Desde o início do processo de domesticação de animais, que o homem tem vindo a modificar a maneira de os criar com vista a suprir as suas necessidades, numa relação ecológica do tipo esclavagista, ao longo de milhares de anos. As alterações ocorreram em diversos setores da pecuária como nutrição, instalações, manejo sanitário, bem-estar animal, genética e reprodução.
Está sobejamente demonstrado que o homem não pode prescindir do concurso do animal doméstico, qualquer que seja o seu grau de civilização ou progresso. Há estudiosos que não hesitam em afirmar que a domesticação dos animais selvagens é a mais bela e grandiosa de todas as experiências de zoologia aplicada que já foram empreendidas, e que seria duvidoso que o homem tivesse saído da barbárie, se não tivesse animais em servidão.
Os objetivos dessa evolução sempre se focaram em obter elevados níveis de produção de alimentos, tornar os sistemas mais eficientes e aumentar a vantagem económica. No que respeita à reprodução animal, uma das técnicas que mais facilitou o incremento dos lucros do produtor foi a inseminação artificial (IA), conhecida também por Técnica de Reprodução Assistida.
A IA é a biotécnica de reprodução mais usada para melhoramento genético das espécies domésticas, dado o limitado número de machos que são selecionados para a produção de espermatozoides utilizados na inseminação de centenas de fêmeas todos os anos.
É uma técnica relativamente simples que dá a possibilidade aos criadores com condições financeiras limitadas, de utilizarem reprodutores de alto valor zootécnico, graças ao seu baixo custo e facilidade de transporte do sémen.
A primeira evidência de recurso a IA remete-se ao século XIV, mais propriamente ao ano 1332, quando chefes árabes aplicaram a técnica a animais selvagens . Procederam à recolha do sémen de um garanhão de uma tribo rival depositado no genital de uma égua em cio e, com o auxílio de uma pasta de algodão limpo, inseminaram as suas próprias éguas.
Porém, o marco histórico que consagrou o uso da técnica de IA coube a um sábio naturalista italiano, o abade Lazzaro Spallanzani que, em 1780, inseminou com sucesso uma cadela, da qual nasceram três filhotes 62 dias depois. Spallanzani realizou também experiências em outros animais como sapos, rãs, salamandras, e até bichos da seda, eventos que tiveram grande repercussão na época.
O professor e investigador russo Ilya Ivanovich Ivanov foi o precursor e líder na aplicação prática da inseminação artificial na Europa, tendo-a estudado em bovinos, animais selvagens e também em cães, coelhos e aves. Além de ter inseminado com sucesso vacas e ovelhas, Ivanov aplicou a técnica em éguas em 1899 e ainda durante a primeira guerra mundial (1914-1918), inseminando milhares de fêmeas equinas.
Por volta de 1928 os pesquisadores russos iniciaram a inseminação de bovinos, tendo aplicado a técnica a cerca de 1,2 milhões de vacas e 15 milhões de ovelhas. Outros progressos ocorreram posteriormente em boa parte sob a sua liderança. Mais tarde, com suporte na pesquisa de veterinários escandinavos, os Drs. Nils Lagerlöf e Erick Blom, foram estabelecidos os métodos e critérios de avaliação do sémen e dos reprodutores.
Em 1936, um discípulo de Ivanov, o Dr. Eduard Sorensen criou na Dinamarca uma grande cooperativa para inseminação artificial em bovinos. Os veterinários dinamarqueses estabeleceram um novo método de fixação retovaginal da cérvice, permitindo que o sémen fosse depositado profundamente na cérvice ou no corpo do útero.
Em 1940 foi inventada a palheta para envasar sémen, mais tarde produzida e comercializada por R. Cassou, em França, que é usada atualmente em praticamente todo o mundo. Sucessivamente, países como Itália, Dinamarca, França e Inglaterra começaram a revelar interesse pelos programas de IA, que cresceram rapidamente desde então.
Na década de 50 os investigadores ingleses Polge e Smith demonstraram que o sémen poderia ser guardado durante mais tempo em azoto ou nitrogénio líquido (congelamento) sem perder as suas funções, o que fez com que a comercialização de sémen fosse incrementada, oferecendo óbvias vantagens.
Vantagens e desvantagens da técnica
Entende-se por inseminação artificial o processo mecânico de deposição do sémen no útero da fêmea, por meio de materiais apropriados, em vez de ocorrer a cópula com um macho, tendo como finalidade a conceção. Embora se possa aplicar a praticamente todas as espécies, a que em maior escala tem sido usada é a bovina.
A IA é um método de reprodução que apresenta enormes vantagens, quer de ordem sanitária ou zootécnica, mas a razão fundamental da sua difusão consiste no maior aproveitamento dos reprodutores masculinos selecionados que conduz, obviamente, ao melhoramento das espécies e aumento da produção animal, num planeta cada vez mais carenciado de alimentos.
A IA em animais apresenta vantagens como sejam: melhoramento genético do rebanho, em menor tempo e a custo mais baixo, com sémen de reprodutores comprovadamente superiores; possibilita o cruzamento entre raças; torna possível o controle de doenças, pois através da monta natural tanto o macho como a fêmea podem transmitir doenças, o que pode ser controlado e mais facilmente evitado com a prática da IA; diminuição do custo de reposição de machos; permite ao criador o cruzamento de raças; possibilita a melhoria de certas características desejáveis; reduz a dificuldade dos partos, pelo uso de animais que comprovadamente produzem filhos de pequeno porte ao nascimento; viabiliza a padronização do rebanho, pela utilização de um só reprodutor para um elevado número de fêmeas; aumenta o número de descendentes de um reprodutor; animais de alto padrão genético com problemas adquiridos e impossibilitados de efetuarem a monta natural, devido a idade avançada, fraturas, aderência do pénis e outros fatores inibidores, podem ainda ser utilizados; permite o uso de sémen de machos após a sua morte; facilita o registo de dados e informações a respeito do manejo e dos próprios animais.
