O CAVALO LUSITANO
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Tupam Editores
Reconhecido e admirado por todo o mundo pela sua excelência, o "Puro Sangue Lusitano" (PSL) é um tesouro nacional, um dos mais genuínos produtos do país e parte integrante da nossa cultura.
Pode atingir valores de mercado próximos de um milhão de euros, facto que ainda assim não afasta os compradores principalmente do norte da Europa, Ásia e América Latina que anualmente acorrem à Feira Nacional do Cavalo da Golegã, a mais conhecida montra a nível internacional para onde confluem mais de 700 mil pessoas todos os anos.
As suas origens perdem-se no tempo, existindo evidências de que é montado há mais de 5000 anos, facto que prova tratar-se do cavalo de sela mais antigo do mundo.
Conhecido como "Cavalo Lusitano" a raça, de beleza sublime, tem a sua origem nos cavalos primitivos da Península Ibérica, tendo recebido também alguma influência de sangue árabe e de cavalos do norte da África, através dos tempos.
Os vários estudos sobre o tema têm vindo a demonstrar que o Cavalo Lusitano, tal como hoje o conhecemos, resulta da evolução e seleção de um cavalo primitivo, cujos mais remotos vestígios foram descobertos, em Portugal, nas planícies do sul do país (grutas do Escoural, Montemor-o-Novo – 25000 a.C. e 13000 a.C.).
Este cavalo primitivo, de porte ligeiro, mas cuja estatura e estrutura óssea eram suficientes para suportar o peso de um homem, constituiu uma autêntica dádiva da natureza para os povos da península, que o domesticaram e montaram. Rapidamente se transformou num novo e rápido meio de transporte, tendo vindo a constituir um poderoso auxiliar nas guerrilhas que as várias tribos ibéricas travavam constantemente entre si com vista à posse dos territórios.
A descoberta, nesta parte do mundo, de armas anti-cavaleiro datadas do V a IV milénio a.C., prova que já se combatia a cavalo há 6 ou 7 mil anos. Em nenhum outro local existem provas da existência de cavalos montados há tanto tempo. Embora na Grécia ou no Egipto também já se utilizasse o cavalo na guerra, essa utilização era sempre feita como animal de tiro, puxando os carros de combate. Este facto permite colocar a hipótese da origem ibérica da própria arte de equitação.
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma caraterística. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direção, o que dificultava enormemente as manobras dos seus inimigos.
Esta equitação peculiar foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando na vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Fica, assim, justificada a origem do termo "gineta", ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.
Selecionado durante séculos como suporte de uma técnica específica de combate, o cavalo Peninsular surpreende, pelas suas invulgares capacidades, todos os que contra ele se batem. É o caso de Romanos e Mouros, que o encontraram na Península e logo reconheceram as suas inegáveis qualidades. Mais tarde, em pleno século XV, é levado para Itália pelo exército espanhol, a fim de intervir na guerra que o Rei Fernando de Aragão aí travava contra os franceses, com vista à conquista do reino de Nápoles.
Torna-se conhecido para além dos Pirinéus, e passa a ser intensamente procurado por toda a aristocracia europeia. Está na base do surgimento da academia de Nápoles, cuja fundação permite que a equitação passe a ser encarada como ciência e comece a ser estudada por mestres que, seguindo o exemplo do Rei D. Duarte de Portugal (que cerca de cem anos antes, escrevera o primeiro livro sobre o tema na Europa: "Livro Da Ensinança De Bem Cavalgar a Toda Sela"), deixam os seus conhecimentos e experiência registados em preciosos tratados de equitação.
Com o passar dos tempos, a evolução tecnológica acaba por retirar ao cavalo o papel preponderante que assumira ao longo da história. A sua utilização, torna-se quase exclusivamente desportiva, nas várias modalidades hípicas que hoje se conhecem. Por toda a Europa, surgem novas raças de sela, com caraterísticas exclusivamente adaptadas à equitação desportiva, e o cavalo Peninsular é o verdadeiro suporte da constituição de todas elas.
