ANIMAIS EM PERIGO DE EXTINÇÃO EM PORTUGAL

ANIMAIS EM PERIGO DE EXTINÇÃO EM PORTUGAL

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Em termos biológicos e ecológicos, extinção é o total desaparecimento de espécies, subespécies ou grupos de espécies do meio natural. As espécies em vias de extinção são aquelas cujo número de indivíduos é muito reduzido, e em iminente perigo de desaparecer se não forem protegidas.

De forma semelhante ao surgimento de novas espécies, a extinção é uma ocorrência natural: as espécies surgem por meio de eventos de especiação (longo isolamento geográfico, seguido de diferenciação genética) e desaparecem devido a eventos de extinção (catástrofes naturais, aparecimento de adversários mais eficientes).

Porém, normalmente o nascimento e a extinção de espécies são eventos extremamente lentos, e que exigem milhares ou mesmo milhões de anos para ocorrer. Um exemplo disso foi a extinção dos dinossauros, ocorrida naturalmente há milhões de anos, muito antes do aparecimento da espécie humana, ao que tudo indica, devido a alterações climáticas decorrentes da queda de um grande meteorito.

Até aqui tudo normal. O problema é que o homem tem servido de catalisador para o processo de extinção, fazendo com que a fauna e a flora de vários ambientes se percam muito mais rapidamente do que seria expectável, sendo atualmente o principal agente desse processo.

Na realidade, o homem tem vindo a determinar a extinção de muitas espécies, quer através da predação quer devido ao facto de ter desorganizado o ambiente natural de certas populações, tornando impossível a sua sustentação.

Durante o seu processo de desenvolvimento, para sobreviver, o ser humano aprendeu a matar organismos como fonte de alimento, comércio ou desporto, alterando e degradando com frequência o meio ambiente natural.

Aliás, atualmente, uma das principais causas para a extinção das espécies é o uso indevido de recursos naturais, como o desmatamento, praticado para a criação de pastos voltados para a pecuária ou para plantações convencionais bem como para o crescimento das cidades. Outros exemplos de degradação do meio ambiente são a poluição de rios e lagos por esgotos domésticos ou a descarga de resíduos provenientes de indústrias, incêndios florestais praticados por agricultores, até à formação de lagos artificiais para centrais hidroelétricas que requerem a inundação de grandes áreas florestais.

A introdução de espécies exóticas e invasoras em ecossistemas diferentes também é considerado um grave problema. A venda ilegal e o transporte de animais para ecossistemas em que normalmente não se localizariam, faz com que as espécies nativas sejam prejudicadas e até expulsas. Muitas vezes estes animais têm vantagens competitivas sobre as espécies nativas, não têm predadores específicos e acabam por dominar. Desta forma, multiplicam-se rapidamente, simplificam o ecossistema atingido e têm um papel decisivo na extinção das espécies nativas.

Outra causa de extinção de várias espécies de animais (e vegetais) é o aquecimento global. Este fenómeno causado pela influência crescente da humanidade no planeta é o responsável, entre outras coisas, por mudanças climáticas. O clima de um ecossistema é essencial para a sua perpetuação e manutenção.

A temperatura, a ocorrência de épocas de seca ou chuvas, determinam que tipo de fauna e flora se consegue adaptar à condição imposta. Assim, as espécies são prejudicadas pela mudança, pois estavam adaptadas a um clima específico, e quando este muda, em tese, mudam-se também os seus habitantes.

E, se a taxa de extinção das espécies no início do século XX atingia uma espécie por ano, atualmente, quando os meios naturais são degradados e destruídos em todas as zonas do mundo, estima-se que o coeficiente se eleve para uma espécie por dia. Alguns biólogos vão ainda mais longe e admitem que, em meados do século XXI, a extinção possa atingir um quarto de todas as espécies conhecidas.

Como se não bastasse, não são apenas os animais que estão em vias de extinção. Segundo informações detalhadas de um grupo de botânicos, encontram-se ameaçadas ou em vias de extinção, igualmente, cerca de 25 mil espécies vegetais. Admitindo que, na prática, existam cerca de 20 a 40 espécies animais que dependem destas espécies vegetais para a sua sobrevivência, por cada espécie vegetal que se extinga podem desaparecer também muitas outras espécies animais.