Perante as vantagens, as limitações da técnica perdem alguma força. Destaca-se no entanto a dificuldade de identificar os animais em cio, a necessidade de assistência técnica periódica por pessoal especializado e o aumento dos custos com mão de obra e equipamentos (pipeta, luvas, botijão, et.).
Além da sua aplicação convencional, a técnica pode ainda ser usada em combinação com novas e emergentes biotecnologias, tais como a sincronização da ovulação, inseminação na superovulação, a transferência de embriões, a fertilização in vitro e o sémen sexuado, possibilitando a obtenção de consideráveis ganhos genéticos.
Os resultados e o sucesso dos programas de IA nas várias espécies dependem de alguns aspetos importantes. Alguns dos fatores que determinam os índices de fertilidade, obtidos com a IA são a fertilidade dos reprodutores, a maneira como o sémen é colhido e manipulado, o manejo das fêmeas (momento da inseminação), o tipo de sémen usado, a dose inseminada e a habilidade do agente de inseminação.
No âmbito de um programa de IA, o profissional encarregado de executar a inseminação constitui-se como peça fundamental. Da sua dedicação, competência e condições de trabalho dependem, em grande parte, os resultados.
Entre outras, faz parte das suas competências preparar o sémen necessário da raça a reproduzir e acondicioná-lo adequadamente; verificar o estado do cio do animal e as condições do útero; esterilizar o material utilizado a fim de prevenir infeções; fornecer indicações sobre o tratamento a prestar aos animais; registar o trabalho efetuado e, caso necessário, proceder ao tratamento dos órgãos genitais do animal.
Importante também, e muitas vezes responsável por insucessos nos resultados da inseminação, é a higiene durante o processo: higiene pessoal e do animal, as instalações e material utilizado (luvas, tesoura, pinça, aplicador, etc).
A reprodução assistida focada para aumento dos lucros do produtor, com o intuito de gerar um maior número de animais de qualidade superior, ocupa atualmente um espaço relevante na pecuária.
Pode até dizer-se que a IA foi a tecnologia que mudou a pecuária a nível mundial. O uso das mesmas técnicas, mas voltadas para os animais de companhia, tem vindo também a conquistar o seu espaço sendo, atualmente, considerada uma área em expansão na medicina veterinária.
A utilização da inseminação artificial é hoje altamente recomendada para os animais de produção, com especial destaque para a produção de carne e leite onde se obtêm produções superiores a 2000 litros por lactação.
É no entanto importante observar que a IA só deverá ser adotada pelos produtores que possuam instalações com bons níveis tecnológicos e adequados meios de controlo sanitário e nutricional, sem as quais não se obterá sucesso com a técnica. Além disso, é igualmente necessário o constante acompanhamento e empenho do produtor e dos técnicos veterinários para alcançar o sucesso.
IA em animais de companhia
A dedicação devotada pelos donos aos seus "companheiros" tem feito movimentar um mercado cada vez mais variado, sendo notório o aumento do número de cães e gatos resultantes de IA muitas vezes com caraterísticas específicas devido a cruzamentos de raças.
Neste caso não se trata de aumentar a criação de animais de companhia disponíveis no mercado. Como motivo para a utilização desta técnica, os donos referem o desejo de preservar a lembrança dos animais, que assumem como membros de família, ou de conservar as características de "raça pura", tão valorizadas entre os criadores.
São vários os motivos que levam um criador a optar pela inseminação artificial: a diferença de peso e tamanho entre os animais; a não aceitação por parte de um ou de ambos; a distância geográfica; a falta de libido, ou a própria anatomia da raça. Há mesmo raças caninas – como Pug, Buldogue Inglês e Buldogue Francês –, que têm maior dificuldade de acasalamento, e em que a IA é a melhor opção para a sua reprodução.
De referir que a gestação das fêmeas inseminadas artificialmente tem a mesma duração de uma gestação obtida mediante a monta natural, e a quantidade de filhotes também não sofre influências, permanecendo dentro dos padrões de cada espécie.
Antes de mais o médico veterinário deve conhecer o historial do animal, fazer o acompanhamento clínico e um exame andrológico, com o objetivo de avaliar se está nas melhores condições para gerar uma descendência saudável.
Sendo esse o caso o veterinário procederá à recolha do sémen que posteriormente será congelado em compartimentos e a temperaturas ideais (196˚ C). Este sémen, tal como o dos animais de pecuária, poderá permanecer congelado, eventualmente por longos períodos de tempo.
Foram consideráveis os avanços tecnológicos ocorridos na inseminação artificial nas últimas décadas. Ainda assim, mesmo nas espécies onde já se consegue obter resultados semelhantes aos da monta natural com a IA, continua a ser válido o desenvolvimento de mais investigações, com o objetivo de aprimorar a técnica e facilitar a sua execução.
Para as espécies em que ainda não se detém o domínio desta biotécnica, muitos estudos são necessários para que se possam atingir melhores resultados.
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