A avestruz, designada cientificamente por Struthio camelus, é uma ave omnívora não voadora, vive em grupo e tem uma espectativa média de vida de 50 anos. Possui uma envergadura de cerca de 1,5 metros, pode atingir até 2,5 metros de altura e pesar até 120 kg. É um animal extremamente possante, podendo matar facilmente um ser humano ou outros animais de grande porte com as suas poderosas garras, mas somente se torna ameaçador quando se trata de proteger os seus filhotes ou o ninho.
A avestruz tem as asas reduzidas, sendo por isso inapta para o voo, vive em bandos, vagueando pelas estepes e desertos africanos, e obtém a maior parte da água de que necessita para sobreviver, a partir das plantas de que se alimenta. Não obstante ser incapaz de voar, graças às suas pernas longas e fortes, pode correr a uma velocidade superior a 70 km por hora. A sua população atual no mundo não é conhecida.
Após a extinção oficial em 1966 da avestruz-árabe (Struthio camelus syriacus), uma subespécie que vivia nas savanas e desertos do Médio Oriente, a avestruz-africana, correntemente designada por avestruz, é considerada a maior espécie viva de ave, sendo a única espécie sobrevivente da família Struthionidae, cujos membros habitaram a época do Eoceno (entre 55 a 35 milhões de anos atrás).
O ADN mitocondrial mostrou que a avestruz-árabe está relacionada com a avestruz-africana, indicando que o fluxo de genes entre as duas formas geográficas pode ter sido possível no passado evolutivo recente, provavelmente ao longo da passagem pela Península do Sinai.
Os povos da região já conheciam a espécie desde a antiguidade, tendo sido descrita em tratados de naturalistas árabes da Idade Média. Era na época considerada uma espécie cinegética, mas que apenas era caçada por nobres devido à sua carne, couro e penas de adorno e que eram objeto de comercialização com a China onde a ave era mencionada nas referências da época como Ave-camelo.
A partir do século XX, a avestruz-árabe passou a ser considerada como muito rara. O jardim zoológico de Londres ainda fez uma última tentativa de recuperação da espécie nos anos 20, ao comprar um conjunto de ovos a um caçador furtivo e com os quais foi tentada a incubação artificial, porém sem sucesso.
O seu desaparecimento foi precipitado pela degradação ambiental da área, a redução do seu habitat natural e a introdução de armas de fogo, que levaram ao excesso da caça.
Movimento e velocidade
Mesmo não possuindo capacidade para voar, as avestruzes podem constituir uma poderosa "frota" que pode atingir velocidades até 70 km por hora e cobrir uma distância de 50 km em apenas uma hora. Na corrida, as pequenas e desproporcionadas asas podem ser usadas como "lemes", ajudando-as a mudar rapidamente de direção durante o percurso e, com as suas longas e poderosas pernas, podem cobrir 3 a 5 metros numa única passada.
Além disso as pernas destas aves, corredoras mas não voadoras, podem ser usadas eficazmente como armas de defesa ou ataque e o seu chuto potente pode matar um ser humano ou um potencial predador como um leão. Possui ainda uma arma suplementar, uma garra longa e afiada em cada um dos dois dedos internos de cada pé.
Grupos e reprodução em liberdade
As avestruzes vivem normalmente em pequenos bandos com menos de uma dúzia de aves. Aos machos alfa cabe manter a coesão destes grupos e acasalam com a avestruz dominante, podendo ocasionalmente acasalar também com outras do grupo, porém os machos errantes só acasalam com avestruzes mais pequenas e de menor importância no grupo.
Todas as aves do bando depositam os seus ovos no ninho da avestruz dominante, muito embora o seu próprio tenha lugar proeminente ao centro. A avestruz dominante e o macho revezam-se para incubar os ovos gigantes, cada um dos quais poderá pesar mais de um quilo, o equivalente a duas dúzias de ovos de galinha.
Com uma expectativa de vida relativamente elevada, podendo variar entre 30 a 70 anos, a ave conta com um ciclo reprodutivo de 20 a 30 anos e tornam-se sexualmente ativas entre 2 e 4 anos de idade, sendo que as fêmeas se tornam maduras cerca de 6 meses antes dos machos.
É uma espécie iterópara (que apresenta vários períodos reprodutivos ao longo da vida), dando-se o acasalamento entre março e abril e terminando no início de setembro. Não obstante o processo de acasalar poder diferir conforme as diferentes regiões geográficas, tipicamente os machos usam assobios e outros sons guturais para lutar pelo controlo de um pequeno harém, formado normalmente por 2 a 5 fêmeas.