Sabe-se que, entre as espécies vegetais, uma em cada dez está ameaçada de extinção e uma proporção semelhante pode ser aplicada aos mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. A situação é extremamente preocupante pois, assim como um órgão que se atrofiou não volta a desenvolver-se, uma população extinta não torna a aparecer (lei da irreversibilidade da evolução).

A nível global são várias as espécies em perigo de extinção, como por exemplo as baleias e os pandas gigantes, espécies cujo número de efetivos não permite, sem uma intervenção visando a sua recuperação, manter a espécie viável por muito mais tempo.

Em Portugal, é de salientar o perigo em que se encontram algumas espécies de rapina, e sobretudo, a já quase inevitável extinção de uma espécie de felino única no mundo – o lince da Serra da Malcata, não obstante os esforços que estão a ser desenvolvidos para a sua recuperação através do projeto LIFE do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Espécies em perigo em Portugal

De nome científico Lynx pardinus, o lince ibérico, também conhecido pelos nomes populares de cerval, lobo-cerval, gato-fantasma, gato-cerval, nunca-te-vi, liberne, gato-cravo ou gato-lince é um dos mamíferos mais ameaçados de extinção do mundo.

O seu habitat restringe-se à Península Ibérica tendo preferência pelos bosques e matagais para se abrigar e proteger. As serras algarvias, Alcáçovas, Comporta, Alcácer do Sal, Tejo Internacional, Serra de Portel e a Serra da Malcata são alguns dos locais onde ainda pode ser avistado.

Pesando entre 10 a 13 kg, o felino tem um tempo médio de vida de 13 anos. É um animal essencialmente noturno, um trepador exímio, que pode deslocar-se diariamente cerca de 7 km. Alimenta-se quase exclusivamente de coelhos-bravos; no entanto, a sua dieta pode ser complementada com roedores, aves, e crias de cervídeos.

As principais ameaças à sua sobrevivência são o desaparecimento progressivo das populações de coelhos (devido à mixomatose e pneumonia hemorrágica viral), assim como à destruição dos habitats mediterrânicos. A caça ilegal, armadilhas e os atropelamentos são também responsáveis pela ameaça.

Encontra-se classificado como espécie em perigo de extinção pelos Livros Vermelhos de Portugal, Espanha e UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais).

Também se encontra protegido pela convenção de Berna e pela Convenção que regulamenta o comércio de espécies selvagens, sendo considerado pela diretiva Habitats como uma espécie prioritária.

No nosso país o Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI), em Silves, tem vindo a desenvolver ações específicas de conservação e gestão de espécies e habitats sempre com o objetivo final de viabilizar a conservação deste fabuloso felino.

Sobre o próximo animal recaem mitos ancestrais, temores e histórias predatórias, de noites de ataques sorrateiros aos rebanhos e de uivos invernais.

Canis lupus signatus de nome científico, o lobo constitui uma outra espécie que, se não for preservada, corre o risco de caminhar para a extinção. Em número de 300 no nosso país, o lobo-ibérico ocupa atualmente uma área de cerca de 20 mil km2 na região fronteiriça dos distritos de Viana do Castelo e de Braga, província de Trás-os-Montes e parte dos distritos de Aveiro, Viseu e Guarda.

Mais pequeno que os outros lobos, pesando entre 30 a 45 kg, o lobo-ibérico tem uma cabeça volumosa, orelhas triangulares e olhos oblíquos cor de topázio.

A sua alimentação é muito variada. Como presas selvagens incluem-se o javali, o corço e o veado, e como presas domésticas a ovelha, cabra, o cavalo e a vaca.

As causas para a redução da população lupina são a sua perseguição direta e o extermínio das suas presas selvagens. O declínio é ainda agravado pela fragmentação e destruição do seu habitat e pelo aumento do número de cães vadios/selvagens.

Por ser considerado espécie em perigo que é necessário conhecer e preservar surgiram em Portugal vários grupos, associações e instituições com esse objetivo. Uma delas é o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI), em Mafra, e outra a Associação de Conservação do Habitat do Lobo Ibérico, nas Serras da Freita, Arada e Montemuro.

