Dias cansativos, trabalho que nunca mais acaba, stress, correrias, casa para arrumar, filhos para acompanhar, contas para pagar, para além daqueles problemas ou situações mais negativas que, por vezes, ocorrem e nos apanham de surpresa… são vários os motivos que nos fazem viver o dia-a-dia de forma mais séria, sem alegria ou grande disposição para sorrisos.
Mas o que seria de nós se, para além de tudo isto, perdêssemos também a capacidade de sorrir?
Ainda que sorrir nem sempre seja uma tarefa fácil, por incrível que pareça, um simples sorriso consegue vencer os obstáculos corriqueiros que nos rodeiam diariamente e abrir portas, sem que nós nos apercebamos disso. Esboçou um sorriso? Então está no bom caminho!
Entende-se que o sorriso é uma resposta natural (biológica) a um estímulo, ou seja, é inato. As pessoas não aprendem a sorrir nem o fazem por imitação, pois o sorriso surge de forma espontânea mesmo quando somos bebés. Trata-se de um automatismo dos músculos da face que ocorre em resposta a determinados estados mentais, que pode e serve para transmitir informação. Nas suas várias formas, o sorriso aparece em todas as culturas humanas, em todas as épocas.
O sorriso é um sinal de comunicação com um sentido universal: pode expressar alegria, felicidade, afeição, gentileza, sedução, e zombaria, entre outras emoções.
Além de provocar aquela sensação de bem-estar que todos conhecemos, o riso também pode ser um grande aliado da saúde, pois contribui para prevenir doenças e auxilia o organismo a cumprir as suas funções diárias. É benefício da cabeça aos pés!
Os benefícios do riso
Michael Pritchard não estava a brincar quando proferiu a afirmação “You don’t stop laughing because you grow old. You grow old because you stop laughing.”, que se deveria tornar numa máxima de vida, pois rir é, na maioria das vezes, o melhor remédio.
Pode não ser uma panaceia, mas é, com certeza, meio caminho andado para levar uma vida saudável, sendo uma mais-valia psicossomática, pois, além dos seus efeitos catárticos, pode reduzir o risco de doenças cardíacas, artrites e úlceras.
A nível psíquico, rir expurga, momentaneamente, sentimentos de angústia, medo e devolve ao indivíduo um sentimento de bem-estar, leveza e esperança. Conseguir encontrar um lado cómico no ambiente que nos rodeia é uma das formas de elevar o nosso espírito, de o nutrir e de o proteger contra os desgastes do dia-a-dia.
A nível fisiológico, o riso reverte os efeitos do stress, associado a um aumento da pressão sanguínea, tensão muscular, imunossupressão e de muitos outros malefícios.
De acordo com investigações científicas desenvolvidas um pouco por todo o mundo, rir é muito benéfico para o organismo, pois diminui os níveis séricos de cortisol, aumenta não só a quantidade de linfócitos T ativos, como também o número e níveis de atividade das células assassinas naturais, fundamentais no ataque às células cancerígenas ou virais.
Rir torna a respiração mais profunda e o sangue mais oxigenado, pois quando uma pessoa ri, os níveis da pressão arterial diminuem abaixo dos normais.
Dar uma gargalhada é também uma ótima maneira de estar em forma. Rir exercita os abdominais, os músculos do diafragma, respiratórios, faciais, das pernas e das costas, para além de facilitar a digestão.
Investigadores da University of Maryland Medical Centre demonstraram que o sentido de humor poderá proteger contra um ataque cardíaco. O seu estudo evidenciou que as pessoas que sofriam de doenças cardíacas, em determinadas situações, se riam menos 40 por cento do que pessoas saudáveis da mesma idade.
Num outro estudo, desenvolvido por uma equipa de cientistas da State University of New York, Western New England College e da University of Waterloo, foram apuradas as influências do humor sobre a imunoglobulina A salivar (IgA-s). Esta encontra-se na primeira linha de defesa contra os organismos patogénicos que penetram pelo trato respiratório. Concluiu-se que os níveis de resposta da IgA-s eram mais baixos nos dias de mau humor e mais elevados nos dias de bom humor.
Outros dois investigadores, de diferentes universidades, inferiram que o riso pode ter influência na diminuição da dor, pois este estimula a sintetização das beta-endorfinas, substâncias semelhantes às morfinas, mas com um poder analgésico cem vezes mais elevado.
Rir estimula e equilibra a atividade cerebral nos dois hemisférios. Cientistas do College of William and Mary, em Williamsburg, mostraram, através de eletroencefalogramas, que durante o processo de apreensão do humor existe um padrão de atividade cerebral único.
Quando o indivíduo está a ouvir uma anedota, o córtex do hemisfério esquerdo inicia o processamento das palavras. Em seguida, a atividade cerebral principal desloca-se para o lobo frontal, onde está localizado o centro das emoções. Momentos depois, os dois hemisférios começam a trabalhar em simultâneo para que o indivíduo possa entender a piada. Decorridos alguns milissegundos, antes de o indivíduo ter tempo para se rir, a atividade cerebral aumenta e espraia-se para o lobo occipital, área cerebral responsável pelo processamento sensorial.