O que sair vencedor dessas lutas irá cruzar com todas as fêmeas dessa área mas só formará uma ligação com uma, a fêmea dominante do grupo. O acasalamento é feito pela parte posterior da fêmea que se abaixa no chão para facilitar a tarefa do macho.
A avestruz é uma ave ovípara que liberta os seus ovos fertilizados num único ninho comunitário, um buraco com cerca de 30 a 60 centímetros de profundidade que é escavado no solo. Os ovos podem pesar até 1,4 kg e são os maiores de qualquer espécie viva do planeta, para além de serem também as maiores células de estrutura única conhecidas, embora relativamente ao tamanho do animal sejam as menores, quando comparadas com as de outras espécies.
No ninho são depositados pelas fêmeas do grupo entre 15 a 60 ovos de cor marfim brilhante ou esbranquiçada, podendo um ovo médio medir cerca de 15 cm de comprimento por 12 cm de largura.
Estes são chocados pelas fêmeas durante o dia e pelo macho à noite, aproveitando as diferentes cores dos dois géneros – macho com coloração preta e fêmea com penas mais claras –, para melhor se camuflarem e têm um período de gestação de 35 a 45 dias. Após a eclosão os filhotes são deixados exclusivamente aos cuidados do macho, que os cria sozinho.
Comportamento e dieta
Quando é usado o velho aforismo popular "enterra a cabeça na areia como a avestruz", para designar alguém que quer fugir aos seus problemas, pode adequar-se uma vez por outra à realidade e até ser espirituoso, mas não tem fundamento.
Contrariamente ao que parece ser evidente, as avestruzes não fazem isso quando estão assustadas, não passando na verdade de um mito esse estranho comportamento do animal, pois certamente nem as próprios avestruzes pensariam que lhes bastaria meter a cabeça num buraco para se esconderem.
Na realidade as avestruzes não enterram a cabeça na areia, baixando-a sim, muito provavelmente numa atitude defensiva cuja origem se perdeu no tempo, para que mais facilmente consigam escutar a aproximação de inimigos e para se camuflarem.
Na iminência de perigo, a avestruz baixa a cabeça e pressiona o seu longo pescoço contra o chão, mantendo-se imóvel até que passe o perigo, na tentativa de se tornar menos visível, o que visto à distância dá a aparência de terem a cabeça enterrada na areia, uma vez que a sua plumagem se confunde bem com o solo arenoso do seu habitat natural, a estepe e o deserto.
O aparelho digestivo da avestruz é semelhante ao dos ruminantes, ou seja, não possui papo, tem 2 estômagos, 2 cecos, longo intestino grosso e digestão bacteriana, alimentando-se normalmente de plantas, raízes e sementes, podendo no entanto também comer alguns insetos, lagartos, ou outros animais disponíveis em seu habitat, frequentemente muito duro.
Criação em cativeiro
A criação de avestruzes em cativeiro teve início na África do Sul na primeira metade do século passado para produção de plumas. Tratava-se de uma criação extensiva rentável, em que que os animais não eram abatidos, e as plumas eram cortadas duas vezes por ano e exportadas para os Estados Unidos e Europa.
Dadas as condições climáticas e semelhança com o seu habitat ancestral, a avestruz foi introduzida na Austrália no século passado para exploração comercial, que não resultou, tendo sido abandonada globalmente a sua criação no início deste século, os animais foram soltos, tendo regressado ao estado selvagem a partir daí.
Com o eclodir das duas guerras mundiais no início do século, houve um colapso no mercado mundial de plumas tendo resultado num desinteresse económico da espécie, que só na década de 60 voltou a desenvolver-se, graças à valorização de outros produtos derivados do animal, como a sua carne, o couro e os ovos.
Estando a espécie praticamente extinta em seu estado selvagem, hoje só sobrevive em parques e fazendas de razoável dimensão, com particular destaque para a África do Sul que hoje detém a sua maior população, não só porque a ave também é originária de um ex-território sob sua administração, a Namíbia, como por ser este o país que primeiro iniciou a criação comercial há mais de 150 anos.
O segundo maior plantel está nos Estados Unidos, mas também a Austrália, Israel, Canadá e outros países têm um número considerável de animais.