Pertencente à família Accipitridae, a Aquila adalberti, mais conhecida por águia-imperial-ibérica, é uma ave muito rara, existindo apenas alguns pequenos grupos no sudoeste da Península Ibérica.

Em Portugal, os casais nidificantes encontram-se no leste da Beira Baixa e do Alentejo, na continuação do grupo reprodutor da Serra de San Pedro e Monfrague. A espécie ocupa zonas de mosaico de montado, matos mediterrânicos, áreas cerealíferas e pastagens.

Das suas características destaca-se o grande porte (1,75 a 1,85 m de envergadura de asas), o bico robusto e amarelo e a plumagem castanha muito escura, com o bordo das asas, a nuca e os ombros brancos.

A rapina tem como presa principal o coelho, embora também se alimente de alguns pequenos mamíferos e aves de médio porte.

As causas da sua extinção não surpreendem. A substituição dos bosques tradicionais por pinheiros e eucaliptos provocou a destruição dos seus habitats.

A águia-imperial é uma espécie criticamente em perigo. Entre nós a ave esteve extinta como nidificante desde meados da década de 70 até 2003 quando foi redescoberta a nidificar na zona do Tejo Internacional.

Durante as duas últimas décadas os esforços de conservação desta espécie em Espanha tiveram resultados muito satisfatórios, estando atualmente em expansão. O nosso país beneficiou destas ações e a população tem aumentado nos últimos anos. Em 2005 a população nidificante foi calculada em 5 casais.

Quem não ouviu já falar na cegonha que traz os bebés? Pois é... felizmente nessa ideia ternurenta a missão de entregar o bebé cabe à cegonha branca e não à preta, mais tímida, muito mais rara e em vias de extinção.

Pertencente à ordem dos ciconiformes, a cegonha-negra – ciconia nigra – é uma ave ligeiramente mais pequena que a cegonha-branca, medindo cerca de 97 cm de comprimento e aproximadamente 190 cm de envergadura.

A plumagem é negra na cabeça, pescoço, dorso e asas, a barriga branca, e as patas e o bico vermelhos.

Esta espécie alimenta-se em ribeiros de água límpida, charcos e prados húmidos e captura principalmente peixe, anfíbios e insetos, mas também outros pequenos vertebrados, como ratos e aves jovens.

O habitat eleito da cegonha-negra são os lagos, rios ou regiões alagadas rodeadas por densas florestas, sendo habitual vê-la pousada em árvores altas, escarpas e postes elétricos. Em Portugal existem cerca de 40 a 50 casais e nidifica com maior incidência no interior do país junto aos rios Douro, Tejo e Guadiana.

As razões para o declínio desta espécie são a degradação e destruição das florestas, a perturbação humana nas áreas de nidificação, o abate ilegal e a destruição dos ninhos, a contaminação das zonas agrícolas com pesticidas, a colocação desordenada de postes e cabos elétricos e a eletrocussão em linhas de alta e média tensão.

Devido à diminuição da população a cegonha negra está classificada como ameaçada, estando incluída nas SPECS (Species of European Conservation Concern) e nas Convenções de Cites, Bona e na Diretiva das Aves.

No arquipélago da Madeira, merece destaque a ave mais rara e ameaçada da Europa – a Freira da Madeira, Pterodroma madeira (em inglês Zino’s Petrel). É um endemismo da ilha da Madeira, ou seja, não existe em mais nenhum local do mundo, e somente se reproduz no maciço montanhoso central da ilha, acima dos 1600 metros de altitude, entre os picos do Areeiro e Ruivo.

Foi considerada extinta em passado recente, tendo sido redescoberta no final da década de 60 do século passado, encontrando-se listada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal com o estatuto de "Em Perigo".

A Freira da Madeira é uma ave marinha de tamanho ligeiramente inferior a uma gaivota. Como todas as aves marinhas, passa a maior parte da sua vida no mar, regressando a terra apenas para nidificar. A origem do seu nome está associada à coloração da plumagem, pois o dorso é de tonalidade escura, quase preta, e o ventre esbranquiçado, assemelhando-se ao hábito de uma freira. Tem o bico preto e a face interior das asas é quase totalmente negra.

