Estudo em pitões pode levar a nova terapia para doenças cardíacas
Nas primeiras 24 horas após uma pitão devorar uma presa enorme, o seu coração cresce 25%, o tecido cardíaco amolece drasticamente e o órgão aperta cada vez mais forte para mais do que duplicar a sua pulsação. Enquanto isso, uma vasta quantidade de genes especializados entra em ação para ajudar a aumentar o metabolismo da cobra quarenta vezes. Duas semanas depois, após o seu banquete ter sido digerido, todos os sistemas voltam ao normal – o seu coração permanece apenas um pouco maior e até mais forte do que antes.
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De acordo com uma equipa de investigadores da CU Boulder, este processo extraordinário pode inspirar novos tratamentos para uma doença cardíaca humana comum chamada fibrose cardíaca, na qual o tecido cardíaco enrijece, assim como uma série de outras doenças modernas às quais estas cobras parecem resistir milagrosamente.
As pitões são normalmente encontradas em regiões com escassez de recursos da África, Sul da Ásia e Austrália. Elas jejuam por longos períodos, mas quando têm a oportunidade de comer, podem engolir um veado inteiro.
A autora sénior, Leslie Leinwand, acredita que estas serpentes possuem mecanismos que protegem os seus corações de coisas que seriam prejudiciais aos humanos.
Existem dois tipos de crescimento cardíaco em humanos: o saudável, que advém de exercícios crónicos de resistência, e o não saudável, que acontece devido a doenças. As pitões, tal como os atletas de elite, destacam-se por ter um crescimento cardíaco saudável.
Um trabalho anterior realizado pela investigadora mostrou que, ao longo de cerca de uma semana a 10 dias após uma refeição, os corações das pitões ficam muito maiores, a sua frequência cardíaca duplica e a corrente sanguínea fica branca leitosa com gorduras circulantes, que surpreendentemente nutrem em vez de prejudicar o tecido cardíaco. O novo estudo, publicado recentemente no periódico PNAS, tinha como objetivo explorar como isso acontece.
Para o efeito, a equipa alimentou pitões que jejuaram durante 28 dias com uma refeição de 25% do seu peso corporal e compararam-nas a cobras que não foram alimentadas.
Descobriram, então, que à medida que os corações das cobras bem alimentadas cresciam, feixes especializados de músculos cardíacos chamados miofibrilas – que ajudam o coração a expandir e contrair – amoleciam radicalmente e se contraíam com aproximadamente 50% mais força. Entretanto, as mesmas cobras tinham “profundas diferenças epigenéticas”, diferenças nos genes que eram ativados ou desativados, em relação às cobras em jejum.
São necessárias outras investigações para identificar precisamente que genes e metabolitos estão em jogo e o que estes fazem, mas o estudo sugere que alguns podem estimular o coração da pitão a queimar gordura em vez de açúcar como combustível. Importa referir que os corações doentes têm dificuldade para fazer isso.
O estudo permitiu descobrir que o coração da pitão é basicamente capaz de se remodelar radicalmente, tornando-se muito menos rígido e muito mais eficiente em termos de energia em apenas 24 horas. Segundo os especialistas, seria extraordinário se se pudesse alcançar como a serpente faz isso e aproveitá-lo para uso terapêutico em pessoas.