Apesar do seu biotipo e aptidões já serem conhecidas, reconhecidas e apreciadas há muito tempo a raça do cavalo Lusitano só foi oficializada com a criação do Stud Book, ou estalão da raça, em 1967.
A institucionalização oficial foi um passo decisivo ao condicionar a admissão de reprodutores, dando origem a um criterioso trabalho de seleção, e facultando o conhecimento aprofundado das genealogias.
Principal produto de exportação e divulgação do mundo rural português a par do vinho, azeite e cortiça, a raça do cavalo Lusitano é considerada em perigo de extinção e é elegível nas Medidas Agroambientais como raça ameaçada.
A sua raridade resulta de um pequeníssimo efetivo de cerca de 4000 éguas reprodutoras. Em Portugal estão em reprodução apenas 1800 a 2500, no Brasil entre 1000 a 1200, em França 500 a 600, distribuindo-se as restantes pelo México, Inglaterra, Bélgica, Alemanha, Itália, Canadá, EUA, África do Sul, Espanha, Suíça…, registando-se nascimentos em 32 países diferentes.
Atualmente o efetivo da raça está em crescimento, sobretudo na Europa e Brasil, onde se verifica um extraordinário progresso na quantidade e qualidade. Entre nós, a qualidade geral da produção tem aumentado muito, levando a crer que se venham a estabelecer novas linhas dentro da raça, o que contribuirá para o seu progresso e para assegurar a vitalidade da mesma.
O cavalo Lusitano alia uma rara beleza à robustez, flexibilidade, docilidade e submissão ao cavaleiro. De sela, por excelência, o cavalo Lusitano é extremamente confiável, sendo a montada ideal para principiantes.
Por vezes, os criadores de cavalos falam dos seus animais como quem descreve vinhos. Tal como um vinho pode ser frutado, robusto, nacarado, denso, encorpado, redondo, macio, complexo, um PSL é corajoso, dócil, sensível, inteligente, sofredor, ardente, generoso e, fundamental para aferir da pureza da raça Lusitana, tem de saber ler o pensamento do cavaleiro.
Tudo isto faz do Lusitano o cavalo ideal para a tourada, como antes tinha sido para a guerra. É tido por mais corajoso do que o puro-sangue árabe, ou mesmo o inglês, que são mais adequados para a corrida, sendo também reconhecido pelo seu nível de inteligência, acima da média.
Aprende facilmente os mais complicados exercícios, que executa com destreza, principalmente em espaços pequenos, como uma arena. Não tem medo do touro bravo, obedece confiantemente a todas as ordens do cavaleiro, a quem é fiel até ao fim. É capaz de percorrer quilómetros, ferido de morte, até deixar o cavaleiro a salvo. Outras raças podem ser mais ardentes, mas nenhuma é tão generosa e sofredora.
Para além de um padrão estatístico extraído das médias das medidas dos seus pares em determinada época, as caraterísticas do PSL são definidas muito mais pelas suas aptidões funcionais.
Daí derivam a agilidade e flexibilidade selecionadas pelo toureio a cavalo e pela guerra ou guerrilha, a inteligência, poder de reunião e maleabilidade selecionados pela arte equestre, e a empatia e companheirismo selecionados por 5000 anos de equitação.
Todas estas caraterísticas deram origem a uma raça de cavalos vibrantes porém submissos, fortes porém flexíveis, corajosos porém seguros e, sobretudo, especializados mas extremamente adaptáveis.
Para identificar facilmente um PSL basta conhecer alguns aspetos que definem o padrão da raça. De temperamento nobre, generoso e ardente, mas sempre dócil e sofredor, o cavalo Lusitano possui andamentos ágeis e elevados, projetando-se para diante, e suaves, de grande comodidade para o cavaleiro.
A cabeça é bem proporcionada de comprimento médio, delgada e seca, de ramo mandibular pouco desenvolvido e faces relativamente compridas, de perfil levemente subconvexo, fronte levemente abaulada (sobressaindo entre as arcadas supraciliares), olhos sobre o elíptico, grandes e vivos, expressivos e confiantes. As orelhas são de comprimento médio, finas, delgadas e expressivas.
