Estar atento a possíveis sinais de alerta é a melhor forma de prevenir o aparecimento e desenvolvimento de patologias cardíacas. Um dos órgãos que pode dar pistas sobre o estado da saúde cardiovascular é o olho.

A composição da lágrima e a espessura da membrana coroide (a camada de vasos sanguíneos e tecido entre a parte branca do olho e a retina que fornece nutrientes às partes internas do olho) podem ser fundamentais para ajudar a prever o risco de isquémia cardíaca.

A cardiopatia isquémica é uma doença “silenciosa” cuja evolução ocorre sem que nos apercebamos, no entanto, sendo detetada a tempo, antes de a acumulação de placa ateromatosa se tornar excessiva, muitas vidas poderiam ser salvas.

Atualmente, o rastreio da doença ainda é controverso pois as técnicas disponíveis são invasivas e têm um custo elevado para os sistemas de saúde. Estão em curso várias investigações para desenvolver testes diagnósticos que permitam detetar a placa ateromatosa de forma mais simples e menos invasiva.

O olho, devido à sua particular estrutura, função e acessibilidade, apresenta-se como um órgão candidato à obtenção de parâmetros para esta finalidade diagnóstica. As alterações também foram relacionadas a sinais visíveis no olho, transformando este órgão numa janela que permite acesso rápido ao sistema cardiovascular.

Para o estudo, liderado por Manuel Francisco Jiménez Navarro, a equipa de especialistas analisou dados de quase uma centena de pacientes do Hospital Virgen de la Victoria, em Málaga, com suspeita de doença coronária aguda.
Todos os pacientes foram submetidos a um exame oftalmológico completo, tendo sido analisadas ainda amostras de lágrimas em busca de citocinas (pequenas proteínas cruciais para controlar o crescimento e a atividade de outras células do sistema imunológico) e outros mediadores inflamatórios.

A análise destes dados permitiu descobrir dois biomarcadores que, combinados com marcadores de risco clássicos como hipertensão, hipercolesterolemia, diabetes, obesidade, tabagismo, consumo de álcool, etc., ajudam a detetar precocemente a placa de ateroma:

A espessura da membrana coroide – a coroide é uma membrana formada por uma infinidade de vasos sanguíneos encontrados entre a esclera (ou parte branca do olho) e a retina, que fornece oxigénio e outros nutrientes ao olho. Os resultados desta investigação permitiram concluir que o aumento da espessura da coroide está associado à presença de lesões coronárias.

A composição da lágrima – os investigadores observaram que níveis mais elevados de G-CSF, uma substância que ajuda a produzir mais glóbulos brancos nas lágrimas, podem proteger contra doenças coronárias. Esta foi a primeira vez que uma investigação associou os níveis de G-CSF nas lágrimas com a presença de doença coronária, demonstrando que o aumento dos seus níveis pode ser um fator de proteção.