requerem o levantamento de pesos, pois aumentam igualmente a pressão nas veias do recto e ânus;
– gravidez, pela compressão exercida pelo bebé sobre os principais vasos sanguíneos que transportam o sangue de retorno ao coração e pela alteração dos níveis hormonais que podem provocar aumento de pressão nas artérias;
– a posição erecta do homem, uma vez que a veia mesentérica é desprovida de válvulas, a pressão resultante da posição erecta dá origem a uma maior acumulação de sangue nas hemorróidas;
– o sexo anal, que pode produzir fissuras.
Dada a localização específica da doença, a consulta ao médico é frequentemente adiada por vergonha e mesmo medo. Esta é, no entanto, uma situação benigna e uma das patologias mais comuns, que leva o doente às consultas de proctologia com maior frequência.
Nem todos os indivíduos apresentam sintomatologia da doença sendo neste caso designados por portadores de hemorróidas assintomáticas.
Entre os doentes com sintomatologia, as queixas apresentadas com maior frequência são a hemorragia, perda de sangue vermelho vivo pelo ânus após a evacuação, marcando o papel higiénico ou a sanita; anemia, se a hemorragia for abundante; irritação anal com prurido, geralmente associada a hemorróidas externas; excreção de muco; dor intensa resultante da inflamação das veias que comprimem as terminações nervosas; trombose hemorroidária, uma situação extremamente dolorosa que obriga o doente a consulta de urgência, e o prolapso hemorroidário – as hemorróidas com o tempo têm tendência para se expandir para o exterior, sendo este um processo, lento e gradual, que está na base da sua classificação.
Classificação e Tratamento
As hemorróidas são classificadas quanto à sua localização (interna ou externa) e quanto ao seu grau (1º, 2º, 3º e 4º graus). Muito utilizada pelos especialistas, esta classificação permite uma avaliação mais objectiva da condição das hemorróidas.
No Grau I verifica-se um aumento no número e tamanho das veias hemorroidárias, mas não há prolapso.
No Grau II os nódulos hemorroidários apresentam-se no exterior do canal anal no momento da evacuação mas, em repouso, voltam espontaneamente para o interior do ânus (retracção).
No Grau III a protusão do tecido hemorroidário (prolapso) pode ocorrer mesmo quando se caminha durante algum tempo, ou com exercício físico, necessitando de ajuda manual para retornar ao canal anal.
No Grau IV está-se perante uma protusão permanente do tecido hemorroidal, o que produz um maior desconforto ao doente e a sua reintrodução é impossível.
O exame proctológico é executado em três passos: a inspecção, o toque rectal e a anuscopia.
A inspecção da região anal é feita por observação externa do ânus e permite o diagnóstico de hemorróidas externas, tromboses hemorroidárias externas, prolapsos, lesões dérmicas, fissuras anais, tumores, etc.
O toque rectal tem como objectivo a avaliação do esfíncter e de lesões do canal anal permitindo diagnosticar cerca de dez por cento dos tumores do recto, que muitas vezes são confundidos com hemorróidas.
A anuscopia é um exame que permite a visualização do interior do canal anal, avaliar da existência de hemorróidas internas e classificá-las em função do prolapso que apresentam, classificação essa que será determinante para a escolha do tratamento mais adequado.
Como já referido, as hemorróidas fazem parte da anatomia humana normal e, portanto, apenas necessitam de tratamento quando provocam sintomas de doença.
A terapêutica instituída dependerá do tipo de sintoma apresentado, da sua gravidade, bem como do grau de intensidade do prolapso. Cabe ao proctologista experiente encontrar a mais adequada e eficiente para cada caso.
O tratamento pode ser médico, instrumental ou cirúrgico, podendo este último ser realizado em regime ambulatório ou de internamento.
As medidas terapêuticas têm como objectivo o alívio inicial dos sintomas e existem alguns comportamentos que o doente pode adoptar para auxiliar o tratamento, como por exemplo, procurar regularizar o trânsito intestinal através da ingestão de fibras e de água (pelo menos 1,5 litros por dia), evitar o consumo de especiarias, café, álcool e tabaco, fazer banhos de assento com água morna durante 10-15 minutos várias vezes ao dia, esforçar-se por não coçar a região anal, evitar esforços defecatórios excessivos, evitar a posição de sentado contínua e combater o sedentarismo através da prática de exercício físico com regularidade.
Relativamente à medicação, entre os tratamentos orais, os fármacos venoactivos (também denominados venotónicos, vasoprotectores, flebotrópicos, venotrópicos, anti-edema), de origem sintética ou vegetal reduzem a inflamação local, o edema, as dores, a descarga, o prurido e a hemorragia.
Os emolientes fecais e os laxantes expansores do volume fecal podem ajudar a reduzir a obstipação e o esforço defecatório.
Nos tratamentos tópicos incluem-se os cremes e pomadas anti-hemorroidais ou os supositórios e supositórios com gaze inserida ("tampões anais"), contendo um fármaco venoactivo e um anestésico local como a lidocaina, que proporcionam um alívio do desconforto e das dores.
