ORNITOLOGIA, O ADMIRÁVEL MUNDO DAS AVES

ORNITOLOGIA, O ADMIRÁVEL MUNDO DAS AVES

AVES

  Tupam Editores

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Decorridos milhares de anos a sonhar com a possibilidade de se libertar das leis da gravidade, o Homem conseguiu deixar o solo e levantar voo nas asas do vento. Mas, para o fazer, necessita do auxílio de complicados sistemas que diminuem, e quase anulam, a beleza de um verdadeiro voo.

Apenas as aves resolveram, com uma invejável perfeição, todos os problemas relacionados com o voo: grande potência muscular e área de asas suficiente, prolongada resistência ao cansaço, redução de peso, visão adequada e aguçado instinto da orientação. É seu o domínio dos ares.

Todos os outros são, simplesmente, intrusos nos domínios do vento.

Entre as aves encontram-se os seres mais belos do reino animal. Todas as dúvidas se dissipam ao contemplar a harmonia de um cisne, o aparato de um pavão-real, o colorido de uma ave do paraíso, de um verdelhão, ou de uma guará.

Como se isso não bastasse, entre as aves figuram, igualmente, as espécies canoras com as mais belas notas musicais e harmonioso canto, tais como os rouxinois, tordos e canários.

Estudar a imensa variedade de aves, os seus curiosos costumes, faculdades, e normas de comportamento revela-se, na verdade, absorvente.

Ao ramo da Biologia que se dedica ao estudo científico das aves, que inclui a descrição, história e classificação (classe, ordem, família), a distribuição, números, atividades, importância ecológica e valor económico para as pessoas, dá-se o nome de Ornitologia.

A Ornitologia tem na observação direta uma rica fonte de informações, embora prevaleçam também outras técnicas e intrumentos modernos, como o anilhamento de aves, que possibilita, entre outros dados, a obtenção de informações relativas à dispersão, migração, comportamento, taxas de sobrevivência, sucesso reprodutivo e vetores transmissores de doenças, o radar e a radiotelemetria (uma importante ferramenta de pesquisa para estabelecer as deslocações diárias e sazonais das espécies), além de contribuições feitas por amadores.

Um dos pioneiros desta ciência foi Aristóteles ao escrever sobre a história dos animais, obra que foi continuada séculos depois por Plínio, o velho. Como essa, muitas outras obras da Idade Média e início da Era Moderna registam observações pessoais relevantes sobre o assunto.

Entre nós, a ornitologia cresce a passos largos, conquistando cada vez mais adeptos, e mais apaixonados pelo mundo das aves e por todos os temas ornitológicos da atualidade, como sejam a reprodução, instalações, doenças e seu tratamento, as diferentes espécies e raças, as novas mutações em estudo, e até pelos campeonatos nacionais, internacionais e mundiais.

Características gerais das aves

As aves, classe de animais vertebrados, desenvolveram-se a partir dos répteis, provavelmente de um grupo de sáurius, os dinossauros. A primeira ave conhecida, Archaeopteryx lithographica, apareceu no período Jurássico.

O Archaeopteryx é o mais antigo fóssil conhecido de ave e data de aproximadamente 140 milhões de anos atrás. Era um pouco maior que um pombo e possuía cauda longa, percorrida pela coluna vertical, como os répteis, além de dentes. Dedos individualizados com garras e, como característica mais marcante, penas do corpo e penas de voo assimétricas (indícios de que era capaz de voar).

Existem cerca de treze mil espécies descritas de aves. Estas têm o corpo coberto de penas – que mudam uma vez por ano –, estando os membros anteriores transformados em asas.

O seu esqueleto é delicado e forte, totalmente ossificado, possuem ossos muito leves e por vezes cheios de ar – ossos pneumáticos –, que facilitam o vôo. O esterno é modificado em quilha, facilitando o corte do ar e fixando a musculatura peitoral.

São homeotermas, isto é, têm sangue quente, que se mantém com a queima dos alimentos e com auxílio das penas, que servem como isolante térmico. São chamadas de endotérmicas, pois a temperatura do corpo é essencialmente constante.