Na última década, as explorações de avestruzes em Portugal que chegaram a ultrapassar as 50, sendo consideradas nos seu início como um negócio "promissor", passaram para menos de uma dezena, devido a ausência de estratégia empresarial, falta de linhas de abate e principalmente por o mercado português ser diminuto e vender-se "gato por lebre", a avestruz praticamente desapareceu das prateleiras dos supermercados.
Atualmente, os poucos produtores portugueses sobreviventes estão quase exclusivamente voltados para os mercados externos, nomeadamente o espanhol, com especial incidência na comercialização de pintos e não tanto na carne para consumo.
Curiosidades
– As avestruzes possuem dois estômagos e contrariamente a todas as outras aves vivas, segregam a urina separadamente das fezes.
– São corredoras muito rápidas para o que contribui a sua extensa passada, que é ajudada, no seu funcionamento por possuir apenas dois dedos em cada pé (a maioria de pássaros tem quatro), com um grande espigão semelhante a um casco no dedo do pé interno, que ajuda na impulsão.
– As asas, embora de reduzidas dimensões relativamente ao tamanho das avestruzes, para além de servirem de "lemes" para as ajudar a mudar de direção enquanto correm, são também usadas em longas exibições de acasalamento, para proteger os pintinhos, para cobrir a pele nua das pernas e flancos e para conservar o calor.
– Em estado selvagem, nos meses de inverno costumam juntar-se em pares e durante a época de reprodução ou durante períodos de chuva intensa, vivem em "rebanhos" nómadas de cinco a 50 aves conduzidas por uma avestruz-líder, viajando frequentemente na proximidade de manadas de outros animais, como as zebras ou antílopes.
– As avestruzes realizam um complexo ritual de acasalamento que consiste em batidas alternadas das asas pelo macho até conseguir captar a atenção de uma companheira, seguindo ambos a partir daí para uma área de acasalamento afastada de todos os intrusos. Começam então a pastar em conjunto, até que o comportamento fique sincronizado e a alimentação se torne secundária, assumindo o processo uma aparência ritualística.
– Então o macho agita-se excitadamente, alternando de novo o batimento das asas e começando a picar o solo com o esporão dos dedos internos. Recomeça a bater as asas energicamente mais uma vez, como que para limpar simbolicamente o lixo de um hipotético ninho; enquanto isso, a fêmea corre em torno dele com asas baixas este enrola a sua cabeça num movimento em espiral em torno dela, até esta se deixar cair no chão e permitir a copulação.
– As lutas territoriais entre machos para o estabelecimento de um harém, composto geralmente de duas a sete fêmeas, duram habitualmente apenas alguns minutos, mas podem com facilidade causar a morte de um dos oponentes devido às fortes investidas com as cabeças.
– As avestruzes inspiraram culturas e civilizações na Mesopotâmia e no Egito há 5 000 anos. Em alguns países africanos, como na República da África do Sul e alguns países do Médio Oriente, realizam-se competições usando as avestruzes como montadas, nas quais são instaladas selas especiais, rédeas e outros aparatos, e durante as quais se fazem apostas.
– Ao contrário da grande maioria das aves, os machos têm um órgão copulatório retrátil com cerca de 20 cm de comprimento.
– Dado que não possuem dentes, as avestruzes engolem pequenos seixos para triturar os seus alimentos sendo que um adulto pode conter no estômago cerca de 1kg de pedras.
– As avestruzes podem permanecer durante vários dias sem beber, usando água metabólica e humidade de raízes, sementes e insetos que ingerem, mas gostam igualmente de água líquida e frequentemente tomam banho onde estiver disponível.
– Os olhos da avestruz são maiores que os de qualquer animal terrestre, medindo quase 5 cm de diâmetro, o que lhes permite ver os potenciais predadores a longas distâncias.
Relação com os humanos
No passado as avestruzes foram caçados intensivamente até quase à sua extinção, por causa das suas penas, que eram muito populares no século XIX como ornamentos nos chapéus e em outros acessórios de moda de muitas mulheres.
Também as suas peles eram valorizadas para produzir couros finos igualmente muito apreciados, porém somente no século dezanove se iniciou a sua criação dirigida para o comércio de penas.
Hoje, são criadas em praticamente todo o mundo com objetivos comerciais, incluindo em países com climas frios. No entanto, se está a pensar adquirir uma destas aves para ter na sua pequena quinta ou quintal, pense a longo prazo, não esquecendo que estes animais têm uma longevidade muito elevada.
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