O pescoço possui um comprimento médio, rodado, de crineira delgada, de ligação estreita à cabeça, largo na base, e bem inserido nas espáduas, saindo do garrote sem depressão acentuada.
O garrote é bem destacado e extenso, numa transição suave entre o dorso e o pescoço, e sempre levemente mais elevado que a garupa. O peitoral é de amplidão média, profundo e musculoso, e o costado bem desenvolvido, extenso e profundo, com costelas levemente arqueadas, inseridas obliquamente na coluna vertebral, proporcionando um flanco curto e cheio.
A espádua é comprida, oblíqua e bem musculada e o dorso bem dirigido, tendendo para o horizontal, servindo de traço de união suave entre o garrote e o rim.
A garupa é forte e arredondada, bem proporcionada, ligeiramente oblíqua, de comprimento e largura de dimensões idênticas, de perfil convexo, harmónico, e pontas das ancas pouco evidentes, conferindo à garupa uma secção transversal elíptica. A cauda aparece no seguimento da curvatura da garupa, de crinas sedosas, longas e abundantes.
Quanto aos membros, o braço é bem musculado, e harmoniosamente inclinado; o antebraço bem aprumado e musculado. Os joelhos secos e largos as canelas sobre o comprido, secas e com os tendões bem destacados.
Os cascos são de boa constituição, bem conformados e proporcionados, de talões não muito abertos e coroa pouco evidente.
A nádega é curta e convexa, e a coxa musculosa, sobre o curto, dirigida de modo que a rótula se situa na vertical da ponta da anca. Pernas sobre o comprido, e curvilhão largo, forte e seco. Os membros posteriores apresentam ângulos relativamente fechados.
Cavalo de "sangue quente" como o Puro Sangue Inglês e o Puro Sangue Árabe, o cavalo Lusitano é um cavalo polivalente, o que o torna competitivo nos vários mercados de hoje, desde que aperfeiçoado no sentido das respetivas especialidades.
O seu elevado nível de inteligência e capacidade de concentração fora de comum para a grande maioria dos animais em geral, faz com que o cavalo Lusitano tenha adquirido uma capacidade de aprendizagem excecional.
Apesar de ser usado como cavalo de trabalho, nomeadamente pelos campinos, que têm uma predileção especial por esta raça, o Lusitano é cada vez mais, um cavalo procurado por criadores de todo o mundo, graças às suas qualidades únicas.
Como cavalo de Alta Escola (Haute École), tem demostrado ser uma mais valia, já que a sua inteligência lhe proporciona uma aprendizagem rápida e constante, havendo hoje cavalos Lusitanos espalhados por todo o mundo, com esta finalidade.
Apresenta uma aptidão natural para a alta escola e exercícios de ares altos, uma vez que posiciona os membros posteriores debaixo da massa com grande facilidade. Tendência natural para a concentração, predisposição para os exercícios e grande coragem e entusiasmo nos exercícios da gineta (combate, caça, toureio, maneio de gado, etc).
Como cavalo de sela e passeio, é extremamente dócil e participativo, pelo que é o cavalo ideal para quem o procura apenas para lazer, tendo-se verificado por isso um crescimento no turismo equestre; como cavalo de salto, é corajoso e tranquilo, o que lhe permite enfrentar qualquer obstáculo com a máxima confiança e sair para o seguinte com a mesma rapidez e elasticidade, e como cavalo de provas de resistência, tem demostrado sempre ser um lutador nato, a sua energia não tem fim, mantendo uma velocidade constante muito apreciável.
Mas a sua grande especialidade são, sem sombra de dúvida, as touradas. Demonstrando uma coragem e uma tranquilidade únicas perante o adversário, sai para a cara do touro sem qualquer temor. É, indiscutivelmente, o cavalo de toureio de eleição, não só em Portugal como por todo o mundo.