Os machos têm, de modo geral, as penas muito mais coloridas do que as fêmeas. Nas aves que praticam a monogamia, como os galináceos, os dois sexos têm, habitualmente, a mesma cor mas se o macho é polígamo é sempre mais bonito que a fêmea.

As características do bico e dos pés das aves correspondem a diferentes modos de vida. Assim, quanto aos pés, distinguem-se adaptações a marchar, empoleirar, trepar, patinhar, nadar, predar, etc.; quanto aos bicos, podem ser classificados como: omnívoros, granívoros, insetívoros, carnívoros, etc.

Quanto aos sentidos, o olfato e o tato são pouco sensíveis, a audição é boa mas o sentido da visão é o mais desenvolvido.

Os sons emitidos pelas aves são os de chamada, aviso, canto e diversão. O canto produzido pelo macho das aves canoras é, de modo geral, uma maneira de marcar a extensão do seu território.

Relativamente ao choco, o período de incubação dos ovos varia muitíssimo: nos pardais são 12 dias, nas galinhas 21 dias, e nas avestruzes de cerca de seis semanas.

Os ninhos também variam muito. Algumas pernaltas incubam os seus ovos numa simples depressão do solo. Muitas aves fazem ninhos descobertos, como o corvo, mas a pega e outras espécies cobrem-no com ramagem. Certas aves, como os papa-moscas e o pombo-bravo (Columba Oenas) fazem os seus ninhos nas cavidades existentes nas árvores, mas os pica-paus, por exemplo, abrem-nas com o bico, danificando as árvores.

Os tecelões (Ploceus e outros) dos trópicos tecem, com ervas, ninhos em forma de bolsa. Algumas aves-parasitas dos ninhos, como os cucos, não fazem ninhos e vão pôr os ovos nos de outras aves, deixando a estas o encargo de incubar e criar esses filhos adotivos.

Quanto aos seus hábitos de dispersão, as aves classificam-se em residentes, nómadas e migradoras. Os pardais e os pica-paus são tipicamente aves residentes, os chapins e os tetrazes são aves nómadas, e as folosas, as andorinhas, e muitas outras aves, são tipicamente migratórias.

As exóticas, as raras, e as ameaçadas

Em Portugal Continental já foram registadas 429 espécies de aves em estado selvagem.

A ocorrência de aves exóticas a nidificar em liberdade em Portugal remonta aos anos 1960. Regularmente nidificam sete espécies não originárias do nosso país e que são consideradas exóticas, como é o caso do Bico-de-lacre (Estrilda astrild), que pode ser observado em quase todas as zonas húmidas costeiras;

o tecelão-de-cabeça-preta (Ploceus melanocephalus), visto com mais facilidade nos pauis com abundante vegetação emergente;

o mainá-de-crista (Acridotheres cristatellus), que adotou como zona preferida a região de Lisboa, havendo dois locais preferenciais, um de cada lado do Tejo;

o bispo-de-coroa-amarela (Euplectes afer), outra espécie que pode ser observada em zonas palustres com vegetação emergente;

o periquito-de-colar (Psittacula krameri), que pode ser encontrado sobretudo na capital, nomeadamente em parques e jardins;

o Bengali-vermelho (Amandava amandava), que ocorre quase sempre nas imediaçoes de zonas húmidas com ampla vegetação emergente, o que dificulta a sua observação;

e o bico-de-chumbo-de-cabeça-preta (Lonchura malacca), que se pode avistar com maior frequência nas zonas húmidas costeiras.

O termo "raridade" é utilizado para designar aves que aparecem fora da sua área normal de ocorrência. Os registos de espécies raras são homologados pelo Comité Português de Raridades da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

Entre nós foram observadas 146 espécies de aves consideradas raridades.

De entre as várias espécies, e a título exemplificativo, destaca-se o Albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), uma ave enorme, de asas escuras, uropígio e cabeça brancas. O bico é escuro e apresenta uma pequena mancha escura longitudinal junto ao olho, como se fosse uma sobrancelha; o Pato-d’asa-azul (Anas discors); o Mergulhão-de-pescoço-castanho (Podiceps auritus); o Pelicano-branco (Pelecanus onocrotalus) e a Rola do Senegal (Streptopelia senegalensis), entre outras.

