Língua, mucosa das bochechas, cantos dos lábios, todo o conteúdo da cavidade oral é extremamente inervado, vascularizado e sensível, por isso é comum que quem se morde tenha sangramentos, feridas, vermelhidão e bastante incómodo ao comer ou beber. Mas porque será que isso acontece?

Os motivos são vários, mas o mais comum é a distração, ou acidente. Quem tem por hábito conversar e comer/mastigar ao mesmo tempo, principalmente de forma acelerada e em grandes porções, não só está sujeito a engasgar-se com os alimentos, como a causar mordidas na própria boca. Mastigar mais devagar acaba por ser uma forma de prevenir este tipo de acidente.

Mais prevalente em mulheres do que em homens e na proporção de 750 casos para 1 milhão de indivíduos, a mordida crónica ou repetitiva da parte interna da boca quando relacionada a um distúrbio psiquiátrico é chamada cientificamente de Morsicatio buccarum. É uma subcategoria do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), só que focado no próprio corpo.

Se os dentes do siso (terceiros molares e os últimos dentes que se formam na boca humana) crescerem em posição lateralizada, podem começar a gerar atrito com a mucosa das bochechas, causando um efeito de raspagem nas mesmas. À medida que o tempo passa e o problema não é tratado, os ferimentos complicam-se e provocam muita dor quando a pessoa mastiga os alimentos.

O bruxismo – o ato de ranger os dentes com ou sem o apertar dos mesmos, que tanto se pode manifestar acordado como durante o sono – também está entre as razões de morder as bochechas. Além do desgaste anormal da dentição, que pode até sofrer fraturas, outros sintomas observados incluem inflamação e recessão gengival, mobilidade dentária em excesso, marca de dentes na língua e mordidas nos tecidos moles da boca.

Pode achar estranho mas as mordidas no interior da boca também podem estar relacionadas com uma malformação no osso inferior do crânio, mais especificadamente da maxila, afetando também o céu da boca (palato). Se essas estruturas se desenvolvem muito estreitas, a arcada dentária perde espaço para se movimentar ou sofre inclinações de ângulo e passa a ferir as mucosas.

O tecido gorduroso em grande quantidade na região das bochechas, conhecido como bola de Bichat, também pode influenciar no processo de mordida involuntária das mucosas e na estética. Nesses casos, a persistência de uma ferida não cicatrizada pode gerar problemas mais graves, como fibroses e até mesmo pequenos tumores e inflamação no rosto. Este problema tem uma solução simples: a realização de uma bichectomia.

O stress, quando muito intenso, associado à ansiedade, pode ocasionar dentre muitos comportamentos automutiladores, esse, de mordiscar as mucosas involuntariamente. A mordedura repetitiva acaba por ser uma forma de “aliviar” essa tensão, só que a curto prazo. Após a formação de uma ferida é comum vir a sensação de culpa, gerando um ciclo vicioso.