As principais ameaças a esta espécie são a predação por parte de ratos e gatos e a perturbação humana, quer seja pela atividade ecoturística ou pelo colecionismo. A degradação progressiva do seu habitat também é um fator que limita a disponibilidade de locais onde pode nidificar.

A construção de um radar militar do pico do Areeiro e o incêndio de Agosto de 2010, a ausência de conhecimento profundo sobre os locais onde se alimenta enquanto no mar e os perigos que aí poderá enfrentar, nomeadamente poluição marinha por hidrocarbonetos e mortalidade associada às artes da pesca, são ameaças que podem comprometer o futuro da espécie.

Apesar de a espécie ter beneficiado dos trabalhos de conservação efetuados pelo Parque Natural da Madeira, estima-se que a população esteja limitada a 130-160 aves. Continua, assim, a ser necessário um elevado esforço para a recuperação da espécie e do seu habitat.

E o cenário não melhora. A última atualização da Lista Vermelha das Espécies em risco de extinção da UICN incluiu, pela primeira vez, espécies cinegéticas que são caçadas em Portugal.

A rola-brava e o zarro são agora espécies consideradas em risco de extinção, na categoria "Vulnerável" (enfrentam um risco elevado de extinção) o que, segundo a SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), demonstra a urgência em alterar a legislação de caça em Portugal e noutros países onde estas espécies existem.

O zarro, uma espécie de pato, já foi uma ave bastante comum em todo o território até há cerca de duas décadas. Trata-se de uma espécie cinegética migradora que tem registado reduções drásticas nas suas populações e atualmente só pode ser encontrada em meia dúzia de locais.

No Algarve, a Quinta do Lago, as lagoas das Dunas Douradas e dos Salgados (onde já foram detetados casos de nidificação), são considerados os melhores locais da região para observar esta espécie, cada vez mais rara. Por vezes também surge na foz do Almargem e na zona de Vilamoura. Fora do Algarve, o zarro já só pode ser observado em duas ou três zonas de barragens e açudes do Baixo Alentejo e no paul do Boquilobo (região de Lisboa e Vale do Tejo).

A rola-brava – que sofreu um decréscimo de cerca de 40 por cento na última década –, é cada vez menos comum a sul do Tejo, mas ainda pode ser observada na zona central do Algarve (lagoas das Dunas Douradas e do Garrão) e zona de Alcoutim. Surgem alguns exemplares nas ilhas da Ria Formosa, na ria de Alvor e no cabo de S. Vicente durante a passagem migratória outonal. A província de Trás-os-Montes continua a ser a melhor zona para a observar.

Com base nestes dados, não restam dúvidas de que ambas as espécies devem deixar de ser caçadas como medida de conservação, o que requer uma reação rápida e eficaz das entidades oficiais através da alteração do calendário venatório e da suspensão da caça desta espécie.

A lista dos animais que se encontram em estado de vulnerabilidade e perto da extinção é, lamentavelmente, muito maior, e isto só em Portugal, para não falar no resto do planeta.

O nosso planeta chegou ao estágio atual de desenvolvimento após biliões de anos, com um conjunto de formas de vida que hoje o habitam sendo resultado de um processo dinâmico de evolução, desde muito antes do aparecimento do homem como espécie na Terra.

Ao longo dos tempos, porém, tem sofrido alterações de todos os tipos relacionadas principalmente com as atividades do ser humano. Nunca antes tantas espécies estiveram à beira da extinção num tão curto espaço de tempo, e nunca uma única espécie foi tão nociva ao ambiente natural.

Assim, é imperativo mudar os atuais comportamentos do ser humano. A natureza exige uma combinação de estratégias para a sua conservação, como por exemplo a proteção das espécies ameaçadas, existência de reservas ecológicas, restauração de ecossistemas, reprodução em cativeiro e reintegração no ambiente natural de espécies mas, acima de tudo, o controle das ações humanas.

Cada espécie tem um valor único que é preciso preservar. Não há um minuto a perder!

Que este modesto artigo possa contribuir para preservar viva a memória de alguns dos animais em vias de extinção que talvez os nossos filhos e netos não possam jamais ver senão em fotografia, vídeo ou outros meios virtuais.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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