No que diz respeito às aves ameaçadas, uma espécie muito cobiçada pelos observadores de aves é a Águia-imperial (Aquila adalberti). Encontrar esta águia de ombros e nuca branca não é fácil, pois trata-se da ave de rapina mais ameaçada da Europa.

A águia-imperial é extremamente rara em Portugal e como nidificante tem uma distribuição muito localizada. Considerando a raridade desta espécie, as expetativas de a conseguir observar devem ser niveladas por baixo.

Outra espécie ameaçada é a cegonha-preta (Ciconia nigra). As suas pernas longas e vermelhas, bico longo e vermelho, e um padrão preto com reflexos esverdeados, fazem desta uma das mais belas aves do nosso território.

Nidificam no país poucas centenas de casais, sendo baixa a sua densidade. A cegonha-preta é uma espécie esquiva e difícil de observar. As zonas remotas do interior são aquelas onde a sua observação é mais provável.

As aves desde sempre fascinaram o Homem. A sua extraordinária capacidade de voar e a beleza dos seus cantos e plumagens constituem motivo de permanente admiração.

A observação de aves é hoje uma atividade que desperta um interesse crescente um pouco por todo o mundo. Para além dos aspetos técnico-científicos, a observação de aves é também uma atividade lúdica que possibilita um saudável contacto com a natureza.

Birdwatching, turismo ornitológico em Portugal

Portugal é um dos melhores destinos europeus para o birdwatching, pois apresenta excelentes condições para a observação de aves no seu meio natural.

Apesar de pequeno, é um país extremamente diversificado em paisagens e habitats naturais, desde montanhas, florestas, parques naturais, vales, praias, estuários e zonas húmidas, escarpas costeiras e zonas agrícolas como plantações de vinha e sobreiros. No nosso país um observador de aves consegue visitar e conhecer uma grande diversidade de ambientes propícios ao birdwatching, sem ter necessidade de percorrer grandes distâncias e usufruindo de um clima ameno ao longo de todo o ano.

No continente ocorrem cerca de 70 espécies de distribuição exclusiva da bacia mediterrânica (por ex. Flamingo, Britango, Águia-perdigueira, Cuco-rabilongo, Melro-azul, Pardal-espanhol).

Para além de relaxante, o birdwatching é uma atividade que pode ser praticada por todos (crianças, jovens e adultos) mesmo não tendo o equipamento ou conhecimentos adequados. Contudo, para que a experiência seja mais gratificante, os binóculos constituem um instrumento indispensável, assim como uma máquina fotográfica, um Guia de Bolso para identificação das aves e um Bloco de notas ou Caderno de campo.

Embora não seja essencial um telescópio, este permite a observação de pormenores difíceis de ver com binóculos, assim como uma observação mais distante e, portanto, sem perturbar tanto as aves.

O vestuário deve ser prático e discreto, o calçado adequado ao campo ou à montanha, sendo indispensável um chapéu e uma garrafa ou cantil com água, principalmente se se pretender realizar caminhadas.

Importante também é manter um comportamento correto. Quando se observam aves deve evitar-se sempre perturbá-las, tomando o maior cuidado ao observar e fotografar aves com crias.

Convém ter sempre em mente que as aves são sensíveis à perturbação, sendo capazes de rejeitar as posturas atrasando a reprodução durante um ano. Nada se deverá fazer que as assuste ou altere o meio nas cercanias do ninho.

Estima-se em muitos milhões, o número de pessoas que praticam com regularidade esta atividade em todo mundo e que viajam em busca de espécies novas, raras ou de difícil observação.

A ornitologia portuguesa, europeia e mundial, é hoje uma atividade em franca expansão. Fruto dessa expansão existe a necessidade, cada vez maior, de se aperfeiçoar e melhorar esta tão nobre atividade, que deve ser sempre um hobby que vai realizando diariamente os seus aficionados.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
24 de Setembro de 2024

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