Com tantos benefícios, não é de estranhar que o riso esteja presente em vários tratamentos, como uma terapia – muito natural, disponível sem receita médica, e sem contraindicações. E não é de agora!
A terapia do riso é uma prática milenar, pois Hipócrates, no século IV a.C., já recorria a animações e brincadeiras para curar os seus pacientes, no entanto, só a partir de meados do século XX é que esta começou a ser objeto de estudo e a granjear reconhecimento.
No início dos anos 70, Hunter Adams, mais conhecido por Patch Adams, recorreu ao valioso fármaco capaz de combater muitas doenças em simultâneo e cujo efeito colateral mais reportado é “bem-estar”. Ao reparar que os seus doentes tinham pouca ou nenhuma alegria, decidiu adotar a terapia do riso nas suas prescrições.
Mas a comunidade científica só despertou para este novo tipo de tratamento em 1979, com a publicação de um estudo de caso de Norman Cousins, no New England Journal of Medicine. Cousins recorreu à terapia do riso para debelar a sua doença, a espondilose cervical, passando os últimos 12 anos da sua vida na UCLA Medical School a demonstrar cientificamente que o riso era capaz de curar.
Atualmente existem no mundo mais de 6000 Clubes do Riso, espalhados por mais de 60 países, como Portugal, Espanha, França, Alemanha, Canadá, Dinamarca, Itália, Holanda, Estados Unidos, Brasil, Japão, China, e Índia, entre outros.
A terapia do riso em Portugal
Em Portugal, o recurso a esta terapia é já uma atividade comum. Os médicos palhaços da Associação Nariz Vermelho percorrem, há alguns anos, os hospitais pediátricos para animar as crianças doentes. A missão desta instituição é levar alegria à criança hospitalizada, aos seus familiares e profissionais de saúde, através da arte e imagem do Doutor Palhaço.
Por trás do trabalho realizado pelos Doutores Palhaços nos hospitais está uma equipa incansável e repleta de doçura, alegria, humor, generosidade, sorrisos, abraços, discussões, lágrimas, amizade e atenção pelos outros.
Os resultados são “irrefutáveis”. De acordo com uma investigação realizada pela Universidade do Minho, mais de 90 por cento das crianças internadas esquecem-se, por alguns momentos que seja, que estão num hospital quando recebem as visitas dos Doutores Palhaços.
A ação destes profissionais reflete-se, não só, na aceitação e na eficácia dos medicamentos, como na alimentação e no sono das crianças hospitalizadas.
De referir também o efeito benéfico que as sessões de Terapia do riso ou de Yoga do Riso têm vindo a exercer entre nós. Todos sorrimos desde muito pequenos, sendo um ato natural sorrir. Assim, todos podem usufruir da terapia do riso e gozar os seus efeitos, desde as crianças aos idosos.
O conceito, criado por Madan Kataria nos anos 90, baseia-se no facto científico de que o corpo não consegue diferenciar o riso verdadeiro do riso fingido. Quando rimos, mesmo a fingir, libertamos substâncias químicas positivas para o organismo, tais como a serotonina (antidepressivo natural) e endorfinas, hormonas que provocam sensação de bem-estar e que atenuam a dor.
O lema das sessões é precisamente “Fingir, fingir até atingir.” Atualmente, em Portugal estas dinâmicas são um sucesso, tendo já sido formados cerca de mil “líderes do riso”.
A terapia do riso não é mais do que alguns exercícios – inspirados nas técnicas de respiração lenta e profunda do ioga – que prometem ajudar a “espantar” os problemas do quotidiano, e que soltam a criança dentro de cada um de nós. Nestas sessões trabalha-se a interação entre as pessoas, o contacto visual e o riso sem motivo.
Não restam dúvidas de que rir é a melhor medicina preventiva que se conhece. Mas não se pense que rir é um privilégio do ser humano. Existem vários estudos que referem que alguns animais como, por exemplo, os chimpanzés, gorilas, cães, ratos, e até pássaros, também o podem fazer.
Talvez não da mesma forma que nós, mas existem indícios de que emitem sons como os guinchos, algo semelhante à nossa risada mas ao mesmo tempo diferentes, para expressar quando se encontram num estado emocional positivo.
No caso do ser humano, além de beneficiar a saúde, o riso e o bom humor estimulam uma atitude positiva e de confiança perante a vida. Assim, ria sempre e ria muito, até porque rir é contagioso e, neste caso, é socialmente altruísta e duplamente benéfico.
Já Charles Chaplin dizia “Nunca se esqueça de sorrir, porque um dia sem sorrir é um dia perdido”. Não desperdice o seu!