Dizem os criadores que o touro bravo só existe porque existe tourada, mas também só existe tourada à portuguesa, porque existe a magia e a coragem do cavalo Lusitano.
O Lusitano revela-se ainda nas disciplinas equestres federadas como dressage, obstáculos, atrelagem e, em especial, equitação de trabalho, estando no mesmo patamar que os melhores especialistas da modalidade.
Pelas suas caraterísticas e potencialidades, o interesse por este belo animal tem vindo a crescer, como o provam a crescente afluência de admiradores aos eventos em sua honra, cujo objetivo principal é promover o PSL. A próxima edição da já internacionalizada Feira da Golegã – XLII Feira Nacional do Cavalo –, o maior e mais conhecido evento além fronteiras, tem lugar entre os dias 3 e 12 de Novembro.
Até lá, contudo, os amantes do cavalo ainda podem participar na Expoégua, também na Golegã, entre os dias 18 e 21 de maio; no Festival internacional do Cavalo Lusitano, que se realiza entre os dias 15 e 17 de junho, em Lisboa; e na XI Feira do Cavalo de Ponte de Lima, entre os dias 6 e 9 de julho.
Também para valorizar e divulgar a fileira do cavalo, em particular o puro sangue Lusitano, vai nascer, no Palácio do Pelourinho na Golegã, o Museu Nacional do Cavalo, o primeiro da índole em Portugal.
São, sem dúvida, animais magníficos, exemplo de força e sensibilidade na natureza, mas que exigem muito dos donos, não só em termos de tempo e dedicação, mas também em termos financeiros.
O custo de um cavalo por si só pode ser extremamente dispendioso. Embora se possam adquirir animais entre mil a 15 mil euros, o valor médio dos exemplares mais comuns podem facilmente atingir os 300 a 500 mil euros ou chegar a valores próximos de um milhão de euros (por ex. um cavalo de desporto). E este investimento é apenas a ponta do icebergue.
Seja um criador ou possua apenas um cavalo, é importante não esquecer que o cavalo é um ser vivo que necessita de atenção, carinho, espaço, exercícios frequentes e boa comida. Por essas razões é imprescindível manter-se rodeado de bons profissionais, como um veterinário, um ferrador e um treinador. Em média, manter um cavalo poderá custar cerca de 600 euros por mês, valor que já inclui a alimentação, o equipamento necessário (como arreios, sela, e material de limpeza) e o ensino do cavalo.
Quanto ao alojamento, existe a possibilidade de alojar o cavalo numa escola de equitação, que geralmente tem boxes para alugar, ou então construir um estábulo para o animal. As opções de hospedagem vão desde os 200 euros, mas existem centros equestres que chegam a custar mais de 500 euros, pois incluem treinadores, ferragens e outros cuidados mais indicados para cavalos atletas ou de exposição. Normalmente as opções menos dispendiosas são os pastos ou cocheiras coletivas, sendo todos os outros custos cobrados à parte – uma ferragem simples, por exemplo, ronda os 50 a 75 euros.
Quanto ao retorno do investimento, para além do companheirismo e do sentimento de quase fusão do homem com o animal que o cavalo propicia, se este for adquirido aos dois anos e vendido aos seis, poderá valorizar cerca de 10 vezes face ao seu custo inicial.
Em Portugal a criação de cavalos lusitanos é um excelente exemplo de internacionalização. O puro sangue Lusitano é uma mais-valia para a economia nacional sendo transacionado comercialmente para 22 países, nos cinco continentes, sendo já marca de Portugal no mundo, e um "cavalo do mundo".
A trote, a galope, a dançar, a ladear touros, a saltar obstáculos ou a deliciar-nos com a sua sensibilidade e coragem, o Lusitano é uma peça de arte viva, capaz de ser, além de uma importante fonte de divisas, uma forte contribuição para a afirmação da genialidade do país no Mundo. Inovações?
Numa raça milenar não há nada a inovar; apenas preservar uma preciosa realidade. A própria raça, bem conservada, se encarregará de produzir a sua evolução e necessárias melhorias e adaptações.
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