Alguns cremes contêm também um corticosteróide como a dexametasona, para diminuir a inflamação e as dores.
Enquanto que os cremes são mais fluidos, as pomadas têm uma consistência mais sólida sendo mais apropriadas para as peles secas.
Os supositórios ou os tampões anais são utilizados principalmente no tratamento da inflamação do recto ou do canal anal. Os supositórios em forma de tampões anais são especialmente indicados para o canal anal, para que o supositório permaneça imobilizado no local após a sua inserção e não deslize para o recto. A prescrição dos medicamentos depende do local onde a inflamação se manifesta.
Quando o tratamento médico não resulta, existem outras técnicas que permitem atrasar a evolução do processo por algum tempo. Embora não curem a doença hemorroidária definitivamente, são técnicas simples, sem necessidade de anestesia, que podem ser realizadas no consultório médico.
A ligadura elástica é um tratamento comum para as hemorróidas internas de 2º e 3º graus, mas pode igualmente ser utilizada nas de 1º grau. Consiste na colocação de uma ligadura elástica à volta da base da hemorróida com um aplicador especial. A ligadura vai impedir a circulação sanguínea provocando uma diminuição do tamanho da hemorróida, que acaba por desaparecer após alguns dias.
Além deste método existe ainda a escleroterapia – que consiste na injecção de um fármaco na hemorróida para a fazer regredir; a coagulação por raios infravermelhos – que restringe o fluxo sanguíneo queimando o tecido hemorroidal, levando a hemorróida a reduzir de tamanho e a desaparecer; a criocirurgia – que congela as hemorróidas, provocando o mesmo efeito do método anterior.
Apesar de necessitarem habitualmente de várias sessáes, estes procedimentos são geralmente bem tolerados e sem complicações significativas.
A necessidade de tratamento cirúrgico apenas se verifica em dez a quinze por cento dos doentes que sofrem de hemorróidas.
Os procedimentos cirúrgicos mais usados são a hemorroidectomia de Milligan-Morgan, a cirurgia clássica, e a mucosectomia circular ano-rectal (PPH – Técnica de Longo), a cirurgia moderna.
A hemorroidectomia continua a ser o tratamento mais eficaz para se obter a cura efectiva de longo prazo. A intervenção é realizada sob anestesia geral ou loco-regional (epidural ou raquianestesia) podendo ser necessário um curto período de internamento, que não ultrapassa as 24 horas, seguido de um período de inactividade que varia em função de cada caso.
A mucosectomia circular ano-rectal (operação de Longo) proporciona, em alguns casos específicos, uma taxa de cura elevada. Tem como principais vantagens permitir uma redução importante dos níveis de dor no pós-operatório e diminuir consideravelmente o período de convalescença do doente.
Apesar de todos os tratamentos disponíveis e de a doença hemorroidária ser benigna, o ideal seria evitar a dor, vergonha e constrangimento que ocasiona. Para isso a adopção de algumas regras simples no nosso dia-a-dia é fundamental.
Prevenir para remédios não tomar
Uma das causas mais frequentes das hemorróidas é a obstipação intestinal. Assim, a prevenção da doença passa por evitar o esforço durante a defecação e todas as situações que aumentem a pressão dos vasos e tecidos anais.
O primeiro passo é fazer algumas alterações na dieta alimentar. Para o efeito é particularmente importante aumentar o consumo diário de alimentos ricos em fibra – frutas, vegetais e grãos integrais.
A ingestão abundante de líquidos (pelo menos oito copos de água ou outra bebida descafeinada por dia) contribui igualmente para manter o processo digestivo em movimento, devendo suprimir-se a ingestão de álcool, pimentas e condimentos, dada a sua acção irritante sobre as mucosas, assim como de alimentos obstipantes.
A prática de exercício físico também é aconselhável pois além de prevenir a obstipação melhora a circulação, evitando a acumulação de sangue venoso nas pernas.
A caminhada e a natação são dois dos exercícios mais recomendáveis. Além disso o exercício também é bom para baixar o peso, já que a obesidade faz com que se exerça uma pressão excessiva na zona inferior do corpo, que pode levar às hemorróidas.
Por outro lado, deve evitar-se o esforço físico excessivo, como o levantamento de objectos pesados, pois este poderá provocar o inchaço das veias anais, bem como a prática de desportos como o ciclismo e a equitação, por exercerem demasiada pressão sobre a zona anal.
Deverá evitar-se coçar a área afectada por poder provocar lesões, bem como os assentos muito duros ou demasiado suaves e controlar o stress e a ansiedade, dado que desta forma contrai-se o esfíncter anal. Reeducar o intestino, sentando-se de cócoras, podendo assim fazer pressão abdominal sem risco de lesionar a parede do abdómen. Não reprimir, em momento nenhum, o desejo natural de defecar e tentar criar rotinas horárias de o fazer, será outra regra a cumprir.
A prevenção da doença pode estar nas suas mãos. Coloque em prática estas sugestões hoje, para não vir a sofrer de hemorróidas amanhã.
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